O que é Telereabilitação e como está auxiliando na alta hospitalar

Por Dr. José Aldair Morsch, 23 de outubro de 2020
A Telereabilitação é um método alternativo e inovador que permite aos pacientes o acesso remoto a uma equipe especializada de reabilitação.

A telereabilitação é uma modalidade de atendimento médico à distância que, apesar de pouco conhecida, é considerada pelos especialistas como uma das grandes tendências do segmento.

Uma das frentes da telessaúde, ela consiste em oferecer todo a apoio para pacientes que se encontram em recuperação, após terem alguma doença grave ou terem sido submetidos à cirurgia.

Segundo números do Crefito-3, em 2019 foram realizadas cerca de 1.200 sessões de fisioterapia nesse formato.

O número ainda é pequeno frente a quantidade de pessoas que poderiam receber terapia à distância, evitando ter que se expor a um ambiente clínico e/ou hospitalar.

Estados Unidos, Canadá e diversos países da Europa já realizam a telereabilitação com mais facilidades, especialmente por terem mais recursos para pesquisa e aquisição de equipamentos.

Entretanto, mesmo com as limitações, o Brasil está dando passos importantes para difundir essa prática, ampliar o seu alcance e, principalmente, ser de fato eficiente.

Neste artigo, vou esclarecer os principais pontos sobre telereabilitação, como o que é, sua importância, quais os recursos necessários para oferecê-lo e os principais casos em que ele é recomendado.

O que é telereabilitação?

É um método alternativo e inovador que permite aos pacientes o acesso remoto a uma equipe especializada de reabilitação.

Através de tecnologias de informação e comunicação, como câmeras e softwares específicos, a telereabilitação oferece os mesmos serviços que uma reabilitação presencial, com a diferença de que a pessoa não precisa se deslocar para ter o suporte.

O método propicia interação em tempo real entre o paciente e o profissional de saúde, sendo que este passa as atividades que devem ser realizadas e acompanha o andamento – como uma consulta normal.

Apesar de, no Brasil, a telereabilitação estar ainda em fase de testes e aprimoramentos, existem exemplos bem-sucedidos da sua prática.

O Hospital Einstein, por exemplo, desenvolveu um Programa de Reabilitação à distância para os pacientes acometidos pelo Coronavírus que tiveram algum tipo de sequela físico, cognitivo ou psíquico, com destaque para:

  • Fraqueza muscular e respiratória;
  • Fadiga;
  • Raciocínio lento;
  • Estresse pós-traumático;
  • Alterações de sensibilidade.

Desta forma, através da telereabilitação, ofereceu um suporte completo para que os pacientes se recuperem sem ter que ir ao hospital.

A telereabilitação surge como uma ótima alternativa para os pacientes não precisam se deslocar para realizarem seu tratamento.

É possível utilizar ferramentas de telereabilitação para o acompanhamento à distância de pacientes que tiveram algum tipo de sequela físico, cognitivo ou psíquico.

Qual a importância da telereabilitação para clínicas, hospitais e pacientes?

A reabilitação é um procedimento complexo, que exige uma série de fatores para que os resultados sejam satisfatórios.

Um deles é o trabalho ser multidisciplinar, uma vez que os sintomas podem necessitar de manobras distintas para serem minimizados.

Contudo, o acesso a essas especialidades nem sempre é fácil em algumas regiões no país, mesmo nos grandes centros – que concentram a maior parte desses profissionais.

Assim, a difícil mobilidade e as grandes distâncias acabam impedindo os pacientes de receberem um tratamento na frequência que eles precisam no processo de reabilitação.

Nesse cenário, a telereabilitação surge como uma ótima alternativa, visto que os pacientes não precisam se deslocar para realizarem seu tratamento e, assim, recuperarem o seu bem-estar.

Além disso, eles conseguem ter acesso a todos os especialistas que necessitam em uma mesma plataforma, podendo organizar seus horários conforme a agenda disponibilizada por cada um deles.

Para as clínicas e hospitais, a telereabilitação também é importante uma vez que permite realizar uma quantidade maior de teleconsultas e telemonitoramentos.

Como não há necessidade de contar com uma ampla infraestrutura para recepcionar as pessoas, seus custos reduzem ao mesmo passo em que otimizam o seu tempo para atender mais pessoas.

Logo, posso resumir a importância da telereabilitação da seguinte forma:

Pacientes

  • Acesso facilitado a diversas especialidades médicas sem que isso demande deslocamento;
  • Em casos de saúde grave, evita que se exponha a riscos iminentes a hospitais e clínicas médicas;
  • Melhor acesso aos serviços de saúde, necessitando apenas de acesso à internet;
  • Aumento da qualidade de vida.

Clínicas e hospitais

  • Aumento das consultas realizadas por dia e redução dos custos com infraestrutura;
  • Melhoria no custo vs eficácia;
  • Melhor qualidade dos cuidados oferecidos, proporcionando resultados mais satisfatórios na recuperação;
  • Facilidade de troca de experiências entre profissionais de diversas áreas.

Qual a serventia da telereabilitação na prática?

Na prática, essa modalidade tem como finalidades principais:

  • Orientar o paciente quanto à prática adequada de atividades físicas de acordo com a sua idade e a situação de saúde atual;
  • Oferecer todo o suporte físico, psíquico e nutricional para que, aos poucos, ele retome a sua normalidade;
  • Passar exercícios e manobras de fisioterapia para que o movimento seja restabelecido;
  • Acompanhar todo o processo de reabilitação, modificando as ações conforme ele for melhorando.

Além disso, a telereabilitação pode ser realizada visando orientar familiares, cuidadores ou mesmo equipes multidisciplinares que atuem de forma presencial sobre o tratamento mais adequado para a etapa de reabilitação.

Assim, além do monitoramento da saúde do paciente à distância, ainda permite disseminar informações relevantes para quem está fisicamente próximo a pessoa e tem papel fundamental na reabilitação.

Quais são os recursos necessários para a implantação da telereabilitação?

Telereabilitação nada mais é do que o uso das tecnologias de informação e comunicação para levar os serviços de saúde – ao menos aqueles que podem ser entregues dessa forma – às pessoas que precisam deles.

Muitas pessoas imaginam que, para começar a oferecê-lo, é preciso realizar um grande investimento inicial.

Na verdade, basta um telefone convencional para dar os primeiros passos, pois ele já permite, por exemplo, que haja o contato entre o agente de saúde e o paciente – nem que seja para monitorar seu estado clínico.

Claro que o ideal é contar com smartphone, bem como outras tecnologias mais modernas, como realidade virtual e sensores, que proporcionam um controle mais efetivo, mas isso não é regra.

Ou seja, a telereabilitação pode acontecer com qualquer serviço, equipamento que proporcione a informação e a comunicação – desde o telefone convencional até tecnologias mais modernas.

O importante de fato é contar com a tecnologia apropriada para o tipo de atendimento que se deseja oferecer, pois é isso que irá ajudar os terapeutas a disponibilizarem seus serviços, estejam os pacientes onde eles estiverem.

Quer ver um exemplo? Um fisioterapeuta pode passar suas técnicas através de videochamada, que pode ser realizada tanto usando um smartphone quanto uma plataforma específica de telemedicina.

Claro que esta última é considerada mais adequada, porque o sistema conta com outras funcionalidades que auxiliam nesse processo, como o prontuário eletrônico, onde o profissional pode realizar as anotações no histórico clínico do paciente – facilitando nas suas próximas manobras.

Quem está apto a realizar esse tipo de atendimento?

Como mencionei, a telereabilitação é uma atividade que deve, preferencialmente, ser realizada de forma multidisciplinar.

Com uma equipe integrada, evita-se a fragmentação do tratamento, sem falar que os protocolos de exercícios são desenvolvidos para promover uma melhora na saúde como um todo.

Desta forma, os profissionais que podem ser integrados na telereabilitação são:

  • Fisioterapeuta, especializado em processos de reabilitação pulmonar, cardíaca, neurológica, uroginecológica, ortopédica e autônoma, entre outras;
  • Fonoaudiólogo, com conhecimentos amplos em tudo que envolve audição, voz, fala, linguagem, disfagia e reabilitação vestibular;
  • Médico de reabilitação, especializados em áreas distintas, como reabilitação cardiopulmonar;
  • Psicólogos, com experiência em estresse pós-traumático, depressão, entre outros distúrbios que podem acometer a mente após uma doença;
  • Neuropsicólogo;
  • Nutricionista, que dará todo o suporte para que a alimentação se torne uma aliada na recuperação;
  • Terapeuta Ocupacional, com especialidade em reabilitação neurológica, reumatológica, ortopédica, cognitiva, ocupacional e adaptação domiciliar;
  • Enfermeiro de reabilitação, focado em reabilitação vesical e intestinal, cuidado com machucados e promoção de saúde em geral.

Dentro da telereabilitação, vale um destaque especial para a terapia ocupacional, que é aquela que visa permitir que o paciente retome suas atividades integralmente.

O que ocorre é que muitos profissionais acabam, seja por questões financeiras ou por dificuldade de locomoção, não realizando esse tipo de atividade, muitas vezes voltando ao trabalho sem estar realmente recuperado.

Além de ser mais em conta, a telereabilitação rompe com as questões geográficas, oferecendo um atendimento completo para que possam retornar de fato recuperados.

Em quais circunstâncias a telereabilitação é indicada?

Devido às limitações que esse formato ainda oferece, uma vez que não permite o contato entre paciente e profissional de saúde, existem algumas circunstâncias em que a telereabilitação é mais recomendada.

Os problemas mais comuns são:

  • Dores crônicas, como as osteoarticulares e neuropáticas;
  • Pré e pós operatório ortopédico;
  • Doenças neurológicas, como Acidente Vascular Cerebral (AVC), traumatismo craniano, neuropatia, lesões na medula, esclerose lateral amiotrófica e paralisia cerebral;
  • Problemas cardíacos e pulmonares;
  • Doenças oncológicas, especialmente após a realização de tratamentos como cirurgia de retirada de tumor e quimioterapia;
  • Alterações de equilíbrio ou perda de função, comum em idosos;
  • Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor em criança.

A ideia por trás da telereabilitação é acompanhar o paciente que passou por algum problema de saúde que o fez deixar com sequela ou que simplesmente ainda não se recuperou totalmente.

Lembram que falei sobre o exemplo do Hospital Einstein? Além de buscarem reverter as sequelas comuns após o COVID-19, muitos pacientes que eram atletas viram sua performance na atividade física cair substancialmente.

Nestes casos, a telereabilitação visava o retorno à prática esportiva, de forma a evitar lesões.

A telereabilitação utiliza tecnologias de comunicação para prover reabilitação à distância e tem se mostrado eficiente e eficaz em comparação às práticas clínicas.

A telereabilitação tem sua eficácia comprovada em tratamentos.

Por que a telereabilitação é recomendada após cirurgias ortopédicas?

Nesse tipo de cirurgia, a reabilitação é importante para restabelecer a função motora e permitir o retorno precoce à rotina.

Geralmente, esse processo é realizado em centros especializados, com profissionais habilitados e equipamentos adequados.

Isso demanda tempo e deslocamento do paciente – assim como de um acompanhante.

Esses fatores acabam levando à baixa adesão no processo de recuperação, podendo levar a um prejuízo funcional e déficit de mobilidade.

Nesse cenário, a telereabilitação surge como uma alternativa mais prática, eficiente e econômica, permitindo o acesso universal à reabilitação.

Mas será que ela é tão eficiente quanto a reabilitação presencial?

A revista científica The Journal of Bone and Joint Surgery publicou um estudo realizado em Quebec, no Canadá, com 205 pacientes submetidos à artroplastia total do joelho.

Os paciente que tiveram alta foram separados em dois grupos, sendo que um deles receberia as instruções de um profissional especializado via videoconferência e o outro, através de visitas domiciliares de um fisioterapeuta.

Os dois grupos receberam as mesmas instruções, interagiram de forma igual com os médicos e foram avaliados usando os mesmos critérios, como:

  • Dor;
  • Amplitude dos movimentos;
  • Força muscular;
  • Capacidade de realizar suas atividades rotineiras;
  • Qualidade de vida.

Adivinhem qual foi o resultado? Ele mostrou que o paciente que foi submetido à telereabilitação não teve qualquer prejuízo físico por não ter recebido atendimento presencial.

Ou seja, os dois grupos apresentaram recuperação semelhante.

Afinal, a telereabilitação consegue dar conta de todas as etapas de um processo terapêutico?

Essa pergunta é um pouco complexa, porque envolve uma série de profissionais e ainda há muito o que ser pesquisado sobre o assunto.

Entretanto, o que eu posso dizer é que a literatura especializada diz que sim, ela consegue dar conta – como podemos ver na pesquisa citada acima.

Desde a avaliação até ao processo terapêutico e a reavaliação, existe possibilidade de o profissional intervir, monitorar, aconselhar e avaliar.

É preciso, porém, tudo seja feito com muita cautela, especialmente porque é preciso lidar com todas as informações colhidas, uma vez que não há a possibilidade de realizar exames clínicos.

Como a telereabilitação pode ser aplicada na saúde dos pacientes?

A telereabilitação pode ser aplicada de forma isolada, como instrumento e forma de entregar um serviço de reabilitação, como também complementar à terapia tradicional presencial.

No caso, ela pode ser a única alternativa adotada pelo paciente ou então apoiar o tratamento convencional, permitindo realizar o monitoramento mais frequente entre uma consulta e outra.

Como é definido o programa de cada paciente?

Geralmente, o paciente passa por uma avaliação junto ao Médico de Reabilitação em até 48 horas antes da sua alta.

Ele passa por uma análise global de acordo com o problema ou procedimento ao qual foi submetido.

Geralmente, são utilizados instrumentos específicos para medir a capacidade funcional (muscular e respiratória), o grau de fadiga, a qualidade de vida e as condições psíquicas, cognitivas e nutricionais.

Com o resultado em mãos, o paciente é direcionado para a telereabilitação, onde receberá o atendimento de acordo com suas necessidades.

Como funciona o atendimento?

Após a avaliação global, a pessoa é classificada como leve, moderada ou grave.

Pacientes com condições leves costumam receber orientações no momento da sua alta, com apostilas de exercícios que devem ser realizados em casa.

Quem se enquadra como moderado costuma receber a recomendação de tratamento por telereabilitação contendo 12 sessões de terapias multiprofissionais.

Já os casos graves podem precisar de até 20 sessões de terapias multiprofissionais, que podem incluir algumas presenciais para uma avaliação física mais precisa.

Passo a passo da Telemedicina Morsch

Na plataforma da Telemedicina Morsch, desde o agendamento até o atendimento em si é feito de forma virtual.

Funciona da seguinte forma:

  1. Acessando a plataforma de agendamento, o paciente seleciona entre atendimento on-line ou presencial;
  2. Após, ele escolhe a especialidade desejada;
  3. Em seguida, ele é encaminhado para uma página onde constam todos os médicos disponíveis, com suas respectivas agendas;
  4. Basta selecionar o profissional, o horário mais adequado e realizar o pagamento da consulta;
  5. No dia da telereabilitação, ele recebe um lembrete, para não perder sua hora;
  6. Na hora agendada, basta acessar a mesma plataforma, que ele será redirecionado para sua página pessoal, onde será atendido pelo profissional em questão.

Conclusão

Neste conteúdo, abordei uma das modalidades da telessaúde que vem ganhando cada vez mais adeptos: o da telereabilitação.

Mostrei os principais benefícios do seu uso no dia a dia clínico, como a otimização das consultas, a redução de custos com infraestrutura e o acompanhamento pleno dos pacientes – tornando o tratamento muito mais eficaz.

A Telemedicina Morsch pode ajudar clínicas e hospitais a oferecerem a telereabilitação, uma vez que oferece uma plataforma completa, com todas as funcionalidades necessárias para oferecer um atendimento humanizado e efetivo.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin