Análise ergonômica do trabalho (AET): o que é, para que serve e como fazer

Por Dr. José Aldair Morsch, 26 de setembro de 2024
Análise ergonômica do trabalho

Você sabe como fazer uma análise ergonômica do trabalho?

Mais que um simples documento, a AET é um instrumento de promoção da segurança e saúde do trabalho.

Ela contempla a avaliação das condições laborais, considerando seus aspectos psicofisiológicos para mitigar riscos ergonômicos e, por consequência, reduzir lesões e doenças ocupacionais.

Falo mais sobre o tema ao longo deste artigo, incluindo detalhes para fazer uma AET de qualidade.

Desde já, aproveito para lembrar que esse e outros arquivos de SST podem ser emitidos e assinados via telemedicina ocupacional.

O que é análise ergonômica do trabalho (AET)?

Análise ergonômica do trabalho é um estudo que visa adequar as condições laborais às limitações e capacidades dos colaboradores.

Elaborada com base em boas práticas de ergonomia no trabalho, a AET deve ser registrada em um relatório com diferentes partes, como mostro em detalhes nos próximos tópicos.

Por enquanto, vale ressaltar que o documento está previsto na Norma Regulamentadora 17 do Ministério do Trabalho e Emprego.

Ela afirma o seguinte:

“As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário dos postos de trabalho, ao trabalho com máquinas, equipamentos e ferramentas manuais, às condições de conforto no ambiente de trabalho e à própria organização do trabalho”.

Para contemplar esses aspectos, a NR-17 determina que todas as empresas realizem a avaliação ergonômica preliminar.

Como o nome sugere, essa é uma avaliação preliminar, que deve ser aprofundada para a atualização dos riscos ocupacionais identificados e das medidas de prevenção.

É aí que entra a AET, como um tipo de extensão do estudo ergonômico preliminar no ambiente laboral.

Para que serve a análise ergonômica do trabalho?

Talvez a finalidade mais evidente da AET seja a obediência à legislação vigente, mas ela vai além.

Afinal, serve como instrumento de promoção da saúde ocupacional.

Ao analisar as características particulares dos funcionários, é possível fazer adequações que previnem doenças ocupacionais, acidentes e ainda elevam a produtividade.

Um exemplo está na adaptação do mobiliário para evitar dores nas costas, pescoço, mãos e braços, facilitando a realização das tarefas com maior destreza.

No longo prazo, as medidas ergonômicas poderão prevenir as LER/DORT e impactos como afastamentos, absenteísmo, multas e processos trabalhistas.

Já a redução do ritmo de trabalho contribui para proteger a saúde mental do empregado.

Isso diminui o estresse e, por vezes, evita quadros de ansiedade e burnout.

Como funciona a análise ergonômica do trabalho?

Mencionei, acima, que a AET funciona como um aprofundamento da avaliação ergonômica preliminar (AEP).

Significa que o estudo deve contemplar todos os aspectos psicofisiológicos do trabalho, que devem ser adaptados às características de cada empregado para evitar seu adoecimento físico e mental.

Naturalmente, os pontos analisados serão diferentes conforme os riscos ergonômicos identificados, entretanto, existe uma estrutura básica para a AET.

De acordo com o item 17.3.3 da NR-17, o estudo deve abordar as condições de trabalho, incluindo as seguintes etapas:

  • Análise da demanda e, quando aplicável, reformulação do problema
  • Análise do funcionamento da organização, dos processos, das situações de trabalho e da atividade
  • Descrição e justificativa para definição de métodos, técnicas e ferramentas adequados para a análise e sua aplicação, não estando adstrita à utilização de métodos, técnicas e ferramentas específicos
  • Estabelecimento de diagnóstico
  • Recomendações para as situações de trabalho analisadas
  • Restituição dos resultados, validação e revisão das intervenções efetuadas, quando necessária, com a participação dos trabalhadores.

Ainda segundo a norma, a identificação de perigos, avaliação de riscos e recomendações da análise ergonômica do trabalho devem integrar o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos ).

Essa é a principal iniciativa para o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO).

O relatório da AET deve permanecer disponível para a empresa pelo prazo de 20 anos.

Quais empresas precisam fazer a análise ergonômica do trabalho?

Empregadores que tenham trabalhadores celetistas, com carteira assinada, devem elaborar a AET.

Há algumas exceções descritas no item 17.3.4 da NR-17, que afirma:

“As Microempresas – ME e Empresas de Pequeno Porte – EPP enquadradas como graus de risco 1 e 2 e o Microempreendedor Individual – MEI não são obrigados a elaborar a AET, mas devem atender todos os demais requisitos estabelecidos nesta NR, quando aplicáveis.”

Vale ressaltar que mesmo as ME e EPP devem fazer a análise quando for:

  • Observada a necessidade de uma avaliação mais aprofundada da situação de trabalho
  • Identificadas inadequações ou insuficiência das ações adotadas
  • Sugerida pelo acompanhamento de saúde dos trabalhadores, nos termos do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO
  • Indicada causa relacionada às condições de trabalho na análise de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, nos termos do PGR.

A seguir, esclareço quem é o responsável pela AET.

EAT

Empregadores que tenham trabalhadores celetistas, com carteira assinada, devem elaborar a AET

Quem pode fazer a análise ergonômica do trabalho?

A legislação trabalhista não determina de forma clara qual profissional pode se responsabilizar pela AET.

Contudo, a NR-17 esclarece, no item 17.3.1.1, que:

“A avaliação ergonômica preliminar das situações de trabalho pode ser realizada por meio de abordagens qualitativas, semiquantitativas, quantitativas ou combinação dessas, dependendo do risco e dos requisitos legais, a fim de identificar os perigos e produzir informações para o planejamento das medidas de prevenção necessárias”.

O relatório também deve constar no plano de ação do PGR , o que pede que seja elaborado por profissionais com conhecimentos sobre ergonomia.

Recentemente, a profissão ergonomista foi regulamentada no Brasil, constando na classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho, sob o código 2149-50.

Profissionais graduados em diferentes cursos podem seguir essa carreira por meio de cursos de especialização em ergonomia, incluindo fisioterapeutas do trabalho, médicos do trabalho e engenheiros de segurança.

O ergonomista é responsável por atividades como:

  • Elaborar projetos e estudos ergonômicos (o que engloba a AET) para diagnósticos, melhorias em processos, produtos, prevenção e promoção ocupacional
  • Coordenar equipes e atividades de trabalho e gerenciar exposições a fatores ocupacionais de risco à saúde e segurança no trabalho e do meio ambiente
  • Emissão de documentação técnica.

No próximo tópico, falo das etapas para fazer a AET.

Como fazer a análise ergonômica do trabalho?

Acompanhe agora os 5 principais passos para elaborar a AET, tomando como referência a própria NR-17.

1. Análise da demanda e perfil dos colaboradores

Como mencionei antes, a primeira etapa se refere à análise preliminar, a fim de tomar ciência sobre a natureza do trabalho desenvolvido pela empresa, porte e grau de risco.

Comece identificando a instituição, apontando a quantidade de colaboradores e separando-os em grupos conforme as tarefas laborais executadas.

Essa ação vai auxiliar nas etapas seguintes.

Também se deve traçar o perfil dos funcionários a partir de sua idade, estilo de vida, histórico de saúde, etc.

2. Avaliação de fatores organizacionais

Na fase seguinte, cabe ao ergonomista fazer uma análise geral dos fatores organizacionais, a fim de identificar:

  • Tipos de tarefas e riscos envolvidos
  • Clima organizacional, que sofre grande influência dos relacionamentos interpessoais
  • Ritmo e complexidade das atividades, com atenção a problemas como o cansaço mental
  • Turnos, escalas e outros aspectos da jornada laboral
  • Necessidade de esforço físico.

Então, passamos aos aspectos práticos da AET.

3. Escolha e detalhamento de métodos de análise dos riscos 

Em seguida, vem a fase de identificação e análise de riscos, a exemplo de:

  • Esforço físico e levantamento de peso
  • Postura inadequada
  • Conforto térmico
  • Luminância
  • Ruído ocupacional
  • Monotonia e repetitividade
  • Imposição de rotina intensa
  • Jornada de trabalho prolongada
  • Estresse
  • Trabalho noturno.

É preciso descrever as técnicas e ferramentas empregadas para avaliar

4. Recomendações para as situações de trabalho analisadas

Com o resultado das avaliações qualitativas e/ou quantitativas em mãos, é hora de sugerir as adequações que devem ser realizadas para melhorar as condições laborais.

A postura inadequada, por exemplo, pode ser corrigida a partir de adaptações no mobiliário e nos movimentos, além do reforço com medidas educativas como a ginástica laboral.

Já a exposição ocupacional ao ruído pode ser mitigada afastando o trabalhador da fonte de ruído, como uma máquina, e/ou com o uso de EPI (equipamento de proteção individual) como o protetor auditivo.

Rodízio de funções e substituição de tecnologias obsoletas são outras ideias que ajudam a promover a saúde corporativa.

5. Monitoramento e readequação das intervenções realizadas

O ideal é que a AET seja revista periodicamente, sempre que houver mudanças significativas na rotina ou indicadores de desempenho.

Ou seja, situações como a expansão do negócio, alteração no posto laboral ou tarefas, inserção de novos produtos, serviços ou processos produtivos, acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e aumento de dias de afastamento do trabalho. 

Como o relatório ergonômico faz parte do PGR, vale aproveitar as revisões do programa para revisitar a AET e, se necessário, fazer novas adequações.

Análise ergonômica ocupacional

A AET é uma avaliação preliminar, que deve ser aprofundada para a atualização dos riscos ocupacionais

Exemplos de riscos e agentes ergonômicos

Ao longo do texto, mencionei alguns dos riscos que devem ser estudados e mitigados com o suporte da AET.

Um dos mais conhecidos são os movimentos repetitivos, capazes de desencadear doenças como distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) e incapacidade para o trabalho.

Para prevenir esses e outros agravos à saúde, o relatório da AET precisa contemplar a adequação do mobiliário, que deve possuir regulagens para adaptação às características antropométricas, além de apoios como o descanso para os pés e para os braços.

E também ações referentes à organização do trabalho, garantindo, por exemplo, pausas e alongamentos aos colaboradores.

O trabalho com transporte de cargas deve ser reduzido ao mínimo possível, contando com ferramentas de automação e processos que diminuam o peso e percurso percorrido pelo empregado.

As atividades não devem impor esforço físico incompatível com a capacidade do trabalhador, que deve ter sua saúde monitorada continuamente.

Análise ergonômica do trabalho e telemedicina

Tanto a AET quanto outros laudos de SST devem ser armazenados em local seguro, ficando à disposição para consultas pela empresa, trabalhadores e órgãos governamentais.

Eles ainda precisam ser assinados por ergonomistas e outros especialistas, a fim de garantir a eficácia das ações de SST propostas.

A boa notícia é que a telemedicina oferece soluções inteligentes para as demandas de médicos do trabalho e profissionais do SESMT.

Sistemas modernos como o da Telemedicina Morsch permitem a elaboração, arquivamento e assinatura digital dos documentos de saúde ocupacional de um jeito simples.

Os laudos ficam salvos na nuvem (internet), sob a guarda de mecanismos como senhas e criptografia.

Basta acessar a plataforma e utilizar os serviços para:

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Conclusão

Ao final deste artigo, você conhece as principais etapas e finalidade da análise ergonômica do trabalho.

Esse relatório é essencial para compor documentos como o PGR e o PCMSO, que podem ser assinados online via telemedicina.

Se gostou deste conteúdo, confira mais novidades sobre medicina ocupacional em nosso blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin