Radiação ionizante: quais são os usos e efeitos na medicina?

Por Dr. José Aldair Morsch, 25 de setembro de 2024
Radiação ionizante

A radiação ionizante faz parte do dia a dia de muitos profissionais de saúde.

Afinal, a emissão de feixes de raios X viabiliza o diagnóstico por imagem realizado por métodos como a radiografia e a tomografia computadorizada.

Contudo, essa contribuição não elimina os riscos associados ao efeito cumulativo desse tipo de energia no organismo.

Neste artigo, você vai acompanhar um panorama completo sobre a radiação ionizante, seu uso na medicina e dicas de proteção radiológica para prevenir os impactos negativos da exposição a ela.

Além das vantagens de contar com a telemedicina radiológica para acelerar a entrega do laudo médico com qualidade.

O que é radiação ionizante?

Radiação ionizante é uma onda eletromagnética ou partícula com capacidade de ionização.

Ou seja, esse é um tipo de radiação que possui velocidade e energia suficientes para arrancar elétrons dos átomos, tornando-os eletricamente carregados.

Ou seja, fazendo com que os átomos sejam convertidos em íons positivos.

Sob a forma de partículas, os principais tipos de radiação ionizante são alfa, beta e nêutrons.

Enquanto as radiações ionizantes eletromagnéticas mais populares são a radiação gama e os raios X.

Quais aparelhos emitem radiação ionizante?

Para emitir radiação ionizante, o aparelho precisa dispor de uma fonte radioativa em sua composição.

Reatores de usinas nucleares são exemplos de tecnologias capazes de emitir essa energia, bem como aparelhos para:

  • Avaliação de homogeneidade de peças e soldas através da gamagrafia
  • Testes de resistência de pneus
  • Detecção de fumaça
  • Irradiação de alimentos para eliminação de fungos, retardo do amadurecimento de frutas e legumes e esterilização
  • Estudo da fertilidade do solo
  • Estudo da dinâmica de rios.

No entanto, os exemplos mais conhecidos são utilizados na área da saúde, tais como:

A seguir, destaco as contribuições da radiação na medicina.

Radiação de ionização

Esse é um tipo de radiação que possui velocidade e energia suficientes para arrancar elétrons dos átomos

Qual a importância da radiação na medicina?

Mencionei, na introdução do texto, que uma das maiores contribuições do uso da radiação na medicina são os exames de imagem.

Isso porque essas tecnologias têm papel fundamental na redução da morbidade e mortalidade relacionada a procedimentos invasivos.

Antes da invenção do aparelho de raio-X, em 1895, a única forma de estudar o corpo humano internamente era por meio de incisões e cirurgia.

Muitas vezes, pesquisadores utilizavam cadáveres para conhecer os tecidos internos, uma vez que as operações representam risco à vida e à integridade do paciente.

Mas esse cenário mudou a partir da realização das radiografias, que formam fotografias internas do organismo.

Elas viabilizaram o estudo não invasivo, revelando anormalidades a partir dos registros em preto, branco e tons de cinza.

Como explica este material da Fiocruz, os raios X:

“Atravessam corpos que, para a luz habitual, são opacos. O expoente de absorção deles é proporcional à densidade da substância. Por isso, com o auxílio dos raios X é possível obter uma fotografia dos órgãos internos do homem. Nestas fotografias, distinguem-se bem os ossos do esqueleto e detectam-se diferentes deformações dos tecidos brandos.”

Mais recentemente, a tecnologia na medicina a partir de radiação ionizante também vem apoiando tratamentos a partir do uso de radiofármacos, como detalho a seguir.

Usos da radiação na medicina

Nos tópicos anteriores, comentei algumas aplicações da radiação nos serviços de saúde. Podemos dividir esses usos em três áreas principais:

Radiologia diagnóstica

A radiologia diagnóstica utiliza exames de imagem para dar suporte à investigação de uma hipótese diagnóstica.

Iniciada com a descoberta dos raios X e seu uso para mostrar partes internas do organismo – feita pelo físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen -, essa área auxilia na detecção de fraturas, nódulos, infecções e outras doenças.

 Também permite o diagnóstico precoce de patologias como o câncer de mama, revelando até mesmo microcalcificações para que o tratamento tenha maior eficácia e chances de cura.

Medicina nuclear

O uso de materiais radioativos com finalidade diagnóstica e terapêutica confere relevância à medicina nuclear.

Diferentemente dos exames de imagem comuns, seus procedimentos empregam radiofármacos, que podem servir como traçadores para apontar alterações metabólicas e funcionais causadas por doenças.

Essas anormalidades aparecem antes mesmo que as mudanças anatômicas sejam perceptíveis.

Embolia pulmonar, tumores, infarto do miocárdio e demências estão entre as patologias estudadas por essa área da medicina, que também oferece opções terapêuticas como:

  • Radioimunoterapia: emprega anticorpos monoclonais para entregar radionuclídeos terapêuticos seletivamente nos tumores como linfoma e câncer de ovário
  • Radiosinovectomia: artrite hemofílica, reumatoide e osteoartrite podem ser tratadas por meio desse método
  • Terapia radiofarmacêutica para metástases ósseas: essa intervenção paliativa é indicada para o alívio da dor, diminuição do uso de opioides (medicamentos derivados do ópio), quimioterapia e radiação, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes com metástases ósseas.

Por fim, temos a radioterapia.

Radioterapia

Falando em tratamentos fornecidos pela medicina nuclear, a radioterapia talvez seja o mais conhecido.

Essa técnica utiliza radiação ionizante para destruir células danificadas ou impedir seu crescimento, sendo indicada para muitos pacientes oncológicos.

Outro uso de interesse está no tratamento do hipertireoidismo, distúrbio da glândula tireoide que leva à produção exagerada de hormônios, manifesta através de taquicardia, sudorese, tremores, nervosismo, entre outros sintomas.

Exames de imagem que usam radiação ionizante

Agora que falamos sobre as aplicações na medicina, vamos avançar para os métodos diagnósticos por imagem que empregam raios X e radiação gama. Os principais são:

Raio-X

Simples, rápido e versátil, o exame de raio-X possibilita a visualização de uma fotografia estática de uma parte do corpo.

Dependendo do tipo de raio-X, é possível identificar alterações importantes nos traços anatômicos, a exemplo de fraturas e desvios na coluna.

Mamografia

Conhecida como radiografia das mamas, a mamografia é o exame padrão ouro no rastreamento do câncer de mama, apoiando práticas de medicina preventiva.

Ao evidenciar detalhes minuciosos do tecido mamário, essa técnica também pode ser usada com finalidade diagnóstica ou para acompanhamento de terapias.

Tomografia computadorizada

Evolução do aparelho de raio-X, o tomógrafo une a radiação a um tubo giratório que gera várias radiografias simultaneamente, vistas a partir de diferentes pontos de vista.

Nesse cenário, a tomografia possibilita até mesmo a formação de órgãos em 3D a partir da combinação das imagens, aumentando a acurácia diagnóstica.

Pneumonia, hérnia de disco e infecções são algumas patologias detectadas por meio das imagens tomográficas.

Densitometria óssea

Munido da tecnologia DXA (dual energy x-ray absorptiometry), o equipamento usado na densitometria óssea permite a medição da densidade mineral óssea, auxiliando na detecção da osteoporose.

Inclusive no diagnóstico precoce, viabilizando a identificação da osteopenia (quando a perda de massa óssea ainda não se agravou).

Cintilografia

Passando para os exames de medicina nuclear, a cintilografia gera imagens a partir da radiação gama emitida por elementos radioativos absorvidos pelos órgãos avaliados.

Tireoide, rins, coração e pulmões estão entre as partes avaliadas com o suporte de uma câmara de cintilação.

PET-CT

A combinação entre tomografia computadorizada multislice (CT) e de tomografia por emissão de pósitrons (PET) permite um mapeamento metabólico e funcional de diferentes tecidos.

Danos após um infarto do miocárdio e diferenciação entre doenças degenerativas e demência estão entre suas aplicações.

Radiações ionizantes

A radiologia diagnóstica utiliza exames de imagem para dar suporte à investigação médica

Efeitos da radiação ionizante

Devido à alta carga de energia, a radiação ionizante penetra nos tecidos do corpo humano com facilidade, tendo parte dos raios absorvida.

Nesse contexto, é essencial que o médico avalie a relação risco-benefício ao fazer a solicitação de exames ou a prescrição de terapias que utilizam esse tipo de radiação, a fim de preservar a saúde do paciente.

Abaixo, falo sobre os benefícios e riscos normalmente envolvidos nessa dinâmica. Acompanhe:

Benefícios

A oferta de tratamentos direcionados a células danificadas, como as cancerosas, está entre as maiores vantagens da radiação ionizante aplicada aos cuidados médicos.

O uso de radiofármacos também viabiliza um estudo detalhado do comportamento e metabolismo celular, apoiando terapias em estágio inicial das patologias.

Outro ganho indiscutível está nas técnicas indolores e não invasivas para a visualização de partes internas do organismo, que qualifica a tomada de decisão para a adoção da conduta médica mais adequada.

É por esses e outros benefícios que exames como o raio-X e a mamografia são amplamente solicitados, uma vez que disponibilizam informações valiosas a partir de uma exposição relativamente baixa aos raios.

Em especial quando são utilizados aparelhos de raio-X digital, mamógrafo digital, tomógrafo e outras tecnologias modernas, que permitem ajustes na dose de radiação para diminuir os riscos.

Riscos

A radiação ionizante é reconhecidamente cancerígena, conforme alertam entidades como a Organização Mundial da Saúde:

“A radiação produz radicais livres tóxicos quando absorvida pelo organismo. A exposição a altos níveis pode causar danos substanciais aos tecidos do corpo humano, podendo levar à morte. A exposição prolongada a níveis mais baixos também está associada a um risco mais elevado a problemas de saúde.”

Um dos principais pontos de atenção para a segurança do paciente e dos profissionais que lidam com essa energia é que o efeito da radiação no corpo humano é cumulativo.

Significa que seu perigo aumenta proporcionalmente à quantidade e tempo de exposição aos raios, elevando as chances de que a pessoa desenvolva câncer, malformações fetais, catarata, redução na quantidade de leucócitos, entre outros agravos.

Em casos raros, indivíduos debilitados ou expostos a várias doses em pouco tempo ainda podem apresentar reações adversas passageiras, como dor de cabeça, náusea e vômitos.

Exposição à radiação em exames de imagem: boas práticas

Os maiores riscos relacionados à radiação ionizante comumente se referem à exposição ocupacional dos profissionais de saúde.

Afinal, técnicos em radiologia e médicos radiologistas tendem a se expor com frequência durante os exames e tratamentos que empregam raios X ou radiação gama.

Daí a necessidade de que estabelecimentos e trabalhadores zelem pela proteção radiológica, orientando também aos pacientes para diminuir as chances de adoecimento.

Pensando nisso, criei uma lista com boas práticas que podem ser adotadas nos serviços de saúde:

  • Obedeça à legislação vigente: no Brasil, estabelecimentos que utilizam radiação devem respeitar os limites de exposição determinados pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Outras recomendações constam em documentos como a NR-32, que estabelece medidas de segurança e saúde em Serviços de Saúde
  • Forneça treinamento aos funcionários: garanta que todas as equipes estejam cientes dos riscos da radiação e condutas para preservar seu bem-estar e integridade, ainda que não lidem diretamente com exames de imagem
  • Disponibilize EPC e EPI, realizando a proteção coletiva e individual dos colaboradores para que se distanciem das fontes de radiação com o suporte de avental de chumbo, óculos de proteção, etc.
  • Implemente um Plano de Proteção Radiológica para monitorar cada funcionário exposto à radiação
  • Isole e faça a blindagem dos ambientes próximos às fontes radioativas, inserindo também a sinalização de segurança para evitar o acesso de pessoas não autorizadas
  • Diminua dose e tempo de exposição, investindo em rodízio de profissionais, limitação da jornada de trabalho, ajuste dos equipamentos, entre outras medidas.

Entre as boas práticas, não podemos desconsiderar as inovações tecnológicas, como é o caso da telerradiologia, que apresento a seguir.

Você já conhece a telerradiologia?

A telemedicina radiológica ou telerradiologia nasceu para suprir a demanda por especialistas capazes de interpretar os exames radiológicos com agilidade.

Por meio do serviço de telediagnóstico, eles cobrem a carência de radiologistas em locais afastados dos centros urbanos, viabilizando diagnósticos de forma prática.

Basta que um técnico em radiologia ou médico local realize os procedimentos normalmente e compartilhe os registros via plataforma de telemedicina.

Sistemas completos como a Morsch disponibilizam o envio automático das imagens ao PACS, conferindo ainda mais celeridade ao processo.

Uma vez online, os registros são interpretados por especialistas à luz da suspeita clínica e histórico do paciente.

Assim, o radiologista online emite e assina digitalmente o laudo eletrônico, entregue em minutos via sistema.

Nosso time de especialistas está sempre a postos, permitindo a entrega de laudos a distância 24 horas dia, 7 dias por semana, mesmo aos domingos e feriados.

No mesmo software de telemedicina, sua equipe também pode solicitar uma segunda opinião médica, teleconsultoria ou utilizar o marketplace médico para completar a agenda.

Conheça todas as vantagens da telemedicina radiológica aqui!

Conclusão

Os benefícios da radiação ionizante são indiscutíveis, apesar de existirem riscos que devem ser considerados para proteger os trabalhadores e pacientes.

Quando utilizada de forma inteligente e zelosa, essa energia dá suporte importante ao diagnóstico e tratamento de doenças.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin