O que são as ondas do eletrocardiograma e como interpretar?

Por Dr. José Aldair Morsch, 17 de dezembro de 2018
Ondas do eletrocardiograma: como funciona o ECG e como interpretar

Conhecer as ondas do eletrocardiograma é um requisito básico para interpretar esse importante exame com qualidade e agilidade.

As ondas, intervalos e variações que aparecem nos seus resultados podem indicar uma série de doenças e eventos cardíacos, como o infarto.

Neste artigo, vou falar sobre características das ondas que aparecem no ECG e o que elas podem representar.

Você vai descobrir o que mostra um resultado de eletrocardiograma normal e também com alterações, as indicações do exame, quais as derivações do ECG e de que forma a tecnologia tem contribuído para qualificar os laudos médicos.

Este é um guia com tudo sobre eletrocardiograma.

O que são ondas do eletrocardiograma?

ondas do eletrocardiograma

O traçado de ecg tem várias espiculas

Ondas do eletrocardiograma são as variações no traçado gerado pelo exame.

Existem seis ondas registradas no resultado do ECG. São elas: P, Q, R, S, T e U.

Cada onda, intervalo ou complexo representa uma fase da passagem dos impulsos elétricos responsáveis pela atividade elétrica cardíaca.

Antes de especificar o que as ondas indicam, é importante entender o funcionamento do coração.

O músculo cardíaco é responsável pelo bombeamento do sangue por todo o organismo, realizado através de batimentos.

Cada batida só acontece porque impulsos elétricos passam pelos nervos dentro do músculo que forma as câmaras cardíacas – os átrios e ventrículos.

Os impulsos nascem no chamado nodo ou nó sinusal, que fica no ponto mais alto do átrio direito.

Em seguida, provocam a despolarização elétrica, ou seja, fazem com que entrem íons de cálcio nas células cardíacas e saia potássio. Como resposta, o coração se contrai.

Já na repolarização, que ocorre depois da contração, as células recebem para o seu interior os íons potássio e se preparam para uma nova despolarização – lembrando que o coração não para.

Esse processo ocorre primeiro no átrio direito e, depois, vai para o átrio esquerdo.

Na sequência, o impulso elétrico chega ao nó atrioventricular (localizado entre os átrios e os ventrículos) e segue para os dois ventrículos, causando sua despolarização.

Assim, as câmaras se contraem, bombeando o sangue pelo corpo.

Parece complicado? Pois saiba que todo o processo  demora aproximadamente 0,19 segundo para se completar.

Objetivos e indicações do exame de eletrocardiograma

Exame de ECG

Quando indicamos um ECG?

Um eletrocardiograma serve para registrar a atividade elétrica do coração, que é expressa pelo traçado e suas variações – as ondas do eletrocardiograma.

É o exame mais utilizado para auxiliar o diagnóstico de doenças cardíacas – e não é à toa.

Trata-se de um procedimento bastante simples, indolor e seguro, capaz de evidenciar alterações nas atividades do músculo cardíaco.

Por isso, o ECG é considerado padrão ouro para o diagnóstico não invasivo das arritmias (alterações na frequência cardíaca) e distúrbios de condução (anormalidades no trajeto dos impulsos elétricos), além de ser muito importante nos quadros de isquemia (redução do fluxo sanguíneo que irriga o miocárdio, prejudicando a nutrição e oxigenação das células).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, o exame pode ser solicitado nos seguintes casos:

  • Dores no peito
  • Coronariopatia – doença nas artérias coronárias, que irrigam o coração
  • Avaliação pós infarto do miocárdio – evento agudo que causa danos ou a morte de parte do músculo cardíaco
  • Suspeita ou avaliação de arritmias
  • Cardiopatias congênitas – patologias presentes no músculo cardíaco desde o nascimento
  • Insuficiência cardíaca, enfraquecimento do coração
  • Miocardiopatia – doença que pode fazer com que o coração fique inflado
  • Síncope – perda abrupta dos sentidos.

Como funciona o aparelho de eletrocardiograma

Também chamado de eletrocardiógrafo, o equipamento usado no exame é formado por um monitor, fios e eletrodos.

Ele possui um sistema eletrônico que capta os estímulos elétricos emitidos pelo músculo cardíaco, através da pele.

Para isso, os eletrodos são fixados no paciente, em posições específicas da pele, como nos membros e pontos do tórax.

Na sequência, o aparelho de ECG é ligado e colhe dados sobre a atividade elétrica do coração.

Cada espaço entre dois eletrodos permite a análise do coração a partir de um ângulo diferente.

Essa informação, chamada derivação, é registrada por software específico, que a transforma em um traçado.

Como funcionam os eletrodos do ECG

Eletrodos são pequenos dispositivos em formato de ventosa, clip ou pinça, que captam e transmitem os estímulos elétricos cardíacos durante a eletrocardiografia.

Para que o exame seja eficiente, eles precisam ser posicionados conforme a recomendação clínica.

No tipo de ECG mais comum, é necessário utilizar 10 eletrodos.

Quatro eletrodos periféricos são fixados nos braços e tornozelos do paciente, enquanto outros seis (precordiais) são posicionados no tórax.

Juntos, eles registram um total de 12 ângulos diferentes, ou 12 derivações.

É importante, ainda, verificar se a pele está limpa e depilada antes de fixar os eletrodos.

Normalmente, eles são postos após a aplicação de um gel condutor de eletricidade, que também ajuda na fixação.

info ondas do eletrocardiograma

Traçado do eletrocardiograma: para que serve?

O traçado é a representação gráfica da atividade cardíaca a partir de diferentes ângulos.

Através dele, é possível identificar padrões e anomalias no funcionamento do coração.

Como já destacado, o traçado do ECG de um paciente saudável mostra uma série de variações, conhecidas como ondas do eletrocardiograma.

Muitos distúrbios e doenças cardíacas alteram o padrão e frequência. Por isso, identificar essas variações é importante para o diagnóstico de qualquer condição de saúde cardíaca.

Interpretação das ondas do eletrocardiograma

Embora possam existir pequenas diferenças, as ondas do eletrocardiograma seguem padrões na duração, na amplitude e na ordem em que aparecem.

A amplitude é medida em voltagem, a partir do eixo vertical do gráfico de eletrocardiograma.

A duração da onda é medida em segundos, observando o eixo horizontal.

Já os padrões das ondas  dependem da derivação, ou seja, de que ângulo são observadas.

Uma mesma onda pode ser positiva (aparecer acima da linha média do traçado) em uma derivação e negativa na outra.

Ondas do eletrocardiograma normais

O traçado que resulta de um eletrocardiograma expressa os movimentos provocados pelo estímulo elétrico.

Nele, cada batimento possui uma onda P, um complexo QRS e, ainda, uma onda T.

Quando há ondas e intervalos normais, onde as ondas ocorrem em sequência, sem interrupção, podemos dizer que o coração bate em ritmo padrão, ou ritmo sinusal.

A ausência de onda P no traçado de ECG indica, por exemplo uma arritmia chamada de fibrilação atrial.

O ritmo do coração é definido pela frequência cardíaca, medida em batimentos por minuto (bpm). Um adulto jovem e saudável tem uma frequência entre 50 e 100 bpm.

A onda P mostra a contração dos átrios, enquanto o complexo QRS registra a contração dos ventrículos.

Uma onda P normal é arredondada e suave, durando menos de 0,10 segundo (2,5 mm) e tem voltagem máxima de 0,25 mV.

No ritmo sinusal, o intervalo entre a onda P e a onda R dura entre 0,12 e 0,20 segundo, evidenciando que o impulso elétrico está seguindo a trajetória normal.

Composto por três ondas, uma positiva (R) e duas negativas (Q e S), o complexo QRS dura de 0,06 a 0,10 segundo.

A onda Q costuma ter menos de 0,04 segundo de duração e 2 mm de profundidade, já que é sempre negativa.

A onda T aparece após o complexo QRS, indicando a repolarização dos ventrículos.

Assimétrica, a onda T normal tem amplitude máxima inferior a 15 mm nas derivações precordiais, é menor que 5 mm nas derivações periféricas.

Já a onda U pode aparecer depois da onda T, e não há consenso sobre o que ela representa.

Essa onda nem sempre aparece no traçado do ECG, mas pode estar relacionada à repolarização dos músculos papilares, presentes na parte inferior do miocárdio.

Ondas do eletrocardiograma com alterações

Anormalidades nas ondas do eletrocardiograma e seus intervalos nem sempre significam patologias, pois o ritmo sinusal pode ser constatado mesmo na presença de modificações.

Podem ocorrer, por exemplo, arritmias sinusais, que apresentam intervalos entre ondas P (P-P) ou entre ondas R (R-R) com variações maiores que 0,16 segundo entre o intervalo mais longo e o mais curto.

Neste caso estou descrevendo a arritmia sinusal, presente nos jovens e que se intensifica com a respiração.

Esse fenômeno desaparece com o crescimento.

No entanto, existem várias anomalias nas ondas relacionadas a doenças na região cardíaca.

Um exemplo são os bloqueios átrio ventriculares, nos quais o intervalo entre a onda P e o complexo QRS é aumentado, durando mais de 0,21 segundo.

O bloqueio átrio ventricular pode ser decorrente de infarto, miocardiopatia chagásica (uma forma da doença de chagas), tumores, doenças infecciosas, da aorta, dentre outras.

Já as alterações na onda T podem indicar isquemia.

Lesões no músculo cardíaco costumam causar modificações no intervalo entre a onda S e a onda T.

Se houver desnível no intervalo ST, pode significar isquemia ou um infarto em evolução.

A necrose, ou morte das células em partes do coração, provoca mudanças no perfil da onda Q.

A identificação de um quadro de taquicardia ventricular, uma elevação nos batimentos do coração que pode levar à morte, também é feita com a verificação das ondas.

Nela, a onda P quase não aparece, é difícil identificar a onda T, e o intervalo QRS se torna largo, com mais de 0,14s de duração.

Isquemia, infarto, insuficiência cardíaca, doenças nas válvulas do coração, intoxicação química e hipocalemia (potássio insuficiente no sangue) são algumas causas da taquicardia ventricular.

Um ritmo cardíaco caótico, ondas P, T e complexo QRS não discerníveis no traçado do ECG expressam a fibrilação ventricular.

Nessa condição, os ventrículos tremem em vez de se contrair, levando muitos pacientes a óbito.

Isquemia, infarto, taquicardia ventricular não tratada, choque elétrico e hipotermia intensa são alguns males que levam à fibrilação ventricular.

Ondas do eletrocardiograma na angina

Classicamente a onda T fica invertida e simétrica nas derivações correspondentes ao local da isquemia que provoca a angina.

Exemplo disso é encontrar inversão da onda T nas derivações D1 e AVL que correspondem a parede lateral do ventrículo esquerdo.

A angina, ou dor no peito, pode ou não ter origem cardíaca.

O paciente pode ter dor na musculatura do peito que fica na frente do coração e atribuir isso a algum problema cardíaco.

Quando tem, sua causa mais comum é a aterosclerose coronária, detectada em 90% dos casos.

A aterosclerose coronária decorre do depósito de placas de gordura nas paredes das principais artérias do coração, obstruindo o fluxo sanguíneo.

Quando há o estreitamento das artérias coronárias, a condição leva à doença arterial coronária, que pode culminar em angina e até infarto.

Anomalias congênitas, embolia coronária, pericardite, cardiopatia hipertrófica e outras patologias também podem provocar angina.

Ondas do eletrocardiograma no ataque cardíaco grave

Um infarto recente pode ser rapidamente reconhecido a partir da presença de elevação no intervalo ST.

Já em um infarto grave, podem ser vistas alterações da onda T, modificações no intervalo ST (revelando lesões) e mudança no perfil da onda Q (indicando necrose).

Ondas do eletrocardiograma no fibrilação atrial

A fibrilação atrial é uma arritmia que faz o ritmo cardíaco se tornar irregular e rápido.

Ela é a mais frequente na prática clínica e apresenta estímulos desorganizados, com frequências entre 350 e 600 bpm.

Portanto, os intervalos entre ondas R (R-R) no ECG são totalmente irregulares, e as ondas P estão ausentes.

O complexo QRS costuma ser semelhante ao normal, observado no ritmo sinusal.

Quais as derivações do ECG?

Ergometria

Principais derivações do ECG

O exame de eletrocardiograma conta com derivações periféricas e precordiais.

As derivações periféricas registram informações do plano frontal do coração e são coletadas por quatro eletrodos colocados nas extremidades dos braços e pernas do paciente.

Existem três derivações periféricas bipolares (D1, D2 e D3) e três derivações periféricas unipolares (aVR, aVL e aVF).

Dados sobre o plano horizontal do coração são avaliados a partir das seis derivações precordiais: V1, V2, V3, V4, V5 e V6.

Como calcular o eixo elétrico do coração?

Para calcular o eixo elétrico do complexo QRS, são usadas as derivações periféricas do ECG.

É necessário lembrar que as seis derivações representam um mesmo estímulo elétrico, visto de pontos de vista diferentes – da esquerda, direita, de cima e de baixo.

A situação mais corriqueira é que o complexo QRS seja positivo nas derivações D1 e aVF. Nesse caso, o eixo estará entre 0º e 90º.

Assim, é preciso avaliar o traçado nas derivações D3 e aVL, que atravessam as duas primeiras.

Caso o QRS seja negativo em D3, o eixo estará posicionado entre 0º e 30º.

Já se o QRS foi isoelétrico em D3, o eixo estará exatamente na linha de aVR, a 30º.

Por fim, se o complexo estiver positivo em D3, estará abaixo da linha de aVR, entre 30º e 90º.

Presença de artefato no ECG

Presença de artefato no eletrocardiograma

Os artefatos dificultam a interpretação do ECG

Artefatos são condições externas que podem influenciar o resultado do ECG, prejudicando os registros do exame.

Eles têm origens diversas, como alterações biológicas, interferências ambientais e técnicas.

Erros no posicionamento dos eletrodos, não preparar a pele adequadamente ou a não utilização do gel condutor de eletricidade são condições que podem resultar em artefatos, como a presença de um ou mais quadros do ECG com uma linha reta pu serrilhada, escondendo a verdadeira atividade elétrica cardíaca.

Conhecer os fundamentos do exame é essencial para evitar artefatos na eletrocardiografia.

Telemedicina e laudo a distância na interpretação do ECG

 

Artefatos e outros problemas podem ser prevenidos com capacitação e laudos médicos de qualidade.

Pensando nisso, muitas clínicas e hospitais têm contratado serviços de telemedicina.

Através da plataforma de telemedicina, técnicos em enfermagem recebem treinamento para empregar as melhores práticas na condução do eletrocardiograma.

A mesma plataforma é usada para enviar os dados para especialistas da empresa de telemedicina, no caso os Cardiologistas que analisam e interpretam os testes rapidamente.

Eles registram sua avaliação e conclusão no laudo médico, que é assinado digitalmente.

Tudo isso empresta qualidade e agilidade ao processo.

Conclusão

Neste artigo, você conheceu os tipos de ondas do eletrocardiograma e seu papel no diagnóstico de doenças cardíacas.

 

Fica claro que o ECG deve ser laudado por especialistas, a fim de evitar falhas que prejudiquem os resultados.

Deixe que a Telemedicina Morsch dê suporte à sua clínica ou hospital, disponibilizando laudos à distância com segurança e agilidade.

Fale conosco para conhecer as principais vantagens para a sua unidade de saúde.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin