Clínica de medicina do trabalho: o que faz e como montar com ajuda da telemedicina

Por Dr. José Aldair Morsch, 19 de junho de 2025
Clínica de medicina do trabalho

Contratar uma clínica de medicina do trabalho contribui para a vigilância da saúde dos colaboradores.

Nesse contexto, empresas de todos os portes dispõem da expertise de profissionais especializados que atuam na prevenção de acidentes de trabalho e, especialmente, de doenças ocupacionais.

Neste artigo, você vai entender a importância e conhecer serviços prestados por esse tipo de clínica, incluindo a emissão do laudo ocupacional.

O texto também explica como a telemedicina agrega agilidade à entrega dos resultados de exames.

Continue lendo para saber como montar uma clínica de medicina do trabalho e empreender no setor de saúde ocupacional.

O que é uma clínica de medicina do trabalho?

Uma clínica de medicina do trabalho é especializada na promoção da saúde e prevenção de riscos ocupacionais

Realiza exames admissionais, periódicos, demissionais e de retorno ao trabalho, além de acompanhar a saúde dos funcionários conforme exigências legais.

Assim, garante a segurança e bem-estar no ambiente corporativo.

A clínica é coordenada por um especialista em medicina do trabalho e foca em serviços que promovem a saúde ocupacional e melhores condições laborais.

Ou seja, suas atividades podem compreender desde a triagem e realização de exames até a reabilitação de funcionários.

Qual a importância da clínica de medicina do trabalho para empresas?

Muitas atividades realizadas pela clínica de medicina do trabalho existem para atendimento à obrigação legal.

De acordo com o Capítulo V do Título II da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), as empresas que atuam no Brasil devem cumprir diversas medidas de medicina e segurança do trabalho, a fim de preservar a vida, integridade e bem-estar dos empregados.

Uma das principais iniciativas é descrita no artigo 168 da lei federal.

O texto afirma ser obrigatório o exame médico do empregado, por conta do empregador, em ocasiões como a admissão e a cessação do contrato de trabalho, bem como periodicamente.

Falarei mais sobre essas avaliações médicas nos próximos tópicos. Por enquanto, vale ressaltar a importância delas para reduzir acidentes e doenças relacionados ao trabalho, uma vez que permitem o diagnóstico precoce e intervenções rápidas para a proteção do trabalhador.

Para dar uma ideia do quadro preocupante atual, o país registrou 8,8 milhões de acidentes de trabalho entre 2012 e 2024, conforme levantamento do Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho (Smartlab).

Cerca de 32 mil corresponderam a acidentes fatais. Segundo dados do INSS, um trabalhador morre a cada 3,5 horas no Brasil.

Além das perdas inestimáveis para a família e a sociedade, as ocorrências geram custos referentes ao afastamento do trabalho, contratação de novos empregados, multas, processos trabalhistas e benefícios previdenciários.

Só em 2024, os mais de 180 mil auxílios-doença por acidente de trabalho geraram gastos de R$ 354,7 milhões, enquanto as aposentadorias por invalidez custaram R$ 97,9 milhões.

Esse cenário pode ser revertido com mais investimentos em segurança e medicina ocupacional, que auxiliam na redução de custos e ainda tornam o ambiente laboral mais salubre e produtivo.

Quais serviços uma clínica de medicina do trabalho oferece

Também chamada de clínica ocupacional, a clínica de medicina do trabalho pode oferecer uma série de soluções que visam a vigilância ativa e passiva da saúde dos funcionários.

A maioria delas se concentra na vigilância ativa, que consiste em ações focadas na medicina preventiva, com o objetivo de evitar acidentes e agravos à saúde.

Elas viabilizam o rastreamento de patologias e diagnóstico precoce, bem como evitam complicações e eventos graves durante a jornada laboral.

Um exemplo está na realização do eletroencefalograma ao longo da avaliação de empregados sujeitos ao trabalho em altura, permitindo detectar doenças neurológicas capazes de provocar tontura e, por consequência, queda.

Já a vigilância passiva é aquela que surge por demanda dos trabalhadores, a exemplo do atendimento médico diante de lesões e sintomas de doenças.

Em resumo, os principais serviços da clínica de medicina do trabalho são:

  • Exames ocupacionais: determinados por legislações como a já citada CLT e a norma regulamentadora 7 (NR-7) do Ministério do Trabalho, são avaliações que incluem anamnese, exame físico e procedimentos complementares para monitorar a saúde dos empregados
  • Elaboração de laudos SST: bastante úteis para empresas que não dispõem de SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho) próprio, a emissão de documentos como o atestado de saúde ocupacional (ASO) e o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) pode ser feita com o apoio de um profissional da clínica, como o médico do trabalho e o engenheiro de segurança
  • Consultorias: órgãos públicos, sindicatos ou até mesmo um consultório médico podem se beneficiar da consultoria junto aos profissionais de medicina do trabalho, a fim de reforçar as medidas de SST adotadas por suas equipes
  • Atendimento médico ao trabalhador: em alguns casos, a clínica oferece assistência médica para empregados lesionados ou que estejam em recuperação após um acidente ou doença. Eles passam por acompanhamento contínuo até que estejam reabilitados.

A seguir, trago mais detalhes sobre os exames realizados neste tipo de clínica.

Atendimento de medicina do trabalho

As atividades podem compreender desde a triagem e realização de exames até a reabilitação de funcionários

Quais os exames realizados na clínica de medicina do trabalho?

A clínica realiza o exame de saúde ocupacional, previsto na NR-7 – uma das normas regulamentadoras complementares às medidas de segurança e medicina do trabalho exigidas pela CLT.

Ao tratar do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), o documento estabelece, em seu item 7.5.6, a necessidade de realização obrigatória dos exames médicos:

  • Admissional
  • Periódico
  • De retorno ao trabalho
  • De mudança de riscos ocupacionais
  • Demissional.

Cada um deles é composto por:

  • Anamnese ocupacional: trata-se de uma entrevista roteirizada para conhecer o histórico do paciente, profissão, condições de trabalho, comorbidades, a quais riscos ocupacionais pode estar exposto, etc.
  • Exame físico: combina técnicas de inspeção, palpação, percussão e ausculta para identificar alterações nas características e no funcionamento dos órgãos e sistemas do organismo
  • Exames complementares: determinados pelo médico responsável pelo PCMSO, são procedimentos que aprofundam a investigação de anormalidades referentes a determinadas atividades ou condições laborais. Um empregado diagnosticado com asma ocupacional, por exemplo, passará periodicamente pela espirometria, enquanto quem fica exposto ao ruído ocupacional deverá passar por audiometria periodicamente.

Veja detalhes sobre cada exame ocupacional a seguir:

Exame admissional

É uma avaliação geral da saúde que deve ser feita antes de o colaborador assumir suas funções laborais.

Seu propósito é garantir que o novo empregado esteja apto ao trabalho, bem como verificar se há doenças crônicas, por exemplo, pois elas deverão ser consideradas no planejamento e implementação de ações de promoção da saúde.

O exame admissional ainda permite a detecção de patologias que podem impedir o empregado de exercer certas atividades perigosas.

Exame periódico

Uma vez que o trabalhador esteja desempenhando suas funções, será preciso manter uma rotina de monitoramento médico para evitar agravos à saúde.

É esse o objetivo do exame periódico, que deve ser feito pelo menos a cada 2 anos para funcionários saudáveis, com idade entre 18 e 45 anos, e que não estejam sujeitos à exposição ocupacional.

Profissionais expostos a riscos identificados no PGR ou portadores de doenças crônicas que aumentem a suscetibilidade aos riscos devem passar pela avaliação ocupacional anualmente ou em intervalos menores, a critério do médico responsável.

Trabalhadores expostos a condições hiperbáricas devem passar por exames de acordo com a periodicidade especificada no Anexo IV da NR-7 – geralmente, a cada 6 meses.

Exame de mudança de riscos ocupacionais

Essa avaliação é feita antes da data da mudança de função, setor, ou tecnologia que originou a exposição a novos riscos ocupacionais.

Assim, dará para identificar novos agravos à saúde decorrentes de riscos ambientais (físicos, químicos e biológicos), mecânicos e/ou riscos ergonômicos aos quais o empregado não estava exposto anteriormente.

Exame de retorno ao trabalho

Esse exame serve como suporte para garantir o retorno ao trabalho em condições adequadas, cabendo ao médico  definir a necessidade de retorno gradativo.

A avaliação clínica deverá ser conduzida antes que o funcionário reassuma suas tarefas laborais após ausência de 30 dias ou mais, por motivo de doença ou acidente, de natureza ocupacional ou não.

Exame demissional

Por fim, o desligamento de um colaborador deve motivar a realização do exame demissional, a fim de atestar suas condições de saúde física e mental.

Caso haja lesões, doenças ou agravos, o ex-funcionário poderá utilizar o resultado do exame demissional para reivindicar benefícios trabalhistas e previdenciários, caso aplicável.

Quanto à época certa para a realização dessa avaliação, o item 7.5.11 da NR-7 esclarece que ela deve ser realizada em até 10 dias contados do término do contrato.

Ela pode ser dispensada caso o exame clínico ocupacional mais recente tenha sido feito há menos de 135 dias, para as empresas graus de risco 1 e 2, e há menos de 90 dias, para as aquelas com graus de risco 3 e 4.

Laudos e atestados emitidos pela clínica de medicina do trabalho

Mencionei, mais acima, que a clínica de medicina do trabalho pode oferecer documentos de saúde ocupacional às empresas interessadas.

Os laudos e atestados produzidos dependem da equipe disponível na clínica, pois muitos só podem ser elaborados por profissionais legalmente habilitados.

Confira alguns documentos que podem integrar o portfólio da clínica a seguir:

ASO

O atestado de saúde ocupacional (ASO) é o documento mais comumente entregue pela clínica de medicina do trabalho.

Isso porque ele deve ser emitido ao final de cada exame ocupacional, servindo para encerrar a avaliação médica.

E, especialmente, para confirmar a aptidão do trabalhador – ou sua inaptidão – para exercer as atividades laborais.

Clínica medicina ocupacional

A clínica de medicina do trabalho oferece uma série de soluções que visam a vigilância ativa e passiva da saúde

PCMSO

Detalhado na NR-7, o PCMSO determina o planejamento e execução de medidas de vigilância ativa e passiva da saúde dos empregados.

Conforme expliquei anteriormente, o exame ocupacional faz parte das ações de vigilância ativa, sendo complementado por outras iniciativas.

Produzido e assinado pelo médico do trabalho, o laudo PCMSO deve ser entregue por todas as empresas, com exceção de MEI (microempreendedor individual), microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) com graus de risco 1 e 2.

PGR

O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) deve estar integrado a todas as iniciativas de saúde e segurança no trabalho, pois estabelece a estratégia de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO).

Para tanto, deve ser elaborado sob a responsabilidade do empregador, mas com o apoio de especialistas em SST sempre que necessário.

Também é obrigatório para todas as empresas, exceto MEI, ME e EPP enquadradas como grau de risco 1 ou 2.

LTCAT

O Laudo Técnico das Condições do Ambiente de Trabalho (LTCAT) deve ser elaborado por um profissional legalmente habilitado, como o engenheiro de segurança do trabalho.

Esse relatório registra dados fundamentais para caracterizar a exposição ocupacional, servindo, ainda, para o preenchimento do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), documento histórico laboral individual de cada empregado.

AET

Outro documento importante é a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que avalia as condições de trabalho para que sejam adaptadas aos empregados, tornando as tarefas mais confortáveis.

A AET também deve ser produzida por um profissional qualificado e que tenha conhecimentos em ergonomia no trabalho.

Quais os benefícios da telemedicina para a saúde do trabalho?

Criada para conectar profissionais de saúde, a telemedicina confere mais celeridade aos laudos de exames complementares do PCMSO.

De acordo com as regras do Conselho Federal de Medicina (CFM), eles só podem ser interpretados por médicos especializados na área do exame, que nem sempre estão presentes na clínica de medicina do trabalho.

Ou em grandes empresas que realizam os exames em suas dependências.

Contando com a telemedicina ocupacional, é possível receber resultados de exames online com agilidade, bastando ter internet e um dispositivo conectado.

É só treinar um técnico em radiologia ou enfermagem para que realize o procedimento normalmente e, em seguida, compartilhe os resultados via plataforma da Telemedicina Morsch.

Em seguida, um especialista logado fará a interpretação, considerando dados do trabalhador e da empresa, para compor o laudo a distância.

Após inserir sua assinatura digital, o médico libera o telelaudo em minutos no sistema.

O serviço de telediagnóstico está disponível para os seguintes exames:

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Conclusão

A clínica de medicina do trabalho auxilia empresas de diferentes portes e setores a se manter em dia com as obrigações legais.

Além de reforçar a estratégia de prevenção de ocorrências, protegendo a vida, a integridade e o bem-estar dos empregados.

Tanto empresas quanto clínicas de saúde ocupacional podem se beneficiar da telemedicina, que entrega o laudo digital com qualidade e rapidez.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin