Radiologia intervencionista: o que é, vantagens e procedimentos

Por Dr. José Aldair Morsch, 7 de novembro de 2022
Radiologia intervencionista

Subespecialidade da radiologia médica, a radiologia intervencionista oferece tratamentos minimamente invasivos ao paciente.

Isso resulta em menor risco e tempo de recuperação, aumentando a eficiência das terapias.

Para isso, a área combina a tecnologia radiológica a técnicas modernas, realizando punções para inserir agulhas e cateteres no local correto.

Biópsia, angiografia e fluoroscopia estão entre os procedimentos mais realizados pelos radiologistas que escolhem essa carreira, tema deste artigo.

A partir de agora, falo sobre a história, benefícios, equipamentos e diferenças entre radiologia intervencionista e diagnóstica.

Continue lendo até o final para conhecer também sua relação com a telemedicina, que fornece laudos online para exames radiológicos.

Vamos em frente?

O que é radiologia intervencionista?

Radiologia intervencionista (RI) é a subespecialidade da radiologia médica que se dedica a tratamentos pouco invasivos.

Conforme define a Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (SOBRICE):

“A Radiologia Intervencionista utiliza recursos de imagem, como radiografia e angiografia, para diagnosticar e tratar doenças em quase todos os órgãos do corpo humano, é uma prática que reduz a necessidade de cortes, já que é feita por meio de agulhas ou cateteres em conjunto aos métodos de imagem que orientam o processo”.

Para se tornar um radiologista intervencionista, é preciso estudar por pelo menos 11 anos.

O profissional começa fazendo a graduação em medicina, que dura em média seis anos.

Em seguida, precisa se especializar em Radiologia e Diagnóstico por Imagem.

Após essas etapas, deve passar nas provas teóricas e práticas do exame de suficiência do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) para receber o título de especialista em radiologia médica.

Então, poderá se dedicar à última fase: uma nova especialização, dessa vez, em Radiologia Intervencionista.

Qual a diferença entre radiologia diagnóstica e intervencionista?

A diferença entre radiologia diagnóstica e intervencionista está no foco de cada área.

Como o nome sugere, a radiologia diagnóstica é voltada a métodos que dão suporte ao diagnóstico de doenças e investigação de sintomas.

São os casos da radiografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, entre outras tecnologias.

Enquanto a radiologia intervencionista usa tecnologia radiológica com finalidade terapêutica.

Vale lembrar que ambas são subespecialidades da radiologia médica, especialidade que usa diferentes tipos de radiação com fins diagnósticos e terapêuticos.

A radiologia foi e continua sendo responsável por uma série de avanços na medicina, pois possibilita o estudo não invasivo de órgãos e tecidos internos.

Nos períodos anteriores à descoberta dos raios X, a única forma de visualizar essas estruturas era por meio de incisões e cirurgias, que aumentam o risco de mortalidade, complicações e sequelas para o paciente.

A partir da criação e popularização da tecnologia radiológica, esse cenário passou por transformações profundas, salvando muitas vidas.

É por essas e outras razões que a radiologia médica e suas subespecialidades seguem em crescimento há mais de um século, promovendo inovações disruptivas no campo da saúde.

Conheça melhor essa história a seguir.

Radiologia de intervenção

A radiologia intervencionista usa tecnologia radiológica com finalidade terapêutica e tratamentos menos invasivos

História da radiologia intervencionista

Foi em 1895 que começou a história da radiologia médica.

Naquele ano, o físico alemão Wilhelm Conrad Rontgen compartilhou a descoberta dos raios X no artigo “Sobre uma nova espécie de Raios”.

E fez a primeira radiografia, que durou 15 minutos e retratou a mão esquerda de sua esposa, Anna Bertha Roentgen.

A inovação premiou o cientista com o Nobel de Física em 1901, além de dar origem a uma especialidade disruptiva dentro da área médica.

Contando com o suporte do equipamento de raio X, o neurologista português António Egas Moniz utilizou as imagens para realizar a primeira arteriografia de que se tem notícia, em 1927.

Mais tarde, o americano Charles Theodore Dotter tratou uma gangrena numa paciente de 82 anos usando uma corda de guitarra e cateteres, ficando conhecido como o pioneiro na realização da angioplastia de artéria femoral.

Os estudos sobre aplicações para a radiação ionizante prosseguiram e, em 1972, o sul-africano Allan Cormack e o britânico Godfrey Newbold Hounsfield criaram o aparelho de tomografia.

Esse foi o primeiro passo para o emprego da tomografia com finalidade terapêutica.

Na mesma década, os conhecimentos em radiologia intervencionista chegavam ao Brasil, graças ao retorno de Sérgio Santos Lima e outros médicos que haviam se especializado fora do país.

Eles fundaram, então, o Clube dos Angiografistas, movimento que deu base à formação da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular.

A SOBRICE, entretanto, só foi fundada em 1997.

Qual o objetivo da radiologia intervencionista?

A radiologia intervencionista se propõe a oferecer tratamentos de forma menos invasiva que as cirurgias convencionais.

Patologias como tumores, isquemia cerebral e aneurisma são alvo dessas terapias.

Seu objetivo é dar mais segurança ao paciente e à equipe médica, diminuindo o risco de complicações decorrentes de grandes incisões cirúrgicas.

Em vez delas, são realizadas técnicas percutâneas ou endovasculares para levar diferentes substâncias até uma lesão ou tumor, viabilizando terapias localizadas.

Para tanto, os tipos de procedimentos podem ser divididos entre:

  • Radiologia Intervencionista não Vascular: investe na abordagem percutânea, usando agulhas e drenos para os tratamentos
  • Radiologia Intervencionista Vascular: emprega tubos finos e flexíveis (cateteres) para acessar áreas internas através de veias e artérias.

A seguir, falo sobre os benefícios dessa área.

Radiologia intervencionista

Radiologista intervencionista tem movimentos guiado por imagens obtidas em tempo real, o que confere precisão

Benefícios da radiologia intervencionista

Os procedimentos minimamente invasivos agregam diversos benefícios para pacientes, médicos, profissionais e estabelecimentos de saúde.

Em especial porque eles reduzem a complexidade dos tratamentos, com impacto considerável sobre o risco de complicações, chances de cura e tempo de recuperação.

Veja a seguir quatro vantagens de investir nessa área.

1. Redução da mortalidade e morbidade

Reações adversas à anestesia, eventos cardiovasculares, hemorragias e infecções são alguns dos perigos aos quais o doente fica exposto durante e após uma cirurgia.

Não é à toa que existem cuidados específicos antes de indicar qualquer operação, a exemplo do exame de risco cirúrgico, que determina se os benefícios superam os riscos.

Os perigos são menores quando o procedimento é menos invasivo.

Está aí uma das grandes vantagens da radiologia intervencionista, que faz somente pequenas incisões para tratar o paciente.

2. Segurança e precisão nos procedimentos

Parte da segurança da RI está nas pequenas incisões.

Mas há outro fator que torna suas terapias menos sujeitas a complicações: a obtenção de imagens em tempo real.

Graças à tecnologia, o radiologista intervencionista tem cada movimento guiado por essas imagens, o que confere precisão.

3. Recuperação mais rápida

Com menores incisões, o paciente raramente precisa ficar internado após passar por um procedimento de RI.

A ferida também necessita de menor tempo para cicatrizar, otimizando a recuperação.

4. Possibilidade de realização em pacientes debilitados

Por oferecerem baixo risco, terapias realizadas através da radiologia intervencionista podem ser feitas até mesmo em pessoas acamadas ou internadas.

Assim, abrem-se opções de tratamento pouco agressivas, melhorando as chances de reabilitação para o paciente.

Radiologia intervencionista no Brasil

Embora tenha grande importância, a prática de RI ainda é pouco comum no Brasil.

Segundo informações da SOBRICE, em meados de 2021 havia apenas 376 médicos com título de especialista em radiologia intervencionista em todo o território nacional.

Para se ter uma base de comparação, o país conta com um total de mais de 500 mil médicos, segundo a pesquisa Demografia Médica 2020.

Mas a quantidade de especialistas em RI é baixa mesmo quando se consideram apenas os médicos com especialização em Radiologia e Diagnóstico por Imagem – que ultrapassam 14 mil.

Enquanto quatro especialidades respondem por 40% do total, sendo elas:

Veja na sequência quais são os procedimentos realizados pelo radiologista intervencionista.

Quais os procedimentos realizados em radiologia intervencionista?

A partir de agora, falo sobre os principais procedimentos que fazem parte da rotina da RI.

Acompanhe!

Angiografia

É um exame que emprega cateteres e raios X para avaliar a anatomia e a circulação nos vasos sanguíneos.

Também chamado de arteriografia, serve para evidenciar anormalidades em artérias de diferentes partes do corpo, como membros inferiores, pulmões, rins e coração.

Uma de suas indicações mais comuns está no estudo de problemas vasculares no encéfalo, por meio da angiografia cerebral.

Para que seja realizado, o procedimento se inicia com a inserção de um cateter numa grande artéria – normalmente, na virilha.

O item avança até acessar o cérebro, através da artéria carótida, e libera um composto líquido contendo contraste.

Enquanto o líquido passa pelos vasos sanguíneos, são mostradas imagens que possibilitam identificar aneurismas, coágulos, estenoses, inflamações e tumores.

Também dá para visualizar hemorragias e malformações congênitas.

Angioplastia

Consiste numa técnica terapêutica para corrigir obstruções nas artérias, em especial as coronárias.

Um cateter é levado até a área com fluxo sanguíneo prejudicado, junto a um pequeno balão, que dilata o interior do vaso sanguíneo.

Desse modo, o fluxo local é restabelecido.

Geralmente, a angioplastia é acompanhada pela colocação de um stent, um tubo metálico em forma de mola que ajuda a manter a artéria dilatada.

Biópsia

Fígado, rins, pele, mamas e próstata são alguns órgãos que podem ser alvo de biópsia.

Esse procedimento usa uma agulha para coletar um pequeno fragmento de lesão, que será analisado em laboratório para verificar suas características.

Além de diferentes tipos de câncer, a biópsia é usada no diagnóstico e tratamento de nódulos benignos, inflamações e investigação de doenças como a gastrite (no estômago).

Embolização

Na embolização, é feita a obstrução de artérias que nutrem tumores benignos ou malignos.

Um exemplo é a quimioembolização convencional (TACE), descrita como:

“A combinação da embolização – procedimento no qual o médico acessa e obstrui a artéria hepática nutridora do tumor, através da inserção de um cateter feita por um pequeno corte no interior da coxa do paciente – com a quimioterapia, injeção de um ou mais agentes quimioterápicos (anticancerígenos) junto com um carreador viscoso”.

Gastrostomia

Possibilita a alimentação por sonda, sendo introduzido de modo percutâneo ou por cirurgia.

Equipamentos de radiologia intervencionista

Diferentes tecnologias permitem a visualização de imagens dinâmicas, em tempo real, para apoiar os procedimentos de RI.

Como mencionei antes, muitos deles foram desenvolvidos com finalidade diagnóstica, sendo adaptados a terapias mais tarde.

Listo os aparelhos mais usados a seguir:

  • Angiógrafo: equipamento moderno que realiza raio X vascular dinâmico
  • Fluoroscópio: oferece radiografias contínuas de diferentes tecidos, em versão analógica (gravada em vídeo) ou digital
  • Tomógrafo: capta imagens a partir de diferentes pontos de vista, também a partir da emissão de feixes de raio X
  • Aparelho de ressonância magnética: emprega um campo magnético e ondas de rádio para formar imagens de alta resolução espacial, vistas de forma contínua no monitor.

Muitas vezes, os exames usam contraste para evidenciar certas estruturas, como os tumores, ou mostrar a trajetória percorrida pelo sangue nas artérias.

Compostos à base de iodo são empregados junto ao angiógrafo, fluoroscópio e tomógrafo – que formam imagens a partir de radiação ionizante.

Já a ressonância magnética usa contraste à base de gadolínio, substância que provoca raros efeitos colaterais.

Telemedicina na radiologia intervencionista

Já ouviu falar em telerradiologia?

Essa disciplina nasceu da união entre telemedicina e radiologia médica, a fim de otimizar a emissão de laudos de métodos diagnósticos.

Funciona assim: um médico ou técnico em radiologia conduz os exames e compartilha as imagens na plataforma Morsch.

Em seguida, um de nossos radiologistas de plantão avalia e interpreta os achados, registrando sua conclusão no laudo online, assinado digitalmente.

Assim que finalizado, o documento fica disponível no próprio sistema, podendo ser impresso, enviado por e-mail ou entregue via sistema, desde que o paciente tenha login e senha próprios.

A autenticação é apenas um dos mecanismos de segurança do software de telemedicina, que também conta com criptografia.

Dessa forma, somente pessoas autorizadas conseguem acessar as informações, a partir de qualquer dispositivo conectado à internet, pois a plataforma fica hospedada na nuvem.

O serviço de telediagnóstico radiológico está disponível para os seguintes exames:

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Conclusão

Gostou de saber mais sobre o universo da radiologia intervencionista?

Esse é um campo em expansão em diversos países, incluindo o Brasil.

O que não surpreende, dada a sua relevância para diminuir complicações decorrentes de cirurgias invasivas.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin