Pneumoconiose relacionada ao trabalho: causas, sintomas e tipos

Por Dr. José Aldair Morsch, 7 de julho de 2022
Pneumoconiose

Pneumoconiose é um termo que define um conjunto de doenças pulmonares, geralmente adquiridas no local de trabalho.

Poeiras e névoas contendo partículas muito pequenas são as responsáveis por essas patologias crônicas, que pioram conforme aumenta o tempo de exposição dos funcionários.

Reside aí a importância de investir em medidas de segurança e saúde do trabalho.

Tudo com o objetivo de evitar o contato prolongado com esses patógenos.

Além de contar com monitoramento periódico para viabilizar o diagnóstico precoce dessas doenças.

Reuni, neste artigo, as principais informações sobre causas, sintomas e quais ações auxiliam na prevenção da pneumoconiose.

Além de um bônus para dar mais agilidade à assinatura dos documentos de saúde ocupacional, com o suporte da telemedicina.

O que é pneumoconiose?

Pneumoconiose é um conjunto de patologias provocadas pela inalação e acúmulo de agentes químicos nos pulmões, como poeiras e névoas.

É comum classificar as pneumoconioses como doenças ocupacionais, pois elas quase sempre têm relação direta com o ambiente de trabalho.

Mineração, indústria de eletroeletrônicos e jateamento de areia estão entre as atividades de maior risco para a inalação de patógenos e adoecimento.

Incapazes de eliminar as substâncias nocivas, os pulmões sofrem efeitos adversos progressivos, começando por quadros inflamatórios.

Caso a exposição seja prolongada, as inflamações tendem a evoluir para problemas mais sérios, como cicatrizes e fibrose pulmonar.

Nesses casos, o tecido dos pulmões perde elasticidade, o que prejudica sua expansão e as trocas gasosas necessárias para a respiração.

As pneumoconioses são sempre crônicas, portanto, a melhor saída é prevenir seu surgimento ou evolução.

Caso contrário, essas patologias prejudicam a qualidade de vida do trabalhador, resultando em incapacidade para o trabalho, internações e até levando ao óbito.

Quais as causas da pneumoconiose?

As causas da pneumoconiose são variadas, dependendo tipo de poeira mineral a que o colaborador foi exposto.

A asbestose, por exemplo, é provocada pela inalação de poeiras de amianto ou asbesto, enquanto a silicose é causada pela inalação de sílica.

Ferro, talco, carvão, cobalto e bauxita são outras poeiras que capazes de carregar patógenos para dentro do organismo. Já o berílio também pode ser aspirado em forma de névoa.

Como explica este material da Prefeitura de São Paulo, um dos fatores comuns a todas as pneumoconioses é o tamanho reduzido das partículas dispersas no ambiente laboral:

“Para atingir as vias respiratórias inferiores as partículas inaladas devem ter a mediana do diâmetro aerodinâmico inferior a 10um, pois acima deste tamanho são retidas nas vias aéreas superiores”.

Sintomas da pneumoconiose

Os sintomas dependem do tipo e estágio da pneumoconiose.

Porque, no início, essa é uma doença silenciosa, que raramente apresenta sinais.

Só aparecem sintomas mais contundentes quando há comprometimento mais grave dos brônquios e alvéolos (pequenas bolsas responsáveis pelas trocas gasosas nos pulmões).

Daí a necessidade de rastreamento dessas patologias em trabalhadores expostos a poeiras minerais e névoas, a fim de identificar alterações que ainda não foram percebidas por eles.

A lista de sinais de pneumoconiose inclui:

  • Dificuldade para respirar durante exercícios ou esforços físicos intensos – tende a ser o primeiro sintoma observado
  • Tosse seca ou produtiva
  • Sibilo ou chiado no peito
  • Tontura
  • Fraqueza
  • Náuseas
  • Crises intensas de falta de ar, exigindo que o paciente seja levado ao pronto-socorro
  • Baixa oxigenação dos tecidos do corpo
  • Cianose, que descreve a cor azulada na boca e pontas dos dedos
  • Fadiga
  • Febre
  • Dor nas costas
  • Perda de peso sem motivo aparente
  • Lesões na pele
  • Dor no peito
  • Inchaço nas pernas, que é reflexo da sobrecarga cardíaca quando os pulmões funcionam mal.
Patologia do pulmão pneumoconiose

A pneumoconiose é uma doença silenciosa; os sintomas aparecem quando há comprometimento mais grave

Tipos de pneumoconiose

Existem vários tipos de pneumoconiose, cada uma provocada por uma partícula mineral diferente, inalada aos poucos.

Inclusive, o nome das pneumoconioses costuma remeter ao patógeno que desencadeou a doença.

A seguir, veja detalhes sobre alguns tipos.

Silicose

Desencadeada pela exposição crônica ao óxido de silício (conhecido como sílica).

Esse é o principal componente da areia, sendo indispensável na fabricação de materiais como vidro e cimento.

Empregados que atuam na construção de túneis, minas terrestres, indústrias de fundição e manuseio de vidros correm maior risco de sofrer com silicose.

Asbestose

É a pneumoconiose decorrente do processo de depósito de poeira de asbesto nos pulmões.

Também conhecido como amianto, esse agente químico está relacionado a uma série de doenças, inclusive uma espécie rara de câncer: o mesotelioma.

Ele afeta a membrana que reveste os pulmões, chamada pleura.

O amianto pode estar presente no dia a dia de trabalhadores da construção civil, naval, indústrias de isolamento, azulejos, lonas, telhas e caixas d’água.

Beriliose

Cerâmica, manufatura e indústria aeroespacial estão entre as áreas de maior risco para a beriliose.

Porque suas atividades incluem exposição ao berílio, um metal alcalino-terroso de alta resistência térmica, geralmente inalado em forma de névoa.

Antracose

Provocada pelo acúmulo de micropartículas de carbono nos pulmões, a antracose tem maior predominância entre mineradores de carvão.

Além de pessoas que residem em cidades com altos níveis de poluição do ar, decorrentes da fumaça expelida por chaminés e veículos.

Siderose

Profissionais que trabalham no polimento e solda de materiais são mais propensos a sofrer com a siderose.

Essa patologia surge como resultado da exposição a micropartículas de ferro, que se soltam das estruturas e alcançam as vias respiratórias dos trabalhadores.

Talcose

Pneumoconiose desencadeada por diferentes tipos de talco, a doença afeta categorias profissionais como artesãos, trabalhadores da indústria têxtil, alimentícia, de porcelanas e borracha.

Conforme define artigo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Trabalho:

“A pneumoconiose pela exposição ao talco é uma doença fibrogênica progressiva, irreversível e sem tratamento efetivo, que pode manifestar-se vários anos após o início da exposição ou mesmo anos depois de cessada a exposição”.

Baritose

Essa modalidade tem origem nas exposições contínuas ao sulfato de bário, presente em processos das indústrias como a de borracha, papel, tintas e vidro.

Outros tipos de pneumoconiose

Exemplos além dos citados acima englobam:

  • Pneumoconiose por rocha fosfática
  • Pneumoconiose por abrasivos
  • Pneumoconiose por poeira mista
  • Estanose
  • Pneumoconiose pelo caulim.
Pneumoconioses

Durante a consulta, o médico começa com o exame clínico, podendo solicitar exames complementares

Quais exames detectam a doença pneumoconiose?

Assim como os sintomas, métodos de diagnóstico podem variar conforme o tipo de pneumoconiose, mas a investigação sempre começa com o exame clínico.

Essa abordagem é formada por duas etapas: anamnese e exame físico.

Durante a anamnese, o médico coleta informações relevantes sobre os sintomas, quando surgiram e sua intensidade.

Além de se informar sobre aspectos do histórico de saúde e, em especial, da história laboral do paciente para ter uma ideia de riscos químicos presentes nos locais de trabalho.

Junto ao tempo de exposição e detalhes sobre as medidas preventivas adotadas, como ventilação, enclausuramento e uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI).

Em seguida, vem o exame físico, que utiliza técnicas como palpação e ausculta para detectar anormalidades nos tecidos e funcionamento de órgãos do sistema respiratório, cardiovascular e outros.

Exames complementares

A avaliação clínica costuma oferecer dados suficientes para construir a hipótese diagnóstica.

Porém, a confirmação é feita com suporte de exames complementares, como justifica este artigo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia:

“Os métodos de imagem, em associação com a história ocupacional, exame clínico e testes de função pulmonar, são ferramentas muito importantes na avaliação das doenças respiratórias ambientais e ocupacionais. Além de desempenharem papel fundamental na detecção dessas doenças, são de extrema valia na quantificação dos agravos e no monitoramento da progressão de eventuais alterações respiratórias”.

Nesse contexto, os principais procedimentos solicitados são radiografia, tomografia computadorizada e prova de função pulmonar.

Devido ao menor custo e maior disponibilidade, a radiografia costuma ser o primeiro exame de imagem realizado para evidenciar o depósito de micropartículas nos pulmões.

Utilizando radiação ionizante, o procedimento coleta imagens internas em preto, branco e tons de cinza.

Vale citar, também, o raio X de tórax padrão OIT, bastante utilizado no rastreio de doenças ocupacionais que acometem as estruturas da área torácica.

Contudo, dependendo da extensão dos danos, pode ser necessário fazer uma tomografia computadorizada para visualizar detalhes.

O exame usa radiação ionizante para obter cortes transversais, que são sobrepostos para formar imagens de alta resolução.

Para complementar os dados obtidos através das imagens, o médico pode pedir por uma espirometria ou prova de função pulmonar.

O procedimento mede a quantidade e a velocidade com a qual um indivíduo consegue inalar e exalar o ar, revelando sua capacidade pulmonar.

Como tratar pneumoconioses relacionadas ao trabalho

A primeira ação para um tratamento eficaz é cessar a exposição à substância nociva, caso o paciente ainda esteja em contato com ela.

Muitas vezes, as pneumoconioses só são descobertas anos depois da inalação das poeiras minerais.

Em seguida, cabe ao médico avaliar cada caso para prescrever quais medidas podem aliviar sintomas e evitar complicações como infecções respiratórias e câncer.

Uma medida popular é o uso de medicamentos broncodilatadores para ajudar na respiração e diminuir a intensidade da falta de ar.

E de fisioterapia respiratória, que também ajuda a diminuir os efeitos da fibrose pulmonar.

Não raramente, casos graves precisam de internação e oxigenoterapia para elevar o nível de saturação de oxigênio.

Certos pacientes também podem ser candidatos ao transplante de pulmão para substituir os órgãos colapsados.

Prevenção da pneumoconiose: como evitar a doença?

Por ser uma doença ocupacional, é indispensável investir em medidas preventivas nos ambientes de trabalho, visando evitar ou diminuir o contato dos empregados com poeiras e névoas.

As ações devem combinar eliminação do patógeno, soluções de engenharia, proteção coletiva e individual.

Eliminação da fonte de risco

Essa deve ser a primeira opção para preservar a saúde dos colaboradores, evitando sua exposição a substâncias nocivas.

Geralmente, o patógeno é substituído por outra matéria-prima que apresente menor risco ou maiores chances de controle no ambiente de trabalho.

Mudanças maiores são realizadas a partir da troca de tecnologias com o objetivo de modernizar as empresas e aumentar a segurança dos processos.

Soluções de engenharia

Se não for possível eliminar a fonte de risco, a segunda alternativa deve priorizar soluções de engenharia para reduzir a exposição ocupacional.

Um exemplo está no enclausuramento das poeiras minerais, que impede que se espalhem e sejam inaladas.

Também pode ser instalado um sistema de exaustão localizada para a aspersão de névoas de água nos pontos de produção de poeira.

Proteção coletiva

O terceiro nível de prevenção é a proteção coletiva, que implementa medidas para diminuir os pontos de contato entre trabalhadores e agentes químicos.

A ventilação, por exemplo, promove maior dispersão das poeiras e névoas, reduzindo sua concentração no ambiente laboral.

Enquanto a umidificação dos locais evita que a poeira sedimentada seja lançada no ar novamente e inalada.

Proteção individual

O trabalho com potencial exposição a poeiras mineiras pede uma última barreira, formada por máscaras faciais.

Esses EPI devem ser recomendados por especialistas em SST e fazer parte de um Programa de Proteção Respiratória (PPR), que engloba orientações de colocação e manuseio por parte dos colaboradores.

Além de recomendações para a troca, limpeza e troca de filtros dos respiradores periodicamente.

Exames de rastreio

Outra medida essencial é o rastreio de pneumoconioses por meio de exames periódicos que integram o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO).

Raio x de tórax padrão OIT e espirometria estão entre os mais comuns.

Telemedicina e seu papel na saúde ocupacional

Laudos ocupacionais são indispensáveis para o monitoramento da saúde dos trabalhadores, principalmente quando existe risco de doenças graves como as pneumoconioses.

Mas esses documentos devem ser assinados por especialistas em SST, que nem sempre estão presentes durante todo o horário de funcionamento das empresas.

A boa notícia é que dá para contratar profissionais como engenheiros de segurança e médicos do trabalho à distância, com toda a segurança.

Basta usar um sistema de telemedicina para criar e salvar arquivos de saúde ocupacional na nuvem, um local da internet protegido por senhas e criptografia.

Plataformas modernas como a da Telemedicina Morsch incluem o serviço de assinatura online para os seguintes documentos:

Acesse esta página e leve essa inovação para a equipe do SESMT.

Conclusão

Silenciosa nas fases iniciais, a pneumoconiose costuma surgir em decorrência de meses ou anos de exposição a micropartículas de substâncias químicas nocivas.

Quando descoberta, a doença já comprometeu a capacidade pulmonar do trabalhador, provocando danos irreversíveis.

Daí a necessidade de implementar medidas protetivas eficientes nos locais de trabalho em que há geração de poeiras e névoas minerais.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin