Relação médico-paciente: o que é, importância e dicas para qualificar

Por Dr. José Aldair Morsch, 10 de julho de 2024
relação médico-paciente

A atenção à relação médico-paciente é fundamental para que o profissional de saúde consiga realizar um trabalho de excelência.

Partindo do pressuposto de que se trata de vidas humanas, adotar estratégias que melhorem essa interação permite a construção de um vínculo baseado no respeito e no acolhimento.

Tendo isso em vista, mostro algumas estratégias para melhorar essa relação ao longo deste texto.

Abordo ainda a importância de cuidar dessa interação com os pacientes, trazendo valiosas sugestões para que os médicos consigam criar um vínculo mais forte e fidelizá-los.

Por exemplo, utilizando soluções de telemedicina para um atendimento humanizado.

O que é relação médico-paciente?

Relação médico-paciente é o vínculo formado entre esses dois atores presentes na assistência médica.

Ela é construída a partir de interações durante consultas, exames, retornos, monitoramento do tratamento e demais oportunidades de contato.

A comunicação médico-paciente tem papel extremamente relevante na construção desse relacionamento.

Seu objetivo é criar um espaço seguro e acolhedor para que o paciente compartilhe não apenas sintomas, mas também opiniões, receios e histórico.

Falo mais sobre a importância dela a seguir.

Qual a importância da relação médico-paciente?

Como mencionei na introdução do artigo, a relação médico-paciente é fundamental para a humanização do atendimento.

Ou seja, para que o paciente se sinta valorizado, respeitado e bem cuidado nos serviços de saúde.

Esse cenário permite manter um clima agradável no consultório médico e outros locais de assistência, com benefícios para todos.

Começando pelo paciente, que se entende acolhido e livre para falar sobre questões de saúde, comorbidades, estilo de vida, condição social, de trabalho, dinâmica familiar e outras informações que contribuem para um diagnóstico ágil e preciso.

Isso também ajuda a otimizar a rotina do médico, que terá acesso a detalhes sobre o histórico do paciente de maneira contextualizada para formular a hipótese diagnóstica.

Graças a essa anamnese mais completa, aumentam as chances de fechar um diagnóstico clínico ou que necessite de poucos exames complementares, resultando na economia de tempo e dinheiro.

Segundo ressalta o artigo “A importância da Relação Médico-Paciente”:

“Sem esse contato, não é possível estabelecer um diálogo e desenvolver uma anamnese adequada. Precisamos nos lembrar de que 70% de todos os diagnósticos são advindos da anamnese”.

Tipos de relação médico-paciente

Existem diferentes tipos de relação médico-paciente, classificados conforme estudos a respeito desse tema.

A seguir, apresento quatro modelos descritos pelo Prof. Robert Veatch, que atuou no Instituto Kennedy de Ética da Universidade Georgetown (EUA).

Modelo sacerdotal

Neste modelo, a relação é caracterizada pela dominação do médico sobre o paciente, que tem postura submissa.

Geralmente, o profissional assume uma postura paternalista, utilizando sua autoridade para assumir o poder e tomar todas as decisões a respeito do diagnóstico e abordagem terapêutica.

Cabe ao doente apenas seguir instruções, sem se envolver realmente nos processos.

Modelo engenheiro

Baseado na mera prestação de serviços pelo médico, esse modelo é o oposto do sacerdotal.

Ou seja, embora o médico seja o detentor da autoridade técnica, a tomada de decisão cabe ao paciente, que é pautado por demandas pessoais.

Modelo colegial

Aqui, a premissa é de uma relação igualitária, em que o poder de decisão é compartilhado entre médico e paciente.

Ambos têm alto envolvimento na determinação do diagnóstico e tratamento, entretanto, a autoridade técnica do profissional é deixada em segundo plano.

Modelo contratualista

Parte do compartilhamento de poder entre médico e paciente sem, contudo, desprezar a autoridade médica.

O foco está no comprometimento de ambas as partes, que contribuem para a tomada de decisões de acordo com sua capacidade de colaboração.

Aspectos técnicos ficam sob a responsabilidade do médico, enquanto o paciente pode opinar sobre ajustes considerando sua condição socioeconômica, hábitos diários, preferências, etc.

relação médico paciente

A relação médico-paciente pode ser levada para além das consultas, através de um acompanhamento mais próximo

O que diz o Código de Ética sobre a relação médico-paciente?

O Código de Ética Médica dedica todo o Capítulo V (Arts. 31 a 42) à relação deste profissional com pacientes e familiares.

O texto proíbe o abandono do paciente sob seus cuidados, salvo quando:

“Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente ou a seu representante legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias ao médico que o suceder”.

Outras condutas vedadas sob o prisma da ética médica são:

  • Desrespeitar o direito do paciente a decidir sobre práticas diagnósticas terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte
  • Deixar de usar todos os meios cientificamente reconhecidos em favor do paciente
  • Deixar de atender casos de urgência ou emergência
  • Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento 
  • Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a terapêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedimentos médicos
  • Prescrever tratamento e outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo
  • Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais
  • Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente
  • Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer outra natureza
  • Abreviar a vida do paciente
  • Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo.

No próximo tópico, comento sobre um comportamento fundamental para essa relação: a empatia.

Qual o papel da empatia na relação médico-paciente?

A empatia permite que o médico se coloque no lugar do paciente, colaborando para uma percepção mais próxima à realidade dele.

Utilizando essa habilidade comportamental, médicos se tornam capazes de entender melhor as dificuldades, sintomas e outros incômodos que permeiam a experiência do paciente.

Nesse contexto, a empatia serve como alicerce na construção de um relacionamento de confiança entre profissional e doente, evidenciando que o paciente não representa apenas um número dentro do serviço de saúde.

Ele passa a ser considerado junto a fatores que vão além de manifestações clínicas e do prontuário médico, passando pelas interações com a equipe médica, barreiras culturais, crenças, valores e expectativas.

Por consequência, perceberá o médico como um aliado não apenas na cura de doenças, mas também na promoção da saúde e qualidade de vida.

Como deve ser a relação médico-paciente?

Um dos maiores desafios enfrentados pela classe médica é buscar estratégias para desenvolver a relação médico-paciente com sucesso.

Não raro, a impessoalidade nas consultas médicas acaba prejudicando tanto o médico quanto seus pacientes, já que muitos tratamentos iniciados com um profissional não têm continuidade.

Portanto, se você está em busca de alternativas para fidelizar pacientes, obter melhores resultados nos tratamentos e impulsionar os negócios, trago a seguir algumas sugestões que podem ajudar.

Priorize um atendimento humanizado

As metas de melhoria devem primar pelo desenvolvimento da humanização em todas as etapas do atendimento clínico.

Para alcançar sucesso na relação médico-paciente, uma opção seria a promoção de uma nova cultura de atendimento.

O ideal é estabelecer procedimentos nos quais os médicos deixem de tratar somente da doença em si e desenvolvam uma visão holística sobre o paciente.

Nessa perspectiva, os pacientes são considerados sob um contexto biopsicossocial.

Ou seja, como seres humanos com sentimentos e emoções que influenciam a dinâmica da doença, a dimensão dos seus problemas e suas necessidades específicas.

Na prática clínica, é possível perceber que, ao buscar atendimento médico para cuidar de alguma doença crônica, como a hipertensão, o paciente se encontra em uma condição de vulnerabilidade emocional, fragilidade e insegurança.

Logo, a forma como ele é atendido e a atenção que recebe do profissional impactam a percepção que ele terá sobre a sua experiência naquele local.

Além do mais, a humanização não deve se restringir ao consultório.

Esse processo precisa ser extensivo a todos os ambientes em que ocorra alguma interação com o paciente, desde a chegada à clínica ou hospital até o instante em que ele vai embora.

Ouça antes de fornecer o diagnóstico

Ouvir o paciente com atenção – e demonstrar interesse pelo problema dele – para depois definir o diagnóstico é uma recomendação que, apesar de ser bem discutida no meio médico, ainda é pouco praticada.

Esta prática ainda é um grande desafio para os médicos gestores de clínicas e de hospitais devido à alta demanda de consultas, o que torna o tempo escasso para dar conta de todos os agendamentos.

Entretanto, essa logística que envolve tempo e qualidade no atendimento precisa ser repensada, já que o ato de ouvir não pode se limitar apenas à coleta das informações e ao diagnóstico.

É necessário adotar condutas que o façam se sentir compreendido e confiante no profissional.

Reserve tempo suficiente para cada consulta

Dar atenção ao paciente é imprescindível à construção de uma imagem positiva do profissional.

São atitudes muito valorizadas, principalmente numa era em que a instantaneidade das relações é cada vez mais cultuada.

Na prática médica, o bom relacionamento promove alívio e conforto emocional, quesitos essenciais à redução dos impactos da doença sobre a qualidade de vida.

Portanto, vale a pena refletir numa forma de buscar um equilíbrio entre a quantidade de consultas do dia e o tempo disponível para cada uma delas, de modo a manter a qualidade no atendimento.

Lembre-se de que o paciente é o seu cliente e, como tal, está em busca de serviços que atendam às expectativas e preencham seus anseios.

Evite atrasos

Atrasos esporádicos são comuns e, por vezes, inevitáveis.

Porém, isso não pode se tornar um hábito, pois atrasos frequentes podem deixar de ser tolerados pelos pacientes.

Na medicina, os profissionais que fazem fama por atrasos costumam ter uma agenda marcada pela rotatividade.

Ela pode assumir uma conotação negativa, já que dificulta a manutenção de uma clientela fixa e impossibilita a continuidade dos tratamentos.

Por isso, evitar atrasos que comprometem a qualidade dos serviços deve ser uma meta priorizada pelos serviços de saúde.

A maioria dos atrasos nas consultas resultam de causas que podem ser mais bem gerenciadas e controladas, mas isso depende de um bom planejamento e organização da agenda médica.

Fale a língua do paciente

Na prática clínica, o profissional pode se deparar com pacientes das mais variadas classes sociais e diferentes culturas.

Essa variedade engloba desde pessoas com um bom nível de instrução até aquelas não alfabetizadas e que exigem um pouco mais de paciência para uma interação de sucesso.

Assim, convém evitar palavras difíceis, termos técnicos, expressões rebuscadas e de difícil compreensão.

Esse modo de comunicação pode fazer com que alguns de seus pacientes se sintam inseguros e desconfortáveis durante a consulta.

Nos casos mais extremos, podem até se sentir intimidados e não conseguir expressar o que realmente precisam.

Portanto, o diálogo deve ser o mais simples possível para facilitar a interação e evitar que o paciente oculte informações relevantes para a definição do diagnóstico.

Vale ressaltar também a importância de considerar que os pacientes são, na maioria, leigos e não estão acostumados com a linguagem utilizada pelos profissionais da saúde.

Invista no relacionamento pós-consulta

A relação médico-paciente pode ser levada para além das consultas, por meio de um acompanhamento próximo.

Nos dias atuais, o mercado de saúde está cada vez mais competitivo, e só assegura o seu espaço quem atende às expectativas e se adequa às exigências do público.

Esse panorama sugere a necessidade de utilizar estratégias cada vez mais alinhadas à captação de pacientes e fidelização.

Investir no pós-consulta contribui para a construção de um relacionamento mais firme e duradouro.

Um dos objetivos é acompanhar o progresso da recuperação do paciente e, posteriormente, aumentar as chances de retorno, caso surja alguma eventualidade.

Além de influenciar o resultado do tratamento, a atenção à qualidade da relação médico-paciente é essencial a um marketing boca a boca positivo, atraindo novos pacientes.

Como é a relação médico-paciente na telemedicina?

Os princípios da boa relação médico-paciente devem estar presentes em qualquer tipo de interação, inclusive no atendimento online.

Mediada por uma plataforma de telemedicina, essa dinâmica precisa respeitar as normas de ética, preservando o sigilo médico referente aos relatos e documentos gerados, nos termos da LGPD.

Realizada numa sala virtual, a entrevista com o paciente também é protegida por mecanismos como a criptografia de ponta a ponta, requerida para qualquer sistema de telemedicina online.

No ambiente digital, o profissional consegue manter proximidade com o paciente a partir de mecanismos de áudio e vídeo disponíveis para a consulta por videoconferência.

Softwares completos como o da Telemedicina Morsch ainda oferecem facilidades que otimizam a rotina do médico, a exemplo de:

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Conclusão

A relação médico-paciente interfere na qualidade dos serviços prestados.

Daí a necessidade de investir em acolhimento durante todas as etapas da jornada do paciente, promovendo experiências positivas para ganhar sua lealdade.

Espero que tenha gostado das dicas que eu trouxe para alcançar esse resultado no seu estabelecimento de saúde.

Compartilhe o artigo e acompanhe mais textos sobre gestão que escrevo aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin