Higiene ocupacional: tipos de riscos e etapas dessa avaliação
Higiene ocupacional é uma disciplina que foca na prevenção de doenças ocupacionais.
Para tanto, os profissionais da área realizam avaliações ambientais, pautadas por conhecimento científico aplicado à realidade das empresas.
Seu papel inclui antecipar, reconhecer, avaliar e controlar riscos químicos, físicos e biológicos, zelando pela saúde do trabalhador.
Neste texto, aprofundo a importância desse campo na SST, portanto, se o assunto interessa a você, convido a ler até o final.
Vou apresentar também as soluções da telemedicina que auxiliam o trabalho das equipes de saúde ocupacional.
O que é higiene ocupacional?
Higiene ocupacional é a área que trabalha pela prevenção primária dos riscos ambientais no ambiente laboral.
O grupo de riscos ambientais inclui agentes químicos, físicos e biológicos.
Todos com o potencial de provocar doenças relacionadas ao trabalho.
Conforme definição da Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (ABHO), a higiene ocupacional:
“É a ciência e a arte dedicada ao estudo e ao gerenciamento das exposições ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos, por meio de ações de antecipação, reconhecimento, avaliação e controle das condições e locais de trabalho, visando à preservação da saúde e bem-estar dos trabalhadores, considerando ainda o meio ambiente e a comunidade”.
Qual a importância da higiene ocupacional?
Higiene ocupacional e segurança do trabalho andam de mãos dadas.
A segurança do trabalho se concentra em evitar acidentes, enquanto a higiene combate patógenos no ambiente laboral.
Ao trabalhar na prevenção primária, a higiene ocupacional oferece soluções capazes de reduzir ou até eliminar o efeito nocivo de substâncias, energias e microorganismos patógenos.
A disciplina parte de um estudo aprofundado dos componentes do ambiente laboral, atividades e rotinas que possam prejudicar a saúde dos colaboradores.
Além de empregar técnicas, metodologias e parâmetros de qualidade para fazer o controle dos riscos ambientais, como os limites de exposição ocupacional (LEO).
Cabe salientar o papel essencial da higiene ocupacional no combate às doenças ocupacionais, que têm menos visibilidade que os acidentes de trabalho.
Afinal, os acidentes costumam deixar vítimas fatais ou gravemente lesionadas de forma imediata, enquanto as patologias podem levar anos para se manifestar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, na América Latina, os casos notificados de doenças relacionadas ao trabalho correspondam a no máximo 5% do total que realmente acontecem.
Nesse cenário, a higienista ocupacional Berenice Goelzer ressalta, em seu artigo “Higiene Ocupacional: importância, reconhecimento e desenvolvimento”, que:
“É impossível resolver o problema das doenças ocupacionais sem praticar a prevenção primária de riscos nos locais de trabalho, que é justamente o objetivo final da Higiene Ocupacional”.
Tipos de riscos da higiene ocupacional
Alguns tipos de riscos ocupacionais são menos presentes na rotina dos higienistas, sendo combatidos com o auxílio de outros especialistas.
Isso porque existem riscos além dos ambientais, como os ergonômicos, que nascem da relação entre o homem e o trabalho.
Móveis inadequados, longas jornadas e trabalho extenuante se enquadram nesse grupo, pedindo a atenção das equipes de SST – e, se necessário, de um especialista em ergonomia.
Outros riscos fora do escopo da HO são os mecânicos ou de acidentes de trabalho, que surgem a partir de condições físicas e tecnológicas inadequadas, que elevam as chances de lesões de maior ou menor gravidade.
Eles também devem ser identificados e mitigados a partir de soluções propostas pela equipe do SESMT, CIPA e outros profissionais focados na segurança do trabalho, como engenheiros e técnicos.
Neste espaço, falo sobre os riscos ambientais, tão importantes para a prevenção de doenças relacionadas ao trabalho.
Veja a seguir detalhes sobre os três tipos de riscos analisados e mitigados com soluções de higiene ocupacional.
Riscos físicos
São as ameaças produzidas por diferentes formas de energia presentes nos ambientes de trabalho.
Tanto os riscos físicos quanto seus efeitos no corpo humano são bastante variados, indo desde dores nas costas e articulações até patologias graves como o câncer.
A exposição contínua à radiação ionizante emitida por exames radiológicos, por exemplo, tem efeito cumulativo no organismo.
Isso aumenta as chances de trabalhadores como técnicos em radiologia desenvolverem tumores malignos.
Enquanto a exposição contínua ao calor do sol ou em ambientes próximos a máquinas é capaz de provocar desidratação, insolação, erupções na pele e até distúrbios psiconeuróticos.
Listo os riscos físicos mais comuns abaixo:
- Frio
- Calor
- Pressão
- Umidade
- Vibração
- Radiações não ionizantes
- Radiações ionizantes.
A seguir, falo dos riscos químicos.
Riscos químicos
São aqueles gerados pelo contato e manipulação de produtos químicos presentes em formas como neblinas, poeiras, fumos, névoas, gases e vapores.
Durante as atividades laborais, essas substâncias são inaladas ou absorvidas pela pele, provocando desde irritação até intoxicação de forma imediata.
No entanto, os efeitos mais preocupantes são aqueles que se manifestam semanas, meses ou até anos após o contato com agentes químicos.
A exposição crônica a alguns deles faz com que se depositem em órgãos vitais como os pulmões, que sofrem com quadros inflamatórios pela inalação de poeiras minerais.
O contato prolongado com esses patógenos tende a evoluir para cicatrizes e fibrose pulmonar.
É o que ocorre nos pulmões das vítimas de pneumoconioses, a exemplo de mineradores de carvão, que inalam micropartículas de carbono, adquirindo antracose.
Outros agentes químicos conhecidos são:
- Amianto
- Benzeno
- Sílica
- Mercúrio
- Níquel
- Urânio
- Aldeídos
- Propano
- Acetona
- Hidrogênio
- Berílio.
Na sequência, destaco os riscos biológicos.
Riscos biológicos
Vírus, bactérias, protozoários e fungos são os principais agentes de risco biológico.
Esses microrganismos são capazes de provocar doenças quando em contato com a pele, mucosas ou caso sejam inalados junto ao ar.
A intensidade das doenças transmitidas varia conforme o patógeno, sendo que as mais graves costumam ser disseminadas por bactérias (como pneumonia e meningite) e fungos (a exemplo da sinusite fúngica).
Trabalhadores da saúde, laboratórios, limpeza urbana e saneamento básico estão entre os mais expostos a riscos biológicos.
Quais são as etapas da higiene ocupacional?
As quatro etapas da higiene ocupacional são: antecipação, reconhecimento, avaliação e controle de riscos.
Não por acaso, essa é a estrutura prevista para o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), junto ao monitoramento da exposição aos riscos e registro e divulgação dos dados.
Tanto o PPRA quanto a NR-09 foram criados a partir da iniciativa de higienistas ocupacionais, que atraíram a atenção das autoridades brasileiras para os riscos ambientais ainda na década de 1970.
Foi assim que a temática ganhou espaço entre as primeiras Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, publicadas pela Portaria 3.214, de 8 de junho de 1978.
Desde a última revisão das Normas, em vigor a partir de janeiro de 2022, houve alterações significativas nas NR 1 e 9, substituindo o PPRA pelo Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
A NR-09 continua em vigor, porém, restrita à avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos.
Conheça agora as principais etapas do trabalho dos higienistas ocupacionais.
1. Antecipação dos riscos
Essa é uma das etapas mais eficientes em termos de prevenção de ocorrências no trabalho.
Porque, sim, a antecipação de riscos permite evitar tanto acidentes quanto doenças ocupacionais.
Ela engloba medidas adotadas desde o planejamento, desenho de processos e dos próprios locais de trabalho.
Um exemplo claro está na adaptação de espaços selecionados para os departamentos de uma fábrica, de modo que os colaboradores tenham o menor contato possível com um agente químico.
Assim como o acréscimo de janelas para aumentar a ventilação natural, favorecendo o conforto térmico dos empregados.
Ou a realocação de uma máquina, afastando-a da equipe administrativa para reduzir a exposição ao ruído.
Ações de antecipação de riscos criam processos e ambientes projetados para proteger a saúde dos trabalhadores.
2. Reconhecimento dos riscos
O reconhecimento dos agentes e fatores de risco vem logo após a fase de antecipação.
É a etapa destinada a identificar quais riscos ambientais estão presentes nas empresas, determinando sua classificação em agentes químicos, físicos e biológicos.
Deve ser feito um detalhamento sobre o patógeno e as ameaças que ele representa aos trabalhadores, incluindo doenças e agravos à saúde.
Também é o momento de determinar se há condições de exposição aceitáveis, a fim de oferecer soluções caso não haja.
Além do potencial de impacto de cada risco ambiental isolado, o higienista estuda possíveis efeitos combinados de substâncias, energias e microrganismos.
2. Avaliação dos riscos
A avaliação dos riscos tem como objetivo eliminar a exposição ocupacional ou, quando não for possível, diminuir essa exposição a níveis aceitáveis.
Para tanto, é preciso contar com os dados coletados na etapa de reconhecimento de riscos, a fim de fazer o mapeamento das fontes de risco.
Com essas informações em mãos, o especialista pode definir o tipo de avaliação que será realizada – que pode ser qualitativa ou quantitativa.
É a partir das conclusões da avaliação que o especialista ou técnico em higiene ocupacional poderá propor medidas de controle para os ricos.
Além de compor laudos técnicos como o PPRA que, como mencionei antes, passou a integrar o PGR.
3. Controle de riscos
Por fim, o trabalho em higiene ocupacional possibilita a sugestão e implementação de medidas de controle de riscos ambientais.
Elas incluem ações de engenharia, substituição de tecnologias, proteção coletiva e individual.
A substituição de tecnologias é capaz de eliminar a fonte de risco, sendo fortemente indicada sempre que passível de ser adotada.
Um exemplo está na troca de agentes cancerígenos, como o amianto, por outros materiais para a fabricação de caixas d’água, telhas etc.
As soluções de engenharia também são bastante recomendadas, pois beneficiam equipes ou departamentos inteiros.
É o acontece quando há o enclausuramento do benzeno em processos que utilizam este componente.
Ações de proteção coletiva oferecem outros caminhos para preservar a saúde de muitos colaboradores, afastando-os de fontes de risco como o calor.
Quando nenhuma dessas medidas mais abrangentes é suficiente para reduzir a exposição ocupacional a níveis aceitáveis, é adotado o uso de Equipamentos de Proteção Individual.
Máscaras faciais, luvas, calçados de segurança e abafadores são exemplos de EPI.
Como fazer uma avaliação de higiene ocupacional
Como destaquei acima, a avaliação cabe a especialistas em SST e HO, que podem ser funcionários da empresa ou prestadores de serviço.
Eles seguem basicamente cinco passos:
- Mapeamento de riscos
- Escolha da metodologia de avaliação
- Determinação do tipo de limite de exposição adotado, caso seja feita avaliação quantitativa
- Análise da exposição ocupacional, usando equipamentos de medição de higiene ocupacional
- Elaboração de laudo técnico com conclusões e medidas de controle a serem adotadas.
A avaliação qualitativa de higiene ocupacional utiliza parâmetros como condições do processo e toxicidade para avaliar os agentes identificados.
Por outro lado, a análise quantitativa emprega medições e amostragens que são comparadas a valores de referência para verificar se estão em níveis aceitáveis.
Alguns desses valores estão na Norma Regulamentadora 15, que aborda atividades e operações insalubres.
Para caracterizar a insalubridade, o texto utiliza limites de tolerância, definidos da seguinte forma:
“Entende-se por ‘Limite de Tolerância’, para os fins desta Norma, a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida laboral”.
Agentes que não são citados na norma podem se valer dos Limites de Exposição Ocupacional (LEO), estabelecidos pela American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH).
Soluções de telemedicina na saúde ocupacional
A dinâmica de produção e assinatura de laudos técnicos e outros relatórios de saúde ocupacional nem sempre é ágil.
Muitas vezes, higienistas ocupacionais, engenheiros de segurança e outros especialistas têm jornadas de trabalho reduzidas, o que tende a atrasar a entrega dos documentos.
E, além disso, expor a empresa a sanções por órgãos governamentais.
Mas existe uma solução simples e tecnológica para essa questão: a telemedicina.
Atualmente, é possível criar, compartilhar e assinar laudos ocupacionais dentro do software de telemedicina Morsch, com rapidez e comodidade.
O sistema só pode ser acessado mediante login e senha, além de contar com criptografia, garantindo a troca de informações com segurança.
A opção de assinatura digital via telemedicina está disponível para:
- PCA.
Clique aqui e leve essa inovação para a sua empresa!
Conclusão
O campo da higiene ocupacional emprega conhecimento técnico e científico em prol da saúde dos trabalhadores.
Daí o seu papel na prevenção de doenças e promoção do bem-estar no trabalho.
Achou este artigo interessante?
Então, compartilhe!
E siga acompanhando as novidades do blog para ampliar os saberes sobre saúde e tecnologia.