Cardiomiopatia: o que é, tipos, causas, sintomas e tratamento

Por Dr. José Aldair Morsch, 31 de março de 2023
Cardiomiopatia

A cardiomiopatia é uma doença primária, geralmente sem relação com outras patologias de fundo.

Algumas vezes, é possível identificar uma origem genética, como na cardiomiopatia hipertrófica (CMH).

Essa forma afeta 0,2% da população mundial adulta, segundo estimativas de sociedades médicas, aumentando o risco de insuficiência cardíaca e morte súbita.

Daí a importância de que médicos de todas as áreas conheçam os principais sintomas, tipos e procedimentos que dão suporte à identificação dessa patologia.

Neste texto, aprofundo informações sobre a cardiomiopatia, tratamentos disponíveis e como a telemedicina auxilia no diagnóstico da doença.

O que é cardiomiopatia?

Cardiomiopatia é uma doença de origem primária que afeta a anatomia e funções cardíacas.

Geralmente, há alterações no tamanho e estrutura das paredes das câmaras cardíacas inferiores, levando à disfunção dos ventrículos e/ou válvulas cardíacas.

Outra consequência frequente é a insuficiência cardíaca, uma vez que as anomalias prejudicam os movimentos do miocárdio, impedindo o bombeamento de sangue suficiente para a nutrição das células do organismo.

De acordo com consensos da Organização Mundial da Saúde e Federação e Sociedade Internacional de Cardiologia, a cardiomiopatia é definida como:

“A doença do miocárdio associada com disfunção cardíaca, podendo ser classificada nas formas: dilatada, hipertrófica, restritiva e arritmogênica do ventrículo direito”.

Quais os sintomas da cardiomiopatia?

As manifestações clínicas podem variar conforme o tipo de cardiomiopatia.

É possível encontrar até mesmo casos assintomáticos.

Essas situações representam grave ameaça à vida do paciente, que pode ser vítima de eventos críticos como a morte súbita.

Outras versões podem ser diagnosticadas a partir de sintomas como:

Lembrando que a observação dos sintomas é parte importante do diagnóstico médico.

Quais as causas da cardiomiopatia?

Certos casos não têm origem detectável, correspondendo à cardiomiopatia idiopática.

Nos demais, a causa afeta diretamente o coração, sem ligação com outras patologias isquêmicas, por exemplo.

No entanto, a origem também depende do tipo de cardiomiopatia.

Veja a seguir uma lista com possíveis fatores por trás das principais modalidades:

  • Cardiomiopatia dilatada: infecções por vírus, como o coxsackie B, ou protozoários, como na doença de Chagas, arritmias, diabetes, doenças da tireoide, abuso de álcool e outras drogas, patologias que afetam o sistema conjuntivo, como a artrite reumatoide
  • Cardiomiopatia hipertrófica: predominantemente, causas genéticas
  • Cardiomiopatia restritiva: forma rara da patologia, pode ser idiopática ou ter associação com doenças como amiloidose, doença endomiocárdica com ou sem eosinofilia, sarcoidose, hemocromatose.

A seguir, esclareço sobre os tipos de cardiomiopatia.

Tipos de cardiomiopatia

Mencionei no tópico acima as três formas mais comuns de cardiomiopatia, agrupadas de acordo com as características.

Agora, trago detalhes sobre esses e outros tipos da doença.

Cardiomiopatia hipertrófica

A cardiomiopatia hipertrófica é a forma mais comum da doença, apresentando caráter genético autossômico dominante.

Segundo o artigo de revisão publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC),

“A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) é uma doença de causa geneticamente determinada que acarreta alterações estruturais na conformação cardíaca. A principal característica anatômica dessa doença é a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) com várias morfologias na ausência de outras condições que justifiquem esse achado.”

Neste estudo, são comentadas quatro alterações:

  • Tipo I: alteração se localiza no gene situado no locus 1 do braço longo do cromossoma 14 (14 q1), produzindo alteração na cadeia pesada da miosina B cardíaca – é o tipo mais frequente, respondendo por cerca de 50% dos casos de CMH
  • Tipo II: alteração localizada no cromossomo 1 (1q3) modificando a troponina T
  • Tipo III: decorre de alteração no cromossomo 15 (15 q2) e na tropomiosina
  • Tipo IV: mutação no cromossomo 11, modificando a miosina cardíaca ligada à proteína C 65.

Todas elas são capazes de provocar a mutação de genes que codificam as proteínas do sarcômero cardíaco.

Cardiomiopatia dilatada

Essa nomenclatura reúne um conjunto de doenças cardíacas de origem primária que levam à dilatação dos ventrículos devido ao desgaste nas células dessas câmaras cardíacas.

Por consequência, há depressão da função sistólica (hipossistolia), acarretando diminuição do débito cardíaco e da fração de ejeção.

As mudanças anatômicas podem ou não desencadear quadros de insuficiência cardíaca.

A cardiomiopatia dilatada é mais frequente entre pacientes do sexo masculino entre os 20 e 60 anos, embora possa acometer pessoas de todas as idades.

Muitas vezes, seu diagnóstico é diferencial, confirmado após o afastamento de patologias mais frequentes como a doença arterial coronariana (DAC), a hipertensão arterial sistêmica (HAS), lesões orovalvares e outras doenças congênitas.

Também tem subdivisões que consideram causas externas, em especial a cardiomiopatia viral.

O mecanismo de ação dos vírus é explicado no já citado estudo da SBC sobre Cardiomiopatias:

“Ocasionam insuficiência miocárdica por dois mecanismos: ou por seu efeito citotóxico direto (neste caso detectamos partículas do vírus nas biópsias endomiocárdicas [BEM]), ou por resposta imunológica secundária desencadeada por múltiplos mecanismos, como: macrófagos, linfócitos T, auto-anticorpos contra componentes celulares (miosina, membrana e canais), citoquinas (interleucina 1, fator necrose tumoral), com o encontro de anticorpos específicos contra estruturas cardíacas, reações citotóxicas humorais e celulares, presença de infiltrado celular com grande expressão de antígenos de histocompatibilidade e moléculas de adesão (neste caso não é necessário o encontro do vírus no tecido à época do diagnóstico).”

Miocardiopatia

A doença pode levar à insuficiência cardíaca, uma vez que as anomalias prejudicam os movimentos do miocárdio

Cardiomiopatia restritiva

Na cardiomiopatia restritiva, as paredes ventriculares se tornam rígidas e, por vezes, espessas.

Isso prejudica sua capacidade de expansão quando recebem sangue.

O processo por trás dessa condição pode resultar da substituição gradual de tecido saudável por tecido cicatricial ou do depósito de substâncias (como proteínas e ferro) sobre as paredes cardíacas.

Um diagnóstico diferencial relevante é feito entre cardiomiopatia restritiva e pericardite constritiva (PC), que considera os seguintes dados:

  • Achados clínicos: presença de 3ª bulha com sopro de insuficiência mitral e ou tricúspide na CMR e do ruído protodiastólico de Lian na PC
  • Achado hemodinâmico: equalização das pressões diastólicas finais do VD/VE e > 5mmHg na PC e >5 mmHg na CMR
  • Ecocardiograma revela espessamento pericárdico na PC
  • Tomografia computadorizada/ressonância nuclear magnética mostram pericárdio normal na CMR e espessado na PC
  • Biópsia endomiocárdica revela alterações endomiocárdicas na CMR e miocárdio normal na PC.

Observar tais parâmetros é fundamental para o diagnóstico clínico.

Cardiomiopatia arritmogênica

Normalmente, afeta o ventrículo direito, sendo definida pela SBC como

“A progressiva substituição do miocárdio do VD por tecido fibrogorduroso, inicialmente, restrito a áreas (póstero-inferior, infundíbulo e região apical) e, posteriormente, podendo se estender ao VE, poupando, no entanto, o septo interventricular (SIV)”.

Trata-se de patologia familiar com herança autossômica dominante, cursando com arritmias (extrassístoles do VD taquicardia ventricular recorrente) e morte súbita, em especial em pacientes jovens com bloqueio completo ou incompleto do ramo direito, e com inversão das ondas T nas derivações precordiais direitas.

Cardiomiopatia alcoólica

Pode ser classificada como um tipo de cardiomiopatia restritiva, uma vez que prejudica a capacidade de dilatação e contração de um ou ambos os ventrículos.

No entanto, o endurecimento das paredes cardíacas, aqui, está relacionado ao consumo elevado de álcool, que ultrapassa 90g por dia ao longo de pelo menos cinco anos.

Quando outras causas não são identificadas, o abuso de bebidas alcoólicas é um fator a se considerar diante da fração de ejeção reduzida, abaixo dos 40%.

Cardiomiopatia por estresse

Conforme este artigo sobre cardiomiopatia de estresse e doença coronária:

“A cardiomiopatia induzida por estresse é uma síndrome caracterizada por dor torácica anginosa, habitualmente iniciada no contexto de estresse emocional ou físico intenso, associada a alterações eletrocardiográficas e enzimáticas que mimetizam o infarto agudo do miocárdio, e disfunção transitória do segmento apical do ventrículo esquerdo ou, menos frequentemente, do segmento médio”.

Essa forma da patologia também é conhecida como cardiomiopatia de takotsubo, pois o formato de balão que o ventrículo esquerdo assume lembra a armadilha para polvos utilizada no Japão – o takotsubo.

Por ter sintomas semelhantes aos de um IAM, é necessário realizar uma angiografia coronária para confirmar essa cardiomiopatia.

Quatro critérios contribuem para o diagnóstico:

  1. Anomalia transitória da contratilidade segmentar, que se estende além da distribuição de um vaso epicárdico, habitualmente hipocinesia ou acinesia transitória do segmento médio do ventrículo esquerdo, com ou sem envolvimento apical (em geral com redução da fração de ejeção para valores entre 20% e 49%) e não raro associada a um fator estressante
  2. Ausência de doença arterial coronária angiográfica significativa ou evidência angiográfica de ruptura de placa
  3. Alteração eletrocardiográfica de novo (elevação do segmento ST, que é a mais frequente, localizada na parede anterior em cerca de 80% dos casos, e/ou inversão da onda T) ou elevação moderada da troponina cardíaca (que frequentemente não se correlaciona com a gravidade do comprometimento hemodinâmico)
  4. Ausência de feocromocitoma ou miocardite.

Na sequência deste artigo, esclareço sobre o tratamento para cardiomiopatias.

Tipos de cardiomiopatia

O tratamento depende do tipo de cardiomiopatia e quais os prejuízos para as atividades de rotina do paciente

Qual o tratamento para a cardiomiopatia?

O tratamento depende do tipo de cardiomiopatia e quais os prejuízos para as atividades de rotina do paciente.

Mencionei alguns dos exames que auxiliam no diagnóstico acima, mas normalmente o processo inclui:

  • Anamnese, que pode, ou não, ter relato de sintomas
  • Exame físico, quando podem ser verificados os seguintes achados: impulso cardíaco sustentado (com área de contato aumentada, mas sem desvio lateral), quarta bulha (que traduz a hipertrofia e a disfunção diastólica), sopros sistólicos (quando há gradiente na via de saída do VE, em crescendo decrescendo, no foco mitral e borda esternal média, que é atenuado pela manobra de handgrip e reforçado pela manobra de Valsalva)
  • Eletrocardiograma alterado, com sinais de hipertrofia do VE
  • Ecocardiograma mostrando hipertrofia septal assimétrica,movimento sistólico anterior da valva mitral (SAM, em inglês), obstrução dinâmica na via de saída do VE – as dimensões do VE e de sua cavidade são tipicamente normais ou reduzidas.

Partindo do diagnóstico correto, o tratamento pode combinar medicamentos, uso de marcapasso cardíaco ou até transplante, em casos graves.

Furosemida e outros diuréticos são eficazes para reverter os efeitos da insuficiência cardíaca, enquanto betabloqueadores auxiliam no tratamento de arritmias.

Pacientes que sofrem com ritmos fatais como a fibrilação ventricular, ou outras taquiarritmias ventriculares, podem se beneficiar com a implantação de um cardioversor desfibrilador Implantável (CDI).

Esse dispositivo controla os batimentos, normalizando o ritmo através de choques de desfibrilação.

Cardiomiopatia tem cura?

A doença não tem cura, mas há tratamento.

Também há um melhor prognóstico quando a cardiomiopatia é diagnosticada inicialmente, evitando agravos e eventos críticos como o AVC hemorrágico e a morte súbita.

Para tanto, é essencial que os pacientes sejam acompanhados regularmente por meio de ferramentas como o checkup cardiológico.

A manutenção de hábitos saudáveis também auxilia na prevenção de quadros graves.

O papel da telemedicina em cardiomiopatias

A telemedicina oferece diversos serviços em cardiologia, disponíveis em poucos cliques para otimizar o atendimento na sua clínica ou hospital.

Exames como o ECG, ecocardiograma, tomografia e ressonância magnética podem ser interpretados a distância por cardiologistas qualificados, conferindo agilidade ao diagnóstico da cardiomiopatia.

Basta realizar o exame normalmente e compartilhar os registros na plataforma de Telemedicina Morsch – um sistema robusto hospedado na nuvem (internet).

Isso significa que pode ser acessado a partir de qualquer dispositivo conectado à internet, via login e senha.

Em seguida, um de nossos especialistas vai avaliar os achados à luz da suspeita clínica e histórico do paciente.

O médico anota suas conclusões no laudo online, assinado digitalmente para garantir a confiabilidade e validade.

Assim, os resultados são entregues em minutos.

Emergências e urgências são analisadas em tempo real através de videoconferência, incluindo opções de segunda opinião médica para discutir casos complexos.

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Conclusão

Existem diferentes tipos de cardiomiopatia, mas todos eles afetam diretamente o coração e os movimentos necessários para seu bom funcionamento.

Nesse cenário, insuficiência cardíaca, arritmias e até morte súbita são manifestações da patologia que merecem uma investigação aprofundada.

Comentei ao longo deste texto as potenciais causas, sintomas e tratamento, com destaque para exames que dão suporte ao diagnóstico.

Esses e outros procedimentos podem ser laudados a distância via Telemedicina Morsch.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin