Guia para a boa prescrição médica: o que ela deve conter

Por Dr. José Aldair Morsch, 3 de junho de 2022
Prescrição médica

Prescrição médica é um documento indispensável na rotina dos profissionais de medicina.

Afinal, é nela que constam as orientações para o tratamento de doenças e incômodos

Assim, viabiliza a continuidade da assistência em saúde.

Mas é preciso tomar alguns cuidados para viabilizar a abordagem terapêutica correta.

Um deles está na garantia da compreensão do que foi prescrito, tanto por parte do paciente quanto do farmacêutico que irá dispensar os medicamentos.

Uma das barreiras, nesse contexto, é a famosa letra de médico.

Além da falta de dados essenciais, como a assinatura e o CRM do profissional.

Reuni neste artigo os itens indispensáveis para a prescrição médica, explicando suas regras e como solucionar problemas no entendimento.

Vale utilizar a tecnologia a seu favor, substituindo os arquivos em papel pela prescrição eletrônica.

Boa leitura!

O que é prescrição médica?

Prescrição médica é o ato de recomendar formalmente medidas terapêuticas ao paciente, exceto cirurgias.

Basicamente, a prescrição contempla as orientações sobre o uso de medicamentos e outras ações que colaboram para a recuperação do doente.

Por exemplo, dias de repouso, realização de atividade física leve ou rotinas alimentares.

A prescrição só pode ser realizada por médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina (CRM) de seu estado, veterinários e dentistas com cadastro ativo em seus conselhos.

Qual a diferença entre receita e prescrição médica?

Na verdade, ambas as expressões costumam ser usadas como sinônimos, mas algumas diferenças sutis podem ser consideradas.

Por exemplo, quanto ao uso de “receita” de forma mais ampla, descrevendo qualquer recomendação escrita para a compra de medicamentos.

Enquanto a “prescrição médica” seria empregada apenas para se referir ao documento que atenda a exigências de autoridades de saúde.

Nesse contexto, a prescrição tem maior reconhecimento, servindo para comprovar que uma pessoa tem uma comorbidade, por exemplo.

Como relata esta reportagem, explicando que a elaboração de uma prescrição médica deve seguir um ritual e que:

“Nela, o médico especificará o problema que aflige o paciente e o objetivo de sua indicação terapêutica. A prescrição não se trata estritamente de uma ‘receita’. Deve conter: o problema de saúde, tipo de receita, data da prescrição, fármaco e sua indicação, apresentação e forma de uso, tempo de tratamento, principais efeitos colaterais, advertências, previsão de retorno, se indicado”.

Qual a importância da prescrição médica?

A prescrição médica é o documento que finaliza uma etapa importante na relação médico-paciente: a consulta.

Depois da anamnese, exame físico e, às vezes, testes complementares, o profissional verifica a abordagem terapêutica mais adequada e a anota no receituário.

Esse arquivo é relevante para o médico, por registrar dados gerais sobre o atendimento, diagnóstico e tratamento recomendado.

Contudo, tem importância ainda maior para o doente, servindo como instrução para sua recuperação e qualidade de vida.

É a partir da prescrição que ele é orientado sobre qual medicamento tomar, qual o seu princípio ativo, efeito esperado e por quanto tempo a terapia deve ser mantida.

Além de ter acesso a dados sobre a forma farmacêutica, quantidade de doses, vias de administração e outras dicas para o sucesso do tratamento.

Portanto, cabe ao médico esclarecer qualquer dúvida no momento da consulta ou posteriormente, evitando equívocos quanto ao uso de medicações.

Uma prescrição completa e legível é fundamental na prevenção de superdosagem, interações medicamentosas ou com alimentos e até de intoxicação do paciente.

Regras da prescrição médica no Brasil

Uma das citações que servem como referência para a elaboração da prescrição médica no Brasil está no Art. 11 da Resolução CFM 2.217/18 (Código de Ética Médica).

Ao abordar atitudes vedadas aos médicos, o trecho pontua detalhes indispensáveis para esses documentos, proibindo:

Receitar, atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação de seu número de registro no Conselho Regional de Medicina da sua jurisdição, bem como assinar em branco folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos médicos”.

A seguir, comento essas e outras normas para uma prescrição correta e de qualidade.

Prescrição na medicina

Na prescrição médica, especialista especifica o problema do paciente e o objetivo da indicação terapêutica

Comece por uma avaliação completa

A atenção durante anamnese, exame físico e aos resultados de testes complementares fundamenta uma recomendação terapêutica eficiente.

Vale seguir as dicas e roteiros de autoridades como a Organização Mundial da Saúde.

Elas estão expressas no Guia para a Boa Prescrição Médica.

Na publicação, a OMS define seis etapas para o sucesso da terapêutica:

  1. Definição do problema
  2. Especificação dos objetivos terapêuticos
  3. Seleção do tratamento mais eficaz e seguro para um paciente específico
  4. Prescrição, incluindo medidas medicamentosas e não medicamentosas
  5. Informação sobre a conduta terapêutica para o paciente
  6. Monitoramento do tratamento proposto.

Utilize o receituário correto

Existem diferentes tipos de receituário médico, cada um utilizado para determinado grupo de substâncias.

De forma resumida, eles se dividem em:

  • Receituário médico simples
  • Receituário médico tipo A (amarelo)
  • Receituário médico tipo B (azul)
  • Receituário médico tipo C (branco).

Falo mais sobre cada um nos próximos tópicos.

Verifique a necessidade de notificação de receitas

A emissão de qualquer receita deve ser feita em duas vias, a fim de que uma fique retida na farmácia, enquanto a outra dá recomendações ao paciente.

Dependendo do tipo de prescrição médica, também será preciso incluir uma notificação de receitas.

Segundo define o Art. 65 da Instrução Normativa SVS/MS 344/1998 (Regulamento Técnico das substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial):

“Notificação de Receita é o documento que acompanhado de receita autoriza a dispensação ou aviamento de medicamentos a base de substâncias constantes das listas ‘A1’ e ‘A2’ (entorpecentes), ‘A3’, ‘B1’ e ‘B2’ (psicotrópicos), ‘C2’ (retinoides para uso sistêmico) e ‘C3’ (imunossupressores), do Requerimento Técnico aprovado pela Portaria SVS/MS nº 344/98 e de suas atualizações”.

Cuidado com a letra de médico

Como ressaltei acima, o CFM veda a prescrição médica de forma secreta ou ilegível.

O motivo é simples, uma vez que receitas difíceis de compreender podem induzir a erros por parte de farmacêuticos e pacientes.

Farmacêuticos podem dispensar quantidades, formas ou até substâncias diferentes do que foi receitado, expondo o paciente a riscos desnecessários.

Enquanto os pacientes tendem a seguir orientações de pessoas inaptas, como parentes e amigos, para dar seguimento às terapias medicamentosas.

A letra de médico tem o potencial de causar estragos ainda maiores para prescrições dentro das unidades de saúde, ameaçando o bem-estar de indivíduos em estado crítico.

Prescrições do médico

A prescrição médica simples é dedicada para medicamentos que não precisam obrigatoriamente de receita

Insira sua assinatura apenas no momento da prescrição

Por praticidade, alguns profissionais podem deixar folhas ou mesmo talonários inteiros assinados previamente.

No entanto, essa prática é perigosa, pois permite que os papéis sejam utilizados sem o conhecimento do médico responsável.

Portanto, assine as receitas somente quando estiver finalizando cada atendimento.

Aprazamento de prescrição médica

O aprazamento é feito em situações de prescrição médica em um ambiente assistencial de saúde de internação.

Nesse contexto, cabe aos enfermeiros determinar os horários da administração de medicamentos.

O objetivo é evitar interações entre as substâncias utilizadas.

Obviamente, essa atividade deve seguir o que foi prescrito pelo médico para que o tratamento seja bem-sucedido.

Também é importante que a equipe de enfermagem observe o tempo de duração da terapêutica e a necessidade de solicitar uma nova receita.

Geralmente, cada receituário é válido por até 30 dias, mas há categorias especiais em que esse tempo pode ser estendido.

O que deve conter uma prescrição médica

A receita deve ter no mínimo seis campos essenciais, como explica o Manual de orientações básicas para prescrição médica do CFM.

Saiba mais sobre eles a seguir.

1. Cabeçalho

Localizado na parte superior, reúne dados do médico, como seu nome e endereço da instituição onde trabalha, CRM e RQE, se for um especialista.

2. Superinscrição

Logo abaixo do cabeçalho, a superinscrição traz informações básicas do paciente, como nome completo e endereço.

Dados como idade, peso e altura podem ser incluídos, caso sejam de interesse para o tratamento.

Outro registro adicional facultativo corresponde ao aviso “uso interno” (via enteral) ou “uso externo” (via parenteral).

3. Inscrição

Traz os primeiros dados do medicamento, com o nome genérico, concentração e forma farmacêutica.

Ou seja, se ele é encontrado em xarope, gotas, comprimidos, cápsulas, spray, creme etc.

4. Subinscrição

Detalha a quantidade total que deve ser fornecida ao paciente, a fim de prevenir práticas prejudiciais como a automedicação.

Caso sejam prescritos fármacos de uso controlado, a indicação deve ser escrita em algarismos arábicos, escritos por extenso, entre parênteses.

5. Adscrição

É um espaço aberto para orientações complementares ao paciente.

Por exemplo, intervalos para tomar o medicamento, tempo de tratamento, se deve ser consumido em jejum ou após as refeições.

6. Data, assinatura e número de inscrição no CRM

Ou no conselho de Odontologia ou Medicina Veterinária, dependendo do caso.

Vale lembrar que o carimbo médico não é exigido para a validação de receitas.

Essa ferramenta é necessária apenas para o recebimento do talonário para prescrição de medicamentos e substâncias das listas A1 e A2 (entorpecentes) e A3 (psicotrópicos).

Quais os tipos de prescrição médica?

Existem quatro modalidades de prescrição médica:

  • Prescrição médica simples: usada para receitar fármacos dispensados de controle especial por parte da Anvisa. Pode ser apresentada em qualquer cor, mas costuma ser branca
  • Prescrição médica tipo A (amarela): entorpecentes e psicotrópicos são exemplos de medicamentos prescritos por meio da receita tipo A, que deve ser emitida junto a uma notificação para a Anvisa. Cada prescrição contempla somente um medicamento para o tratamento de, no máximo, 30 dias de duração
  • Prescrição médica tipo B (azul): é empregada para prescrever outros tipos de psicotrópicos e também exige uma notificação de receita. Vale por 30 dias e só pode liberar a dispensação de substâncias suficientes para um mês de terapêutica
  • Prescrição médica tipo C (branca): anticonvulsivantes e antiparkinsonianos podem ser prescritos através do receituário tipo C, que aceita até três medicações. Os medicamentos classificados como “C2” (retinoides para uso sistêmico) e “C3” (imunossupressores) devem ser acompanhados por notificação à Anvisa, podendo ser liberados em quantidades suficientes para suprir o tratamento por até 60 dias.

Como funciona a prescrição médica digital

A prescrição médica digital é fruto da inovação tecnológica aplicada à medicina.

Em vez de usar papel impresso ou preenchido manualmente, esse formato permite a criação, preenchimento e assinatura dos receituários dentro de um sistema seguro.

Além de eliminar papel, a versão eletrônica facilita o compartilhamento com pessoas autorizadas e acaba com o problema da letra de médico.

Afinal, todos os campos são digitados de maneira legível, incluindo opções de preenchimento automático para itens como o cabeçalho, data e CRM.

Essa praticidade se estende até a liberação dos medicamentos na farmácia, que recebe uma chave para acessar as informações da prescrição digital.

Caso o estabelecimento não esteja integrado ao sistema, o médico pode conceder um QR Code ao paciente, que será lido pelo farmacêutico.

Dessa forma, a tecnologia qualifica a assistência em saúde, prevenindo equívocos quanto ao tratamento prescrito.

Como fazer prescrição médica eletrônica

A prescrição pode ser realizada por intermédio de um sistema de telemedicina que atenda aos critérios estabelecidos na Resolução CFM nº 2.299/21.

Um deles é o uso de assinatura digital do médico responsável, validada pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil, nos modelos A3, token ou cartão.

A plataforma de Telemedicina Morsch segue essas e outras regras das autoridades de saúde, além de possibilitar a prescrição digital com toda a comodidade.

Basta ter um notebook, tablet ou smartphone conectado à internet para acessar nosso software, que fica hospedado na nuvem, protegido por senhas e criptografia.

É possível integrar receitas, atestados e outros documentos gerados no sistema ao prontuário eletrônico do paciente, atualizando seu histórico de saúde.

Tudo isso mantendo os registros acessíveis para consultas futuras.

Acesse esta página para conhecer todas as vantagens do prontuário digital Morsch e otimizar a emissão de documentos médicos na sua clínica ou consultório!

Conclusão

Ao final deste artigo, espero ter contribuído para ampliar seus saberes sobre a prescrição médica.

Seja em formato manual, impresso ou eletrônico, esse documento é indispensável para dar seguimento à terapia e recuperação do paciente.

Daí a necessidade de que seja preenchido com zelo e de modo legível, o que fica mais simples usando a versão digital.

Conte com o sistema Morsch para otimizar a emissão e integração de arquivos que compõem o prontuário médico.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin