Dessaturação de oxigênio: causas, sintomas e telemonitoramento de pacientes

Por Dr. José Aldair Morsch, 19 de agosto de 2022
Dessaturação

A dessaturação de oxigênio é um quadro comumente relacionado a pacientes em estado crítico.

Nesses casos, a queda na saturação de O2 no sangue tende a surgir de forma abrupta, provocando sintomas como dispneia e síncope.

Para reverter o quadro, a equipe médica deve agir rapidamente, evitando complicações como o colapso dos alvéolos pulmonares.

Neste artigo, apresento as principais características, sintomas e possíveis causas da hipoxemia, inclusive quando relacionada ao sono.

Você ainda verá um bônus com soluções de telemedicina como suporte ao monitoramento de doenças capazes de provocar dessaturação.

Dessaturação de oxigênio: o que é?

Dessaturação é uma condição resultante da queda da taxa de oxigênio sanguíneo para níveis abaixo do normal.

Também conhecida como hipoxemia, é caracterizada por uma saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente, considerando uma amostra de sangue de indivíduo saudável.

O quadro é considerado crítico quando o nível de saturação fica abaixo de 85%.

Lembrando que o ideal é que a saturação de oxigênio fique próxima a 100%.

No entanto, em pacientes com distúrbios respiratórios, como asma e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), a dessaturação faz referência a valores menores que 90%.

Isso porque, nesses casos, o doente possui certo nível de comprometimento pulmonar, tendo uma taxa entre 90 e 95% considerada normal.

Em qualquer das situações, a dessaturação requer socorro imediato, a fim de prevenir a morte e outros eventos graves, a exemplo de convulsões.

Geralmente, são necessários cuidados intensivos como a intubação e suplementação de oxigênio para corrigir o nível desse gás no sangue.

Quais são as causas de dessaturação de oxigênio?

Uma série de problemas pode desencadear a dessaturação de oxigênio, que pode ser uma condição temporária ou mais grave.

Quadros passageiros costumam ser provocados por baixa disponibilidade de O2 no ambiente, que é comum em locais de altitude elevada, por exemplo.

Assim, a hipoxemia não será fruto de distúrbios no organismo, mas da falta de oxigênio suficiente para suprir a demanda por energia das células.

Outra causa para a dessaturação passageira é a atividade física intensa, que eleva a demanda por O2.

Quando essa demanda não é suprida, alguns atletas de alta performance experimentam a Hipoxemia arterial induzida pelo exercício (HIE).

Contudo, as principais razões para a queda da saturação remetem a doenças do sistema respiratório e circulatório, além de desequilíbrio na presença de nutrientes essenciais ao sangue – como o ferro.

Geralmente, as patologias prejudicam a passagem do O2 dos pulmões para o sangue, que é feita através das pequenas bolsas pulmonares chamadas alvéolos.

Quando essas estruturas ficam repletas de muco, por exemplo, seu desempenho é comprometido, diminuindo o envio de oxigênio para os vasos capilares.

A seguir, listo algumas doenças que podem causar a dessaturação de oxigênio:

A seguir, esclareço como a dessaturação se manifesta.

Sintomas de dessaturação de oxigênio

O principal sintoma da dessaturação de oxigênio é a dispneia ou dificuldade respiratória, que indica problemas na troca gasosa indispensável à respiração.

Nesse contexto, a respiração pode se tornar rápida e entrecortada, sendo acompanhada, ou não, por sibilos – característicos da asma.

Casos graves ou que acometem doentes críticos também costumam ser evidenciados pela cianose, dando uma cor azulada aos lábios e/ou pontas dos dedos.

Além de crise convulsiva e síncope (perda da consciência) devido à restrição na oferta de oxigênio.

Outro sinal de alerta para as equipes de saúde é o aumento da  frequência respiratória, com FR maior que 25 movimentos respiratórios por minuto.

Por consequência, o paciente pode experimentar arritmias, dor precordial, tonturas e dor de cabeça.

Indivíduos que possuem histórico de doenças respiratórias e cardíacas também podem apresentar fala arrastada e confusão mental, o que pede socorro imediato.

Quanto mais intensos os sintomas, maiores as chances de progressão rápida da hipoxemia, levando à queda brusca no nível de oxigênio e ao comprometimento das funções vitais do paciente.

Dessaturação

As principais razões para a queda da saturação remetem a doenças do sistema respiratório e circulatório

Avaliação da dessaturação de oxigênio

Como mencionei antes, a dessaturação corresponde a um indicativo de diversas patologias, o que requer uma investigação para verificar sua causa.

Obviamente, quadros críticos necessitam de socorro imediato para que sejam revertidos.

Primeiro, é preciso estabilizar o paciente com o auxílio do tratamento adequado, como explico no próximo tópico.

No entanto, a avaliação é importante desde que a hipoxemia é constatada.

Geralmente, os problemas com a oxigenação do sangue aparecem no exame de oximetria de pulso, com o dispositivo colocado no dedo do paciente.

Esse é um procedimento simples que permite o monitoramento da saturação de O2 continuamente, por meio de um sensor de luz que capta dados do sangue que circulam abaixo da pele.

Os índices inferiores ao normal são corroborados pelo surgimento de sintomas sugestivos, principalmente de esforço respiratório.

Doentes que estejam recebendo ventilação mecânica devem ser avaliados com cautela, a fim de descartar problemas com o tubo endotraqueal.

Por vezes, o tubo pode estar deslocado ou obstruído, o que prejudica a eficácia dessa abordagem terapêutica.

A análise dos sons respiratórios também contribui para a identificação de achados que sinalizam insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, pneumotórax hipertensivo etc.

Contudo, a confirmação da causa da dessaturação costuma ter base em exames complementares que permitem avaliar tópicos como imagens dos pulmões, frequência cardíaca e respiratória.

Exames complementares na dessaturação de oxigênio

Além da oximetria de pulso, existem métodos relevantes para constatar não apenas a baixa saturação de oxigênio, como também sua causa.

Começando pela gasometria arterial, realizada por meio de uma amostra de sangue coletado de uma artéria.

A partir da análise do líquido, é possível obter valores como saturação de oxigênio (SatO2) e pressão parcial do gás carbônico (pCO2), junto a dados sobre o pH sanguíneo.

O resultado é obtido com o suporte de análises em laboratório.

Dependendo do quadro clínico do paciente, vale solicitar outros exames laboratoriais, como o RT-PCR para confirmar a suspeita de contaminação pelo coronavírus.

Casos graves de Covid-19 ainda podem ser diagnosticados com o auxílio da tomografia torácica, que revela opacidades semelhantes a vidro fosco provocadas pela doença.

Outras patologias se beneficiam ainda do raio X do tórax, que fornece imagens internas com agilidade para a avaliação de alterações pulmonares.

E do eletrocardiograma (ECG), que possibilita a detecção de taquiarritmias e bradiarritmias ao avaliar a atividade elétrica do miocárdio.

Ambos os exames são rápidos, não invasivos e não provocam dor ao paciente, além de terem poucas contraindicações.

Queda na saturação

A dessaturação corresponde a um indicativo de diversas patologias e requer uma investigação sobre sua causa

Paciente dessaturado: o que fazer?

A conduta diante de um doente dessaturado vai depender de seu histórico de saúde, condição clínica e hipótese diagnóstica.

Oxigenoterapia, intubação e correção do posicionamento do tubo endotraqueal são algumas indicações que podem reverter o quadro, elevando o nível de oxigênio no sangue.

Confira abaixo sugestões que auxiliam na tomada de decisão em diferentes contextos.

Verifique o quadro clínico e a presença de comorbidades

Comece avaliando aspectos gerais do paciente, em especial sua condição clínica.

Porque, como citei antes, há casos de dessaturação decorrente de grandes altitudes, por exemplo.

Enquanto outros sinalizam o surgimento ou agravo de comorbidades, em especial das respiratórias e cardíacas.

Se houver histórico de malformações congênitas, insuficiência cardíaca, DPOC ou sintomas que sugiram infecções como a pneumonia, a hipoxemia tende a evidenciar uma complicação dessas doenças.

Isso é diferente da dessaturação em pessoas saudáveis e sem histórico dessas patologias.

Estabilize o paciente crítico

Uma vez que a saturação esteja abaixo de 85%, o doente deve ser socorrido antes de sofrer uma parada cardiorrespiratória ou outro evento grave.

Considere que esse nível de saturação está colocando a vida do paciente em risco, o que exige sua estabilização antes de qualquer outra terapia.

Avalie a realização do teste da caminhada de seis minutos (TC6)

O TC6 auxilia na avaliação de tolerância ao exercício em pacientes asmáticos ou com outras patologias crônicas respiratórias como a DPOC.

Segundo relata estudo publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia, esses indivíduos podem apresentar um decréscimo acentuado da SpO2 quando submetidos a exercícios submáximos ou mesmo dessaturação em repouso.

Esta é a justificativa:

“A hipoxemia decorrente do esforço pode ser explicada por fatores fisiopatológicos, como limitação ventilatória, desproporção entre a oferta e o consumo de oxigênio, inflamação sistêmica e estresse oxidativo, afetando a oxigenação muscular periférica. A queda significativa nos níveis de oxigênio circulante, resultante do aumento da demanda pelo esforço realizado, pode ocasionar o aumento da pressão arterial, da dispneia e da fadiga muscular, reduzindo assim a tolerância na execução de exercícios submáximos”.

Faça o exame físico

Além de coletar informações sobre a condição clínica e história pregressa, é essencial realizar um exame físico detalhado no paciente.

Principalmente os procedimentos de ausculta, inspeção e palpação, que oferecem detalhes sobre os mecanismos de inspiração e expiração, e do ritmo cardíaco.

Fique atento às veias do pescoço, sibilos, edemas e sons emitidos durante a respiração.

Decida pela conduta adequada

A reversão da hipoxemia pode ser iniciada com procedimentos não invasivos, a exemplo de:

  • Máscara com reservatório de oxigênio não reinalante
  • Ventilação não-invasiva (VNI)
  • Cateter nasal de alto fluxo (CNAF).

Entretanto, casos em que a dessaturação de oxigênio permaneça em níveis críticos podem necessitar de intubação e ventilação mecânica invasiva (VMI) para aumentar a saturação de O2.

Entendendo a dessaturação noturna

Como o nome sugere, a dessaturação noturna é uma condição que aparece durante o período de sono e nem sempre retorna durante o dia.

Ela tem relação com mecanismos fisiológicos do sono, além de surgir frequentemente em indivíduos com dois distúrbios: DPOC e apneia obstrutiva do sono.

Isso faz sentido, pois a DPOC resulta em redução na capacidade respiratória mesmo durante a vigília, enquanto a apneia desencadeia pausas na respiração durante a noite.

Ambos os efeitos são potencializados pelas características do período de repouso, formado por sono REM (Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos) e sono NREM.

No estágio NREM (Non-Rapid Eye Movement), há queda sutil da ventilação alveolar, sem impacto significativo sobre a frequência respiratória.

Já o estágio REM leva ao aumento da FR e irregularidade na respiração, elevando as chances de dessaturação noturna.

Segundo explica o artigo “DPOC – hipoxemia noturna e os distúrbios do sono”:

“Durante os ciclos de movimentos rápidos do sono, ocorrem reduções acentuadas da ventilação, mesmo com frequências respiratórias mais elevadas durante o sono REM. Isso pode explicar por que a dessaturação em pacientes com DPOC é tão acentuada nesta fase do sono. A PaCO2 aumenta cerca de 1 a 2 mmHg em relação ao sono NREM, entretanto este valor é bastante variável ao longo da noite”.

O que causa dessaturação durante o sono?

Além dos mecanismos fisiológicos que acabei de descrever, este outro estudo aponta como principais causas de dessaturação durante o sono:

“A hipoventilação alveolar e as alterações na relação entre ventilação e perfusão. Ademais, a hipoxemia noturna apresenta correlação com parâmetros diurnos, como a saturação arterial de oxigênio (SaO2), a pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e a diminuída resposta ventilatória à hipercapnia”.

Telemedicina no monitoramento de pacientes

Como vimos, doentes com quadros crônicos de doenças cardiovasculares, respiratórias e neuromusculares possuem risco aumentado para a dessaturação de oxigênio.

Isso pede um acompanhamento contínuo por profissionais de saúde, a fim de corrigir os níveis de oxigênio rapidamente, evitando agravos à saúde.

É possível manter essa rotina em setores hospitalares como a UTI.

Entretanto, nem sempre essas pessoas necessitam de internação em um estabelecimento de saúde.

Há casos em que podem receber cuidados no formato home care, por exemplo, ou apenas ser orientadas periodicamente.

Nesse contexto, a telemedicina oferece assistência com comodidade, permitindo que os pacientes sejam cuidados a distância.

Softwares completos como o da Telemedicina Morsch incluem opções de telemonitoramento, realizado por meio da coleta contínua de dados como:

  • Saturação de oxigênio
  • Temperatura corporal
  • Frequência cardíaca e respiratória
  • Níveis de glicemia no sangue
  • Ritmo cardíaco
  • Posição corporal.

A partir da análise desses dados, médicos têm uma base sólida para a tomada de decisão, indicação de tratamento e correções na abordagem, sempre que for preciso.

Clique aqui e conheça todas as vantagens da teleconsulta com o telemonitoramento.

Conclusão

Ao final deste artigo, espero ter contribuído para aprofundar seus conhecimentos sobre dessaturação de oxigênio, parâmetros e condutas.

Dispositivos como o oxímetro de pulso auxiliam na monitorização de pacientes, tanto em ambiente hospitalar quanto em home care.

Conte com a Telemedicina Morsch para qualificar o monitoramento domiciliar, viabilizando o acompanhamento do doente para evitar complicações.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin