IoT na medicina: aplicações da Internet das Coisas em clínicas e hospitais
O uso de IoT na medicina vem revolucionando o tratamento e o monitoramento de pacientes.
Dispositivos contendo tecnologia embarcada permitem a coleta de dados em tempo real.
Assim, dão aos profissionais de saúde informações importantes para a escolha e implementação da abordagem terapêutica em cada caso.
Nas próximas linhas, falo sobre as aplicações, benefícios e limitações dessa ferramenta de transformação digital na saúde.
Também trago dicas para aproveitar as vantagens dessas e outras tecnologias e otimizar as rotinas médicas, como a telemedicina.
O que é IoT na medicina?
IoT na medicina é a integração entre dispositivos médicos e um banco de dados em nuvem.
Trata-se do uso da Internet das Coisas (tradução da expressão em inglês “internet of things” ou IoT) em serviços médicos diversos.
O conceito surgiu na década de 1990 e ganhou força no início dos anos 2000, com o avanço da tecnologia de rede.
Essa tecnologia resulta em benefícios como maior agilidade e facilidade nos registros e na comunicação.
Vale esclarecer que não estou me referindo ao termo médico “intubação orotraqueal”, que também costuma ser abreviado como IOT.
Conforme cita o artigo “Inovação em saúde e Internet das Coisas (IoT): Um panorama do desenvolvimento científico e tecnológico”:
“Internet das Coisas (IoT) pode ser conceitualmente definida como uma infraestrutura de rede global dinâmica baseada em protocolos de comunicação padrão e interoperáveis que atribui identidade e interface inteligente as “coisas” físicas e virtuais, integrando-as perfeitamente a redes de informações.”
A aplicação da IoT à medicina surge no contexto evolutivo da infraestrutura de interconexão e interação de objetos incorporados ao dia a dia das pessoas, capazes de executar ações rotineiras sem a necessidade de intervenção humana.
Como a IoT é usada na medicina?
Basicamente, a Internet das Coisas funciona a partir da conexão entre o mundo físico e o virtual.
Para isso, dispositivos físicos como sensores e computadores são conectados a uma rede de servidores que disponibiliza um espaço reservado na internet, chamado nuvem.
Enquanto os equipamentos fazem a coleta dos dados, a rede viabiliza seu processamento e análise de forma autônoma, ou seja, sem qualquer comando humano.
Essa dinâmica pode gerar possibilidades abrangentes e difusas de incorporação da tecnologia na medicina, servindo a propósitos variados.
Uma série de dispositivos podem estar conectados à rede de Wi-Fi ou outras em um hospital, por exemplo, gerando grande quantidade de dados e permitindo o rastreamento de informações.
Nesse cenário, profissionais e pacientes podem ter suas atividades e condições de saúde monitoradas.
No caso dos profissionais, seus níveis de estresse podem ser acompanhados, visando reduzir fatores como pressão e sobrecarga de trabalho, além de sugerir momentos propícios para a tomada de decisões importantes, aumentando a segurança dessas ações.
Já os pacientes podem ser monitorados através de equipamentos médicos que enviam mensagens à equipe de enfermagem ou especialistas de plantão, quando necessário.
Isso é útil em todos os setores do hospital.
No pronto-socorro, dados como tipo sanguíneo, histórico do paciente e idade servem para orientar quanto a possíveis diagnósticos e tratamentos.
A IoT também impacta positivamente na gestão em saúde, permitindo o rastreamento de medicamentos e outros produtos, que podem ser remanejados para evitar desperdícios.
Quais os benefícios da IoT na medicina?
São inúmeros os benefícios de investir em IoT na medicina.
Comentei alguns deles nos tópicos anteriores, com destaque para a diminuição da carga de trabalho e maior agilidade nos registros, armazenamento e organização dos dados de saúde.
Outras vantagens a se considerar incluem:
- Registro autônomo de informações: executado sem interferência humana, esse processo ganha celeridade, dispensando a disponibilidade de um profissional dedicado a ele
- Monitoramento contínuo do paciente: esse é um dos maiores ganhos com o uso da Internet das Coisas, estendendo o cuidado que antes ficava limitado ao momento das consultas, exames ou internação
- Facilidade no compartilhamento de dados: com as informações compiladas e altamente disponíveis via internet, fica fácil enviá-las a pessoas autorizadas
- Armazenamento automático na nuvem: não é preciso que um profissional reserve tempo ao salvamento de arquivos. Os dados transmitidos pelos dispositivos são arquivados na nuvem de modo simples, rápido e automático
- Prontuário médico mais completo: dados captados durante a rotina do paciente passam a integrar o histórico de saúde, aumentando a acurácia diagnóstica
- Empoderamento do paciente: como tecnologia disruptiva, a IoT apoia uma postura proativa do paciente, que sai da posição de espectador para assumir a responsabilidade pelo seu bem-estar. Assim, ocorre o fortalecimento de ações de medicina preventiva e de autocuidado.
Apesar dos ganhos inegáveis, há pontos de atenção no uso da tecnologia, conforme comento a seguir.
Riscos e desvantagens da IoT na medicina
Existem dois principais riscos inerentes ao uso da Internet das Coisas na medicina.
O primeiro se relaciona à segurança da informação, uma vez que o vazamento de dados, roubo ou invasão de espaços por hackers representa perdas consideráveis para o paciente e instituições de saúde.
Afinal, estamos falando de dados sensíveis que retratam a condição clínica e necessidades do paciente, o que pode gerar estragos se cair em mãos erradas.
A boa notícia é que há caminhos para evitar esse problema, como a adequação dos bancos de dados à LGPD e outras legislações correlatas, garantindo a adoção de protocolos de segurança como a criptografia de ponta a ponta.
Também é importante confirmar a procedência dos dispositivos que coletam os registros, checando seus mecanismos de proteção junto ao fabricante de IoT na saúde.
A segunda desvantagem dessa tecnologia é a própria coleta de quantidades maciças de dados, que pode representar um desafio de gerenciamento para as equipes responsáveis.
Nesse contexto, é essencial dar treinamento e contar com outras tecnologias na saúde para selecionar e priorizar os registros de maior relevância, tais como inteligência artificial (IA) e machine learning.
Desafios da IoT na medicina
Mencionei, acima, o desafio de gerir uma grande quantidade de dados.
Essa questão surge a partir da coleta e registro automáticos de uma série de parâmetros de saúde, a exemplo de sinais vitais.
No entanto, há outras barreiras para o amplo aproveitamento da IoT na medicina, começando pela necessidade de educação digital.
E não falo apenas da equipe médica, que deve estar capacitada e preparada para compreender, interpretar e localizar os dados mais interessantes para dar suporte ao seu trabalho.
Pacientes e cuidadores também precisam se familiarizar com a Internet das Coisas, compreendendo ao menos o funcionamento básico dessa tecnologia.
Caso contrário, o uso dos dispositivos pode ser ineficaz para a finalidade pretendida, prejudicando os registros, avaliações e tratamentos.
A questão financeira é mais um empecilho para a popularização da Internet das Coisas na saúde, uma vez que a falta de recursos assola pacientes e estabelecimentos de diversos locais.
Embora smartphones, notebooks e tablets sejam razoavelmente comuns e acessíveis, dispositivos inovadores ainda estão fora do alcance de boa parte do mercado de saúde no Brasil.
Todavia, a expectativa é de que haja queda de preços à medida que mais pessoas e estabelecimentos passem a utilizar a IoT, como tem acontecido em relação às smartTV e outros equipamentos conectados.
Falando em aparelhos, sua integração ainda é uma barreira, em especial quando existem modelos e funcionalidades variados.
Por fim, cabe citar o sigilo médico das informações, que podem estar vulneráveis em sistemas que não estejam em conformidade com a legislação atual.
Ou mesmo durante a captação dos dados, o que exige procedimentos de segurança desde o desenvolvimento dos dispositivos até seu armazenamento na nuvem.
Exemplos de IoT na medicina
Neste tópico, apresento alguns exemplos de aplicação da Internet das Coisas na rotina médica.
Confira:
1. Dispositivos vestíveis (wearables)
Wearables de saúde estão entre os exemplos mais conhecidos e acessíveis do universo da IoT.
Um simples relógio inteligente (smartwatch) ou pulseira é capaz de coletar dados sobre a frequência cardíaca, pressão arterial, respiração e outras informações.
Geralmente, com o objetivo de monitorar o paciente para identificar anormalidades que possam sinalizar doenças e agravos à saúde.
2. Marcapassos cardíacos com dispositivo IoT
Alguns aparelhos conectados podem ser implantados no paciente.
É o caso de marcapassos inteligentes, que facilitam o acompanhamento de milhares de pessoas nos Estados Unidos.
Assim como os wearables, esses dispositivos coletam, armazenam e enviam informações em tempo real sobre o sistema cardiovascular do paciente.
Dessa forma, o cardiologista e outros profissionais podem monitorar as condições de saúde do indivíduo à distância, intervindo quando necessário.
O próprio paciente também pode tomar decisões para melhorar sua qualidade de vida.
3. Monitoramento contínuo inteligente de glicose (CGM)
CGM é a sigla para Continuous Glucose Monitor, ou Monitor Contínuo de Glicose.
O primeiro dispositivo desse tipo foi aprovado pela FDA (agência que regula alimentos e drogas nos Estados Unidos) em 1999, mas ainda não era capaz de enviar dados a outro aparelho, como um smartphone, tablet ou Apple Watch.
Atualmente, os equipamentos que monitoram os níveis de glicose de diabéticos podem ser bastante úteis para essas pessoas, seus médicos e cuidadores, pois eles registram padrões e apontam anormalidades.
Os CGM permitem que o diabetes, doença crônica que precisa ser acompanhada diariamente, seja avaliado através de dados instantâneos e precisos.
4. Sensores ingeríveis
Pílulas do tamanho de suplementos vitamínicos podem substituir procedimentos invasivos, monitorar sinais vitais e até detectar precocemente o câncer colorretal.
Um exemplo é a PillCam COLON, criada por uma companhia israelense e aprovada em 2017 pela FDA como uma alternativa à colonoscopia.
A pílula capta e transmite imagens do trato gastrointestinal e do cólon.
Um exemplo mais recente foi relatado em artigo publicado na revista Bioengineering, mostrando o uso de uma cápsula endoscópica para investigar doenças no trato digestivo de forma menos invasiva.
Analisada por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), os pequenos sensores revelaram sangramentos, tumores e outros problemas com praticidade.
5. Instalação de leitos hospitalares inteligentes
Localizada em Toronto, Canadá, a Mackenzie Health implantou uma implantou uma tecnologia nos leitos para auxiliar enfermeiros e outros profissionais na acomodação e segurança de pacientes com risco de queda de suas camas.
Os leitos inteligentes informam os profissionais sobre a melhor posição para acomodar o paciente, colaborando para que fique confortável e se recupere rapidamente.
Além disso, os leitos enviam mensagens caso não tenham sido reposicionados adequadamente após a alimentação ou higienização do paciente, por exemplo.
6. Envio de imagens via PACS
Se você trabalha com radiologia médica, certamente conhece o sistema PACS (Picture Archiving and Communication System).
Ele serve para padronizar a comunicação e arquivamento dos registros de exames de imagem, permitindo que sejam visualizados em diferentes dispositivos.
Com o auxílio da Internet das Coisas, o equipamento de raio-X, aparelho de tomografia e outras tecnologias podem ser configuradas para o envio automático de imagens ao PACS de uma empresa de telemedicina.
Além dessa vantagem na transmissão, o processo viabiliza o serviço de telediagnóstico, que produz e entrega laudos online com celeridade para qualquer região do país e do mundo.
7. Monitoramento da evolução dos sintomas de Parkinson
Uma solução da IBM permite acompanhar a evolução dos sintomas do Parkinson.
Através de um dispositivo vestível, pacientes têm seus dados coletados enquanto realizam tarefas rotineiras e, em seguida, essas informações são analisadas por médicos e outros especialistas.
Esses profissionais podem, com base nas informações registradas, optar por tratamentos mais adequados e que melhorem a qualidade de vida de quem sofre com a doença degenerativa.
Como a IoT é usada na telemedicina?
A combinação entre IoT e telemedicina faz todo o sentido, uma vez que a telemedicina consiste na oferta de serviços médicos a distância.
Um de seus serviços é o telediagnóstico que, conforme expliquei acima, é facilitado quando os equipamentos hospitalares utilizados para exames são configurados para transmitir os dados automaticamente.
Desse modo, disponibilizam os registros com rapidez para que um médico especialista os interprete e elabore o laudo eletrônico, assinado digitalmente para garantir a autenticidade.
Plataformas robustas como a Telemedicina Morsch, que mantêm um time com centenas de especialistas a postos, permitem a liberação do telelaudo em minutos.
Ou até em tempo real, em caso de urgências.
Dispositivos vestíveis também podem se unir à telemedicina para melhorar a experiência do paciente, complementando seu histórico antes de uma teleconsulta.
Outra aplicação relevante está no telemonitoramento de doentes crônicos, que têm seus parâmetros de saúde acompanhados a distância para prevenir eventos adversos, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC).
Conclusão
Ao final deste artigo, você está informado sobre as principais finalidades da IoT na medicina.
A tecnologia não é nova, mas seu uso cresceu de maneira exponencial com a popularização de smartphones, tecnologia de cloud computing e banda larga.
Como a área segue avançando, as projeções futuras indicam maior desenvolvimento e implementação de soluções de IoT na medicina.
Bom para profissionais, pacientes e estabelecimentos de saúde.
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