Eletrocardiograma alterado: o que pode ser e quais os próximos passos?

Um eletrocardiograma alterado costuma sinalizar doenças cardiovasculares ou que afetam o sistema circulatório.
Contudo, há casos em que as alterações têm origem em problemas técnicos e outros fatores que interferem na qualidade do ECG.
Falo sobre os dois cenários ao longo deste artigo, que inclui boas práticas para evitar distorções nos gráficos do exame.
Acompanhe até o final para descobrir, também, as vantagens da telemedicina cardiológica.
A tecnologia agiliza a entrega dos resultados e ajuda a economizar na aquisição do aparelho de ECG.

O que é eletrocardiograma alterado?
Eletrocardiograma alterado é aquele com resultado fora dos padrões de normalidade.
Ou seja, um exame em que os gráficos gerados apontam anormalidades no registro do ritmo cardíaco, seja em relação à frequência cardíaca (FC) ou à condução dos impulsos elétricos.
Lembrando que, para formar cada batimento, um impulso elétrico percorre as câmaras cardíacas na seguinte ordem:
- O impulso nasce no nó sinusal, localizado acima do átrio direito
- Segue, então, para o átrio direito, átrio esquerdo, nó atrioventricular e ventrículos
- A passagem da corrente elétrica faz com que íons de cálcio sejam atraídos para dentro das células do coração, resultando em contração
- Esse processo se chama despolarização elétrica
- Ao fim do batimento, a repolarização ventricular culmina em um instante de repouso antes da próxima batida.
Quando a ordem, FC e oscilações ou ondas do eletrocardiograma se encontram dentro dos padrões de normalidade, temos um ritmo sinusal ou normal.
Veja as principais diferenças entre resultado normal e alterado a seguir.

Eletrocardiograma normal e alterado: como diferenciar?
Basicamente, é preciso identificar anormalidades na FC ou no traçado do ECG para diferenciar um cenário normal de um alterado.
Quando o ritmo é normal, a FC fica entre 50 e 100 bpm (batimentos por minuto) num adulto saudável.
Cada batida é formada por onda P, seguida de um complexo QRS e uma onda T, atendendo aos seguintes parâmetros:
- Onda P normal arredondada e suave, durando menos de 0,10 segundo (2,5 mm) e com voltagem máxima de 0,25 mV
- Intervalo PR durando entre 0,12 e 0,20 segundo
- Complexo QRS com duração de 0,06 a 0,10 segundo, sendo composto por três ondas – uma positiva (R) e duas negativas (Q e S)
- Onda Q durando menos de 0,04 segundo e com 2 mm de profundidade
- Onda T assimétrica, com amplitude máxima inferior a 15 mm nas derivações precordiais, e menor que 5 mm nas derivações periféricas.
Patologias e outras anormalidades costumam fugir a esses padrões, correspondendo a um resultado alterado.

O ECG alterado não deve ser analisado isoladamente, mas junto a outros quesitos, como os fatores de risco
O que pode ser um eletrocardiograma alterado?
Como mencionei na abertura do artigo, um resultado alterado pode indicar diversas doenças, a exemplo de:
- Infarto agudo do miocárdio (IAM)
- Angina de peito
- Fibrilação ventricular
- Fibrilação atrial
- Aterosclerose
- Bradicardia e taquicardia
- Hipertrofia ventricular esquerda (HVE) e direita (HVD)
- Valvulopatias como a insuficiência mitral
- Anomalias congênitas
- Cardiomiopatia
- Bloqueios de ramo
- Miocardite
- Pericardite.
Contudo, nem sempre as alterações no ECG são patológicas, o que requer a análise de outros fatores para confirmar uma hipótese diagnóstica.
Descrevo, a seguir, exemplos de alterações que podem ser normais para alguns pacientes e sinalizar doenças em outros contextos.
Distúrbio de condução pelo ramo direito do feixe de His
O mais comum é que esse achado reflita um exame ECG no qual os eletrodos precordiais não foram colocados corretamente.
Mas, caso o exame tenha sido feito adequadamente, o distúrbio no feixe de His pode ser uma anomalia congênita sem implicação clínica, ou uma patologia conhecida como CIA (comunicação interatrial).
Bloqueio divisional ântero-superior esquerdo do feixe de His
Aqui, temos mais uma possível anomalia congênita que nem sempre afeta o funcionamento do coração.

Entretanto, esse tipo de bloqueio pode significar desgaste do sistema elétrico dos ventrículos, resultado de quadros de hipertensão arterial não tratada.
BAV de primeiro grau
O bloqueio atrioventricular de primeiro grau também está presente em uma parcela saudável da população, sendo um marcador de envelhecimento do sistema cardiovascular.
A condição se torna um problema quando combinada a outras modalidades de bloqueio, como o bloqueio divisional ântero-superior esquerdo do feixe de His ou o bloqueio de ramo direito.
Nesses casos, o paciente necessita de uso de marcapasso cardíaco permanente.
Sobrecarga de cavidades cardíacas
Essa condição é reversível quando presente em atletas que exageram nos exercícios e acabam hipertrofiando o músculo cardíaco.
Porém, representa perigo em pacientes hipertensos que não tratam adequadamente a pressão, ou em indivíduos com doenças nas válvulas cardíacas.
Taquicardia sinusal
Situação comum em que o batimento do coração supera os 100 bpm.
Pode ocorrer em pessoas saudáveis que estejam, por exemplo, ansiosas devido ao ECG ou tenham ingerido substâncias estimulantes pouco antes do exame.
Por outro lado, pode representar um coração em sofrimento, seja por isquemia, enfraquecimento, disfunção de uma válvula cardíaca, entre outras condições.
Zona inativa
Esse é o termo técnico usado para descrever as células que sofreram necrose após um infarto prévio.
A zona inativa pode acometer diferentes paredes do coração, como septal, anterior, lateral, inferior.

É preciso identificar anormalidades na FC ou no traçado do ECG para diferenciar um cenário normal de um alterado
O que fazer em caso de ECG alterado?
O ECG alterado não deve ser analisado isoladamente, e, sim, junto a outros quesitos como os fatores de risco para doenças cardiovasculares e o histórico do paciente.
Portadores de comorbidades como hipertensão, diabetes e obesidade têm maior risco para desenvolver essas patologias, assim como aqueles em idade avançada, que façam uso de tabaco e álcool ou tenham história de infarto anterior.
Diante da confirmação de uma doença, cabe ao cardiologista responsável apresentar os possíveis tratamentos conforme o agravo e sua intensidade.
De qualquer forma, deve ser indicado um acompanhamento junto ao especialista, a fim de prevenir complicações como o infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca.
Possíveis problemas nos resultados do eletrocardiograma
Diante de um eletrocardiograma alterado, devemos considerar várias possibilidades antes de aceitarmos o resultado como definitivo.
Para que se tenha confiança no resultado do exame, é importante se certificar de que os problemas a seguir não ocorreram.
O eletrocardiograma alterado mostrou muita interferência?
A falta de preparo adequado da pele implica em uma captação ineficiente da atividade elétrica cardíaca.
Nesse cenário, o traçado do eletrocardiograma ficará com a linha que mostra os batimentos irregular, cheia de artefatos que prejudicam a análise do exame pelo cardiologista.
O ECG alterado foi interpretado por um cardiologista?
Vale lembrar que existem vários aparelhos de eletrocardiograma no mercado, incluindo opções de ECG com laudo impresso logo após a conclusão do procedimento.

Entretanto, essa análise automática não substitui a interpretação feita por um cardiologista qualificado, que é muito mais confiável e atende às exigências do Conselho Federal de Medicina (CFM).
O eletrocardiograma mostrou distúrbio de condução, isso é grave?
Quando o preparo do exame não é adequado, ou seja, os eletrodos não são colocados na posição correta durante o exame, existe a tendência de aparecerem alterações que aparentam ser distúrbios de condução.
Portanto, é essencial que o ECG seja realizado por um serviço de cardiologia idôneo, onde atuam profissionais capacitados para conduzir o procedimento corretamente.
Passo a passo para aplicação correta do eletrocardiograma
Confira um tutorial para colocar os eletrodos do ECG de maneira adequada na figura e vídeo abaixo.
Em seguida, trago detalhes que fazem a diferença na qualidade dos registros do exame.

Posição correta dos eletrodos de ECG no homem
Vídeo demonstrativo da posição correta dos eletrodos de ECG:
O primeiro passo para um diagnóstico correto é a segurança de que o exame de eletrocardiograma foi executado de forma correta, considerando os aspectos a seguir:
1. Preparo adequado da pele
É fundamental que o técnico de enfermagem utilize um algodão com álcool para remover a gordura da pele do paciente antes do exame.
2. Retirada dos pelos do tórax
Muitos homens com excesso de pelos na região torácica podem apresentar ECG alterado simplesmente pela falta de aderência dos eletrodos nessa área.
Então, durante o preparo para o exame, será preciso remover os pelos nos pontos onde será aplicado o gel condutor de eletricidade e, em seguida, os eletrodos precordiais.
3. Conhecer a anatomia do tórax para colocação correta dos eletrodos
Comentei, anteriormente, a necessidade de que o médico ou técnico de enfermagem responsável pelo ECG seja devidamente treinado.
Caso contrário, ficará difícil colocar os eletrodos e manusear o eletrocardiógrafo de forma adequada.
4. Entender o básico de um traçado de ECG
Nos cursos para realizar ECG, são mostrados exemplos de resultado normal e alterado para que o profissional de saúde saiba diferenciar essas duas condições.
Para tanto, é preciso conhecer o traçado padrão do eletrocardiograma.
5. Ter um responsável médico no serviço para acompanhar a qualidade dos exames
Como o eletrocardiograma é simples, o CFM permite que seja feito por um técnico de enfermagem ou médico generalista.
Todavia, o serviço precisa ter a supervisão de um cardiologista, a fim de garantir que os exames atendam aos padrões de qualidade necessários para uma interpretação fidedigna.
Não temos aparelho de eletrocardiograma, como podemos adquirir?
É comum pensar somente nos dois principais caminhos para adquirir o eletrocardiógrafo: compra ou aluguel.
Mas ambas as opções podem pesar no orçamento, seja com grande impacto imediato, em caso de compra à vista, ou adicional ao custo fixo do seu negócio devido a parcelas ou mensalidade do aluguel.
A boa notícia é que dá para economizar com o aparelho de ECG, escolhendo o comodato de equipamentos médicos.
Essa é uma solução desenvolvida por empresas de telemedicina que possibilita o uso do eletrocardiógrafo a custo zero quando o cliente contrata um pacote de laudos online.

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Telemedicina como solução para o laudo de eletrocardiograma
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Conclusão
No artigo, descrevi as situações mais frequentes que motivam um eletrocardiograma alterado.
Foi possível verificar que a qualidade do exame reflete muito nas alterações e, com isso, nem todo resultado é considerado doença.
Também mostrei como é possível utilizar a telemedicina para receber treinamento e suporte na realização de exames de qualidade, reduzindo custos e o tempo de entrega dos laudos.
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