Riscos cirúrgicos em idosos: quais os principais e como avaliar

Por Dr. José Aldair Morsch, 3 de novembro de 2022
Riscos cirúrgicos em idosos

Avaliar os riscos cirúrgicos em idosos é indispensável para diminuir a morbidade e mortalidade decorrentes de procedimentos invasivos.

Esse tema vem ganhando relevância entre médicos de todas as especialidades, com destaque para os cirurgiões, devido ao crescimento da população idosa no Brasil.

É verdade que muitos pacientes com mais de 60 anos apresentam boa condição física

Porém, cabe ao médico realizar exames para verificar se há comorbidades, modificações morfológicas ou funcionais consideráveis.

Dessa forma, será possível indicar as operações com segurança, após verificar que os benefícios superam os ricos.

Nas próximas linhas, discorro sobre os principais riscos cirúrgicos em idosos, complicações e como fazer a avaliação pré-operatória.

Leia até o final para conferir um bônus com soluções de telemedicina que dão agilidade ao laudo médico.

Quais os principais riscos cirúrgicos em idosos?

Conforme a idade avança, há maior desgaste dos tecidos, órgãos e sistemas do corpo, resultando em prejuízos à capacidade funcional e cognitiva do paciente.

No entanto, essas mudanças dependem de fatores que vão além da idade, como componentes genéticos, estilo de vida e histórico de saúde.

Essas diferenças vêm sendo notadas pela comunidade médica há muito tempo.

Contudo, foi a partir de meados do século 20 que a indicação cirúrgica para maiores de 65 anos passou a ter maior aceitação.

Inovações tecnológicas e o envelhecimento populacional contribuíram para essa mudança na perspectiva dos cirurgiões, seus pacientes e familiares.

No caso da tecnologia, devido à oferta de procedimentos invasivos mais seguros, que ajudam a preservar a vida e a integridade de indivíduos submetidos a cirurgias.

Para dar uma ideia da quantidade de intervenções realizadas em idosos, estimativas afirmam que 65% da atividade exercida por um cirurgião geral se destina a pacientes geriátricos.

De acordo com o artigo “Aspectos gerais da avaliação pré-operatória do paciente idoso cirúrgico”:

“A incidência de complicações perioperatórias está diretamente relacionada à idade, à presença de comorbidades e à urgência da operação. Deve-se ressaltar, no entanto, que os idosos constituem um grupo heterogêneo de indivíduos e que a idade biológica, a qual traduz o estado funcional do paciente, é mais importante que a idade cronológica propriamente dita”.

Portanto, os principais riscos cirúrgicos em idosos se relacionam com a idade biológica, influenciada principalmente por comorbidades e estilo de vida.

A seguir, comento alguns desses riscos.

Paciente internado ou acamado

Esse fator eleva o risco perioperatório, pois existe uma condição debilitante prévia que diminui a capacidade funcional do doente.

Somada à idade avançada, a internação costuma prever complicações futuras e maior tempo de recuperação após a cirurgia.

Doença arterial coronariana

A incidência de DAC aumenta com a idade, e não é por acaso.

Com o passar dos anos, há enrijecimento natural das paredes arteriais (aterosclerose), além do acúmulo progressivo de placas de gordura e cálcio ao longo do tempo.

As obstruções nos vasos sanguíneos elevam os riscos cirúrgicos em idosos relacionados a complicações cardíacas potencialmente fatais.

Doença pulmonar obstrutiva crônica

Essa é mais uma patologia de maior prevalência entre idosos, pois piora conforme aumenta o tempo de exposição a substâncias irritantes ao trato respiratório, como a fumaça de cigarro.

Composta por enfisema e bronquite crônica, a DPOC compromete a capacidade respiratória de forma progressiva e irreversível.

A dispneia tende a se intensificar na cirurgia, sobrecarregando os pulmões – o que exige cuidado extra.

Tabagismo

Componentes do cigarro provocam danos a células de várias partes do corpo, deixando-as debilitadas.

Por isso, fumar é fator de risco para uma série de patologias, incluindo as cardiovasculares, respiratórias e câncer.

Asma

Condição crônica inflamatória dos brônquios, a asma também reduz a capacidade respiratória.

É preciso avaliar a possibilidade de manter seus efeitos controlados, prevenindo exacerbações durante e depois da cirurgia.

Insuficiência renal aguda

O mau funcionamento dos rins é sinal de perigo para candidatos a cirurgias, principalmente de grande porte, pedindo acompanhamento prévio.

Conforme explica a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN):

“Também chamada de lesão renal aguda, a insuficiência é comum em pacientes que já estão no hospital com alguma outra condição. Pode desenvolver-se rapidamente ao longo de algumas horas ou mais lentamente, durante alguns dias. Pessoas que estão gravemente doentes e necessitam de cuidados intensivos estão em maior risco de desenvolver insuficiência renal aguda”.

Complicações cirúrgicas em idosos

Inovações tecnológicas e o envelhecimento populacional contribuíram na mudança de perspectiva dos cirurgiões

Hiperglicemia

Altas taxas de glicose no sangue prejudicam a função renal e afetam os grandes vasos sanguíneos, aumentando o risco de eventos isquêmicos e AVC hemorrágico.

Daí a necessidade de reverter a hiperglicemia, dando atenção especial a diabéticos – cuja maioria tem mais de 50 anos.

Desnutrição

Dificuldades para deglutir, solidão e quadros depressivos podem levar à desnutrição, enfraquecendo o organismo.

Idosos são mais suscetíveis a esses cenários, principalmente os que vivem em casas de repouso.

Síndrome de fragilidade

Perda de peso recente e cansaço crônico estão entre os sintomas da síndrome da fragilidade.

Esse distúrbio não tem relação restrita à idade cronológica, mas predomina entre idosos maiores de 85 anos.

A condição diminui a capacidade de recuperação após grande estresse físico, como o desencadeado por uma cirurgia, ainda que de pequeno porte.

Segundo estudo conduzido com 141 mil indivíduos com mais de 40 anos que integram um banco de dados cirúrgico nos Estados Unidos, aqueles que possuem fragilidade moderada a alta são de duas a quatro vezes mais propensos a sofrer complicações graves.

Neoplasia maligna

Idosos acometidos pelo câncer se tornam ainda mais fragilizados, mesmo que estejam em tratamento.

Afinal, procedimentos quimioterápicos e radioterápicos, por exemplo, têm grande impacto sobre a condição física e psíquica.

Hipertensão arterial

A manutenção de valores de pressão elevados sobrecarrega o músculo cardíaco, além de colaborar para obstruções e aneurismas nas artérias.

Isso aumenta os riscos cirúrgicos em idosos, que é agravado pelo estresse cirúrgico.

Assim como outras patologias cardiovasculares, a hipertensão é mais comum com o avanço da idade.

Infarto do miocárdio prévio

Caso o doente tenha sofrido IAM nos seis meses precedentes ao ato cirúrgico, mortalidade e morbidade têm chances elevadas.

Esse é um fator conhecido pelos cirurgiões, pois consta em escalas para o cálculo de risco cirúrgico, como o índice de Goldman.

Angina do peito severa

Sinal de alerta para o infarto, a dor precordial típica indica angina.

Pacientes com essa síndrome devem ser examinados de maneira minuciosa, pois ela pode revelar patologia isquêmica importante.

Insuficiência cardíaca congestiva descompensada

Doentes com insuficiência cardíaca também precisam de avaliação cuidadosa antes de serem encaminhados a procedimentos invasivos.

Seu miocárdio tem a função comprometida previamente, com dificuldades para irrigar todas as células do corpo.

Riscos na cirurgia em idosos

Endoscopias, procedimentos superficiais, cirurgia de catarata, mama ou ambulatorial são exames de baixo risco

Doença valvar severa

Anomalias congênitas e funcionais podem dar origem a patologias valvares relevantes, como a insuficiência mitral grave.

Nesses quadros, há regurgitação de sangue, provocando sintomas como fadiga e arritmias de padrão rápido.

Arritmia ventricular

Ritmos preocupantes como taquicardia ventricular sustentada e fibrilação ventricular colocam a vida do paciente em risco, resultando em contraindicação para qualquer cirurgia que não seja de emergência.

Síndromes coronarianas agudas como infarto e angina costumam ser a causa dessas condições.

Quais as possíveis complicações pós-cirúrgicas em idosos?

Mais de 70% das mortes no pós-cirúrgico são de idosos.

Em primeiro lugar, porque a idade aumenta o risco de procedimentos invasivos.

Em segundo, devido às condições que comentei acima, em especial as comorbidades, que acometem mais pacientes geriátricos.

Uma importante causa dos óbitos é o prejuízo cognitivo a que o idoso fica exposto ao passar por cirurgias.

Como detalha o já citado estudo sobre o tema:

Delirium (ou estado confusional agudo) – síndrome mental aguda causada por fatores orgânicos –, é complicação comum de operações nos pacientes idosos e está associada com substancial morbidade e prolongada hospitalização. É mais comumente visto em pacientes idosos e a disfunção cognitiva pós-operatória é condição quase exclusiva do idoso. Pode ter impacto dramático no bem-estar do paciente, com declínio abrupto na função cognitiva, podendo levar à perda da independência, depressão, isolamento social e, por fim, morte”.

Outras complicações podem decorrer da necessidade de repouso após a operação, incluindo:

  • Tromboembolismo
  • Infecções do trato urinário e/ou respiratórias, como a pneumonia
  • Perda de massa muscular.

Complicações cardiovasculares também oferecem maior perigo ao idoso, em especial quando há doenças crônicas descompensadas.

Nesse contexto, é possível diminuir o risco a partir de cuidados prévios para controlar diabetes, hipertensão, asma, DPOC etc.

Mudanças no estilo de vida têm sua relevância, a exemplo de parar de fumar, adotar uma dieta nutritiva e praticar atividade física.

Esses comportamentos alteram a condição pré-cirúrgica do paciente geriátrico, melhorando seu prognóstico.

Quais os riscos de anestesia geral em idosos?

Indicada para cirurgias de grande porte, a anestesia geral coloca o paciente em hipnose profunda.

Por terem maior fragilidade, os idosos ficam sujeitos a um quadro de disfunção cognitiva pós-operatória (DCPO), caracterizada pelo comprometimento de funções como memória e concentração.

Na maioria das vezes, a DCPO tem efeito temporário, mas, em alguns casos, o prejuízo cognitivo pode se estender por meses ou até se tornar permanente.

Além do mais, o desenvolvimento de DCPO está relacionado a maiores taxas de mortalidade no primeiro ano após a cirurgia.

Estudos sinalizam que a disfunção seja influenciada pela profundidade da hipnose provocada pela anestesia.

Cabe à equipe médica fazer uma avaliação pré-cirúrgica completa para definir o melhor tipo de anestesia, conforme o histórico e condição de saúde do paciente.

Como funciona o exame de risco cirúrgico em idosos?

O exame de risco cirúrgico em idosos começa com anamnese, avaliação física e exames complementares.

A anamnese é essencial para obter informações sobre doenças preexistentes, tratamentos medicamentosos e cirurgias anteriores.

Ela completa a fase de exame clínico junto à avaliação física, que engloba exames funcionais para detectar o grau de fragilidade, estado cognitivo, entre outras condições.

Partindo das informações levantadas, a equipe multidisciplinar prossegue para a solicitação de exames laboratoriais e de apoio ao diagnóstico.

Um dos mais comuns é o eletrocardiograma, que avalia a atividade elétrica do coração para verificar se existem anormalidades.

Entre os exames laboratoriais padrão estão hemograma, glicemia de jejum, triglicérides, creatinina e ureia, coagulograma, etc.

Quando o paciente possui patologias cardiovasculares associadas, como insuficiência cardíaca ou arritmias, outros métodos diagnósticos são solicitados.

Ecocardiograma, teste ergométrico e cintilografia miocárdica são exemplos de procedimentos complementares.

Já as doenças respiratórias podem motivar o pedido de exames como raio X de tórax e espirometria.

Além desses dados, o cálculo do risco cirúrgico leva em consideração o tipo de cirurgia, combinando todas as informações para atribuir um escore ao paciente.

Essa pontuação é determinada usando uma classificação aprovada por entidades médicas, a exemplo do índice de Goldman ou sistema ASA (American Society of Anesthesiologists).

Falo mais sobre as escalas para avaliação do risco cirúrgico neste artigo.

Quanto ao tipo de cirurgia, vale considerar a seguinte divisão:

  • Alto risco (maior que 5%): Cirurgias vasculares, de urgência ou emergência
  • Risco intermediário (entre 1 e 5%): Correção endovascular, aneurisma da aorta abdominal, cirurgias da cabeça, pescoço, intratorácicas, ortopédicas e da próstata
  • Baixo risco (menor que 1%): Endoscopias, procedimentos superficiais, cirurgia de catarata, mama ou ambulatorial.

A boa notícia é que tudo fica mais fácil com a telemedicina, como explico a seguir.

Risco cirúrgico em idosos com laudo a distância na telemedicina

O cálculo do risco cirúrgico em idosos deve considerar diversas informações sobre seu histórico de saúde, resultado de exames e tipo de procedimento.

Isso pede a avaliação de uma equipe multidisciplinar, cada qual com seus conhecimentos para diminuir as chances de complicações, sequelas e óbito.

É possível tornar essa dinâmica mais simples com o auxílio do time de especialistas da Telemedicina Morsch.

Dispomos de centenas de médicos de prontidão para interpretar e laudar a distância exames de suporte ao diagnóstico nas áreas de cardiologia, pneumologia, radiologia e neurologia.

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Conclusão

Finalizando este conteúdo, espero ter contribuído para aprofundar seus saberes a respeito dos riscos cirúrgicos em idosos.

Caso tenha ficado alguma dúvida ou sugestão, deixe um comentário abaixo.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin