O que é medicina nuclear, como funciona e por que laudar à distância?

Por Dr. José Aldair Morsch, 14 de dezembro de 2021
O que é medicina nuclear, como funciona e por que laudar à distância?

Você já ouviu falar em medicina nuclear? Conhece a importância dessa especialidade?

A área permite a obtenção de diagnósticos mais precoces do que aqueles feitos em exames tradicionais e ainda oferece opções de tratamento para inúmeras doenças.

Suas aplicações mais conhecidas são voltadas aos pacientes com câncer, mas os procedimentos podem ser direcionados às mais diversas demandas médicas.

Para que você entenda melhor a relevância da medicina nuclear e as possibilidades oferecidas por ela, preparei este artigo com informações completas sobre o tema.

A seguir, entenda melhor o conceito, sua realidade no Brasil, tipos, funcionamento, principais procedimentos e o papel da Telemedicina na área. Acompanhe. 

O que é medicina nuclear? 

​A medicina nuclear, como o próprio nome sugere, é aquela que emprega a radiação para realizar certos exames e tratamentos.

Para isso, a especialidade utiliza elementos chamados de radiofármacos, em que a quantidade de radiação é mínima. 

Trata-se de uma das áreas mais relevantes da medicina atual, principalmente em termos de diagnóstico.

Isso porque, ao contrário de outros procedimentos radiológicos, a medicina nuclear permite avaliar os tecidos e visualizar detalhes de alterações patológicas mesmo quando não há  mudanças anatômicas no corpo.

Dessa maneira, as chances de detectar doenças ainda em estágio inicial são muito maiores. Evidentemente, isso eleva as possibilidades de cura nos tratamentos ministrados aos pacientes. 

Somado a isso, está a abrangência da área, pois a medicina nuclear possibilita avaliar a função de diversos órgãos humanos.

Quanto aos procedimentos, o benefício está no fato de que eles não são invasivos e possuem níveis elevadíssimos de segurança.

Continue acompanhando o conteúdo para descobrir mais detalhes sobre as aplicações e as possibilidades oferecidas por essa especialidade.

Sobre a medicina nuclear no Brasil 

Os radiofármacos, os equipamentos e os materiais usados na medicina nuclear são bastante sensíveis e específicos.

As clínicas que atuam na área precisam ter uma logística robusta. Isso vale tanto para a obtenção e uso desses insumos, quanto para a proteção da equipe em si.

Inclusive, as unidades que trabalham com medicina nuclear precisam ter aprovação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e das autoridades sanitárias locais.

Por conta dessas exigências, a área ainda é pouco distribuída no Brasil e está mais concentrada nos grandes centros. 

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, atualmente há 436 serviços da especialidade ofertados no país.

São mais de um milhão e meio de pessoas atendidas por ano, entre clínicas, hospitais e centros de pesquisa. 

O problema é que essas unidades estão quase todas concentradas no Sul e no Sudeste. Para você ter ideia, cerca de 80% dos centros especializados estão nessas regiões.

A informação é do estudo “Distribuição do Serviço de Medicina Nuclear no International Nuclear Information System”, que ainda indica que há apenas seis clínicas na região Norte, 22 no Centro-Oeste e 50 no Nordeste. 

Como resultado, a boa notícia é que os serviços brasileiros de Medicina Nuclear estão crescendo exponencialmente. De acordo com um levantamento divulgado pelo NewsLab, o número de clínicas dedicadas à área cresce 5% ao ano.

Portanto, a oferta de serviços de Medicina Nuclear é ampla. O problema está na sua distribuição em território nacional. A solução para isso está nos diagnósticos à distância, conforme explico ao final deste artigo. 

Quais são os tipos de medicina nuclear? 

Como expliquei no início do texto, a medicina nuclear pode ser utilizada tanto para fins de tratamento, quanto para a realização de exames. Confira uma breve descrição sobre cada tipo de aplicação dessa especialidade:

Medicina nuclear diagnóstica

Medicina nuclear diagnóstica

Atualmente, os pacientes têm exames de imagem extremamente avançados à sua disposição para obter seus diagnósticos.

Por meio de procedimentos como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada, os médicos podem obter imagens nítidas do interior do organismo para identificar tecidos acometidos, diferenciá-los de áreas saudáveis, avaliar volume e dimensões, e assim por diante. 

A grande diferença da medicina nuclear em relação a essas alternativas é que, ao invés de analisar características estruturais e anatômicas, ela permite estudar os padrões metabólicos dos órgãos. 

Graças a esse diferencial, a área é capaz de reconhecer alterações bioquímicas e funcionais antes mesmo que as anormalidades morfológicas apareçam. Sendo assim, a obtenção dos diagnósticos se torna muito mais precoce.

Como algumas patologias (principalmente o câncer) são radiossensíveis, isso faz com que as células acometidas absorvam o radiofármaco em um padrão diferente dos tecidos saudáveis. Esse comportamento é convertido em imagens para análise durante o exame. 

O grande destaque é para a precisão na identificação de tumores, mas a medicina nuclear é muito mais abrangente. Ela também engloba especialidades como endocrinologia, cardiologia, gastroenterologia, pneumologia, neurologia, ortopedia, entre muitas outras.

Os exames mais comuns são a cintilografia e a PET/CT (tomografia por emissão de pósitrons). Saiba mais sobre eles adiante.

Medicina nuclear terapêutica

Nas abordagens terapêuticas, a medicina nuclear é bastante reconhecida no tratamento de diferentes tipos de câncer.

Em síntese, os radiofármacos também podem ser ministrados para a realização de inúmeras terapias não oncológicas.

Isso inclui tratamentos de hipertireoidismo, osteoartrite, artrite hemofílica, dores ósseas, artrite reumatóide, entre outros.

Cada intervenção de medicina nuclear deve ser baseada em procedimentos específicos. Conheça os principais deles ao final deste artigo.

Como funciona a medicina nuclear?

O conceito de medicina nuclear às vezes gera certo receio no público leigo. Isso por conta dos conhecidos riscos presentes nas substâncias radioativas. 

Contudo, os procedimentos são extremamente seguros e quase não possuem contraindicações. Isso vale principalmente para os diagnósticos.

A quantidade de radiação presente nos radiofármacos é mínima. Além disso, elas são eliminadas muito rapidamente pelo organismo. 

Dessa forma, não há chances de nenhuma alteração nos órgãos e nos sistemas do corpo. Inclusive, a incidência de efeitos colaterais é muito rara.

A introdução dos radiofármacos no organismo pode ser feita por diferentes vias. As principais são oral, por inalação e intravenosa, sendo a última a mais comum. 

Depois de receber a dose, o paciente deita em uma maca. Sobre ela, um aparelho faz a leitura dos raios emitidos.

Como expliquei anteriormente, algumas doenças são radiossensíveis. Assim, absorve-se o radiofármaco de maneira diferente pelas células alteradas, o que permite ao equipamento reconhecê-las. 

Dessa maneira, ocorre a leitura dos raios então convertidos em imagens e analisadas pelo especialista para a elaboração do laudo. 

Exemplos de aplicação da medicina nuclear

Neste ponto do artigo, você já sabe que a principal aplicação da medicina nuclear é na identificação de patologias em estágios iniciais.

Ou seja, ela ajuda a diagnosticar doenças nas fases em que ainda não provocaram mudanças estruturais que sejam detectáveis por outros exames. 

Em suma, a área tem grande importância principalmente na identificação e seguimento de inúmeros tipos de câncer. 

Entretanto, também é comum que a medicina nuclear seja empregada na avaliação de alterações endócrinas, gastrointestinais, cardíacas, neurológicas, entre outras. 

Entre as aplicações mais comuns da especialidade, destacam-se aquelas voltadas aos seguintes órgãos:

  • Cérebro: a medicina nuclear pode ser usada na avaliação de déficit cognitivo, na identificação de focos epileptogênicos em casos de convulsão e na detecção de perfusão sanguínea;
  • Rins: a aplicação é para reconhecer eventuais obstruções no sistema coletor, função diferencial ou cicatrizes geradas por infecções;
  • Ossos: os exames apontam a presença de tumores, doenças ósseas benignas e permitem avaliar processos osteo degenerativos nas articulações;
  • Mamas: a medicina nuclear serve para apontar a localização de possíveis nódulos malignos;
  • Tireoide: a aplicação dos procedimentos acontece para avaliar os parâmetros de função da glândula e a eventual presença de nódulos;
  • Coração: permite a avaliação da função cardíaca, o fluxo arterial sanguíneo (em situações de estresse e de repouso), possível rejeição a transplante, danos após infarto, funcionalidade após intervenções de revascularização, entre outras análises.
Exemplos de aplicação da medicina nuclear

Já as aplicações da medicina nuclear terapêutica são baseadas em diferentes tipos de procedimentos. Explico os principais deles ao final deste artigo.

Como ocorre o diagnóstico por medicina nuclear?

Nas intervenções diagnósticas, as substâncias radioativas mais utilizadas na medicina nuclear são:

  • Iodo-131: usado principalmente na avaliação de patologias da tireóide;
  • Tecnécio-99: possibilita a marcação de diferentes tipos de moléculas carreadoras;
  • Tálio-201: utilizado para o diagnóstico de doenças cardíacas;
  • Gálio-67: empregado na avaliação de eventuais focos de infecção.

Quanto aos procedimentos, o exame mais conhecido e antigo na área de medicina nuclear é o de cintilografia.

Em contrapartida, há outra possibilidade que podemos citar como por exemplo, a realização do exame PET-CT, que utiliza recursos diferentes sendo mais atual do que o anterior e também mais difícil de encontrar. 

Confira as particularidades de cada um:

Cintilografia

A cintilografia é um termo utilizado para se referir a diferentes exames por imagem que se baseiam na cintilação.

Trata-se de uma prática em há a geração das imagens a partir da radiação gama emitida por certos elementos radioativos absorvidos pelos órgãos analisados.

Esses procedimentos são abrangentes e podem fornecer apoio para diversas especializações médicas.

Entre as principais áreas em que a cintilografia é empregada, destacam-se a análise do fígado, do miocárdio, das glândulas salivares, baço, vesícula e vias biliares, ossos, tireóide, rins, pulmẽs, linfonodos, medula ósea, vasos sanguíneos, cérebro, entre outros. 

PET/CT

Já o PET/CT ocorre por meio de um equipamento que integra as tecnologias de tomografia computadorizada multislice (CT) e de tomografia por emissão de pósitrons (PET). 

Enquanto o PET possibilita um mapeamento metabólico e funcional, o CT emite imagens tridimensionais de alta resolução que possibilitam diferenciar tumores, nódulos, massas e outras alterações. 

Graças à qualidade e precisão, o PET/CT há uma grande utilização dessa ferramenta  para analisar a atividade de certos tumores e a eficácia das suas medidas de tratamento.

Além disso, possibilita avaliar outras inúmeras anormalidades, bem como mensurar danos sofridos em infartos, diferenciar demências e doenças degenerativas, entre outras aplicações. 

Por que emitir laudos de medicina nuclear à distância? 

Conforme expliquei no item sobre medicina nuclear no Brasil, a oferta de exames na área é muito má distribuída no território nacional.

A boa notícia é que há uma alternativa para democratizar seu acesso. Por meio do telediagnóstico, pacientes de todo país podem receber laudos diretamente dos melhores especialistas, sem precisar se deslocar.

Na modalidade, basta que o centro de diagnóstico tenha os equipamentos necessários para o exame e conte com o apoio de uma plataforma de telemedicina.

A partir disso, realiza-se a utilização do exame normalmente pelos técnicos.  Contudo, realiza-se um procedimento um pouco diferente. com o envio dos dados após o procedimento direto para uma central de especialistas.

Assim que recebem as informações, os médicos da área em questão analisam o caso, elaboram o laudo e o enviam novamente em poucos minutos.

Dessa forma, é possível ofertar exames de medicina nuclear sem investir em um corpo clínico específico para laudar e sem ter que “driblar” a carência de profissionais em certas regiões.

O melhor é que, ao aderir a esse tipo de solução, as clínicas ainda podem usufruir dos demais benefícios da telemedicina. 

Isso significa a possibilidade de integrar as tecnologias de prontuário eletrônico, teleconsulta, teletriagem, entre outras aos seus serviços (conforme sua demanda). 

Para você ter ideia da abrangência desse tipo de solução, basta observar os números das principais empresas do setor.

A Telemedicina Morsch, que é referência na área, oferece uma central com mais de 300 especialistas e emite cerca de 20.000 laudos todos os meses. 

Ao contratar o pacote de laudos da empresa, as unidades ainda podem obter os equipamentos sem nenhum tipo de custo, por meio de comodato. 

Alguns tratamentos com radiofármacos

Agora que você já sabe o que é medicina nuclear, quais são as particularidades dos exames e qual a importância da telemedicina na área, vou apresentar algumas das alternativas de tratamento mais importantes que são viabilizadas por essa especialidade. Confira:

  • Radioimunoterapia: muito utilizada no tratamento de leucemia, linfoma e tumores sólidos, como câncer de ovário, próstata e de pulmão. Ela emprega anticorpos monoclonais para entregar radionuclídeos terapêuticos seletivamente nos tumores;
  • Radiosinovectomia: direcionado ao tratamento de doenças sinoviais inflamatórias, como artrite hemofílica, reumatoide e osteoartrite, ele é uma alternativa à sinovectomia química ou cirúrgica;
  • Terapia radiofarmacêutica para metástases ósseas: trata-se de uma intervenção paliativa. Recomendada para o alívio de dor. Também ajuda a reduzir o uso de opióides, quimioterapia e radiação, a fim de melhorar a qualidade de vida dos pacientes com metástases ósseas;
Alguns tratamentos com medicina nuclear

Radioiodoterapia: considerada a principal alternativa para o tratamento do hipertireoidismo. Além disso, há usso dessa técnica como forma complementar à cirurgia de carcinoma diferenciado da tireoide.

Conclusão

Como você pôde acompanhar neste conteúdo, a medicina nuclear é uma área de suma importância. Afinal, ela viabiliza a obtenção de diagnósticos mais precoces em relação a outros exames de imagem e oferece alternativas viáveis de tratamento para doenças bastante sérias. 

As intervenções são extremamente seguras e sua oferta é ampla. Contudo, a distribuição dos centros especializados no Brasil ainda é desigual. Por conta disso, a telemedicina é a melhor alternativa para ampliar seu acesso e democratizar o uso entre a população.

Portanto, se você gostou de saber tudo sobre medicina nuclear, não deixe de informar-se sobre outros temas de saúde tão importantes quanto esse. Assine a newsletter para receber os próximos artigos em primeira mão e compartilhe este artigo com os seus amigos.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin