Como funciona a avaliação de Risco Cirúrgico Cardiológico

Por Dr. José Aldair Morsch, 12 de junho de 2019
Risco cirúrgico cardiológico: como funciona, exames e telemedicina

Definir o risco cirúrgico cardiológico é um critério essencial antes de submeter o paciente a qualquer operação.

A partir desse conhecimento, o cardiologista tem condições de recomendar ou contraindicar uma cirurgia, a fim de prevenir agravos à saúde.

Nem todos os candidatos a operações precisam de uma avaliação detalhada, entretanto, há casos que pedem a realização de exames que vão além da abordagem básica, formada por anamnese e teste físico.

Tratarei desses procedimentos ao longo deste artigo, mostrando a importância e o funcionamento de uma avaliação pré-operatória detalhada.

Ao final, trago também soluções para auxiliar clínicas e hospitais na interpretação dos exames complementares.

O que é risco cirúrgico cardiológico?

Risco cirúrgico cardiológico pode ser definido como uma avaliação da saúde do músculo cardíaco antes de uma cirurgia, realizada conforme protocolos criados por sociedades médicas do Brasil e do mundo.

Responsável por bombear o sangue que leva oxigênio e nutre todas as células do corpo, o coração precisa estar forte durante uma operação, a fim de que o organismo não entre em colapso.

No caso de cirurgias de emergência, não há tempo para examinar o paciente.

Entretanto, quando o procedimento é eletivo, é possível avaliar as condições do sistema cardiovascular, que ficará sobrecarregado durante a operação.

Essa avaliação é feita segundo diretrizes de entidades médicas, que coletam dados sobre o histórico do paciente, antecedentes familiares e capacidade funcional para calcular as probabilidades de complicações cirúrgicas.

De modo geral, são empregados algoritmos que atribuem escores de acordo com a presença – ou não – de fatores de risco cirúrgico cardíaco.

Para tanto, seguem um protocolo que engloba:

A forma de avaliação depende da escolha do cardiologista, presença de doenças crônicas e tipo de operação realizada.

O risco durante intervenções cardíacas pode ser avaliado através do Sistema Europeu para Avaliação de Risco em Cirurgia Cardíaca (EuroSCORE).

Procedimentos em outras áreas se valem da classificação ASA (American Society of Anesthesiologists), índice de Risco Cardíaco Revisado de Lee, entre outros.

A importância do risco cirúrgico cardiológico para o sucesso da cirurgia

Uma avaliação pré-cirúrgica correta é indispensável para o sucesso de qualquer operação, uma vez que permite o controle de fatores de risco, estabilização do paciente e gera impactos na recuperação.

Segundo este estudo, publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences, quanto mais elevado o risco cardíaco, maior a perda de funcionalidade em pacientes que passaram por operações cardíacas como intervenções nos vasos ou troca de válvulas do coração.

A conclusão é importante para uma tomada de decisão mais assertiva sobre em que momento o paciente deve ser operado, a fim de comprometer menos sua qualidade de vida.

Publicado no Brazilian Journal of Health and Biomedical Sciences, outro artigo mostra como uma das classificações de risco cirúrgico auxilia na recomendação ou adiamento de uma operação não cardíaca.

Após cálculo seguindo o índice de Risco Cardíaco Revisado de Lee, é possível indicar a estabilização de pacientes com males cardíacos ativos (como arritmia severa), ou a avaliação da capacidade funcional por meio de exames complementares, a exemplo do teste ergométrico.

Ou seja, a determinação do risco cirúrgico cardiológico possibilita a realização de operações no momento mais adequado, prevenindo complicações graves que poderiam causar sequelas ou levar o paciente à morte.

Objetivos do risco cirúrgico cardiológico

Uma avaliação completa e eficaz é aquela que reúne dados suficientes para diminuir complicações e aumentar a segurança do paciente durante a cirurgia.

Considerando essa premissa, destaco como objetivos principais do cálculo do risco cirúrgico cardiológico:

  • Identificar e estabilizar condições cardíacas ativas
  • Coletar informações suficientes para a tomada de decisões assertivas
  • Calcular a probabilidade da ocorrência de complicações na cirurgia, recomendando medidas para prevenir esses eventos
  • Constatar a necessidade de interrupção ou modificação dos medicamentos em uso, como aqueles que interferem na coagulação sanguínea
  • Recomendar que seja feita monitorização intra e pós-operatória
  • Solicitar dispositivos de suporte durante a operação, como aparelhos de ventilação mecânica durante cirurgias cardíacas, que sobrecarregam os pulmões.

Quais são os exames de risco cirúrgico cardiológico?

Quais são os exames de risco cirúrgico cardiológico
Quais são os exames de risco cirúrgico cardiológico?

Como expliquei há alguns tópicos, o cálculo é feito com base em entrevista com o paciente (história clínica), exame físico e testes subsidiários, que nem sempre são solicitados.

Pacientes com menos de 40 anos, sem doenças crônicas ou sintomas e que serão submetidos a procedimentos simples como uma endoscopia não devem passar por testes complementares.

Isso porque a avaliação antes de operações não serve para diagnosticar possíveis patologias, e sim para apontar a probabilidade de complicações.

Exames laboratoriais, por exemplo, podem causar pânico desnecessário caso apresentem resultados alterados.

Logo, cabe ao médico responsável pelo cálculo do risco cirúrgico solicitar ou não os testes subsidiários.

Normalmente, esses procedimentos auxiliam na avaliação de pacientes que possuem fatores clínicos de risco cirúrgico, a exemplo de diabetes e insuficiência renal.

Nessas situações, uma abordagem detalhada torna a operação mais segura, reduzindo impactos negativos, tempo de internação e recuperação.

A seguir, confira quais são e a finalidade dos exames mais comuns para a avaliação pré-cirúrgica.

Hemograma

Popularmente chamado de exame de sangue, o hemograma completo pode ser solicitado para confirmar a presença de infecções, inflamações e doenças como a anemia (deficiência de ferro).

Glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas são examinados, a fim de sinalizar qualquer anormalidade nas células sanguíneas.

Testes de coagulação

Provocadas ou não por medicamentos, as alterações na coagulação podem dificultar a cirurgia e a recuperação do paciente.

Imagine os impactos de uma grande operação para uma pessoa com distúrbio que dificulta a coagulação – ela tem chances maiores de sofrer uma hemorragia.

É o caso de diabéticos, que têm o fluxo sanguíneo diminuído e as células de defesa do corpo (glóbulos brancos) afetadas, o que dificulta o processo de cicatrização.

Dosagem de creatinina

Além de coração e pulmões, é fundamental que os rins estejam funcionando bem durante uma cirurgia, pois eles são os responsáveis por eliminar resíduos e substâncias tóxicas.

Como afirma este texto, assinado pelo nefrologista João Evangelista Teixeira Lima, a dosagem da creatinina é importante para detectar a insuficiência renal em fases precoces, uma vez que sintomas só costumam aparecer tardiamente, quando há sério comprometimento dos rins.

A creatinina sanguínea é um resíduo metabólico de uma substância vital para o funcionamento do sistema muscular: a creatina fosfato.

Depois de ser utilizada pelos músculos, ela forma creatinina, que é lançada na corrente sanguínea e deve ser excretada pelos rins.

Assim, níveis altos de creatinina indicam que os rins não estão conseguindo eliminar essa substância de forma adequada, provavelmente, devido à insuficiência.

Radiografia de tórax

O teste revela a anatomia interna torácica, auxiliando no diagnóstico e avaliação de males como desvios na traqueia, fraturas, cardiomegalias (coração aumentado) e pneumonias.

O exame de raio X deve ser recomendado com cautela, pois não há indícios de que ele beneficie pacientes assintomáticos com menos de 75 anos.

Em linhas gerais, a radiografia de tórax está indicada apenas para maiores de 75 anos, pacientes sintomáticos ou que apresentem fatores de risco para doenças pulmonares.

Eletrocardiograma

Ao contrário dos demais procedimentos da avaliação de risco cirúrgico, que são válidos por até um ano, o eletrocardiograma deve ser repetido após dois meses para garantir que não há alterações importantes.

O ECG serve para monitorar os impulsos elétricos que garantem o funcionamento do músculo cardíaco, mostrando anormalidades, como arritmias.

Esse procedimento é recomendado para candidatos a procedimentos de moderado ou alto risco, desde que tenham mais de 40 (homens) ou 50 anos (mulheres).

Transplante renal é um exemplo de procedimento moderadamente invasivo, que tem possibilidade de complicações de 1 a 5%.

Já as amputações são mais graves, com potencial de 5% para complicações.

Teste ergométrico

Também chamado eletrocardiograma de esforço, esse exame é útil para determinar a capacidade cardíaca mediante esforço físico do paciente.

Diretrizes atuais separam os pacientes em quatro grupos distintos, formados a partir de uma combinação entre capacidade funcional (capacidade de realizar esforços em atividades rotineiras) e fatores de risco cardíaco durante a operação.

Portadores de doenças nas válvulas cardíacas, por exemplo, devem fazer o teste ergométrico após serem estabilizados, pois estão enquadrados na Classe I.

Indivíduos com três ou mais fatores de risco, baixa capacidade funcional e que passarão por grandes cirurgias se encontram na Classe IIa, na qual o ECG de esforço é provavelmente útil.

No grupo possivelmente beneficiado pelo exame (IIb) estão os pacientes com um ou dois fatores de risco, que passarão por procedimentos de médio ou alto risco.

O teste ergométrico não é indicado para pacientes que passarão por operações de baixo risco, ou aqueles que não possuem fatores de risco e enfrentarão cirurgias moderadamente invasivas.

A telemedicina no auxílio dos exames pré-operatórios cardiológicos

A telemedicina no auxílio dos exames pré-operatórios cardiológicos
A telemedicina no auxílio dos exames pré-operatórios cardiológicos

Hospitais e clínicas que ofertam exames subsidiários para a determinação do risco cirúrgico cardiológico podem se beneficiar com a telemedicina.

Essa disciplina emprega tecnologias da informação e comunicação (TICs) para viabilizar a emissão de laudos médicos a distância para diversos exames em cardiologia, incluindo o ECG, teste ergométrico e raio X de tórax.

Veja, abaixo, detalhes sobre cada procedimento.

Laudo a distância do eletrocardiograma

Rápido, simples, indolor e não invasivo, o ECG de rotina gera resultados em poucos minutos.

Quando realizado com um eletrocardiógrafo digital, as informações coletadas chegam a um software instalado em computador, capaz de transformá-las em registros digitais.

Os dados são compartilhados via plataforma de telemedicina, laudados a distância e liberados na mesma área online.

Laudo a distância do raio x

Exames radiográficos ganham maior acurácia com o suporte de equipamentos digitais, que transformam os registros do teste em pixels (os menores pontos numa imagem digital).

Portanto, a radiografia do tórax forma imagens mais nítidas, que podem ser ampliadas pelos especialistas da empresa de telemedicina para melhor interpretação.

Os laudos são assinados digitalmente e liberados em minutos.

Laudo a distância para o teste ergométrico

Realizado sob estresse provocado por exercício físico em esteira ou bicicleta, ou, ainda, por medicamentos, esse exame também pode ser avaliado a distância.

Basta que seja utilizado um monitor digital e os dados colhidos sejam compartilhados através do portal de telemedicina.

Em seguida, cardiologistas experientes farão a análise dos gráficos e produzirão o laudo remotamente.

Sobre Telemedicina Morsch

Segundo exigências do Conselho Federal de Medicina, exames simples de diagnóstico podem ser conduzidos por médicos generalistas, técnicos em enfermagem ou radiologia.

Porém, apenas especialistas na área do teste são qualificados para compor o laudo médico.

Em um país com grandes desigualdades como o Brasil, esses profissionais se concentram em capitais e grandes centros urbanos, enquanto localidades afastadas dificilmente contam com seus serviços.

Mas a telemedicina está mudando esse quadro.

A Morsch tem parceria com negócios de todos os portes e regiões, colaborando para a democratização do acesso a especialistas e laudos confiáveis.

Qualquer consultório, clínica ou hospital pode contratar o serviço de laudos a distância, bastando que treine um profissional para fazer exames utilizando equipamento digital.

Como citei acima, um ECG pede um eletrocardiógrafo digital. Já uma mamografia precisa ser feita com um mamógrafo digital.

Ao final do exame, os registros serão captados por um software que os converte em arquivos digitais, que podem ser armazenados ou transmitidos facilmente.

Uma vez compartilhados na plataforma de telemedicina, eles ficam visíveis para uma equipe completa de especialistas, que vão interpretar os dados sob a luz do histórico do paciente e suspeita clínica.

Depois, emitirão o respectivo laudo médico, assinado digitalmente para garantir sua autenticidade.

O documento é, então, disponibilizado para o cliente no próprio portal de telemedicina.

Na Morsch, todo esse processo ocorre em minutos, enquanto pedidos urgentes são avaliados em tempo real.

Além de testes cardiológicos, procedimentos em neurologia, pneumologia e radiologia podem ser laudados a distância, com toda a comodidade e segurança.

Conclusão

Vimos, neste artigo, a finalidade, relevância e principais exames que compõem a avaliação de risco cirúrgico cardiológico.

Também ficou evidente o suporte que a telemedicina pode prestar às unidades de saúde que realizam testes complementares, por meio da emissão de laudos a distância.

Conte com a Morsch para conduzir sua equipe na renovação dos serviços, reduzindo a sobrecarga de trabalho e aumentando as receitas.

Entre em contato para saber mais sobre nossas soluções, e aproveite para testar a plataforma gratuitamente.

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Referências Bibliográficas

CORDEIRO, André Luiz Lisboa; BRITO, Alina Ávila Oliveira Ribeiro; et al. Risco Cirúrgico e Funcionalidade em Pacientes Submetidos à Cirurgia Cardíaca. International Journal of Cardiovascular Sciences. 2016;29(5):385-389

ROCHA, Letícia G.; BONFIM, Alfredo de S. Risco Cirúrgico para Cirurgias não Cardíacas: Aspectos Práticos. Vol. 12 (Supl. 1)  – A cardiologia no século 21: uma visão multidisciplinar. 2013.

Cicatrização no diabetes – Liga Interdisciplinar de Diabetes (UFRGS). 2017.

LIMA, João Evangelista Teixeira .O alarme renal da Creatinina. Sociedade Brasileira de Nefrologia. 2017.

SOUZA, Fernando Cesar de Castro. O Teste Ergométrico na avaliação do risco cirúrgico em cirurgias não cardíacas.

3ª Diretriz de Avaliação Cardiovascular Perioperatória – Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin