Ciclo cardíaco: entenda as suas fases e o funcionamento delas

Por Dr. José Aldair Morsch, 10 de junho de 2022
Ciclo cardíaco

Diversos eventos ocorrem de forma sincronizada para compor o ciclo cardíaco normal.

É através desses movimentos que cada batimento cardíaco se forma, possibilitando a oxigenação e envio do sangue para todo o corpo.

Independentemente do ritmo, o objetivo final é nutrir as células, fornecendo a energia necessária para que realizem suas tarefas e garantam o bom funcionamento de todos os órgãos e sistemas.

Daí a necessidade de que não apenas cardiologistas, como médicos de todas as especialidades compreendam a dinâmica do ciclo cardíaco, assunto que abordo neste artigo.

A partir de agora, trago informações essenciais sobre esse processo, seus componentes e os principais problemas que surgem quando há anormalidades no ciclo.

Se deseja ampliar os conhecimentos a respeito, acompanhe até o final.

Você ainda terá acesso a opções de telemedicina cardiológica de males cardiovasculares na sua unidade de saúde.

O que é ciclo cardíaco?

Ciclo cardíaco é um processo que reúne as atividades padrão do funcionamento do miocárdio.

Conhecido como bomba natural do corpo humano, esse órgão realiza batimentos de modo regular e sincronizado, por meio de movimentos de contração (sístole) e relaxamento (diástole).

Como adiantei na introdução do texto, o propósito do ciclo cardíaco é o envio de sangue oxigenado por todo o organismo.

Para tanto, é preciso que cada estrutura envolvida nos eventos realize sua função de forma adequada.

As principais estruturas relacionadas ao ciclo cardíaco são:

  • Câmaras cardíacas (átrios e ventrículos)
  • Nó sinusal
  • Válvulas atrioventriculares (AV)
  • Válvulas semilunares
  • Artéria aorta
  • Artéria e veia pulmonar
  • Veias cavas.

Como funciona o ciclo cardíaco

O ciclo cardíaco funciona a partir de impulsos elétricos e diferenças de pressão.

São essas as forças que fazem as câmaras cardíacas se contraírem e relaxarem.

Vou começar o detalhamento desse processo por uma fase chamada contração isovolumétrica, que corresponde à sístole dos ventrículos (câmaras cardíacas inferiores).

Nesse momento, o eletrocardiograma mostra o pico da onda R e a pressão nos ventrículos aumenta, sem, contudo, elevar o volume dentro deles.

Até que a elevação da pressão ventricular resulta na abertura das válvulas semilunares e no início da etapa de ejeção rápida.

Como o nome sugere, na ejeção rápida há um envio veloz de sangue para a artéria aorta, responsável por distribuir o sangue para os vasos menores.

Em seguida, a queda de volume nos ventrículos perde velocidade, caracterizando a ejeção lenta.

O fechamento das válvulas semilunares encerra a ejeção ventricular, fazendo a pressão cair dentro dessas câmaras – porém, sem que o volume se altere.

É o chamado relaxamento isovolumétrico.

O próximo passo vem com a abertura das válvulas atrioventriculares para que o sangue que chegou aos átrios passe aos ventrículos através do enchimento rápido.

Depois, vem o enchimento lento dos ventrículos e a sístole atrial para completar a passagem de sangue dos átrios aos ventrículos.

Termina assim um ciclo cardíaco, logo após a onda P do traçado do ECG.

Onde começa o ciclo cardíaco?

A resposta mais adequada para essa questão é: o ciclo começa no marco estabelecido para estudar essa dinâmica.

Porque, como se trata de um ciclo, a ideia é que não existe começo ou fim, pois os eventos se repetem de maneira contínua.

Afinal, o coração não pode parar de bater.

Na descrição acima, por exemplo, iniciei a explicação pela sístole ventricular, que é o período de contração dessas câmaras.

No entanto, há quem comece pela sístole atrial e termine na ventricular.

O importante é compreender a sincronia entre os movimentos e sua sequência, que nunca pode mudar.

Mesmo pequenas alterações são potencialmente perigosas, ameaçando o bom funcionamento cardíaco.

Ciclo do coração

No ciclo cardíaco, não existe começo ou fim, já que os eventos se repetem de maneira contínua

Quais são as fases do ciclo cardíaco?

Mais acima, expliquei basicamente a dinâmica do ciclo cardíaco.

De forma simples, ele poderia ser dividido entre sístole e diástole, sempre partindo da perspectiva dos ventrículos.

Entretanto, vale lembrar que as câmaras cardíacas superiores – os átrios – executam movimentos diferentes de forma simultânea aos ventrículos.

Caso contrário, os átrios não estariam preparados para enviar sangue aos ventrículos assim que as válvulas atrioventriculares são abertas.

Apresento a seguir mais informações sobre as seis etapas do ciclo cardíaco.

1. Contração isovolumétrica

Nesse momento, os ventrículos acabaram de receber o sangue proveniente dos átrios.

A pressão ventricular aumenta, fazendo com que as válvulas atrioventriculares (localizadas entre as câmaras superiores e inferiores) se fechem.

Como sua função é bombear o sangue rico em oxigênio através da aorta e artéria pulmonar, os ventrículos começam a se contrair.

Após uma fração de segundo, atingem a pressão que precisam para abrir as válvulas semilunares (pulmonar e aórtica), que dão acesso às artérias.

Desse modo, o sangue irriga os pulmões via artéria pulmonar e o restante do corpo, começando pela aorta.

2. Ejeção ventricular rápida

O impulsionamento do sangue de cada ventrículo para as artérias exige nova elevação da pressão.

Portanto, os ventrículos seguem em sístole, contraídos para que o líquido seja ejetado.

Num primeiro momento, essa ação é rápida, enviando cerca de 70% do volume total dentro das câmaras cardíacas inferiores.

3. Ejeção ventricular lenta

O aumento da pressão alcança seu pico depois de os ventrículos enviarem a maior parte do sangue oxigenado rumo às artérias.

Sobra aproximadamente 30% do volume para que as câmaras sejam esvaziadas e possam se encher novamente no próximo ciclo cardíaco.

Inicia-se, então, a fase de ejeção ventricular lenta para finalizar o processo de ejeção.

4. Relaxamento isovolumétrico

Corresponde ao fim da sístole ventricular, quando as câmaras seguem para a fase de relaxamento.

queda nas pressões internas sem alteração no volume contido pelos ventrículos, o que deu origem ao nome relaxamento isovolumétrico.

Enquanto isso, o átrio direito recebe mais sangue proveniente das veias cavas superior e inferior, que será enviado aos pulmões durante a pequena circulação ou circulação pulmonar.

O processo serve para enriquecer o sangue com oxigênio, como explica este material sobre o sistema circulatório:

“As artérias pulmonares saem do ventrículo direito para os pulmões, carregando sangue não oxigenado (também chamado sangue venoso). Este sangue recebe oxigênio nos pulmões e volta para o coração, através de veias pulmonares para o átrio esquerdo. O sangue passa, então, para o ventrículo esquerdo, sendo distribuído para todo o organismo através da rede arterial”.

Fases do coração

Não tem como medir o ciclo cardíaco, somente monitorar seus eventos por meio de solicitação de exames

5. Diástase

Enquanto estão em repouso, os ventrículos vão recebendo sangue de forma lenta, sem a necessidade de contração dos átrios.

Essa é a etapa de enchimento ventricular lento ou diástase.

6. Enchimento ventricular rápido

A segunda fase de enchimento dos ventrículos é mais veloz, pois sofre pressão do sangue que ficou armazenado nos átrios enquanto os ventrículos se contraíam.

Assim, as válvulas tricúspide (do lado direito) e mitral (do lado esquerdo) se abrem, permitindo a passagem do líquido rapidamente.

O volume de sangue restante é expulso das câmaras superiores por meio da sístole atrial.

Problemas relacionados ao ciclo cardíaco

Anormalidades na anatomia das estruturas cardíacas e na condução dos batimentos são capazes de impactar o ciclo cardíaco.

Assim como déficits na irrigação sanguínea, como os provocados por cardiopatias isquêmicas.

Trago a seguir algumas doenças que impactam no funcionamento do coração, prejudicando seu desempenho.

Insuficiência cardíaca

O enfraquecimento ou rigidez do músculo cardíaco costuma estar por trás da incapacidade de bombear o sangue de forma eficiente para o organismo.

A insuficiência cardíaca pode ser sistólica, quando a fração de ejeção é reduzida, ou diastólica, quando a fração de ejeção é preservada.

Embora possa afetar ambas as câmaras inferiores, é comum que a patologia predomine no ventrículo direito ou no esquerdo.

Cardiomiopatia

A dilatação dos ventrículos e/ou de suas paredes é outro problema que compromete o ciclo cardíaco normal.

Diferentes tipos de cardiomiopatia dificultam os movimentos do coração, reduzindo sua eficiência, e podem até levar à insuficiência cardíaca.

Prolapso da válvula mitral

Presente em cerca de 5% a 10% da população mundial, esse defeito congênito afeta a válvula mitral, localizada entre o átrio e ventrículo esquerdos.

Os folhetos que compõem a estrutura possuem malformações, tornando-se mais espessos, maiores ou largos, o que impede seu completo fechamento diante da sístole ventricular.

Como resultado, há maior ou menor regurgitação de sangue para o átrio esquerdo.

Casos leves não costumam interferir na vida do paciente, enquanto os mais graves levam à insuficiência mitral.

Estenose mitral e outras valvulopatias

Outro problema que afeta a válvula mitral é o estreitamento, que impede a passagem da quantidade de sangue adequada para o ventrículo esquerdo.

Geralmente, essa condição é uma sequela da febre reumática.

Sob pressão e volume elevados, o átrio esquerdo cresce, facilitando o desenvolvimento da fibrilação atrial.

A válvula aórtica também pode sofrer com males como a regurgitação, decorrente de endocardite ou dissecção aórtica.

Fibrilação atrial e outras arritmias

A fibrilação atrial (FA) sinaliza dificuldades para que uma das câmaras superiores complete o movimento de contração (sístole), alterando o padrão do ciclo cardíaco.

Nesse cenário, a onda P observada no eletrocardiograma é substituída por pequenas oscilações irregulares: as ondas F.

Há ainda redução no débito cardíaco que, quando intensificada, pode levar à insuficiência do órgão.

A contração superficial das câmaras inferiores do coração ou fibrilação ventricular é ainda mais grave que a FA, representando ameaça à vida do paciente.

Infarto agudo do miocárdio

A função cardíaca pode ser afetada pela necrose provocada por obstrução do fluxo sanguíneo numa artéria coronária.

Nesses casos, o tratamento emergencial pode salvar a vida do paciente, impedindo a morte das células cardíacas.

Uma das causas mais evidentes para o infarto é a doença arterial coronariana, responsável pelo enrijecimento e redução do calibre das artérias.

Bloqueios de ramo

Atrasos na passagem do impulso elétrico e contração do ventrículo direito ou esquerdo podem diminuir a frequência cardíaca, desencadeando quadros de bradicardia.

Quando essa condição permanece por longos períodos, pode surgir insuficiência cardíaca em razão do bloqueio de ramo.

Como medir o ciclo cardíaco?

Não é possível medir o ciclo cardíaco.

No entanto, dá para monitorar seus eventos por meio de exames como o eletrocardiograma, que estuda a atividade elétrica do coração.

Ao interpretar o traçado do ECG, é possível medir a frequência cardíaca, contabilizando o número de batimentos por minuto.

Basta lembrar que, no resultado do teste, cada minuto corresponde a 300 quadradinhos.

Conte quantos deles estão entre um topo e outro da onda R.

Se observar, por exemplo, um quadradinho entre os topos, o miocárdio estará batendo a 300 bpm (batidas por minuto).

Se houver dois quadradinhos, estará a 150 bpm.

Se forem três, a 100 bpm, e assim por diante.

Para batimentos irregulares, tenha em mente que seis quadros maiores equivalem a seis segundos.

Então, conte os topos das ondas R projetadas sobre o papel e, depois, calcule uma média simples.

Soluções de telemedicina cardiológica

A telemedicina cardiológica oferece suporte para a avaliação do ciclo cardíaco e identificação de patologias através do laudo online e segunda opinião médica.

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Conclusão

Saber identificar anomalias no ciclo cardíaco é fundamental para médicos de diversas áreas.

Por isso, espero ter contribuído para tirar dúvidas e reforçar os detalhes principais ao longo do artigo.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin