Quais são os riscos ergonômicos no trabalho e como identificar?
Esforço físico e postura inadequada são alguns dos riscos ergonômicos mais comuns nas empresas.
Quando presentes de forma contínua, eles têm o potencial de afetar o corpo e a mente dos funcionários, resultando em desconforto.
Se nada for feito para reverter o quadro, a tendência é de adoecimento no trabalho, com alto custo para o bem-estar do colaborador e a produtividade do negócio.
Vale lembrar que nem sempre os riscos ergonômicos são evidentes, já que muitos estão ligados à organização do trabalho. É o caso da exigência de ritmo intenso ou seu oposto, o trabalho monótono e repetitivo.
Neste artigo, falo sobre as doenças relacionadas aos riscos ergonômicos, identificação e medidas preventivas, além de explicar como simplificar a assinatura de documentos de saúde ocupacional com a telemedicina.
O que são riscos ergonômicos?
De um jeito simples, podemos definir os riscos ergonômicos como aqueles decorrentes da falta de ajuste do trabalho em relação ao ser humano.
Ou, como define a Fiocruz:
“São os fatores que podem afetar a integridade física ou mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença”.
Como adiantei na abertura do texto, a falta de ações ergonômicas costuma gerar desconforto para os funcionários, num primeiro momento.
Isso é sinal de que adequações precisam ser realizadas, antes que causem agravos à saúde dos trabalhadores.
Um exemplo conhecido é verificado nas centrais de telemarketing ou mesmo em escritórios.
A rotina agitada e as metas de produtividade pedem que os empregados passem quase toda a jornada de trabalho atualizando arquivos eletrônicos com digitação.
Isso expõe as equipes a riscos como repetitividade e ritmo intenso, provocando cansaço crônico e dores esporádicas nas mãos e braços, inicialmente.
Com o tempo, os sintomas tendem a se tornar mais graves, levando ao surgimento de LER/DORT, dores de cabeça e nas costas.
Além de elevar as chances de estresse e patologias originadas do sofrimento psíquico, como burnout e ansiedade, fruto de metas inatingíveis e cobrança excessiva.
Nesse cenário, são necessárias interferências em prol da saúde dos funcionários, como a diminuição do ritmo de trabalho e a alternância de tarefas.
Pausas e exercícios preventivos também são bem-vindos, pois ajudam a prevenir o desgaste de articulações e outros danos físicos.
Qual a cor do risco ergonômico?
De acordo com o mapa de riscos ocupacionais, riscos ergonômicos são sinalizados pela cor amarela.
Esse mapa e a classificação dos riscos ocupacionais por cores atendem ao disposto em normas regulamentadoras como a NR-01 e NR-05.
Sua finalidade é registrar a percepção dos riscos e comunicá-la de forma clara e simples, permitindo que qualquer trabalhador identifique a presença de ameaças no ambiente laboral.
Para tanto, elas são apresentadas em círculos de 3 tamanhos diferentes – que se referem a risco baixo, médio e alto – e coloridos conforme o tipo de ameaça, sendo:
- Verde: risco físico
- Vermelho: risco químico
- Marrom: risco biológico
- Amarelo: risco ergonômico
- Azul: risco de acidentes ou mecânico.
A seguir, entenda a importância do monitoramento dos riscos.
Por que monitorar riscos ergonômicos no trabalho?
O monitoramento de riscos ergonômicos tem duas razões principais: atender à legislação vigente e criar ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis.
Começando pela motivação legal, a identificação, avaliação e mitigação dos riscos ergonômicos é determinada em documentos compulsórios como o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Estabelecido pela Norma Regulamentadora 01 do Ministério do Trabalho, o PGR deve contemplar riscos ambientais (físicos, químicos e biológicos), ergonômicos e de acidentes.
No entanto, é na NR-17 que se encontram os detalhes para tornar os postos de trabalho ergonômicos.
De acordo com o item 17.1.1, a norma:
“Visa a estabelecer as diretrizes e os requisitos que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho”.
Segurança e saúde no trabalho
Além da obrigação legal, o monitoramento dos riscos ergonômicos é fundamental para que sejam mitigados, elevando a SST.
Isso porque a ergonomia é forte aliada na prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, preservando a integridade e o bem-estar dos colaboradores.
Muitas vezes, descuidos e falhas na condução de máquinas e equipamentos, por exemplo, resultam do estresse e cobranças por produtividade, que reduzem a atenção do funcionário e aumentam o risco de acidentes de trabalho.
Quanto às doenças, diversos fatores laborais podem contribuir para que se desenvolvam ou se agravem.
Postos sem apoio para os cotovelos e pés, por exemplo, sobrecarregam essas estruturas, aumentando as chances de lesões crônicas.
Doenças relacionadas ao risco ergonômico
A exposição ocupacional a riscos ergonômicos pode ser a raiz de uma série de doenças.
Dependendo de fatores como intensidade, período de exposição e continuidade, elas podem se agravar em maior ou menor tempo.
Os primeiros sinais costumam ser passageiros, a exemplo de:
- Cansaço mental e/ou físico constante
- Dor de cabeça
- Tensão muscular
- Formigamento e perda de força nos membros
- Dor nas costas
- Estresse ocupacional
- Enjoo
- Azia
- Diarreia ou constipação
- Insônia.
A condição pode se agravar, evoluindo para patologias como a gastrite, que é a inflamação do tecido interno do estômago.
Quadros inflamatórios mais graves chegam a causar úlceras ou feridas neste órgão.
Postura inadequada no trabalho pode provocar lordose, um desvio na coluna que aumenta a curvatura dessa estrutura.
Outro problema clássico são as LER/DORT (Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho).
Elas surgem em decorrência da sobrecarga que leva ao desgaste de estruturas como tendões e bursas, desencadeando tendinites e bursites, respectivamente.
Todas essas patologias são crônicas, exigindo tratamento contínuo para prevenir crises.
Doenças psíquicas
Outro grupo de doenças relacionadas ao risco ergonômico são as doenças mentais.
Jornadas extenuantes e longas propiciam o desenvolvimento de burnout, um quadro de esgotamento mental relacionado ao trabalho.
Esta patologia suga a disposição do funcionário, provocando episódios depressivos.
Aliás, a depressão no trabalho também pode ter origem ou se agravar diante da desvalorização do profissional, isolamento e incentivo à competição exacerbada.
Nesse caso, o empregado vivencia cenários de desesperança, negatividade e até pensamentos suicidas.
Já aqueles que se preocupam demais com as exigências de produtividade e resultados tendem a sofrer com ansiedade, o que dificulta a concentração e repouso.
Quais são os riscos ergonômicos mais comuns?
Falo agora sobre as ameaças a observar no ambiente laboral.
Conforme o já mencionado site da Fiocruz, estes são os principais riscos ergonômicos presentes nas empresas:
1. Esforço físico e levantamento de peso como fator para riscos ergonômicos
Trabalhadores que atuam no transporte de cargas e construção civil estão entre os mais expostos a esse tipo de risco ergonômico.
Ao exercer grande esforço para levantar, empurrar ou puxar cargas, elevam-se as chances de sofrer traumas musculares, lesionando áreas como coluna e membros superiores.
2. Postura inadequada é um dos riscos ergonômicos mais frequentes
A falta de adequação do posto de trabalho, máquinas ou equipamentos utilizados para as atividades leva as pessoas a criarem mecanismos de compensação para realizar suas tarefas.
Muitas vezes, essas adaptações acabam forçando posturas estáticas, que sobrecarregam os tecidos, diminuem a oferta de oxigênio e favorecem o acúmulo de ácido láctico nessas áreas.
É assim que surgem as LER/DORT, por exemplo, especialmente entre indivíduos que trabalham em escritórios, atividades de manutenção, solda, etc.
3. Monotonia e repetitividade
Tarefas operacionais que exigem a repetição de movimentos elevam o risco de lesões nos membros superiores.
Além do surgimento de transtornos mentais devido à falta de motivação para o trabalho.
Empregados alocados em linhas de montagem, indústria têxtil e polimento de peças costumam sofrer com esses agravos à saúde.
4. Imposição de rotina intensa
Períodos de fechamento e entrega costumam pedir maior intensidade nas atividades laborais, a fim de cumprir os prazos combinados.
Contudo, essa rotina de trabalho árduo não pode se tornar regra.
Caso contrário, aumenta o risco de cansaço ou até esgotamento mental, uma vez que o funcionário é forçado a gastar muita energia diariamente.
5. Controle rígido de produtividade
A produtividade é um indicador importante para a avaliação das equipes, no entanto, é preciso ter cuidado para evitar exageros em sua medição.
Principalmente ao estabelecer metas audaciosas, controladas com o suporte de ferramentas de monitoramento da produção de cada colaborador.
Essa prática tende a gerar sentimentos de frustração e fracasso quando o empregado não dá conta de todas as atividades designadas a ele em determinado período.
6. Situação de estresse
Em doses normais, o estresse ajuda a impulsionar o desempenho, permitindo que o trabalhador execute as tarefas com mais eficiência.
Porém, quando o clima empresarial e a organização do trabalho exigem uma performance sempre excelente, eles acabam reforçando a autocobrança interna.
A insatisfação em relação aos resultados deixa o profissional em estado de alerta permanente.
Essa sobrecarga mental frequente logo desencadeia quadros de ansiedade, depressão ou burnout.
7. Trabalho noturno
Embora as luzes e a movimentação durante o trabalho consigam manter os colaboradores acordados durante a noite, esse tipo de jornada tem efeito adverso para a saúde.
Isso porque a melatonina, hormônio responsável por nos despertar pela manhã, sofre influência da luz do sol.
Ou seja, a produção diminui durante a noite, reduzindo a capacidade de atenção e aumentando o risco de acidentes.
Outro aspecto preocupante para os trabalhadores noturnos está na desregulação do eixo que controla o estresse, controlado pelo cortisol.
8. Jornada de trabalho prolongada
Quando a hora extra vira regra, é comum observar uma queda no rendimento do empregado.
Afinal, ele estará mais cansado por causa da jornada extensa, além de ter menos tempo para dormir e se dedicar a atividades que lhe dão prazer.
Quais as consequências dos riscos ergonômicos?
A exposição prolongada aos riscos ergonômicos resulta em danos à saúde física e mental do colaborador.
Os efeitos dependem da fonte de risco, tempo de exposição e características de cada indivíduo, mas costumam aumentar as chances de acidentes e doenças relacionados ao trabalho.
Algumas condições frequentemente associadas a riscos ergonômicos são:
- Redução da produtividade
- Fadiga
- Queda de cabelo
- Alterações do sono
- Problemas na coluna
- Diabetes
- Pressão alta
- Tensão
- Taquicardia
- Doenças psicossociais, incluindo ansiedade e depressão
- Patologias do sistema digestivo
- Doenças do sistema nervoso.
Também ocorre uma elevação nas taxas de absenteísmo, presenteísmo e afastamento do trabalho, comprometendo as entregas do profissional.
Esses e outros danos prejudicam o desempenho de toda a equipe, que precisará acumular tarefas que o colega afetado não conseguir concluir.
Se nada for feito, a empresa poderá vivenciar um ciclo vicioso de adoecimento devido à sobrecarga de trabalho para os colaboradores, aumentando também a rotatividade ou turnover.
Como identificar os riscos ergonômicos?
A identificação de riscos ergonômicos deve fazer parte do processo de avaliação de riscos ocupacionais em geral.
Se possível, essa etapa é conduzida antes mesmo de o funcionário iniciar suas atividades laborais, a fim de adaptar o mobiliário às suas necessidades.
Essa dinâmica pode ser feita a qualquer momento, caso haja relatos de incômodos vivenciados pelos colaboradores, doenças ou acidentes ocupacionais.
Nesse contexto, é elaborada uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET) da situação, que também pode ser solicitada pelo SESMT, CIPA ou trabalhadores.
Daí a relevância de abrir espaço para feedback dentro da empresa, pois ações ergonômicas podem partir de uma queixa feita pelo empregado.
O que é SESMT e CIPA?
Ambas as siglas se referem a equipes que atuam em prol da medicina e segurança do trabalho.
Começando pelas atribuições do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) vale citar a identificação, eliminação ou controle dos riscos ocupacionais, registrando ocorrências para que sejam adotadas medidas preventivas.
Empresas com mais de 50 funcionários devem formar esse time de especialistas em SST, de acordo com as especificações da NR-04 sobre o dimensionamento do SESMT, podendo contar com:
- Médico do Trabalho
- Engenheiro de Segurança
- Técnico de Segurança do Trabalho
- Enfermeiro do Trabalho
- Auxiliar ou Técnico de Enfermagem do Trabalho.
Esses profissionais são responsáveis pelo treinamento e auxílio à CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Assédio), formada por empregados que trabalham através da vigilância e promoção da saúde nos ambientes laborais.
Instituições que tenham a partir de 20 colaboradores devem observar o disposto na NR-05 para compor a CIPA, reforçando as ações protetivas no trabalho.
Como fazer uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET)?
Como mencionei acima, a análise ergonômica do trabalho ou AET é importante para identificar e propor adequações às condições de trabalho.
Ela deve ser elaborada por um profissional com conhecimento em ergonomia, podendo ter formação inicial em fisioterapia do trabalho, medicina do trabalho e áreas correlatas, e contemplar medidas como:
- Análise preliminar de risco (APR), contendo detalhes a respeito da natureza do trabalho, grau de risco da empresa e perfil dos funcionários
- Descrição das tarefas desempenhadas, ritmo das atividades, turnos, esforço físico, monotonia e outros fatores organizacionais de interesse
- Seleção de métodos e análise de riscos, especificando técnicas e ferramentas utilizadas
- Recomendações ergonômicas para cada situação de trabalho analisada
- Monitoramento e revisão das intervenções realizadas.
Saiba na sequência quais medidas preventivas adotar na empresa frente os riscos ergonômicos.
Como evitar riscos ergonômicos?
As ações para prevenir riscos ergonômicos vão depender das particularidades de cada organização, atividade e local de trabalho.
Por isso, o ideal é que elas sejam pensadas a partir da AET.
Neste espaço, apresento algumas medidas gerais para inspiração.
Forneça mobiliário adaptável
Mesas e cadeiras que permitam adequações para apoiar as costas, braços e cotovelos ajudam a evitar posturas estáticas.
O mesmo raciocínio se aplica aos suportes para apoiar os pés e elevar a tela do computador, dispensando a necessidade de manter a cabeça baixa.
Atenção à iluminação e conforto térmico
A iluminação apropriada é aquela que possibilita o trabalho sem forçar a visão ou incidir reflexos na tela do computador, por exemplo.
O segredo é equilibrar os pontos de luz, distribuindo-os de forma a evitar locais muito ou pouco iluminados.
Garanta também que a temperatura esteja em níveis agradáveis.
Diminua a exposição ao ruído
O ruído em excesso é capaz de tirar a concentração e causar quedas na produtividade das equipes.
Então, elimine esse risco sempre que possível.
Para isso, afaste os trabalhadores de máquinas barulhentas ou instale materiais de isolamento acústico.
Disponibilize Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como abafadores de ruído para os trabalhadores que precisarem permanecer próximo às máquinas.
Insira pausas na jornada
Para quebrar os ciclos de movimentos repetitivos, utilize pausas distribuídas durante a jornada de trabalho.
Investir em aquecimento com ginástica laboral é outra ideia para prevenir lesões.
Use ferramentas para evitar o levantamento de peso
Vale repensar a necessidade de carregar cargas pesadas.
Que tal utilizar carrinhos, esteiras e outros mecanismos, preservando a saúde dos funcionários?
O que são e por que investir em equipamentos ergonômicos?
Equipamentos ergonômicos são aqueles que se adaptam às características dos colaboradores, propiciando maior conforto e eficiência.
Cadeiras reguláveis, máquinas e ferramentas com suporte para mãos e braços são exemplos desses itens.
Eles promovem a mitigação ou diminuição do impacto dos riscos ergonômicos, oferecendo segurança e bem-estar para a força de trabalho.
Daí o principal motivo para investir nesses equipamentos em diferentes ambientes de trabalho, desde indústrias até escritórios.
Como a telemedicina ajuda no controle de riscos
Monitorar riscos ocupacionais como o ergonômico pede o registro e armazenamento de dados que deem suporte a programas de saúde ocupacional.
Esses documentos devem ser assinados por especialistas como médicos do trabalho e engenheiros de segurança.
O problema é que eles nem sempre estão presencialmente nas empresas.
Mas a solução existe e ela é tecnológica, fácil e acessível.
Usando a plataforma de Telemedicina Morsch, esses profissionais podem ser acionados pelos colegas do SESMT ou pela CIPA para esclarecer dúvidas e assinar os arquivos digitalmente, com toda a praticidade e segurança.
Basta que se conectem através de um dispositivo com acesso à internet para elaborar, assinar e compartilhar os seguintes documentos online:
- PCA.
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Conclusão
O monitoramento de riscos ergonômicos é indispensável para sua eliminação e a promoção do bem-estar no trabalho.
Portanto, não se esqueça de incluir a análise ergonômica na sua rotina de avaliação de riscos.
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