Como interpretar um eletroencefalograma: entenda como funciona a análise e o laudo

Unidades de saúde que ofereçam o exame EEG precisam contar com profissionais que saibam como interpretar um eletroencefalograma.
Essa não é uma tarefa tão simples, pois vários são os detalhes a observar na análise dos resultados.
Há, por exemplo, diferentes versões do exame, como o eletroencefalograma em vigília e com mapeamento cerebral.
A sua complexidade só não é maior do que a importância para os cuidados com a saúde.
É por isso que saber como interpretar um eletroencefalograma é fundamental para alcançar um laudo completo, oferecendo suporte ao diagnóstico de problemas neurológicos, distúrbios do sono e demências.

Neste artigo, você vai aprender o que é eletroencefalograma e para que serve, como ele é realizado e que resultados podem ser observados.
Também vai conferir as diferenças entre um laudo de eletroencefalograma normal e um alterado, além das contribuições da telemedicina para a interpretação do exame.
O que é eletroencefalograma?
Eletroencefalograma é um exame que avalia a atividade elétrica do cérebro.
O procedimento é rápido, seguro, indolor e não invasivo.
Conhecido também como eletroencefalografia ou EEG, ele amplifica os impulsos elétricos cerebrais e os registra de forma gráfica.
Esses impulsos são os responsáveis pelas atividades realizadas pelo corpo humano, transmitidos como comandos cerebrais através de células chamadas neurônios.
Por meio de eletrodos, o eletroencefalograma capta e registra as atividades dos neurônios.
Para que serve o eletroencefalograma?
O exame serve para investigar anormalidades na atividade elétrica cerebral, por meio da análise de sua frequência.
No EEG, a frequência corresponde ao número de vezes que um mesmo sinal se repete a cada segundo.
Mesmo em pessoas saudáveis, ela costuma sofrer variações de acordo com o estado do organismo.
Isso acontece porque o cérebro funciona de modo diferente quando estamos acordados, concentrados, sonolentos ou em sono profundo.
A idade, nível de atividade física e outros fatores também interferem no padrão e nas variações da frequência cerebral.
Desde o final da década de 1920, o eletroencefalograma tem auxiliado neurologistas, clínicos gerais e outros profissionais de saúde na compreensão da fisiologia elétrica do cérebro e neurônios, e de sua relação com patologias.
O EEG é essencial para o diagnóstico e acompanhamento de distúrbios da consciência e doenças como a epilepsia, patologia que provoca perturbação nos neurônios, com a presença, ou não, de convulsões.
Ele costuma ser utilizado para a investigação de sintomas como convulsão, cefaleia (dor de cabeça), problemas de memória e distúrbios do sono, como a narcolepsia – que causa sonolência de forma abrupta e incontrolável, várias vezes ao dia.

Quem interpreta o eletroencefalograma?
A interpretação do EEG é tarefa restrita dos neurofisiologistas clínicos (ou eletroencefalografistas), conforme as regras do Conselho Federal de Medicina.
Isso porque o CFM determina que somente médicos especializados na área do exame complementar podem fazer sua análise, elaborar e assinar o laudo médico.
No caso do EEG, o especialista deve reunir conhecimentos em neurologia, padrões cerebrais, tipos de onda e alterações na frequência, além das características próprias do exame.
A emissão de laudos de eletroencefalograma pode ser feita localmente ou a distância, por meio do telediagnóstico.
Falarei mais dessa opção nos próximos tópicos.
Como funciona um aparelho de eletroencefalograma?
O aparelho de eletroencefalograma é formado por um conjunto de eletrodos conectados a um computador.
Durante o exame, os eletrodos do EEG são fixados em diferentes áreas da cabeça do paciente, a fim de captar a atividade das células nervosas do cérebro.
Como expliquei acima, a frequência cerebral sofre variações.
Os neurônios que vibram na mesma frequência tendem a se juntar e formar grupos.
Durante o EEG, são provocados estímulos luminosos em determinadas frequências, para receber respostas dos neurônios que vibram nelas.
Então, os eletrodos coletam essas respostas e levam os dados até um computador.
Nele, um software específico é capaz de gerar traçados distintos, formando um gráfico visível na tela (no caso do EEG digital) ou registrado em papel.

O eletroencefalografia amplifica os impulsos elétricos cerebrais e os registra de forma gráfica
Tipos de eletroencefalograma
Como já destacado, o funcionamento do cérebro pode mudar de acordo com o estado do indivíduo.
Isso deu margem para a realização do EEG em diferentes condições.
A ideia é comparar e avaliar melhor os padrões, a fim de identificar alterações nos impulsos elétricos.
Os principais tipos de eletroencefalograma atualmente são: EEG em sono, vigília e com mapeamento cerebral.
Veja detalhes sobre eles a seguir.
Eletroencefalograma em vigília
Serve para mostrar a atividade espontânea do cérebro enquanto o paciente está acordado.
Dependendo da recomendação médica ou da suspeita clínica, ele pode ser solicitado a realizar atividades simples, como abrir e fechar os olhos, ou respirar rapidamente durante alguns instantes.
Eletroencefalograma em sono
Esta modalidade de EEG compreende o estudo cerebral enquanto a pessoa dorme, a fim de detectar distúrbios do sono.

Em geral, o paciente passa a noite no hospital para colher os dados necessários.
Pode ser que o indivíduo precise se privar do sono ou até receber sedação leve, de modo a garantir que durma tempo suficiente para gerar registros dos impulsos elétricos cerebrais.
Eletroencefalograma com mapeamento cerebral
Este tipo de EEG se tornou possível graças ao uso de novas tecnologias, como aparelhos digitais.
O mapeamento cerebral é feito depois do registro do eletroencefalograma digital, a partir da escolha de momentos do exame para estudo mais detalhado de áreas ou reações do cérebro.
O material coletado é convertido em um mapa colorido no computador, apontando as regiões afetadas por alterações durante o exame.
Como é feito o exame eletroencefalograma
Para realizar o exame EEG, o paciente deita em uma maca ou senta em uma cadeira de forma que fique confortável.
Antes de começar o procedimento, o médico ou técnico de enfermagem responsável pelo exame segue as recomendações do solicitante e posiciona os eletrodos com determinadas distâncias.
Geralmente, é seguido o sistema 10-20% ou outra modalidade de montagem.
Os eletrodos recebem uma pasta que facilita a coleta de sinais elétricos e a aderência ao couro cabeludo.
Após fixados na cabeça do paciente, o aparelho de EEG é ligado.
Como expliquei antes, pode ser solicitado que o paciente realize algumas ações, como respirar rapidamente, abrir e fechar os olhos ou observar uma luz brilhante que pisca – método conhecido como estimulação intermitente com luz estroboscópica.
Essas ações integram as provas de ativação do exame, que o tornam mais sensível ao registrar a reação dos neurônios diante de estímulos diferentes.
Preparo para o eletroencefalograma
A atividade do cérebro pode sofrer alterações pelo consumo de algumas substâncias estimulantes.
Por isso, é recomendado não ingerir alimentos com cafeína, por exemplo, nas 12 horas anteriores ao EEG.
O mesmo raciocínio vale para componentes de algumas classes de medicamentos, como antidepressivos, anticonvulsivantes ou estimulantes.
Caso o paciente tome algum deles, deve procurar orientação médica para saber se precisará realizar uma pausa.
Para que os eletrodos sejam fixados sem problemas, é indicado que o paciente esteja com o couro cabeludo limpo e seco.
Se tiver prótese capilar, usar tinturas, estiver com algum curativo ou alergia na cabeça, pode haver dificuldade para a fixação dos eletrodos e registro dos impulsos elétricos.
Também é importante seguir outras recomendações do médico solicitante.
Durante a privação de sono para realização do EEG em sono, por exemplo, o paciente não deve dirigir.

Duração do exame EEG
O exame costuma se estender entre 20 minutos e 12 horas.
A maioria dos eletroencefalogramas (EEG de rotina) dura entre 20 e 40 minutos.
Já o EEG que une estados de sono e vigília costuma durar entre 8 e 12 horas.
Dependendo da suspeita clínica, recomendação do médico solicitante e resultados observados durante o exame, o exame pode se estender por mais horas e até dias.
Riscos do eletroencefalograma
Por não ser invasivo e nem aplicar qualquer corrente elétrica no corpo do paciente, o EEG pode ser realizado por qualquer pessoa, inclusive por crianças e gestantes.
Mas há pontos de atenção.
Se o paciente tiver epilepsia ou convulsões de causas diversas, essas crises podem ocorrer durante algum estímulo.
Nesses casos, técnicos e outros profissionais de saúde treinados estarão disponíveis para oferecer auxílio.
A retirada dos eletrodos, realizada logo depois do exame, é um procedimento que não causa dor, mas pode provocar incômodo devido à pasta usada para fixação.
Basta lavar os cabelos para retirar restos do produto.
Médicos também recomendam que, após o EEG, o paciente vá para casa repousar.
Pessoas que precisaram de sedação leve para dormir durante o exame devem ser acompanhadas até a residência, evitando dirigir.
Por fim, quem teve a necessidade de interromper o uso de medicamentos deve aguardar orientação médica para retomar o tratamento.
Como interpretar um eletroencefalograma
Dada a importância do exame, fica clara a necessidade de aprender como interpretar um eletroencefalograma com qualidade, o que exige conhecimentos sobre os padrões cerebrais, tipos de onda e alterações na frequência.
Por isso, conforme expliquei acima, a responsabilidade de avaliar os resultados é dos médicos neurofisiologistas clínicos (eletroencefalografistas).
Relacionadas a padrões específicos do ritmo cerebral, as ondas mentais estão presentes nos laudos de todos os tipos de eletroencefalograma.
Elas possuem amplitude e frequência, que pode ser medida em Hertz (HZ).
A amplitude pode ser definida como a distância entre o eixo e o pico (ponto mais alto) de uma onda.
Os quatro tipos principais de onda cerebral são: alfa, beta, teta e delta.
As ondas alfa (7-13 HZ) estão relacionadas a um estado de relaxamento e redução da ansiedade durante a vigília.

Também observadas enquanto o indivíduo está acordado, as ondas beta (13 -30 HZ) indicam concentração e estado de alerta.
A sonolência costuma apresentar ondas teta (4-7 HZ), que mostram uma atividade cerebral reduzida.
Já as ondas delta (0-4 HZ) têm relação com o sono REM ou profundo.
Como interpretar um eletroencefalograma normal
Quando o exame é normal, significa que a atividade elétrica cerebral está dentro dos padrões que se espera, considerando fatores como a idade e estímulos realizados durante o EEG.
Ou seja, em um adulto saudável, ondas alfa e beta são registradas durante a vigília, ondas teta enquanto ele está sonolento, e ondas delta nos estágios avançados do sono.
Como interpretar um eletroencefalograma alterado
Por sua vez, entender como interpretar um eletroencefalograma alterado exige mais do especialista.
A presença de ritmos alterados pode sinalizar distúrbios, uso de drogas ou presença de substâncias estimulantes, como a cafeína.
Ao avaliar os registros de um exame, o médico compara os resultados a padrões de frequência e amplitude das ondas.
Amplitude
Amplitudes podem ser consideradas baixas, médias ou altas após a avaliação do traçado do EEG.
O ponto de atenção é com amplitudes baixas, que podem sinalizar ansiedade, dor e até lesões cerebrais.
Frequência
Resultados fora dos padrões de frequência também podem indicar patologias.
O ritmo alfa, por exemplo, normalmente é interrompido durante ações como abertura dos olhos, influxo de luz e atividade mental (concentração).
No estado de sonolência, é comum aparecerem apenas pequenos surtos de ondas alfa, em intervalos cada vez maiores.
É importante ressaltar que essas ondas podem sofrer variações peculiares, não necessariamente causadas por doenças.
Por exemplo, o ciclo menstrual pode provocar esse efeito em algumas mulheres.
Já determinados medicamentos e distúrbios psiquiátricos tendem a aumentar a quantidade de ondas beta, registradas em alta frequência.
Quando assimétrico e constante, o ritmo teta pode sugerir disfunções em alguma parte do cérebro.
Doenças inflamatórias, infecciosas e intoxicações por drogas podem ser evidenciadas por registros de atividade delta em surtos, desorganizando o traçado de base do EEG.
Como interpretar um eletroencefalograma em diferentes faixas etárias?
Os padrões mais conhecidos se referem à atividade cerebral de adultos.
No entanto, é essencial considerar os aspectos do amadurecimento neurológico em pacientes pediátricos.
Como seu cérebro ainda está em formação, são esperados padrões distintos para os resultados do eletroencefalograma infantil.
Descrevo os principais abaixo:
- EEG neonatal: é comum notar um traçado descontínuo em recém-nascidos. Fique atento a trechos de baixa amplitude, padrão teta ou períodos de inatividade cerebral maiores que 30 segundos, que podem sinalizar doenças neurológicas
- EEG de 1 a 12 meses: a partir dos 2 meses, o traçado registra um precursor das ondas alfa, com frequência de 3 a 4 Hz. Durante o sono, são comuns frequências lentas (1 a 3 Hz)
- EEG de 1 a 3 anos: ondas delta e teta se apresentam com uma frequência baixa, entre 2 e 6 Hz. Aos 3 anos, o precursor se torna onda alfa, chegando a 8Hz
- EEG de 3 a 6 anos: ondas alfa podem atingir 9 Hz após os 5 anos de idade
- EEG de 6 a 12 anos: as ondas alfa se aproximam do padrão para adultos, alcançando 8 a 12 Hz por volta dos 12 anos. Ondas delta também amadurecem, estabelecendo valores normais para o sono REM.
A seguir, explico como o laudo de EEG é elaborado.
Como é o laudo de um eletroencefalograma?
Assim como qualquer outro laudo médico, o documento que formaliza os resultados do EEG deve atender a uma estrutura básica, contendo:
-
- Nome completo do paciente
- Nome e endereço do local onde o exame foi feito
- Nome do médico solicitante
- Data de realização do exame
- Justificativa para a solicitação do procedimento
- Conduta e descrição detalhada do exame
- Conclusão
- Informações adicionais sobre o paciente, como idade, peso, altura, etc.
- Assinatura do médico responsável pelo laudo.
Os trechos sobre a Justificativa, Conduta e Descrição do exame formam o corpo do laudo, descrevendo detalhes sobre o equipamento de EEG, duração e técnica empregada no exame e posicionamento dos eletrodos.
Também abordam aspectos da atividade cerebral como presença, amplitude e frequência das ondas, paroxismos, anormalidades como descargas epileptiformes, etc.
Na conclusão, o médico responsável informa se o resultado é normal ou alterado e dá recomendações para o seguimento da assistência.
O que pode ser detectado no eletroencefalograma?
O EEG pode indicar uma série de transtornos neurológicos, doenças degenerativas do sistema nervoso, tumores e demências.
Esse exame é solicitado para investigar causas de coma, complicações após concussão na cabeça e diagnóstico de eventos graves, como o acidente vascular cerebral (AVC).
Inflamações no cérebro (encefalites), lesões, hemorragias e inchaços (edemas) também podem ser observados a partir do EEG.
Sua indicação mais comum, entretanto, é para o diagnóstico e acompanhamento da epilepsia, ou de outras causas de convulsão.

No EEG, a frequência corresponde ao número de vezes que um mesmo sinal se repete a cada segundo
Por que o eletroencefalograma pode vir normal mesmo com sintomas?
Geralmente, porque o registro do EEG corresponde a uma janela de tempo relativamente pequena.
Afinal, o exame dura de 20 minutos até algumas horas, o que nem sempre é suficiente para detectar uma crise epiléptica ou outras alterações intermitentes.
Daí a importância de não se limitar aos resultados do eletroencefalograma para elaborar o diagnóstico, uma vez que elas devem ser completadas por dados clínicos, histórico do paciente, informações de exames anteriores, etc.
Interpretação do eletroencefalograma e emissão de laudos a distância
Não é novidade que, no Brasil, exista desigualdade na distribuição de médicos, incluindo a carência de especialistas qualificados para interpretar o EEG.
Esses profissionais, conhecidos como neurofisiologistas clínicos ou eletroencefalografistas, unem conhecimentos em neurologia, psiquiatria, padrões e variações registradas durante o eletroencefalograma.
São, portanto, médicos altamente especializados, nem sempre disponíveis, especialmente em locais remotos ou pequenas cidades no interior.
Foi para suprir lacunas como essas que a telemedicina surgiu, oferecendo o laudo de eletroencefalograma a distância.
A partir da tecnologia, não é mais necessário contar com eletroencefalografistas em todas as unidades de saúde que realizam o EEG.
Nesses casos, como de costume, um técnico pode ser capacitado para fazer o procedimento com um aparelho digital.

É a partir daí que o procedimento muda.
Os dados colhidos vão para um computador, são transformados em gráficos e compartilhados via plataforma de telemedicina.
Em seguida, um especialista online acessa os dados do exame e as informações clínicas do paciente armazenadas em nuvem, de qualquer lugar.
Para isso, basta que use um dispositivo conectado à internet, tenha login e senha.
Após interpretar o exame, o especialista anota suas impressões e conclusões em um laudo online, e o assina digitalmente.
Esse documento pode ficar disponível em apenas 30 minutos na plataforma.
Então, pode ser impresso, acessado por pacientes e funcionários da unidade de saúde.
Por tudo isso, se não há como interpretar um eletroencefalograma na sua clínica, a análise do EEG através da telemedicina na neurologia é uma excelente solução.
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Conclusão
Neste artigo, você conferiu como interpretar um eletroencefalograma e os detalhes envolvidos na análise dos resultados do exame.
Fica claro que essa é uma tarefa complexa, que cabe apenas a especialistas.
Mas, com o suporte da telemedicina, é possível realizar EEGs e contar com laudos confiáveis, mesmo em lugares remotos ou em momentos nos quais a unidade de saúde enfrenta carência de profissionais, como em férias, feriados e plantões.
Deixe que a Telemedicina Morsch auxilie você e sua equipe, disponibilizando um serviço de qualidade por um preço que cabe no seu orçamento.
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