Ergonomia cognitiva: o que é, objetivos e como promover na empresa

Por Dr. José Aldair Morsch, 1 de setembro de 2022
Ergonomia cognitiva

Já ouviu falar em ergonomia cognitiva?

Essa subárea da ergonomia estuda a relação homem-trabalho sob o prisma da concentração, atenção, memória e outros aspectos mentais.

São fatores indispensáveis ao aprendizado e produtividade dos colaboradores.

Daí a razão para muitos gestores, equipes de RH e SESMT implementarem soluções de ergonomia cognitiva em suas empresas.

Essa é uma maneira eficiente de elevar o bem-estar no trabalho e as receitas.

Acompanhe este artigo para saber mais sobre o tema, com exemplos e insights para promover boas práticas junto ao seu time.

Você ainda vai descobrir como a telemedicina confere agilidade à entrega de documentos de saúde ocupacional.

O que é ergonomia cognitiva?

Ergonomia cognitiva é uma disciplina dedicada à compreensão e adaptação de fatores que influenciam processos mentais. Essas dinâmicas têm efeitos sobre a concentração, memória, atenção, percepção, tomada de decisões, entre outras capacidades.

Como define o estudo “Ergonomia, cognição e trabalho informatizado”:

“A Ergonomia Cognitiva é um campo de aplicação da ergonomia que tem como objetivo explicitar como se articulam os processos cognitivos face às situações de resolução de problemas nos seus diferentes níveis de complexidade”.

Esse é um campo de estudo interessante, pois tem relação com o contexto do trabalho.

Porque as condições presentes no ambiente laboral são capazes de modificar os processos cognitivos, que são instáveis.

Parece complicado? Então, vamos a um exemplo.

Lembre-se da sua última hora de trabalho. Foi produtiva?

Se foi, você provavelmente conseguiu se concentrar.

Se não, pode ter havido distrações mentais internas ou externas, como sons altos, estresse e preocupações.

Caso não houvesse essas distrações, sua hora de trabalho seria mais produtiva, aumentando seu rendimento.

Agora, imagine o potencial desse impacto sobre toda a sua equipe, ou sobre toda a empresa.

Com entregas rápidas, os ganhos financeiros e de qualidade de vida no trabalho certamente seriam maiores.

Esse é um dos objetivos da ergonomia cognitiva.

Diferença entre ergonomia cognitiva, física e organizacional

Lá na abertura do texto, mencionei a ergonomia cognitiva como uma das subáreas da ergonomia.

Isso porque a ergonomia é uma ciência ampla, que avalia a interação entre o homem, seus instrumentos e a organização do ambiente.

Ela pode ser dividida em ergonomia cognitiva, física e organizacional.

Enquanto a cognitiva se dedica ao aprimoramento dos processos mentais, a física foca em aspectos orgânicos, biológicos e mecânicos, fornecendo soluções para adaptar os postos de trabalho, por exemplo.

Regulação da altura de mesas e cadeiras, uso de suporte para braços e pés estão entre as medidas baseadas em conhecimentos de ergonomia física.

Já a subárea organizacional avalia a relação entre o indivíduo e a organização do trabalho nas empresas, considerando fatores como cultura, comunicação e hierarquia.

Suas soluções permitem alterações nas relações interpessoais, ambiente e clima organizacional, com efeitos sobre a saúde mental dos colaboradores.

Vale mencionar que as três subáreas são complementares.

Isso fica simples de entender quando pensamos, por exemplo, em conforto térmico – um aspecto inicialmente físico.

Na prática, entretanto, a exposição ao frio ou calor prejudicam a atenção e produtividade dos empregados.

O que é ergonomia cognitiva

A ergonomia é uma ciência que avalia a interação entre o homem, seus instrumentos e a organização do ambiente

Qual é a importância da ergonomia cognitiva?

A importância da ergonomia cognitiva está em seu potencial de melhoria do ambiente laboral.

Além da prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, responsáveis por lesões e perda de dias de trabalho.

Os acidentes de trabalho podem provocar morte ou lesões imediatas, enquanto as doenças ocupacionais costumam demorar para se manifestar.

Mas ambos estão por trás de perdas na capacidade laboral, saúde, qualidade de vida e produtividade.

Dados da Secretaria da Previdência, do Ministério da Economia, mostram que, só em 2019, foram registrados 193,6 mil afastamentos relacionados a essas ocorrências.

Reverter esse cenário exige a adoção de medidas de segurança e saúde do trabalho, incluindo as ergonômicas.

Mais especificamente, a ergonomia cognitiva atua no combate a certos riscos ergonômicos, a exemplo de:

  • Jornada de trabalho extensa: quando a hora extra vira regra na empresa, ocorre o inverso do que se espera. Como o funcionário está cansado, seu rendimento cai, criando a ilusão de que precisa trabalhar por mais horas para dar conta de suas responsabilidades
  • Controle rígido de produtividade: o ritmo de entregas pode ser diferente entre os colaboradores, ou até para um mesmo empregado em dias distintos. Se há pressão constante para manter um ritmo igual, aumentam as chances de quadros de estresse e esgotamento mental
  • Ambiente barulhento: ruído de máquinas, conversas paralelas e outros sons interrompem a concentração no trabalho. A exposição contínua a esse agente ainda pode desencadear irritabilidade, distúrbios digestivos, alterações na pressão arterial e frequência cardíaca e perda auditiva.

A seguir, destaco os principais elementos da ergonomia cognitiva.

5 elementos da ergonomia cognitiva

Como citei antes, a ergonomia cognitiva envolve diferentes processos mentais.

Veja detalhes sobre eles a seguir.

1. Atenção

Pode ser definida como a capacidade de manter o foco direcionado a determinado objeto, a fim de captar, filtrar e processar informações.

Para isso, é preciso ignorar estímulos ao redor, estabilizando o pensamento para se concentrar numa aula, apresentação, treinamento ou atividade de trabalho.

2. Concentração

Essencial para executar tarefas complexas, a concentração nada mais é do que um tipo de atenção ativa.

Ou seja, é uma atenção intencional sobre um objeto, que exige esforço mental para que seja contínua, permitindo a conclusão de projetos.

Aspectos cognitivos no trabalho

A ergonomia cognitiva viabiliza um melhor desempenho, elevando a produtividade dos colaboradores

3. Raciocínio

O uso da razão para chegar a conclusões é uma função cognitiva complexa, que recorre ao repertório de cada pessoa.

Comparações, vivências e lições podem apoiar o raciocínio, justificando a conclusão e sustentando a tomada de decisões.

4. Memória

Pode ser descrita como a função cerebral que armazena e evoca informações obtidas previamente.

É algo fundamental para o aprendizado e aperfeiçoamento de atividades relacionadas ao trabalho.

Por envolver uma série de mecanismos cerebrais para ser retida e evocada, a memória pode ser afetada quando a mente não está em boas condições.

Privação de sono, estados emocionais negativos, lesões cerebrais, uso de álcool e drogas são alguns eventos capazes de impactar o uso da memória de forma temporária ou permanente.

5. Resposta motora

Descreve a capacidade de agir diante de estímulos, seja de modo intencional ou reativo.

Quando ouvimos um som alto, por exemplo, é natural reagir direcionando a atenção à direção do barulho, movimentando a cabeça e os olhos para entender o que aconteceu.

Isso é feito sem qualquer interferência da consciência.

Já um pedido do cliente por um documento requer uma ação consciente e intencional de buscar esse arquivo no computador ou procurar numa gaveta.

Exemplos de ergonomia cognitiva

A aplicação da ergonomia cognitiva faz a diferença para o dia a dia do trabalhador.

Principalmente porque viabiliza um melhor rendimento, elevando a produtividade.

Simultaneamente, estimula o aprimoramento dos processos cognitivos, promovendo o aprendizado e a qualificação para as atividades.

Ambientes que ignoram os fatores cognitivos favorecem o efeito oposto, levando à queda da atenção, concentração, raciocínio lógico, memória etc.

Imagine, por exemplo, uma equipe que trabalha num local que está sendo reformado.

Não precisa refletir muito para saber que haverá vários eventos atrapalhando a cognição, como ruídos, poeira, cheiros fortes.

Isso porque a desorganização é um grande empecilho para os processos cerebrais, causando distrações visuais, sonoras, olfativas, entre outras.

Nesse contexto, o ideal seria deslocar o grupo de colaboradores para outro ambiente, ou deixá-los em home office até que a reforma termine.

Outras situações, como luzes fortes, também podem prejudicar a atenção e o foco.

Assim como o trabalho contínuo por longas horas, pois sabe-se que a concentração vai caindo depois de certo tempo.

Daí a necessidade de fazer uma pausa para o café, almoço ou simplesmente para conversar com um colega.

Como promover a ergonomia cognitiva em uma empresa?

Com certeza, é útil recorrer a um profissional especializado em ergonomia para sugerir medidas personalizadas.

Ele será capaz de fazer e propor soluções com base na análise ergonômica do trabalho (AET), exigida na legislação trabalhista brasileira.

No entanto, existem ações simples que podem ser construídas e colocadas em prática pelo time de saúde corporativa, lideranças e RH da sua empresa.

Neste espaço, trago seis iniciativas de ergonomia cognitiva que você pode implementar hoje mesmo.

Adote medidas de SST

A relação entre ergonomia e segurança e saúde no trabalho não é novidade.

Pois, como expliquei mais acima, ambas as áreas podem atuar na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.

Digo isso porque a ergonomia também se aplica a outros objetivos, não relacionados ao trabalho.

De qualquer forma, começar pela SST é uma boa pedida para identificar, eliminar ou mitigar riscos ergonômicos no ambiente laboral.

Inclusive aqueles relacionados à cognição, como a exposição a rotinas estressantes ou inadequações no posto de trabalho que provoquem dores nas costas.

Obviamente, a dor tem grande impacto sobre a capacidade de se concentrar e executar bem uma tarefa.

Vale mencionar ainda a segurança psicológica, construída por meio de uma atmosfera acolhedora, aberta ao feedback e livre de cobranças excessivas.

Muitas vezes, essas cobranças se tornam preocupação e distraem o colaborador, impedindo que dedique sua atenção às atividades.

Mantenha o ambiente organizado

Se a ideia é manter o foco, não se pode trabalhar num local com objetos jogados, sujeira ou itens desorganizados.

Esse ambiente é um convite à distração, pois dificilmente o cérebro conseguirá manter a atenção em uma única tarefa se houver tanta bagunça.

É por isso que faz diferença arrumar a mesa, dispor os objetos de uso diário por perto e arquivar os documentos usando uma metodologia.

Assim, será simples localizar os recursos durante o expediente.

Incentive o autoconhecimento

As respostas mentais são influenciadas pelos pensamentos e emoções, o que significa que eles também precisam estar em ordem para uma performance de sucesso.

E o primeiro passo para organizar a mente é o autoconhecimento, que permite compreender melhor o que nos interessa ou motiva.

Ou, ainda, o que suga nossa energia e atrapalha o rendimento no trabalho.

Com essas informações em mãos, desenvolvemos a inteligência emocional necessária para tomar decisões assertivas e alcançar as metas no dia a dia.

Inclua pausas no trabalho

Depois de um período de dedicação completa a uma tarefa, é importante fazer uma pausa.

O próprio funcionário percebe essa necessidade, que se expressa em forma de queda no rendimento.

Se qualquer pensamento ou imagem o distrai, é hora de parar por alguns momentos para dar descanso ao cérebro e retornar com mais eficiência.

Forneça treinamento aos funcionários

Treinamentos ajudam a lapidar talentos e habilidades, adicionando conhecimento relevante.

Mas também tem papel indispensável para conscientizar os empregados sobre medidas de ergonomia cognitiva, inclusive a busca pelo autoconhecimento.

Invista em ginástica laboral

Exercícios no trabalho não melhoram apenas o condicionamento físico.

Eles permitem momentos de relaxamento mental, resultando em pausas saudáveis na jornada diária.

Telemedicina na segurança do trabalho

Medidas de ergonomia cognitiva devem ser planejadas e registradas em documentos de saúde ocupacional.

O mais abrangente é o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), descrito na Norma Regulamentadora 01 do Ministério do Trabalho.

Esse relatório deve ser assinado pelo responsável legal pela empresa.

No entanto, laudos técnicos como a AET só podem ser elaborados e assinados por especialistas em SST, pois requerem conhecimentos específicos.

O problema é que engenheiros de segurança e médicos do trabalho costumam cumprir jornadas com poucas horas semanais, mesmo quando a empresa tem SESMT próprio.

A comunicação com esses profissionais fica ainda mais complicada se o SESMT é terceirizado, exigindo a espera para a finalização dos relatórios, que exige assinatura do responsável.

A boa notícia é que existem opções de assinatura digital via telemedicina.

Dentro do software Morsch, você e sua equipe podem criar, armazenar, assinar e compartilhar arquivos de SST remotamente.

E o melhor: com toda a segurança de mecanismos de autenticação e criptografia.

O serviço está disponível para os seguintes documentos:

Visite esta página para mais detalhes e leve mais inovação para o seu time!

Conclusão

Abordei neste artigo a importância, aplicações e dicas para incorporar dinâmicas de ergonomia cognitiva à rotina de trabalho.

E promover ambientes mais seguros e saudáveis, aumentando o rendimento da sua equipe.

Conte com a Telemedicina Morsch para otimizar a emissão e assinatura dos documentos de SST na sua empresa.

Se achou este conteúdo relevante e quer ser avisado sobre os próximos, inscreva-se na newsletter.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin