Interação medicamentosa: o que é, exemplos e como consultar

Por Dr. José Aldair Morsch, 10 de agosto de 2023
Interação medicamentosa

Interação medicamentosa é um assunto que merece atenção.

Médicos, farmacêuticos e profissionais de enfermagem devem considerar esse evento em suas rotinas de trabalho, principalmente quando estiverem atendendo pacientes.

Não se pode ignorar o potencial de reações adversas graves, provenientes de resultados como o aumento da toxicidade das substâncias.

Por isso, cabe aos profissionais alertar o público sobre os riscos da automedicação.

Além de perguntar sobre drogas em uso a cada consulta médica, cuidado de enfermagem e orientação farmacêutica.

Neste texto, apresento um panorama completo sobre as principais interações medicamentosas e dicas para evitar respostas adversas.

Acompanhe até ao final, pois mostro também como esclarecer dúvidas por meio da telemedicina.

O que é interação medicamentosa?

Interação medicamentosa é um evento clínico caracterizado pela alteração do efeito de uma droga devido ao uso concomitante de outra substância.

Ou, como define o artigo “Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da enfermagem”:

“Interações medicamentosas são tipos especiais de respostas farmacológicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos são alterados pela administração simultânea ou anterior de outros, ou através da administração concorrente com alimentos”. 

Embora a interferência mais conhecida seja provocada por fármacos, alimentos, drogas (incluindo drogas sociais como álcool e tabaco) e até fitoterápicos podem desencadear interações medicamentosas.

O evento pode resultar em:

  • Respostas de pequeno significado clínico, quando não há mudanças no efeito terapêutico do remédio
  • Respostas benéficas, quando potencializam o efeito terapêutico. Nesse caso, a interação medicamentosa é intencionalmente utilizada pelo médico
  • Respostas adversas, quando diminuem a eficácia do fármaco ou provocam reações adversas com diferentes graus de gravidade.

Importante observar que há diferentes tipos de interação medicamentosa, como explico a seguir.

Quais os tipos de interação medicamentosa?

Dependendo do critério empregado, podemos classificar as interações medicamentosas de maneiras distintas.

Um exemplo é a divisão que mencionei acima, feita com base no tipo de resposta clínica causada pela interferência de uma substância no efeito do medicamento.

No entanto, essa classificação pode ser problemática, pois as manifestações clínicas sofrem a influência de fatores como dosagens, vias de administração, intervalos entre o uso das substâncias e condição de saúde do paciente.

Portanto, preferi a divisão por mecanismos das interações medicamentosas, baseados no tipo predominante de fase farmacológica em que ocorrem.

Tomei como referência o já citado artigo sobre essa temática.

Interação Farmacêutica

Também chamada de incompatibilidade, ocorre fora do organismo, quando dois ou mais fármacos são misturados.

O resultado é um produto que pode provocar efeitos diferentes do esperado.

Alterações na cor, turvação ou precipitação de uma solução indicam possível interação farmacêutica.

Interação Farmacocinética

Essa modalidade de interação modifica a magnitude e duração do efeito do medicamento ao impactar em seu perfil farmacocinético.

Pode ser subdividida em 4 tipos:

  1. Interação que modifica a absorção: a chegada do medicamento à corrente sanguínea pode ser alterada por substâncias que interferem no fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal (TGI), pH e motilidade. Quando há retardo na absorção do fármaco, o paciente pode sofrer com dor e outros sintomas incômodos. Já diante da redução da absorção, o tratamento pode não ter o resultado desejado
  2. Interação que modifica a distribuição: o deslocamento do fármaco da circulação sistêmica para os tecidos pode ser afetado por medicamentos com grande afinidade por proteínas plasmáticas, que elevam a concentração sérica de outros remédios
  3. Interação que modifica a metabolização: substâncias que inibem ou induzem o sistema enzimático podem desencadear esse tipo de interação, levando a um aumento no tempo de ação de certos medicamentos. Ou à redução na dosagem e efeito de outros fármacos
  4. Interação que modifica a excreção: o retardo na eliminação de medicamentos eleva seu tempo de ação, enquanto o aumento na excreção diminui. Essas mudanças na taxa de excreção podem ser fruto de interações ao longo do néfron, uma vez que a maioria das drogas é excretada pelos rins.

Por fim, há também a interação farmacodinâmica.

Interação Farmacodinâmica

É aquela que produz alterações no efeito bioquímico ou fisiológico do medicamento.

Possui duas subdivisões:

  • Sinergismo: é a resposta à associação entre duas ou mais substâncias, capaz de resultar em efeito terapêutico ou tóxico. Pode ser aditiva, quando ambas as substâncias possuem o mesmo mecanismo de ação, de somação, caso as substâncias tenham diferentes mecanismos de ação, ou potencialização, caso atuem sobre diferentes receptores farmacológicos
  • Antagonismo: ocorre diante da supressão ou diminuição da resposta de um medicamento na presença de outro.

Na sequência, esclareço sobre os riscos dessas interações.

Quais são os riscos das interações medicamentosas?

Como expliquei nos tópicos anteriores, a interação medicamentosa expõe o paciente a riscos de respostas adversas.

Dependendo das substâncias, dosagens e vias de administração, o paciente pode sofrer desde uma pequena redução do efeito até eventos fatais.

A ameaça é maior para pessoas que se encaixam nos grupos de risco, como idosos, doentes crônicos e usuários de dispositivos para infusão de medicamentos endovenosos ou de sonda enteral.

Esses indivíduos são afetados por um ou mais fatores que aumentam as chances de interações adversas.

São exemplos a deterioração dos sistemas orgânicos devido à idade avançada ou patologias de fundo, excesso de fármacos em uso e períodos prolongados de tratamento.

Contudo, não dá para saber de antemão qual a gravidade do impacto da interação medicamentosa, que pode variar de pessoa para pessoa.

Ou seja, mesmo pacientes jovens e saudáveis estão sujeitos a sofrer respostas adversas como:

É importante buscar atendimento e orientação médica ao identificar qualquer uma dessas reações.

O que é interação medicamentosa

A interação medicamentosa expõe o paciente a riscos de respostas adversas que podem ser graves

Exemplos de interação medicamentosa

Neste espaço, trago alguns exemplos conhecidos de interação medicamentosa.

Embora as respostas mais conhecidas sejam adversas, cabe mencionar combinações que reforçam o efeito terapêutico dos fármacos prescritos.

Um exemplo de interação benéfica é a coprescrição de anti-hipertensivos e diuréticos para diminuir os valores de pressão arterial com maior rapidez.

Essas são interações com resposta adversa:

  • Varfarina + anti-inflamatório não esteroide (AINE, como diclofenaco, ibuprofeno, nimesulida): risco aumentado para sangramentos
  • Aspirina + varfarina: maior concentração sérica do anticoagulante e potencial hemorrágico
  • Fenilbutazona + varfarina: aumento do potencial hemorrágico
  • Tetraciclina + antiácido: redução do efeito terapêutico antimicrobiano
  • Tetraciclina + alimentos lácteos: redução do efeito terapêutico antimicrobiano
  • Fármacos hipnóticos e anti-histamínicos + álcool: aumento do efeito sedativo
  • Aminoglicosídeos + bloqueadores neuromusculares: paralisia respiratória
  • Barbitúricos + álcool: coma
  • Ácido acetilsalicílico (AAS) + insulina: hipoglicemia
  • Anticoncepcionais orais + anti-hipertensivos: anulação do efeito anti-hipertensivo
  • Rosuvastatina + Bezafibrato: aumento do risco de rabdomiólise e miólise
  • Cimetidina + propranolol: bradicardia
  • Cimetidina + morfina: bradicardia e apneia
  • Nifedipino + fenobarbital: redução do efeito terapêutico do anti-hipertensivo nifedipino.

Fique atento também às interações que podem ser fatais.

Interações medicamentosas fatais

Entre as interações potencialmente fatais, vale destacar:

  • Inibidores da monoamina oxidase (IMAO) + antidepressivos tricíclicos: hiperpirexia, taquicardia, convulsões, morte
  • Ciprofloxacino e antiarrítmicos classe III (como amiodarona): risco aumentado de cardiotoxicidade (prolongamento do intervalo QT, torsades de pointes e parada cardíaca), morte
  • Varfarina + venlafaxina/ paroxetina/ sertralina: hemorragias, crise hipertensiva, morte
  • Fluconazol + carbamazepina: falta de ar, coma, morte
  • Amiodarona + sinvastatina: lesões musculares, insuficiência renal, morte
  • Altas doses de paracetamol + álcool em excesso: hepatotoxicidade, lesões no fígado, morte.

É importante ressaltar que alguns fármacos podem apresentar reações adversas graves, mesmo quando em monoterapia.

O uso de digoxina, varfarina, lítio, teofilina, antiarrítmicos e antineoplásicos pedem monitoramento médico durante todo o tratamento e atenção redobrada diante da necessidade de prescrever outros remédios concomitantemente.

Interações medicamentosas com fitoterápicos

Remédios de origem natural não estão livres de riscos como respostas adversas, inclusive quando combinados a fármacos manipulados em laboratório.

Veja algumas interações medicamentosas com fitoterápicos conhecidas:

  • Espinheira santa + antibióticos: redução na absorção do antibiótico
  • Valeriana + ansiolíticos: reforço do efeito sedativo, letargia, hipotensão
  • Ginkgo biloba + AAS: aumento no risco de sangramento
  • Erva doce + drogas hipnóticas: prolongamento do efeito hipnótico
  • Guaraná + anticoagulantes: inibição da agregação de plaquetas, aumento do risco de sangramento.

Por tudo isso, se informar é o melhor caminho para o paciente – e um dever para os profissionais.

Onde consultar interações medicamentosas?

Devido à grande quantidade de drogas, alimentos e bebidas capazes de desencadear interações medicamentosas, é praticamente impossível memorizar todas as combinações.

Por isso, existem plataformas como sites e aplicativos que realizam o cruzamento de informações conhecidas sobre as respostas farmacológicas.

No site do CFF (Conselho Federal de Farmácia), é possível encontrar explicações sobre interações adversas potencialmente graves.

Os efeitos são descritos em detalhes na bula do medicamento em questão, incluindo a possibilidade de interferência de alimentos em seu mecanismo de ação.

Para consultar essas informações, utilize o bulário da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Basta inserir o nome do princípio ativo ou mesmo o nome comercial do fármaco no campo de buscas para conferir a bula do paciente ou do profissional.

Pacientes e acompanhantes devem esclarecer as dúvidas com o médico, de preferência no momento que recebem a receita.

Além de responder sobre o uso atual de remédios com clareza e de maneira completa, o profissional poderá fazer recomendações, ajustes na dosagem ou até substituir o fármaco prescrito por outro que ofereça maior segurança ao paciente.

Interações medicamentosas

O uso de digoxina, lítio, antiarrítmicos e antineoplásicos pede monitoramento médico durante todo o tratamento

Como evitar interações medicamentosas?

A prevenção dos riscos associados a interações medicamentosas passa pela conscientização de profissionais de saúde e pacientes.

Em especial porque muitos casos de intoxicação por medicamentos resultam de condutas perigosas como a automedicação.

Nesse contexto, a falta de prescrição médica eleva as chances de equívocos quanto à dosagem, horários e combinações de fármacos.

Daí a necessidade de promover a comunicação médico-paciente, junto a orientações do farmacêutico, principalmente fora do ambiente hospitalar.

Nas clínicas e hospitais, cabe aos profissionais de enfermagem ter cautela quanto à administração simultânea de duas ou mais substâncias, observando possíveis efeitos colaterais.

De acordo com guia publicado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/MS, existem princípios gerais para evitar agravos à saúde do paciente, tais como:

“Esteja alerta com quaisquer medicamentos que tenham baixo índice terapêutico ou que necessitem manter níveis séricos específicos (ex.: glicosídeos digitálicos, fenitoína, carbamazepina, aminoglicosídeos, varfarina, teofilina, lítio, imunossupressores, anticoagulantes, citotóxicos, anti-hipertensivos, anticonvulsivantes, antiinfecciosos ou antidiabéticos, etc).

Lembre-se daqueles medicamentos que são indutores enzimáticos (ex.: barbituratos, carbamazepina, glutetimida, fenitoína, primidona, rifampicina, tabaco etc.) ou inibidores enzimáticos (ex.: alopurinol, cloranfenicol, cimetidina, ciprofloxacino, dextropropoxifeno, dissulfiram, eritromicina, fluconazol, fluoxetina, idrocilamida, isoniazida, cetoconazol, metronidazol, fenilbutazona e verapamil)”.

Outras recomendações incluem:

  • Fazer a análise da farmacologia básica dos medicamentos para verificar problemas decorrentes do uso simultâneo de outro fármaco que impacte os mesmos receptores neurais, por exemplo
  • Ter em mente que idosos e doentes crônicos estão sob maior risco, pois podem ter as funções hepática e renal prejudicadas
  • Recordar que, além de fármacos convencionais, fitoterápicos, alimentos, bebidas, álcool e tabaco podem gerar interações medicamentosas
  • Entender que alterações fisiológicas no paciente influenciam a predisposição a reações adversas.

Você também pode contar com a ajuda da telemedicina, como esclareço abaixo.

Telemedicina ajuda a evitar os riscos das interações medicamentosas

Criada para viabilizar a oferta de serviços médicos a distância, a telemedicina auxilia pacientes e profissionais de saúde na administração de fármacos.

Um dos serviços disponíveis via plataforma Morsch é a teleconsultoria, que conecta diferentes profissionais de saúde para elucidar questões diversas, inclusive sobre interações medicamentosas.

Basta acessar nosso software em nuvem – a partir de qualquer dispositivo com internet – para solicitar esse auxílio em poucos cliques, evitando problemas devido a combinações perigosas.

Em caso de dúvidas sobre diagnósticos e abordagens terapêuticas, também dá para pedir uma segunda opinião médica com agilidade.

Dentro do sistema, pacientes e cuidadores têm a oportunidade de marcar uma teleconsulta em instantes, ou acionar o plantão clínico 24 horas para receber orientações sobre reações adversas de medicamentos.

É só acessar a área de agendamento e escolher o atendimento de sua preferência.

Clínicas e hospitais que realizem exames complementares ainda podem se beneficiar do telediagnóstico, serviço que permite a interpretação de exames remotamente.

Os exames são feitos normalmente pela equipe local e, em seguida, os registros são compartilhados na plataforma de telemedicina.

Isso possibilita que um médico especializado na área do exame avalie os achados e componha o laudo online, assinado digitalmente.

Desse modo, o resultado é liberado em minutos no sistema, acelerando o diagnóstico.

Solicite um orçamento e conheça soluções que otimizam a rotina da equipe médica.

Conclusão

Ao final deste texto, espero ter contribuído para ampliar seus saberes sobre interação medicamentosa.

Seguindo as recomendações citadas, é possível tornar a prescrição médica mais segura e efetiva.

Conte com o time de especialistas Morsch para esclarecer dúvidas e agregar mais agilidade à rotina da sua equipe!

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin