Ondas do eletrocardiograma: o que são, qual o significado e como interpretar?

Conhecer as ondas do eletrocardiograma é um requisito básico para interpretar esse importante exame com qualidade e agilidade.
As ondas, intervalos e variações que compõem o ritmo cardíaco podem indicar uma série de doenças e eventos cardíacos, como o infarto.
Neste artigo, vou falar sobre as características das ondas que aparecem no ECG e o que elas podem representar.
Você vai descobrir o que mostra um resultado de eletrocardiograma normal e também com alterações, as indicações do exame e quais as derivações do ECG.
Ao final, saiba de que forma a telemedicina contribui para qualificar os laudos médicos.

O que são ondas do eletrocardiograma?
Ondas do eletrocardiograma são as variações no traçado do ECG.
Existem seis ondas registradas no resultado do exame. São elas: P, Q, R, S, T e U.
Cada onda, intervalo ou complexo representa uma fase da passagem dos impulsos elétricos responsáveis pela atividade elétrica cardíaca.
Mais especificamente, um batimento cardíaco possui uma onda P, um complexo QRS e uma onda T – cada qual se referindo a uma etapa dos movimentos executados pelo coração.
Falarei mais do significado das ondas nos próximos tópicos.

Para que servem as ondas do eletrocardiograma?
As ondas do eletrocardiograma formam a representação gráfica da atividade cardíaca a partir de diferentes ângulos.
Como mencionei acima, elas correspondem a variações no traçado do exame, permitindo o registro e avaliação das batidas do miocárdio (músculo cardíaco).
Através dele, é possível identificar padrões e anomalias no funcionamento do coração.
Muitos distúrbios e doenças cardíacas alteram o padrão e frequência cardíaca.
Por isso, observar essas variações é importante para o diagnóstico de doenças cardiovasculares e quaisquer outras condições que afetam o ritmo cardíaco.
Ao observar anormalidades nas ondas do ECG, é possível, por exemplo, identificar um infarto, que geralmente apresenta os seguintes achados eletrocardiográficos em pelo menos duas derivações:
- Onda T hiperaguda e simétrica, que corresponde ao início do IAM (infarto agudo do miocárdio). Costuma ser positiva, apiculada e de base larga
- Desnivelamento do segmento ST, que costuma deslocar o traçado para cima (supradesnivelamento). Mas também pode deslocar o traçado para baixo, resultando em infradesnivelamento do segmento ST.
Na sequência, esclareço sobre o significado de cada uma das ondas no ECG.
Qual o significado das ondas no ECG?
Antes de especificar o que as ondas indicam, é importante entender o funcionamento do coração.
O músculo cardíaco é responsável pelo bombeamento do sangue por todo o organismo, realizado através de batimentos.
Cada batida só acontece porque impulsos elétricos passam pelos nervos dentro do músculo que forma as câmaras cardíacas – os átrios e ventrículos.

Os impulsos nascem no nó sinusal, que fica no ponto mais alto do átrio direito.
Em seguida, provocam a despolarização elétrica, ou seja, fazem com que entrem íons de cálcio nas células cardíacas e saia potássio.
Como resposta, as câmaras cardíacas superiores, ou seja, os átrios, se contraem.
Já na repolarização, que ocorre depois da contração, as células recebem para o seu interior os íons potássio e se preparam para uma nova despolarização – lembrando que o coração não para.
Esse processo ocorre primeiro no átrio direito e, depois, vai para o átrio esquerdo.
Na sequência, o impulso elétrico chega ao nó atrioventricular (localizado entre os átrios e os ventrículos) e segue para as câmaras inferiores, causando sua despolarização.
Assim, os ventrículos se contraem, bombeando o sangue pelo corpo.
Parece complicado? Pois saiba que todo o processo demora aproximadamente 0,19 segundo para se completar.
Veja, agora, a correspondência entre essas etapas e as ondas de um ECG normal:
Ondas P no eletrocardiograma
Marcando o início do batimento cardíaco, a onda P costuma nascer no nó sinusal, e representa a contração dos átrios.
Ou seja, ela evidencia a passagem do impulso elétrico pelas câmaras superiores do coração.

As ondas do eletrocardiograma formam a representação gráfica da atividade cardíaca a partir de diferentes ângulos
Complexo QRS no eletrocardiograma
Por sua vez, o complexo QRS mostra a despolarização ventricular ou contração dos ventrículos, causada pela entrada de íons de cálcio nas células cardíacas.
Ele é formado por 3 ondas diferentes, sendo que duas correspondem a deflexões negativas (Q e R) e a onda R, à deflexão positiva.
Ondas T no eletrocardiograma
Finalizando a batida do miocárdio, a onda T aparece após o complexo QRS.
Ela indica a repolarização ventricular, que corresponde ao relaxamento das câmaras cardíacas inferiores após sua contração.
Ondas U no eletrocardiograma
Em alguns casos, a onda U pode aparecer depois da onda T, e não há consenso sobre o que ela representa.
Essa onda nem sempre aparece no traçado do ECG, mas pode estar relacionada à repolarização dos músculos papilares, presentes na parte inferior do miocárdio.
Como interpretar as ondas do eletrocardiograma?
Embora possam existir pequenas diferenças, as ondas do eletrocardiograma seguem padrões na duração, amplitude e ordem em que aparecem.
A amplitude é medida em voltagem, a partir do eixo vertical do gráfico de eletrocardiograma.
A duração da onda é medida em segundos, observando o eixo horizontal.

Já os padrões das ondas dependem da derivação, ou seja, de que ângulo são observadas.
Uma mesma onda pode ser positiva (aparecer acima da linha média do traçado) em uma derivação e negativa na outra.
Ondas do eletrocardiograma normais
Expliquei, anteriormente, que o traçado do eletrocardiograma expressa os movimentos provocados pelo estímulo elétrico.
Nele, cada batimento possui uma onda P, um complexo QRS e, ainda, uma onda T.
Quando há ondas e intervalos normais, onde as ondas ocorrem em sequência, sem interrupção, podemos dizer que o coração bate em ritmo padrão, ou ritmo sinusal.
O ritmo do coração é definido pela frequência cardíaca, medida em batimentos por minuto (bpm). Um adulto jovem e saudável tem uma frequência entre 50 e 100 bpm.
Uma onda P normal é arredondada e suave, durando menos de 0,10 segundo (2,5 mm) e tem voltagem máxima de 0,25 mV.
No ritmo sinusal, o intervalo PR dura entre 0,12 e 0,20 segundo, evidenciando que o impulso elétrico está seguindo a trajetória normal.
Composto por três ondas, uma positiva (R) e duas negativas (Q e S), o complexo QRS dura de 0,06 a 0,10 segundo.
A onda Q costuma ter menos de 0,04 segundo de duração e 2 mm de profundidade, já que é sempre negativa.
Assimétrica, a onda T normal tem amplitude máxima inferior a 15 mm nas derivações precordiais, e menor que 5 mm nas derivações periféricas.
Ondas do eletrocardiograma com alterações
Anormalidades nas ondas do eletrocardiograma e seus intervalos nem sempre significam patologias, pois o ritmo sinusal pode ser constatado mesmo na presença de modificações.
Pode ocorrer, por exemplo, arritmia sinusal, que apresenta intervalos entre ondas P (P-P) ou entre ondas R (R-R) com variações maiores que 0,16 segundo entre o intervalo mais longo e o mais curto.
A arritmia sinusal costuma estar presente nos jovens e se intensifica com a respiração, desaparecendo ao longo do tempo.
No entanto, existem várias anomalias nas ondas relacionadas a doenças na região cardíaca.
Um exemplo é o bloqueio atrioventricular, no qual o intervalo entre a onda P e o complexo QRS é aumentado, durando mais de 0,21 segundo.
O bloqueio atrioventricular pode ser decorrente de infarto, miocardiopatia chagásica (uma forma da doença de chagas), tumores, doenças infecciosas, da aorta, dentre outras.
Já as alterações na onda T podem indicar isquemia.
Lesões no músculo cardíaco costumam causar modificações no intervalo entre a onda S e a onda T.
Mencionei, mais acima, que o desnível no intervalo ST pode significar isquemia ou um infarto em evolução.

A morte das células cardíacas ou necrose provoca mudanças no perfil da onda Q.
A identificação de um quadro de taquicardia ventricular, um tipo de arritmia cardíaca que pode levar à morte, também é feita com a verificação das ondas.
Nela, a onda P quase não aparece, é difícil identificar a onda T, e o intervalo QRS se torna largo, com mais de 0,14s de duração.
Isquemia, infarto, insuficiência cardíaca, doenças nas válvulas do coração, intoxicação química e hipocalemia (potássio insuficiente no sangue) são algumas causas da taquicardia ventricular.
Um ritmo cardíaco caótico, ondas P, T e complexo QRS não discerníveis no traçado do ECG expressam a fibrilação ventricular (FV).
Nessa condição, os ventrículos tremem em vez de se contrair, levando muitos pacientes a óbito.
Isquemia, infarto, taquicardia ventricular não tratada, choque elétrico e hipotermia intensa são algumas causas da FV.
Ondas do eletrocardiograma na angina
Classicamente a onda T fica invertida e simétrica nas derivações correspondentes ao local da isquemia que provoca a angina.
Exemplo disso é encontrar inversão da onda T nas derivações D1 e AVL, que correspondem à parede lateral do ventrículo esquerdo.
A angina, ou dor no peito, pode ou não ter origem cardíaca.
O paciente pode, por exemplo, sentir dor na musculatura do peito que fica na frente do coração, e atribuir o sintoma a algum problema cardíaco.
Contudo, se for uma dor precordial, pode resultar da aterosclerose coronária, que decorre do depósito de placas de ateroma nas paredes das principais artérias do coração, obstruindo o fluxo sanguíneo.
Quando há o estreitamento ou estenose das artérias coronárias, a condição leva à doença arterial coronariana (DAC), que pode culminar em angina e até infarto.
Anomalias congênitas, embolia coronária, pericardite, cardiopatia hipertrófica e outras patologias também podem provocar angina.
Ondas do eletrocardiograma no ataque cardíaco grave
Um infarto recente pode ser rapidamente reconhecido a partir da presença de elevação no intervalo ST.
Já em um infarto grave, podem ser vistas alterações da onda T, modificações no intervalo ST (revelando lesões) e mudança no perfil da onda Q (indicando necrose).
Ondas do eletrocardiograma na fibrilação atrial
A fibrilação atrial (FA) é uma arritmia de padrão irregular e rápido.
Ela é a mais frequente na prática clínica e apresenta estímulos desorganizados, com frequências entre 350 e 600 bpm.
Portanto, os intervalos entre ondas R (R-R) no ECG são totalmente irregulares, e as ondas P estão ausentes.
O complexo QRS costuma ser semelhante ao normal, observado no ritmo sinusal.

Quais as derivações do ECG?
O ECG de 12 derivações conta com derivações periféricas e precordiais.
As derivações periféricas registram informações do plano frontal do coração e são coletadas por 4 eletrodos colocados nas extremidades dos braços e pernas do paciente.
Existem três derivações periféricas bipolares (D1, D2 e D3) e três derivações periféricas unipolares (aVR, aVL e aVF).
Dados sobre o plano horizontal do coração são avaliados a partir das seis derivações precordiais: V1, V2, V3, V4, V5 e V6.

Correspondem a variações no traçado do exame, permitindo o registro e avaliação das batidas do miocárdio
Como calcular o eixo elétrico do coração?
Para calcular o eixo cardíaco elétrico do complexo QRS, são usadas as derivações periféricas do ECG.
É necessário lembrar que as seis derivações representam um mesmo estímulo elétrico, visto de pontos de vista diferentes – da esquerda, direita, de cima e de baixo.
A situação mais corriqueira é que o complexo QRS seja positivo nas derivações D1 e aVF. Nesse caso, o eixo estará entre 0º e 90º.
Assim, é preciso avaliar o traçado nas derivações D3 e aVL, que atravessam as duas primeiras.
Caso o QRS seja negativo em D3, o eixo estará posicionado entre 0º e 30º.
Já se o QRS foi isoelétrico em D3, o eixo estará exatamente na linha de aVR, a 30º.
Por fim, se o complexo estiver positivo em D3, estará abaixo da linha de aVR, entre 30º e 90º.
Presença de artefato no ECG
Artefatos são condições externas que podem influenciar no traçado, gerando um resultado de eletrocardiograma alterado.
Eles têm origens diversas, como alterações biológicas, interferências ambientais e técnicas.
Erros no posicionamento dos eletrodos, não preparar a pele adequadamente ou a não utilização do gel condutor de eletricidade são condições que podem resultar em artefatos.
Nesses casos, surge um ou mais quadros do ECG com uma linha reta ou serrilhada, escondendo a verdadeira atividade elétrica cardíaca.
Conhecer os fundamentos do exame é essencial para evitar artefatos e outros fatores que interferem na qualidade do eletrocardiograma.
Como é o laudo do eletrocardiograma?
Elaborado por um cardiologista, o laudo de eletrocardiograma descreve detalhes sobre a frequência, ritmo cardíaco, características da onda P, complexo QRS, intervalo PR, intervalo QT, segmento ST e onda T, além da presença, ou não, de onda Q patológica.
Essas informações constam na descrição dos achados a partir do traçado do ECG.
Porém, o laudo contém outros dados referentes à estrutura básica de documentos médicos, ou seja:

- Nome completo do paciente
- Nome e endereço do local onde o exame foi feito
- Nome do médico solicitante
- Data de realização do exame
- Justificativa para a solicitação do procedimento
- Conduta e descrição detalhada do exame
- Hipótese diagnóstica
- Informações adicionais sobre o paciente, como idade, peso, altura, etc.
- Assinatura do médico responsável pelo laudo.
Além, é claro, da conclusão, apontando resultado normal ou alterado para o eletrocardiograma.

O músculo cardíaco é responsável pelo bombeamento do sangue por todo o organismo
Telemedicina e laudo a distância na interpretação do ECG
Artefatos e outros problemas podem ser prevenidos com capacitação e laudos médicos de qualidade.
Pensando nisso, muitas clínicas e hospitais têm contratado serviços de telemedicina cardiológica.
Através de uma plataforma de telemedicina, técnicos de enfermagem recebem treinamento para empregar as melhores práticas na condução do eletrocardiograma.
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Eles registram sua avaliação e conclusão no laudo, finalizado através de sua assinatura digital.
Tudo isso empresta qualidade e agilidade ao processo, possibilitando a entrega de laudos em minutos!
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Conclusão
Neste artigo, você conheceu os tipos de ondas do eletrocardiograma e seu papel no diagnóstico de doenças cardíacas.
Fica claro que o ECG deve ser laudado por especialistas, a fim de evitar falhas que prejudiquem os resultados.
Deixe que a Telemedicina Morsch dê suporte à sua clínica ou hospital, disponibilizando laudos à distância com segurança e agilidade.
Fale conosco para conhecer as principais vantagens para o seu serviço de saúde.
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