Monitorização cardíaca: quais os protocolos e melhores práticas

Por Dr. José Aldair Morsch, 13 de junho de 2022
Monitorização cardíaca

A monitorização cardíaca oferece dados essenciais para o acompanhamento de pacientes instáveis.

Usando um monitor conectado a eletrodos, esse mecanismo permite a realização de um eletrocardiograma contínuo, com registro e até alarmes diante de anormalidades.

Dessa forma, o aparelho avisa a equipe médica e de enfermagem caso haja arritmias de padrão rápido ou lento.

Isso garante o socorro imediato ao doente.

Não por acaso, pode fazer a diferença entre a vida e a morte, evitar sequelas e melhorar o prognóstico.

Nos próximos tópicos, trago informações importantes para você aprofundar conhecimentos sobre a monitorização cardíaca, sua finalidade, protocolos e como é feita.

Também poderá conferir opções para agilizar a entrega de laudos de exames cardiológicos, com o suporte da telemedicina.

Vamos em frente?

O que é a monitorização cardíaca?

Monitorização cardíaca é o registro contínuo da atividade elétrica do coração, geralmente realizado em pacientes internados.

Na prática, trata-se da realização de um eletrocardiograma ininterrupto para possibilitar o acompanhamento dos batimentos em tempo real.

O ECG é empregado para monitorar o paciente por reunir uma série de vantagens, a exemplo de:

  • Ser um exame simples, conduzido por médicos, enfermeiros ou técnicos de enfermagem devidamente treinados
  • Ser indolor, rápido, seguro e oferecer pouco incômodo ao doente
  • Não ser invasivo
  • Ter raras contraindicações, geralmente relacionadas a alergias ou queimaduras na pele
  • Fornecer dados em tempo real sobre a frequência cardíaca e suas variações.

Para que serve a monitorização cardíaca?

De forma resumida, a monitorização cardíaca serve para acompanhar a saúde cardíaca de pacientes fisiologicamente instáveis.

A técnica permite a otimização das atividades em locais como enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTI).

Assim, viabiliza a vigilância de vários doentes pela equipe de saúde.

Sem essa possibilidade, os profissionais teriam de gastar muito mais tempo realizando exames para conferir a evolução das terapias aplicadas, e sem conseguir tantos dados quanto os registrados pela monitorização com ECG.

Portanto, a metodologia se tornou indispensável para qualificar a assistência a pessoas internadas, como cita esta aula:

“O propósito da monitorização cardíaca à beira do leito é ajudar no estabelecimento de um diagnóstico, guiar e otimizar a terapia e promover informação diagnóstica”.

Indivíduos em estado crítico, com instabilidades hemodinâmicas e/ou que tenham passado por cardioversão (choque) têm indicação para permanecer em monitoramento.

A ideia é evitar complicações cardíacas como o infarto agudo do miocárdio (IAM), verificando a resposta a medidas como a terapia antiarrítmica.

Ou detectando anormalidades no ritmo cardíaco, tais como:

Quais os protocolos de monitorização cardíaca?

Os protocolos de monitorização cardíaca descrevem parâmetros para garantir registros fidedignos do ECG contínuo.

Eles dependem de fatores como o posicionamento dos eletrodos, sua aderência e conexão com o monitor.

Além, é claro, da condição e programação do eletrocardiógrafo e monitor de UTI – que fornece a leitura dos sinais vitais de modo automático.

Portanto, é fundamental conferir esses itens antes de iniciar a monitorização e, depois, em intervalos programados durante o dia.

Uma das etapas básicas está na identificação do padrão para a colocação dos eletrodos periféricos, que oferecem dados sobre o plano frontal.

Esses eletrodos são identificados por cores diferentes, que devem ser posicionadas nas extremidades dos membros superiores e inferiores no ECG convencional.

Lembrando que, na monitorização cardíaca, os eletrodos são colocados todos no tórax, o mais próximo possível dos membros do paciente.

Os padrões utilizados em equipamentos de ECG foram criados por duas entidades reconhecidas internacionalmente: AHA e IEC.

Abaixo, trago detalhes sobre cada um para tirar as dúvidas sobre esses os protocolos.

Monitoramento cardíaco

A monitorização cardíaca é um exame não invasivo, que registra continuamente a atividade elétrica do coração

Padrão AHA

Referência mundial em cursos e treinamentos para suporte básico e avançado de vida, a American Heart Association (AHA) publica diretrizes sobre os principais exames cardiológicos.

O que inclui diferentes tipos de eletrocardiograma, devido à sua importância para diagnosticar doenças cardiovasculares e eventos graves como o infarto.

Aparelhos que seguem as guidelines da AHA apresentam as cores branco, preto, vermelho, verde e marrom.

Eles devem ser dispostos da seguinte forma:

  • Branco (RA): no braço direito
  • Preto (LA): no braço esquerdo
  • Vermelho (LL): na perna esquerda
  • Verde (RL): na perna direita
  • Marrom: derivação precordial.

Padrão IEC

Já a International Electrotechnical Commission (IEC) trabalha na padronização de requisitos de diversos equipamentos tecnológicos.

O que engloba requisitos para as tecnologias aplicadas à saúde, a exemplo do eletrocardiógrafo.

Dispositivos que atendem aos padrões IEC empregam as cores vermelho, amarelo, verde, preto e branco para os eletrodos.

A distribuição delas fica assim:

  • Vermelho (R): no braço direito (Right)
  • Amarelo (L): no braço esquerdo (Left)
  • Verde (F): na perna esquerda (Foot)
  • Preto (N): na perna direita (Neutro)
  • Branco: derivação precordial.

O posicionamento de eletrodos para monitorização cardíaca

Como mencionei acima, o posicionamento de eletrodos faz toda a diferença na monitorização cardíaca.

Simplesmente porque trocas ou falhas comprometem a qualidade dos registros, favorecendo equívocos na interpretação dos dados sobre a atividade cardíaca.

Caso a troca ou falha não seja identificada com rapidez, o paciente corre o risco de não receber a assistência necessária diante de anormalidades com o ritmo cardíaco.

Afinal, a equipe de saúde terá de reparar em outros sintomas de que algo está errado, o que pode levar tempo.

Quando o assunto são doentes críticos, mesmo poucos minutos podem comprometer seu tratamento e recuperação.

Por isso, é necessário receber treinamento para colocar os eletrodos corretamente.

Cada um deles é responsável pela captação da atividade elétrica de uma parte do músculo cardíaco, formando as derivações observadas no traçado do ECG.

O mais comum é que o teste compreenda 12 derivações, que precisam de 10 eletrodos para serem monitoradas.

Eletrodos precordiais

Mencionei antes os eletrodos periféricos, mas também há os precordiais, usados para mostrar os planos horizontais.

Eles ficam dispostos sobre o tórax do paciente, nas seguintes posições:

  1. O primeiro eletrodo torácico (V1) precisa ficar no 4º espaço intercostal, à margem direita do esterno
  2. O segundo (V2) fica no 4º espaço intercostal, à margem esquerda do esterno
  3. O terceiro (V3) deve ser inserido no espaço entre V2 e V4
  4. O quarto (V4) fica no 5º espaço intercostal esquerdo, na linha abaixo do ponto médio da clavícula (hemiclavicular)
  5. O quinto eletrodo (V5) deve ser posicionado também no 5° espaço intercostal, nível que V4, mais para a esquerda, na linha axilar anterior
  6. O último dispositivo (V6) deve ficar no mesmo nível que V4 e V5, pouco mais para a esquerda, na linha axilar média.

Escrevi outro artigo completo com o preparo e até um passo a passo para colocar os eletrodos no paciente, que você confere aqui.

Monitorização do coração

Com a monitorização cardíaca, é possível acompanhar a saúde cardíaca de pacientes fisiologicamente instáveis

Como fazer a monitorização cardíaca?

Existem diferentes tipos de monitorização cardíaca, conforme cito abaixo.

Cada um tem suas particularidades e finalidade.

No entanto, o preparo e início da técnica incluem etapas semelhantes.

Esses cuidados estão listados a seguir, com base neste material da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares):

  • Realizar a higienização das mãos
  • Organizar todo o material necessário numa bandeja (álcool 70%, luvas, solução antisséptica, gazes, gel para os eletrodos)
  • Explicar o procedimento ao paciente, se estiver consciente
  • Usar EPI recomendado
  • Verificar o número de conectores do cabo de monitorização Standard (se cabo de 3 vias ou cabo de 5 vias)
  • Selecionar na tela do monitor o número de eletrodos de acordo com o cabo (se 3 ou 5 vias)
  • Realizar limpeza da pele com álcool a 70% para colocar os eletrodos e tricotomia (remoção de pelos), caso necessário
  • Posicionar os eletrodos de acordo com as especificidades do aparelho.

Monitorização cardíaca não invasiva

Essa é a modalidade mais utilizada para os pacientes internados.

Sua principal vantagem é não exigir procedimentos invasivos, o que facilita o preparo e reduz o desconforto para o doente.

Para que seja bem-sucedida, a monitorização não invasiva depende dos cuidados que citei nos tópicos anteriores, além da calibração do equipamento.

É preciso determinar a velocidade e amplitude do traçado do eletrocardiograma, além de estabelecer os cenários em que o aparelho emitirá alarme.

Um dos principais corresponde à bradicardia ou taquicardia, que merecem avaliação imediata para evitar agravos à saúde.

Para tanto, é possível determinar os valores mínimos e máximos para a frequência cardíaca.

Por exemplo, acionando o alarme quando ela cair para menos de 60 batimentos por minuto (BPM) ou mais de 100 BPM, que são os valores padrão.

Monitorização cardíaca invasiva

Casos graves podem se beneficiar da monitorização por meio da Cateterização da Artéria Pulmonar (CAP), que é uma modalidade invasiva.

O procedimento permite medir pressões intracardíaca, intrapulmonar e intravascular de doentes em estado crítico.

Por exemplo, vítimas de choque séptico, hipovolêmico e complicações mecânicas do infarto agudo do miocárdio, como explica um estudo publicado na Revista da Escola de Enfermagem da USP:

“Somente por meio da avaliação clínica, sem parâmetros invasivos, a predição do estado hemodinâmico em pacientes críticos fica em torno de 50%, o que torna muito arriscado o tratamento de pacientes com instabilidade hemodinâmica grave, sem a utilização de um método complementar de monitorização”.

Monitorização cardíaca em UTI

Muitos pacientes em UTI são monitorizados de forma invasiva, devido à gravidade de seu quadro.

Entretanto, a monitorização cardíaca não invasiva pode ser indicada em alguns casos, quando o doente foi estabilizado.

De qualquer forma, todo indivíduo internado em UTI deve ser monitorizado continuamente, evitando que sua condição se agrave.

Os monitores empregados na unidade de terapia intensiva devem sempre possuir sistemas de alarmes visuais e sonoros, a fim de avisar aos profissionais de saúde sobre alterações importantes nos sinais vitais.

Monitorização cardíaca contínua

Esse é o formato comum para a monitorização feita por meio do ECG.

O que faz sentido, pois o procedimento serve para registrar a atividade elétrica de forma contínua, dando maior segurança ao paciente e à equipe responsável por seu monitoramento, que pode atender diversos doentes de maneira simultânea.

É importante tomar alguns cuidados para prevenir interrupções e outros problemas nos registros, evitando:

  • Interferências elétricas
  • Desconexão de cabos e eletrodos
  • Alertas de bradicardia falsos devido ao suor do paciente ou excesso de gel condutor
  • Alertas de taquicardia equivocados, resultantes de tremores musculares ou movimentos.

A importância da telemedicina cardiológica

Atividades de monitorização cardíaca e outras rotinas nos hospitais são otimizadas com o auxílio da telemedicina cardiológica.

Essa disciplina conecta profissionais de saúde em diferentes localidades, reforçando o time de cardiologistas com o serviço de laudos online.

Nessa dinâmica, a interpretação de exames é delegada aos especialistas de uma empresa de telemedicina, liberando os médicos da unidade de saúde para a assistência aos pacientes.

Contratando a Telemedicina Morsch, basta compartilhar os registros do ECG e outros testes dentro do sistema para que um de nossos cardiologistas de plantão inicie sua avaliação.

Os achados são analisados à luz da condição clínica do doente, histórico de saúde e hipótese diagnóstica, a fim de qualificar a interpretação.

Em seguida, o profissional elabora e assina digitalmente o laudo médico, que é liberado na mesma plataforma.

Se houver dúvidas quanto ao diagnóstico ou necessidade de discutir casos críticos, sua equipe também pode contar com a segunda opinião médica.

Basta acionar essa opção dentro do software Morsch para iniciar conferências ao vivo, permitindo um debate qualificado para a tomada de decisões assertivas.

Unidades que precisam ampliar a quantidade ou opções de aparelhos de ECG ainda podem acionar o comodato de equipamentos médicos.

Funciona assim: ao contratar um pacote mensal de laudos, o cliente ganha o direito de utilizar dispositivos modernos sem custo, enquanto durar a parceria.

Os serviços de telemedicina cardiológica estão disponíveis para os seguintes testes:

Acesse esta página e conheça as oportunidades para otimizar seus serviços.

Conclusão

Monitorização cardíaca é um tema complexo, mas que deve ser dominado por médicos e profissionais de saúde de diversos setores.

Principalmente aqueles alocados em UTIs, enfermarias ou que atendam doentes acamados em home care.

Com este artigo, espero ter contribuído para tirar dúvidas e disseminar boas práticas que qualificam a assistência nesses casos.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin