Residência médica: como funciona, quantas horas e tipos (guia completo)

Por Dr. José Aldair Morsch, 29 de maio de 2024
Residência médica

O desejo de entrar para a residência médica é natural para quem acaba de se graduar em medicina e deseja se tornar especialista.

Porém, conquistar uma das vagas disponíveis nas instituições brasileiras não é uma tarefa fácil, pois a concorrência é acirrada.

A dica é se preparar o melhor possível para ir bem nas provas e ingressar na residência com que você mais se identifica.

Neste artigo, apresento um guia completo sobre o assunto, o que diz a legislação, como participar e quais os tipos de especialização disponíveis para médicos.

Mostro ainda como qualificar a assistência por meio da telemedicina.

O que é residência médica?

De forma simples, residência médica é uma especialização para médicos.

Ela faz parte da trajetória dos profissionais que desejam receber o título de especialista.

Também vale observar a definição do Conselho Federal de Medicina.

Diz o seguinte:

“A residência médica é uma modalidade de ensino de pós-graduação destinada a médicos. Quando cumprida integralmente, dentro de determinada especialidade, confere ao médico-residente o título de especialista”.

O CFM ainda esclarece que a expressão “residência médica” só pode ser empregada para descrever programas credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).

A CNRM, por sua vez, é composta por Ministério da Saúde, Educação e Previdência Social e entidades médicas, a exemplo do CFM.

Como funciona a residência médica?

Para ingressar na residência médica, é necessário realizar uma prova, passar por análise do currículo e entrevista.

Trago detalhes sobre essas etapas mais à frente.

Por enquanto, vale dizer que elas costumam ser difíceis e concorridas.

Contudo, uma vez que consiga seu espaço, o médico poderá aproveitar vantagens como a bolsa de residência médica, que serve para cobrir as despesas durante o tempo de estudo.

Antes de definir o curso que deseja, vale considerar que alguns exigem uma especialização prévia, enquanto outros estão abertos para recém-formados em medicina.

Dermatologia, infectologia e medicina do trabalho estão entre as especializações com acesso direto, que dispensam residências prévias.

Já cardiologia, pneumologia e urologia só podem ser realizadas depois que o candidato concluir uma especialização anterior.

Geralmente, é preciso cursar cirurgia geral ou clínica médica antes de ingressar nessas residências.

Qual a diferença entre especialização e residência médica?

Especialização e residência médica são dois tipos de pós-graduação médica – e vem daí a confusão entre os conceitos.

diferenças na grade curricular e exigências que cada modalidade deve atender.

Como mencionei acima, os programas de residência são coordenados pelo MEC e credenciados junto à CNRM, devendo cumprir requisitos como participar das políticas do SUS e garantir o acompanhamento diário por tutoria e preceptoria para os residentes.

Já a especialização atende a regras menos rígidas, contendo maior carga horária teórica.

Isso porque 80% da residência corresponde a atividades práticas, fazendo dela uma pós-graduação focada em treinamento.

E com a vantagem de dar acesso direto ao título de especialista, assim que o médico é aprovado no programa.

quem cursa especialização ainda precisará passar na prova de título realizada pela sociedade médica responsável para receber seu título.

Como é a prova de residência médica?

Conforme descrevi anteriormente, a prova de residência costuma ser dividida em duas ou mais etapas.

A primeira corresponde à prova teórica, geralmente formada por 100 questões de conhecimentos gerais referentes a uma série de segmentos da medicina, de clínica médica a ginecologia e obstetrícia.

A quantidade e tipo de questões podem variar de acordo com a instituição escolhida, compreendendo questões de múltipla escolha e/ou dissertativas.

De qualquer forma, essa costuma ser a etapa mais difícil, pois exige que o profissional demonstre conhecimentos em diversas áreas.

Algumas vezes, também será necessário realizar uma prova prática, realizando procedimentos em bonecos ou até em atores.

O processo seletivo ainda pode incluir análise do currículo e entrevista para selecionar os candidatos mais bem preparados.

A dica, então, é dedicar a maior quantidade de tempo possível à preparação para os programas de sua preferência, identificando as características e requisitos para cada um deles.

Além de utilizar provas antigas, converse com médicos que passaram na residência, estude junto a amigos e colegas.

Outra opção é frequentar cursos preparatórios, que vão auxiliar na definição de prioridades e gestão do tempo.

O que faz um médico residente?

O médico residente pode desempenhar uma série de atividades, sempre sob a supervisão de médicos experientes.

Consultas, exames, atendimento ambulatorial ou em UTI, assistência a urgências e emergências são algumas tarefas que podem ser conduzidas pelo residente.

A escala médica usual corresponde a 12 horas diárias, totalizando 60 horas semanais e pelo menos um dia de folga por semana.

O residente também pode dar plantão médico.

O que diz a lei da residência médica?

A legislação que fundamenta a residência médica é o Decreto 80.281/1977.

O texto estabeleceu as primeiras regras para o tema, determinando que:

“A Residência em Medicina constitui modalidade do ensino de pós-graduação destinada a médicos, sob a forma de curso de especialização, caracterizada por treinamento em serviço, em regime de dedicação exclusiva, funcionando em Instituições de saúde, universitárias ou não, sob a orientação de profissionais médicos de elevada qualificação ética e profissional.”

Também afirma que os programas de residência médica devem durar pelo menos um ano, período no qual serão distribuídas, no mínimo, 1,8 mil horas de atividade.

Durante o tempo de especialização, ao menos 4 horas semanais se destinam a sessões de atualização, seminários, correlações clínico-patológicas etc.

Outra norma de interesse é a Lei 6.932/1981, que detalha as atividades do médico.

O trabalho do residente corresponde à carga horária máxima de 60 horas semanais, podendo englobar até 24 horas de plantão presencial supervisionado.

O profissional tem direito a 30 dias consecutivos de férias a cada ano.

Caso seja preciso, poderá gozar também de licença-paternidade de 5 dias ou licença-maternidade de 120 dias.

Embora seja permitido interromper a residência nesses períodos, o médico deverá completar toda a carga horária prevista quando retomar a especialização.

Residência em medicina

Os programas de residência médica devem durar pelo menos um ano, com no mínimo 1,8 mil horas de atividade

Tipos de residência médica

O CFM reconhece um total de 55 especialidades médicas, concedidas após a conclusão da residência ou a realização de uma prova de título de especialista.

A atualização mais recente com os tipos de residência foi aprovada através da Resolução 2.221/2018, que lista as seguintes áreas da medicina:

Aproveite para ler também o artigo sobre todas as áreas da medicina.

Médico sem residência pode trabalhar?

Sim, pode. Assim como especializações em outros setores do mercado, a residência médica não é obrigatória para exercer a profissão.

Se desejar, o profissional pode apenas cursar os seis anos de graduação em medicina, adquirindo conhecimentos básicos e práticos para o atendimento clínico.

Ao final do curso, o médico generalista (clínico geral) obtém registro junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM) de seu estado, que o habilita a exercer a medicina.

Esses médicos atuam em clínica geral ou saúde da família e são capacitados para investigar, diagnosticar e tratar doenças comuns.

Já as patologias específicas devem ser avaliadas por especialistas, sendo que o médico generalista faz o encaminhamento a eles quando necessário.

No Brasil, a maioria dos profissionais escolhe se especializar, pois esse título aumenta as opções de vagas no mercado de trabalho.

Além de conferir salários mais atraentes que os destinados aos médicos generalistas.

Vantagens do programa de residência médica

Apesar da concorrência para conseguir uma vaga, a residência médica oferece diversas vantagens.

Listo abaixo os cinco benefícios mais evidentes.

1. Reconhecimento no mercado

Como citei antes, fazer residência não é obrigatório para exercer a medicina com o aval das autoridades de saúde do país.

Entretanto, esse tipo de especialização confere um reconhecimento diferenciado no mercado, pois é considerado padrão ouro entre as pós-graduações da área médica.

Por isso, quem completa a residência sai na frente na busca por vagas disputadas, incluindo concursos públicos e cargos em organizações renomadas.

Sem contar que, mesmo que escolha atender somente no próprio consultório ou clínica, o especialista poderá informar seu título para se destacar e atrair mais pacientes.

2. Bolsa pela residência médica

Quem atua em outros setores do mercado está acostumado à ideia de que terá de pagar para cursar uma especialização.

Ou se esforçar para passar no processo seletivo de universidades públicas.

O médico residente, por outro lado, não precisa desembolsar qualquer valor pela qualificação ofertada durante a residência.

Na verdade, a legislação garante uma bolsa de mais de R$ 3 mil mensais durante todo o período da especialização.

Esse valor se destina ao pagamento dos gastos com material, transporte, alimentação, moradia e outros custos para o residente, que deve se dedicar ao curso em tempo integral.

Médico residente

O CFM reconhece um total de 55 especialidades médicas, concedidas após a conclusão da residência

3. Treinamento supervisionado

Essa vantagem está diretamente ligada à dinâmica da residência médica, que prioriza o treinamento em serviço.

Porém, essas ações são sempre supervisionadas por especialistas experientes, o que confere alta qualidade às orientações.

Assim, o residente poderá entrar no mercado de trabalho com mais segurança, sabendo que passou por capacitação prática durante toda a especialização.

4. Direito a férias anuais

Como a residência consiste em trabalho, o médico tem direito a gozar de férias a cada ano da especialização.

O descanso remunerado permite que ele recupere a energia, retornando com maior disposição para acompanhar a rotina puxada da residência.

Mencionei, anteriormente, que o residente ainda pode tirar licença-maternidade ou paternidade, sem qualquer prejuízo à sua formação.

5. Mais oportunidades de crescimento na carreira

Obtendo maior reconhecimento no mercado, é natural que o médico que completa a residência encontre mais oportunidades que o generalista.

Sua titulação, trabalhos desenvolvidos e a rede de contatos obtidos durante a especialização também ajudam nesse quesito.

Afinal, ele terá acesso a um volume maior de informações, cursos complementares, concursos e vagas disponíveis em sua área de atuação.

Como escolher a sua residência médica?

Escolher a área em que você deseja se especializar nem sempre é uma tarefa simples, e pode ser ainda mais complicada em se tratando de um programa de residência.

Porém, também não é nenhuma missão impossível, contanto que você dedique algum tempo e energia para entender suas prioridades e quais alternativas atendem a elas.

Selecionei algumas dicas que podem ajudar na escolha da residência ideal para você:

  • Comece pelo autoconhecimento: assim, você vai saber quais as preferências em relação às diferentes especialidades. Se possível, converse com médicos atuantes nessas áreas para entender seu dia a dia
  • Pense sobre o tipo de rotina que pretende ter: pode ser mais tranquila, em consultórios ou ambulatórios, ou imprevisível, caso atenda emergências no pronto-socorro, por exemplo
  • Defina o perfil de pacientes que mais lhe interessa: são crianças, adultos ou idosos? Homens ou mulheres? Gostaria de lidar com gestantes?
  • Entenda sua necessidade e ambição financeira: pois algumas especialidades têm salários maiores que outras
  • Verifique as opções de programas de residência em sua cidade: avalie se tem condições de se mudar para outro município para cursar um programa que deseje.

Procure também estudar o mercado e as instituições de saúde para encontrar as melhores oportunidades em seu planejamento de carreira.

Como participar das melhores residências médicas?

Entrar nas melhores residências médicas exige  horas de dedicação aos estudos, informações sobre a especialidade desejada e quais instituições são referência nesse campo.

Recomendo que você comece avaliando seu perfil e objetivos, a fim de selecionar a área em que realmente tem interesse.

O que pode parecer uma tarefa simples, mas nem sempre é.

Contudo, é com base nessa informação que será possível traçar um plano até o ingresso numa organização que ofereça um programa de residência médica de excelência.

Uma vez que tenha se decidido, confira se há algum pré-requisito (além da graduação) para participar da especialização.

Muitas vezes, seu plano deverá ser desmembrado em pelo menos duas etapas para cobrir uma primeira residência em clínica médica ou cirurgia e a segunda na área selecionada.

Em seguida, parta para a avaliação das melhores instituições de ensino – que pode estar relacionada à alta concorrência pelas vagas.

Porém, não desanime.

Apenas liste aquelas que lhe atraem e inicie os estudos com afinco.

Utilize os conhecimentos compartilhados durante a Faculdade de Medicina, junto a novos saberes adquiridos em cursos preparatórios, junto a colegas, professores, entre outras fontes confiáveis.

Vale recordar a época em que você prestou o vestibular para medicina e, quem sabe, repetir a rotina para se preparar bem e conseguir entrar na residência dos sonhos.

Perguntas frequentes sobre residência médica

Neste espaço, trago respostas rápidas para as principais dúvidas sobre a residência médica.

Se ficar alguma questão em aberto, deixe um comentário ao final do texto.

O que é um residente de medicina?

Como o nome sugere, residente de medicina é o profissional que está cursando uma residência médica.

Ou seja, é o nome dado ao médico generalista que está se especializando e, ao final dessa pós-graduação, receberá o título de especialista.

Quantos anos de residência médica?

O período de residência varia entre 2 e 5 anos, dependendo da área.

Qual o salário de um médico residente?

Adiantei, nos tópicos anteriores, que o médico residente recebe uma bolsa durante o período de especialização.

O valor mínimo é regido pelas autoridades de saúde e, atualmente, supera os R$ 3 mil.

Porém, nada impede que uma instituição pague bolsa de valor mais alto, como forma de incentivo aos participantes de seus programas de residência.

De qualquer forma, lembre-se que haverá desconto devido à filiação do residente ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

Geralmente, a contribuição previdenciária corresponde a 11% da bolsa de residência médica.

Quais são as especialidades mais procuradas?

Segundo a pesquisa Demografia Médica 2023, realizada pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o CFM, as 8 especialidades mais procuradas no Brasil concentram 55,6% do total de especialistas.

Confira o ranking com o top 10:

  • Clínica médica (56.979 médicos)
  • Pediatria (48.654)
  • Cirurgia geral (41.547)
  • Ginecologia e obstetrícia (37.327)
  • Anestesiologia (29.358)
  • Ortopedia e traumatologia (20.972)
  • Medicina do Trabalho (20.804) 
  • Cardiologia (20.324)
  • Oftalmologia (17.967 registros)
  • Radiologia e diagnóstico por imagem (16.899).

Na sequência, listo as especialidades de acesso direto.

Quais são as especialidades de acesso direto?

Conforme a Resolução CNRM 02/2006, as especialidades de acesso direto aos programas de residência médica são:

  • Acupuntura
  • Anestesiologia
  • Cirurgia geral
  • Cirurgia da mão
  • Clínica médica
  • Dermatologia
  • Genética médica
  • Homeopatia
  • Infectologia
  • Medicina de família e comunidade
  • Medicina do tráfego
  • Medicina do Trabalho
  • Medicina esportiva
  • Medicina física e reabilitação
  • Medicina legal
  • Medicina nuclear
  • Medicina preventiva e social
  • Neurocirurgia
  • Neurologia
  • Obstetrícia e ginecologia
  • Oftalmologia
  • Ortopedia e traumatologia
  • Otorrinolaringologia
  • Patologia
  • Patologia Clínica / Medicina laboratorial
  • Pediatria
  • Psiquiatria
  • Radiologia e diagnóstico por imagem
  • Radioterapia.

Seja qual for a sua escolha, a telemedicina será uma aliada na carreira médica, como explico a seguir.

Como a telemedicina ajuda médicos e residentes?

Tanto residentes quanto generalistas e especialistas costumam ter uma agenda médica conturbada.

Além do atendimento aos pacientes, é comum o acúmulo de atividades administrativas e de gestão, o que ocupa longas horas do dia.

Nesse cenário, soluções tecnológicas como a plataforma de telemedicina ajudam a diminuir a carga de trabalho e otimizar as tarefas.

Um sistema robusto como o da Telemedicina Morsch disponibiliza suporte para a interpretação de exames de imagem através do serviço de laudos online.

Basta compartilhar os registros dos procedimentos para receber resultados completos, interpretados e assinados digitalmente pelo nosso time de especialistas.

Caso tenha dúvida sobre um diagnóstico ou tratamento, acione a segunda opinião médica dentro do mesmo software para receber orientações de forma ágil.

Para quem quer fazer renda extra, nossa plataforma oferece o marketplace médico, que vai ampliar sua base de pacientes por meio da teleconsulta.

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Conclusão

Gostou de saber mais sobre como funciona a residência médica?

Esse é um caminho promissor para se destacar no mercado e alcançar patamares mais altos na sua carreira, obtendo treinamento de qualidade.

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Aproveite para conferir outros conteúdos para médicos que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin