Decúbito ventral: características, quando utilizar e como posicionar o paciente

Por Dr. José Aldair Morsch, 30 de março de 2022
Decúbito ventral

Decúbito ventral é uma das posições mais conhecidas e utilizadas por profissionais de saúde.

Ela é útil tanto para a realização de cirurgias da coluna quanto no posicionamento radiológico, quando se deseja obter imagens da porção anterior do corpo.

Além de ser uma importante manobra de alívio para reverter a hipoxemia (insuficiência de oxigênio no sangue).

Neste artigo, vou trazer um panorama completo, com definição, finalidade e passo a passo para colocar o paciente em decúbito ventral.

Você ainda vai conferir ideias para potencializar o treinamento das equipes médicas usando a telemedicina.

O que é decúbito ventral?

Decúbito ventral é uma posição que indica que o paciente está deitado sobre a parte anterior do corpo, ou seja, sobre o ventre.

Esse posicionamento é popularmente descrito como estar deitado de bruços ou de barriga para baixo.

Embora o nome pareça complicado, basta conhecer o significado dos termos que o formam para entender seu significado.

Começando pela palavra decúbito.

Esse é um termo técnico usado para informar que alguém está deitado.

Para completar, a palavra ventral deriva do estudo dos planos anatômicos, que dividem as áreas do corpo para que sejam examinadas ou operadas.

Um dos principais é o plano médio coronal, um tipo de plano frontal que separa o organismo em metade anterior e posterior.

Nesse contexto, a porção anterior é chamada de ventral, enquanto a posterior recebe a nomenclatura dorsal.

Então, se um indivíduo está em decúbito ventral, significa que ele está deitado sobre o ventre, sobre a porção anterior do corpo.

Outros planos anatômicos populares são:

  • Plano mediano: divide o corpo ao meio, em duas metades similares, uma esquerda e outra direita
  • Plano sagital: descreve os cortes feitos de cima a baixo, mas que não separam o corpo em duas metades equivalentes
  • Planos transversais ou horizontais: são aqueles que dividem o organismo em parte superior e inferior
  • Planos frontais: separam o corpo em parte anterior e posterior a partir de cortes verticais. Um deles é o plano médio coronal.

 

Posição prona ou decúbito ventral?

Quem está iniciando os estudos de anatomia pode se confundir com os diversos termos utilizados.

Com o tempo e a prática, logo se memoriza informações básicas.

Por exemplo, posição prona é o mesmo que decúbito ventral.

Ambas as expressões indicam que o paciente está deitado sobre a barriga ou ventre.

Qual a diferença entre decúbito dorsal e ventral?

Decúbito dorsal é a posição oposta ao decúbito ventral.

Significa que o paciente em decúbito dorsal ou posição supina está deitado sobre o dorso, ou seja, sobre a porção posterior (as costas).

Faz sentido que esses termos comecem com a palavra decúbito, pois ambos sinalizam que o paciente está deitado.

No entanto, no decúbito ventral ele está virado de bruços, enquanto no dorsal está de barriga para cima.

O decúbito dorsal é a posição mais comum para os doentes acamados ou em repouso, pois oferece conforto e é simples de reproduzir, mesmo em home care.

Já a posição prona tem maior complexidade e contraindicações, exigindo uma avaliação médica criteriosa antes de sua recomendação a um paciente.

Outras posições radiológicas e cirúrgicas de interesse para médicos, profissionais de enfermagem e outros colegas da área da saúde são:

  • Posição anatômica de referência: descreve um indivíduo em posição ortostática (de pé), olhando para o horizonte, com as pernas próximas e estendidas. Os braços ficam estendidos ao lado do tronco e as mãos abertas, com as palmas voltadas para frente e pé para frente
  • Decúbito lateral: é caracterizada pela pessoa deitada sobre o lado esquerdo ou direito do corpo
  • Posição de Fowler: coloca o paciente parcialmente sentado, de forma que o corpo fique alinhado à cama ou mesa cirúrgica, com os joelhos levemente elevados e a cabeceira num ângulo entre 45° e 60°
  • Posição de Sims: é uma variação do decúbito lateral, em que a perna que ficar sobre a outra se apoia numa superfície, com leve flexão
  • Litotomia: conhecida como posição ginecológica, consiste numa versão do decúbito dorsal em que as pernas são elevadas, apoiadas e bem separadas
  • Posição de Trendelenburg: outra variação do decúbito dorsal, mas que eleva a parte inferior do corpo. O paciente é fixado na maca, que é elevada para deixar a cabeceira mais baixa.

 

Características da posição de decúbito ventral

O decúbito ventral tem como principais características:

  1. Paciente deitado sobre a barriga, com ligeira pressão no tórax e abdômen
  2. Cabeça virada para o lado esquerdo ou direito
  3. Braços flexionados para evitar distensões
  4. Mãos estendidas e dedos um pouco dobrados
  5. Apoio para que o peito, quadris e pernas fiquem com a mesma altura.
Posicionamento decúbito

Entre as indicações da posição decúbito ventral está a realização de exames clínicos e de imagem

A posição de decúbito ventral é usada para quê?

Uma das finalidades do decúbito ventral está relacionada ao cuidado com pacientes acamados.

Como eles precisam mudar de posição a cada duas horas, muitas vezes a equipe de enfermagem inclui o decúbito ventral entre os posicionamentos do dia.

Mas é preciso adotar medidas para evitar complicações na posição prona.

Falo mais sobre eles nos próximos tópicos.

Por enquanto, vale conferir os principais usos dessa posição, que faz parte da rotina da maioria dos profissionais de saúde.

Combate à hipoxemia

Um dos usos mais corriqueiros para o decúbito ventral se dá no alívio da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA).

A SDRA é uma modalidade de insuficiência respiratória, geralmente causada pela presença de líquidos nos pulmões.

Nesses contextos, a condição tende a se complicar na posição supina ou decúbito dorsal, devido a fatores como o peso sobre a área posterior dos pulmões.

Porém, a redução da oferta de oxigênio pode ser revertida com o auxílio da posição prona, como detalha este estudo, realizado por Kelly Cristina de Albuquerque Paiva e Osvaldo Shigueomi Beppu:

“O efeito fisiológico mais importante da posição prona é a melhora da oxigenação, que ocorre em cerca de 70% a 80% dos pacientes com SDRA. Essa melhora da oxigenação pode ser atribuída a vários mecanismos que podem ocorrer isolados ou associados. Dentre eles, estão a diminuição dos fatores que contribuem para o colabamento alveolar, a redistribuição da ventilação alveolar e a redistribuição da perfusão.”

Assim, pode-se afirmar que o decúbito ventral tem papel relevante no tratamento de pacientes com SDRA.

Isso porque a técnica diminui as chances de atelectasia pulmonar (colapso dos alvéolos pulmonares).

Tratamento de casos graves de Covid-19

Agravos provocados pelo coronavírus também podem desencadear Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA).

Segundo estatísticas, a condição acomete entre 31% e 67% dos doentes que desenvolvem quadros graves de Covid-19.

Por isso, equipes de saúde têm empregado a técnica de pronação como parte do tratamento da doença desde 2020, quando foi decretada a pandemia pela Covid.

Inclusive, o uso de decúbito dorsal em pacientes que apresentam falta de ar é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Cirurgias da região posterior

A estabilidade e fácil acesso a áreas como a coluna vertebral tornam comum o uso da posição prona para diferentes operações da parte posterior.

Uma delas é o tratamento cirúrgico para hérnia de disco, que surge quando o material gelatinoso contido num disco intervertebral se desloca ou vaza.

O desgaste desse disco faz pressão sobre as vértebras e, quando alcança raízes nervosas, provoca dor intensa nas costas e que irradia para as pernas: a famosa dor ciática.

Quando o tratamento medicamentoso e com fisioterapia não surte efeito, o ortopedista pode indicar uma cirurgia convencional ou minimamente invasiva.

Endoscopias e microcirurgias são as terapias preferenciais, pois diminuem o sangramento e o tempo de recuperação do paciente, além de reduzir riscos.

Já a operação convencional exige anestesia geral para o paciente, a fim de que se mantenha imóvel enquanto o problema é corrigido.

O disco intervertebral afetado pode ser removido em parte ou de maneira completa, deixando as vértebras mais próximas.

Também pode ser feita a inserção de um material artificial para substituir o disco, diminuindo o atrito e a sobrecarga entre as vértebras.

Posição ventral

Na posição prona, há melhora dos parâmetros respiratórios, facilitando a abertura dos alvéolos pulmonares

Exames

O decúbito ventral é útil no posicionamento radiológico, dando uma perspectiva diferenciada a testes como o raio X e a tomografia computadorizada.

Quando o objetivo é observar estruturas torácicas como os pulmões, a posição prona oferece imagens complementares à supina, dando suporte ao diagnóstico.

Outra finalidade de interesse está na diferenciação entre hematoma subdural e atrofia cortical, feita com o suporte da tomografia em decúbito ventral.

Como é posicionado um paciente em decúbito ventral

Mencionei anteriormente as características do posicionamento em decúbito ventral.

Agora, veja um passo a passo para posicionar o paciente sem deixar de lado a segurança e o conforto.

Comece em decúbito dorsal

Na verdade, vai depender da condição clínica do paciente.

Para consultas e exames, é comum que ele esteja consciente e consiga se deitar sem ajuda, o que facilita o trabalho da equipe de enfermagem.

Contudo, há situações em que o doente está inconsciente, acamado, tem deficiências ou restrições de mobilidade.

Nesses cenários, será preciso que um ou dois profissionais realizem a manobra para mudança de posição.

Em geral, tudo começa com o decúbito dorsal, que é a posição mais natural ao descanso das pessoas.

Antes de começar, explique ao paciente e/ou acompanhante que o procedimento é necessário para evitar problemas como escaras, e como será realizado.

Higienize as mãos, calce luvas e dê início à manobra.

Use almofadas para suporte

É útil colocar travesseiros ou almofadas grandes para ajudar na rotação do paciente.

Então, ponha uma ao nível das pernas e outra do abdômen, ambas ao lado do doente, sobre a cama.

Vire o paciente

Nessa etapa, será preciso esforço para rodar o corpo do paciente, deixando-o primeiro em decúbito lateral e seguindo para o decúbito ventral.

Ponha um pé à frente do outro, mantenha as costas retas e flexione os joelhos para diminuir a pressão durante o esforço.

Em seguida, coloque os braços do doente esticados ao lado do corpo para facilitar o movimento.

Ajuste cabeça e braços

Como citei antes, a cabeça deve sempre ser virada para um dos lados, a fim de liberar a respiração sem impedimentos.

Quanto aos braços, vale deixá-los flexionados e com as mãos esticadas.

O braço que estiver do lado oposto à direção da cabeça precisa ser levemente rotacionado para dar maior conforto e segurança ao paciente.

Verifique se o paciente ficou alinhado

Faça os últimos ajustes para que o corpo do doente fique bem acomodado.

Se for preciso, coloque travesseiros sob a cabeça, abdômen e pernas, de forma que fiquem nivelados.

Cuidados de Enfermagem na posição decúbito ventral

Zelar pelos cuidados de enfermagem é essencial para evitar problemas como a úlcera por pressão, que pode acometer pessoas acamadas.

Um dos cuidados básicos é a própria troca de posição a cada duas horas, a fim de evitar a pressão das mesmas partes do corpo por períodos longos.

Essas medidas também são importantes para indivíduos submetidos a cirurgias, que muitas vezes ficarão imóveis por horas após receber anestesia.

Conforme artigo sobre o tema, os principais cuidados de enfermagem durante cirurgias em decúbito ventral são:

  • Proteger o quadril e as coxas com travesseiros grandes
  • Proteger os seios
  • Acomodar a genitália masculina em posição lateral
  • Proteger o dorso dos pés, a cintura escapular, o olecrano, a espinha ilíaca e a patela.

 

O papel da telemedicina na assistência ao paciente

A telemedicina oferece diversas soluções para qualificar o diagnóstico de doenças e a assistência ao paciente.

Uma delas é a educação a distância (EAD) para profissionais de saúde, que não precisam deixar seus bairros ou cidades para receber capacitação com qualidade.

Basta acessar a plataforma de telemedicina Morsch a qualquer hora do dia ou da noite para aprimorar os saberes, conferindo conteúdos em vídeo, áudio e texto.

Dá para aprender boas práticas na condução de exames, posicionamento radiológico, tópicos de gestão e muito mais, de um jeito ágil e simples.

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Conclusão

Ao final deste artigo, espero ter ajudado a expandir seus conhecimentos sobre decúbito ventral.

Se ficou alguma dúvida, complemento ou sugestão, deixe um comentário abaixo.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin