Enfermagem em cardiologia: o que fazem os profissionais e qual a sua formação

Uma formação em enfermagem em cardiologia pode envolver diferentes caminhos.

Geralmente, esse profissional dá suporte a emergências e Unidades de Terapia Intensiva (UTI), o que requer destreza, raciocínio rápido e conhecimento profundo sobre as condições tratadas.

Muitas vezes, a conduta do enfermeiro ou técnico de enfermagem salva vidas, diminui sequelas e o tempo de recuperação do paciente.

Nesse cenário, diferentes serviços de saúde vêm buscando por mais profissionais de enfermagem especializados em cardiologia.

Tudo para qualificar o atendimento em pronto-socorro e outros locais de assistência à saúde.

Neste artigo, apresento a importância desse campo, principais áreas de atuação e possibilidades para obter a formação em cardiologia.

Ao final, mostro como você pode se beneficiar da telemedicina cardiológica.

Qual a importância da enfermagem na cardiologia?

Um atendimento cardiológico de qualidade demanda médicos especialistas preparados e aparelhos adequados.

Em especial diante de urgências e emergências, que exigem uma abordagem ágil para reverter eventos potencialmente fatais.

Infarto agudo do miocárdio, parada cardíaca e arritmias graves, como a fibrilação ventricular, são apenas alguns exemplos de eventos cardiológicos capazes de levar o paciente a óbito.

Alguns deles são comuns, a exemplo da parada cardíaca, que registra 300 mil casos anualmente no Brasil, conforme dados da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

A Organização Mundial da Saúde estima que ocorram 17,5 milhões desses eventos todo ano, que precisam de socorro imediato para evitar a morte e sequelas.

Daí a importância de contar com uma equipe médica capacitada, incluindo profissionais especializados em enfermagem em cardiologia.

Sua intervenção rápida e precisa ajuda, por exemplo, a diminuir o índice de mortalidade do infarto, que varia de 8 a 30% de acordo com a assistência recebida pelo doente.

Naturalmente, as atividades de enfermagem também são relevantes durante a rotina nas clínicas e hospitais, contribuindo em:

• Orientação para prevenir doenças cardiovasculares
• Acolhimento em saúde
• Segurança do paciente
• Preparação de procedimentos
• Monitoramento através de equipamentos hospitalares
• Condução de exames cardiológicos, a exemplo do eletrocardiograma
• Realização de procedimentos invasivos, entre outras ações.

São apenas exemplos de atribuições do profissional de enfermagem. Falo mais sobre elas na sequência.

O que faz um profissional de enfermagem na cardiologia?

O profissional de enfermagem pode atuar em diversas frentes da cardiologia.

Dependendo das competências e necessidades do estabelecimento de saúde, as responsabilidades poderão englobar desde os cuidados primários até a reabilitação do paciente.

Saiba mais sobre algumas atribuições a seguir.

Triagem e avaliação de pacientes cardíacos

Realizada na admissão do paciente na clínica ou hospital, a triagem possibilita a priorização de casos críticos e direcionamento dos recursos de maneira inteligente.

Ao separar os doentes em grupos, é possível prestar assistência imediata a urgências e emergências, passando para cenários de maior gravidade, até chegar aos mais leves.

Além dessa seleção, o profissional de enfermagem pode iniciar o preparo ou procedimentos para reverter os efeitos de patologias fatais, como o IAM.

Educação e prevenção em cardiologia

A educação em saúde tem papel fundamental para a prevenção de doenças cardíacas.

Vale lembrar que muitos dos fatores de risco são evitáveis, dependendo de mudanças no comportamento do paciente.

Dieta rica em sal e gordura, sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de álcool devem ser evitados para preservar a saúde cardiovascular, diminuindo as chances de desenvolvimento de hipertensão, hiperglicemia, hiperlipidemia, sobrepeso e obesidade.

Segundo explicação da Organização Pan-Americana da Saúde, braço da OMS nas Américas:

“A cessação do tabagismo, redução do sal na dieta, consumo de frutas e vegetais, atividades físicas regulares e evitar o uso nocivo do álcool têm se mostrado eficazes para reduzir o risco de doenças cardiovasculares. Além disso, o tratamento medicamentoso da diabetes, hipertensão e hiperlipidemia pode ser necessário para reduzir os riscos cardiovasculares e prevenir ataques cardíacos e AVCs. Políticas de saúde que criam ambientes propícios para escolhas saudáveis acessíveis são essenciais para motivar as pessoas a adotarem e manterem comportamentos saudáveis”.

Por ter contato próximo com o paciente e acompanhantes, as equipes de enfermagem colaboram para conscientizar sobre essas questões.

Administração de medicamentos e tratamentos

Cabe aos profissionais de enfermagem colocar em prática o que consta na prescrição médica, cumprindo a orientação sobre vias de administração, horários e dosagens de medicações.

Junto a outros cuidados de enfermagem, tratamentos e rotinas, como o monitoramento de sinais vitais, manutenção de acessos intravenosos, etc.

Gerenciamento de casos em cardiologia

Enfermeiros podem atuar na coordenação do cuidado de pacientes com doenças cardíacas crônicas de maior ou menor gravidade.

Doentes internados na UTI e outros setores do hospital recebem essa atenção de perto, sendo avaliados com frequência para acompanhamento da evolução da terapia.

Quando necessário, o enfermeiro pode ajustar condutas e orientar técnicos e auxiliares de enfermagem, qualificando a assistência.

Essas iniciativas ainda podem empregar a tecnologia na saúde para manter o contato com pacientes que receberam alta por meio de um sistema de telemedicina online.

Monitoramento de exames complementares

Um exemplo dessas atividades é a monitorização em UTI, mas o profissional de enfermagem em cardiologia pode fazer o acompanhamento em diferentes contextos.

Suas ações são úteis na suspeita de infarto e/ou arritmias, outras doenças cardíacas ou até durante exames de rotina.

Técnicos de enfermagem treinados podem conduzir o ECG, como mencionei acima, e aguardar pela interpretação dos gráficos pelo cardiologista.

Reabilitação cardíaca

Assim como em outros tipos de reabilitação, a vítima de eventos cardiovasculares ou paciente com doenças crônicas deve ser acompanhada até que recupere suas funções, ou parte delas.

Para tanto, os profissionais de enfermagem atuam na triagem, avaliação e acompanhamento dos pacientes e da família, orientações para prevenção de agravos, cuidado com feridas, administração de medicações e higiene corporal, conforme um estudo sobre o tema.

O texto conceitua a enfermagem em reabilitação a partir da:

• Identificação das condições de saúde do paciente e das dependências para realização das atividades e vida
• Ensino e educação em saúde ao paciente e/ou a família sobre a doença, tratamento e autocuidado
• Cuidado compensatório
• Gestão dos recursos humanos e materiais envolvidos no processo de reabilitação e de suporte emocional.

Você pode consultar o estudo completo neste link.

Intervenções de enfermagem em emergências cardíacas

As intervenções realizadas durante emergências são variadas, incluindo o socorro por meio de protocolos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e outras manobras de suporte básico de vida.

Conforme indicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a RCP convencional utiliza a proporção de 30 compressões para duas ventilações, com duração de apenas um segundo cada, fornecendo quantidade de ar suficiente para promover a elevação do tórax.

Abaixo, trago um passo a passo para as compressões torácicas:

1. Posicione-se ao lado da vítima e mantenha seus joelhos com certa distância um do outro, para que tenha melhor estabilidade
2. Afaste ou corte a roupa da vítima (se uma tesoura estiver disponível), para deixar o tórax desnudo
3. Coloque a região hipotenar de uma mão sobre a metade inferior do esterno da vítima e a outra mão sobre a primeira, entrelaçando-a
4. Estenda os braços e os mantenha cerca de 90º acima da vítima
5. Comprima na frequência de 100 a 120 compressões/minuto
6. Comprima com profundidade de, no mínimo, 5 cm (evitando compressões com profundidade maior que 6 cm)
7. Permita o retorno completo do tórax após cada compressão, evitando apoiar-se no tórax da vítima
8. Minimize interrupções das compressões, pause no máximo 10 segundos para realização de duas ventilações. Considere obter uma fração de compressão torácica maior possível, tendo como objetivo um mínimo de 60%
9. Reveze com outro socorrista a cada 2 minutos, para evitar o cansaço e compressões de má qualidade.

A RCP deve ser interrompida assim que o desfibrilador externo automático (DEA) esteja disponível para realizar a cardioversão (choque).

Ainda de acordo com a SBC:

“Nos primeiros 3 a 5 minutos de uma PCR em FV, o coração se encontra altamente propício ao choque. Após 5 minutos de PCR, a amplitude da FV diminui devido à depleção do substrato energético miocárdico. Assim, o tempo ideal para a aplicação do primeiro choque compreende os primeiros 3 a 5 minutos da PCR”.

Condutas em ambiente hospitalar

Dentro do hospital, cabe à equipe de enfermagem realizar procedimentos como os citados no artigo “Emergência cardiológica: intervenções de enfermagem em pacientes com infarto agudo do miocárdio”:

• Manter o paciente em repouso absoluto no leito
• Instalar monitorização cardíaca contínua e oximetria
• Puncionar e manter o acesso venoso calibroso periférico
• Solicitar ECG de admissão e controle e gasometria arterial
• Solicitar marcadores bioquímicos de lesão miocárdica na admissão e repetir após 6 e 9 horas
• Acompanhar e registrar a frequência, localização e intensidade da dor
• Identificar arritmias e controlar sinais vitais
• Realizar análise sobre o estado de consciência
• Manter oxigenoterapia sob prescrição médica
• Realizar balanço hídrico
• Gerenciar a assistência de enfermagem.

A seguir, trago detalhes sobre a formação do profissional.

Qual a formação de um profissional da enfermagem em cardiologia?

A capacitação em cardiologia está disponível para enfermeiros e técnicos de enfermagem.

Naturalmente, as formações são distintas, como explico abaixo.

Pós-Graduação em Enfermagem em Cardiologia

Para os graduados em Enfermagem, é possível cursar a pós-graduação de Enfermagem em Cardiologia e Hemodinâmica, ou, simplesmente, pós-graduação de Enfermagem em Cardiologia.

Prevenção Clínica, reabilitação e enfermagem em Cardiologia Intervencionista são alguns temas comuns nos currículos dessa formação.

Ela tem duração média de três semestres e combina aulas teóricas e práticas.

Curso técnico de Enfermagem em Cardiologia

Geralmente, são ofertados cursos de Cardiologia para técnicos de enfermagem.

Alguns são oferecidos por entidades médicas, como a formação “Prática baseada em evidências na enfermagem cardiológica”, da SBC.

Disponível no formato educação a distância (EaD), o curso foi lançado em 2021 pela Universidade do Coração.

Já o Conselho Regional de Enfermagem de Sergipe (Coren-SE) realiza a capacitação “Cardiologia para Técnicos de Enfermagem”.

Qual o salário de um enfermeiro especialista em cardiologia?

De acordo com o site Vagas.com, um enfermeiro especializado em hemodinâmica ganha, em média, R$ 4.220.

No entanto, os ganhos podem ser maiores conforme o setor em que o profissional atua.

No site Glassdoor, o enfermeiro de UTI aparece com salário base entre R$ 4 mil e R$ 7 mil por mês, podendo chegar a até R$ 13 mil.

Avanços tecnológicos na enfermagem cardiológica

Monitor para UTI, DEA e plataformas de comunicação à distância são exemplos de como a tecnologia otimiza o trabalho da enfermagem cardiológica.

Ao manter os sinais vitais do doente internado visíveis, o monitor permite um acompanhamento contínuo e intervenção rápida na ocorrência de eventos adversos.

Enquanto aparelhos portáteis como o DEA viabilizam o socorro fora do ambiente hospitalar, colaborando para reduzir a mortalidade e morbidade relacionadas à parada cardiorrespiratória.

Existem também equipamentos para exames como o eletrocardiógrafo portátil, que possibilita a avaliação do paciente antes mesmo de chegar ao hospital.

Os gráficos do ECG podem ser encaminhados em tempo real a um cardiologista, que fará sua interpretação e poderá orientar a equipe local quanto à conduta adequada.

Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) como a plataforma de telemedicina facilitam a troca de dados como os registros eletrocardiográficos num ambiente seguro e intuitivo.

Elas ainda fornecem salas virtuais para a teleconsulta e telemonitoramento de doentes crônicos, acamados e/ou que recebem atendimento home care.

Benefícios da telemedicina e telediagnóstico na cardiologia

Comentei acima sobre alguns serviços de telemedicina que otimizam o trabalho das equipes de enfermagem cardiológica.

Um dos mais evidentes é o telediagnóstico, que oferece laudos online em minutos ou mesmo em tempo real – na avaliação de emergências e urgências.

Contando com um software em nuvem, como a Morsch, seu time pode acionar cardiologistas e outros especialistas a qualquer hora do dia ou da noite, mesmo aos feriados e domingos.

Basta compartilhar registros de exames complementares como o ECG, teste ergométrico e holter para receber laudos online com agilidade.

Nossos especialistas também esclarecem dúvidas relativas à prática clínica por meio da teleconsultoria na saúde.

Outra vantagem é o prontuário eletrônico, que compila e guarda os dados dos pacientes de modo organizado e amplamente acessível a pessoas autorizadas.

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Conclusão

Ao final deste texto, ressalto que a enfermagem em cardiologia é uma área em expansão, tanto para enfermeiros quanto para técnicos de enfermagem.

Se você se identifica com o segmento, vale a pena investir nessa carreira.

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