GINA (Global Initiative for Asthma): conheça a sua contribuição no combate à asma

Por Dr. José Aldair Morsch, 8 de março de 2023
GINA

A sigla GINA (Global Initiative for Asthma) faz referência a uma iniciativa mundial para a divulgação de informações e diretrizes de manejo da asma.

Seus relatórios e publicações dão suporte no diagnóstico e tratamento dessa doença respiratória, que afeta cerca de 339 milhões de pessoas em todo o mundo.

No Brasil, estima-se que haja 20 milhões de asmáticos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Esses números dão uma dimensão da quantidade de pessoas que convivem com a patologia e da importância de oferecer assistência de qualidade, prevenindo crises de asma.

Nos próximos tópicos, você vai entender melhor o papel da GINA nesse cenário, incluindo recomendações e metodologias de interesse para médicos de diferentes áreas.

O que é GINA (Global Initiative for Asthma)?

GINA (Global Initiative for Asthma) é uma entidade internacional que trabalha para reduzir a prevalência, morbidade e mortalidade da asma.

Ela surgiu em 1993, a partir da colaboração entre o “National Heart, Lung, and Blood Institute” e o “National Institutes of Health”, dos Estados Unidos, e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Desde então, diversas autoridades de saúde, representantes de pacientes e profissionais de saúde vêm se juntando às ações promovidas pela GINA, além de utilizar suas diretrizes, publicadas em relatórios.

Os protocolos e metodologias da entidade são elaborados a partir de consensos entre especialistas e instituições que representam pacientes em diversos países.

Isso inclui o Brasil.

Nosso país colabora com a GINA por meio de ações mediadas por sociedades médicas em nível nacional, como a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

E também em nível estadual, através da colaboração de grupos como a Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro (SOPTERJ).

Qual o objetivo da GINA?

De forma geral, a GINA existe para promover estudos, orientações e boas práticas para a identificação e tratamento da asma.

De acordo com o site oficial da iniciativa, seus objetos são:

  • Aumentar a conscientização sobre a asma e suas consequências para a saúde pública
  • Promover a identificação das causas para o aumento da prevalência da asma
  • Promover o estudo da associação entre a asma e o meio ambiente
  • Reduzir a morbidade e mortalidade da asma
  • Melhorar o controle da asma
  • Melhorar a disponibilidade e acessibilidade de terapia eficaz para asma.

Essa conscientização é fundamental para reverter os eventos adversos decorrentes da asma, em especial as exacerbações.

Diante de quadros de falta de ar intensa, é imprescindível que a vítima receba socorro imediato para impedir uma parada respiratória e possível óbito.

Isso porque há inflamação e estreitamento dos brônquios e bronquíolos, reduzindo a oxigenação do sangue.

Anualmente, cerca de 500 mil pessoas morrem em decorrência da asma.

Conforme explica a SBPT,

“Na maioria dos casos de asma fatal, os sintomas aparecem com mais de um dia de evolução e se devem à associação de fatores como falta do uso de medicamentos de controle (os corticoides inalatórios), falta de adesão ao tratamento e de consultas regulares com o médico para seguir um plano de ação em caso de crises”.

Relatórios da GINA

A GINA possui um comitê científico formado por especialistas, que fica responsável pela composição de relatórios publicados periodicamente.

Existe, por exemplo, um documento dedicado à abordagem da asma severa, enquanto outro foca nas diretrizes e ferramentas de implementação de boas práticas (todos em inglês).

O mais significativo é o GINA Main Report, que consiste em uma Estratégia Global para Controle e Prevenção da Asma construída a partir de informações científicas.

A versão mais recente foi publicada em 2022, e tem alguns pontos resumidos em uma newsletter.

Confira os principais:

  • Atualização das orientações sobre asma e Covid-19
  • Mudanças no fluxograma e texto sobre o diagnóstico de asma
  • Recomendação para que o termo “asma leve” seja evitado, pois até 30% das mortes pela doença ocorrem em pessoas com sintomas pouco frequentes
  • Mudança nas diretrizes para o tratamento da asma
  • Orientação para considerar a corticoterapia oral (OCS) de manutenção como último recurso
  • Gestão de episódios de sibilância em crianças de idade pré-escolar
  • Alerta para o uso de cigarros eletrônicos, que está associado a risco aumentado de sintomas respiratórios e crises de asma.

A seguir, falo sobre o método de trabalho da GINA.

Global Initiative for Asthma

Exames complementares podem ser solicitados para confirmar ou afastar a suspeita de asma

Qual é a metodologia da Global Initiative for Asthma (GINA)?

A metodologia empregada para a elaboração das diretrizes da GINA se baseia em atividades voluntárias desempenhadas pelos membros de seu comitê científico.

Esse grupo é formado por profissionais de saúde e representantes de pacientes de diferentes países, com conhecimentos em pacientes adultos e pediátricos – já que a asma tem alta prevalência entre crianças.

Cabe ao comitê revisar pesquisas publicadas sobre o manejo da asma e prevenção da doença, a fim de avaliar o impacto desses estudos nas recomendações dos documentos da GINA e fornecer atualizações anuais para esses documentos.

A tarefa é realizada por meio de cinco processos distintos, que comento a seguir.

1. Pesquisa literária

O primeiro passo consiste em pesquisas na base da PubMed, realizadas duas vezes por ano e que cobrem os 18 meses anteriores.

São utilizados filtros estabelecidos pelo comitê científico, com termos de pesquisa que incluem “asma” em todas as idades, sendo selecionadas as entradas com resumos, ensaio clínico ou meta-análise ou revisão sistemática, e referentes a humanos.

Segundo detalha a própria GINA:

“A pesquisa não se limita a questões PICOT específicas (População, Intervenção, Comparação, Desfechos, Tempo). O tipo de publicação ‘ensaio clínico’ inclui não apenas ensaios controlados randomizados convencionais, mas também estudos pragmáticos, da vida real e observacionais. Revisões sistemáticas incluem, mas não estão limitadas àquelas conduzidas usando a metodologia GRADE2 incluindo, quando relevante, documentos de diretrizes publicados por outras organizações internacionais”.

A comunidade médica respiratória pode contribuir, enviando referências que atendam aos parâmetros determinados.

2. Revisões sistemáticas

Revisões sistemáticas servem para manter os relatórios da GINA atualizados conforme conhecimentos científicos e evidências relacionadas à asma.

Para tanto, é feita uma atualização contínua semestral da base de evidências usada para as recomendações, seja sobre assuntos gerais ou tópicos específicos.

3. Seleção e revisão dos estudos

Em seguida, vêm as etapas de seleção e revisão dos estudos de interesse, ou seja, daqueles que produzem impacto sobre as recomendações da GINA.

Depois de remover duplicatas, as pesquisas são pré-selecionadas por um assistente editorial ou bibliotecário médico, junto a pelo menos dois membros não conflitantes do Comitê Científico.

Esses profissionais apontam sua relevância e principais problemas de qualidade fazendo uma triagem para selecionar os materiais que vão seguir para revisão.

Na fase seguinte:

“Todos os membros recebem uma cópia de todos os resumos e a publicação do texto completo, e os membros não conflitantes têm a oportunidade de fornecer comentários durante o período de revisão pré-reunião. Os membros avaliam o resumo e a publicação de texto completo e respondem a perguntas escritas em um modelo de revisão sobre se os dados científicos, impacto nas recomendações da GINA e, em caso afirmativo, quais mudanças específicas devem ser feitas”.

4. Discussão e decisões durante reuniões do comitê científico

O quarto processo compreende as discussões e decisões tomadas durante reuniões do comitê científico.

A avaliação dos materiais durante os encontros é realizada em três partes:

  • Qualidade e relevância da pesquisa original e publicações de revisão sistemática: quando são consideradas a relevância da publicação para o relatório GINA, a qualidade do estudo, a confiabilidade dos achados e a interpretação dos resultados, com base nas respostas dos revisores e discussão por membros do Comitê
  • Decisão sobre a inclusão da prova: etapa em que o comitê decide se a publicação ou suas descobertas afetam as recomendações ou declarações da GINA e devem ser incluídas no relatório da GINA
  • Discussão sobre mudanças relacionadas ao relatório GINA: só então é que são feitos debates para incluir uma publicação ou suas conclusões num relatório da GINA, o que pode ocorrer imediatamente ou ao longo do ano, conforme surgirem evidências que impliquem em novas mudanças no relatório.

O objetivo é validar as contribuições dos estudos para os guidelines da GINA.

5. Novas terapias e indicações

Com base nas evidências e debates anteriores, o comitê científico aprova recomendações e indica novas terapias para pacientes asmáticos.

Lembrando que nem sempre os relatórios são incorporados pelas autoridades de saúde de um país ou território, pois:

“O relatório GINA é um documento de estratégia global. Como as aprovações regulatórias diferem de país para país e os fabricantes não necessariamente fazem submissões regulatórias em todos os países, algumas recomendações da GINA são susceptíveis de estar off-label em alguns países”.

GINA asma

A metodologia empregada para a elaboração das diretrizes da GINA se baseia em atividades voluntárias

Contribuições da GINA sobre a pandemia de Covid-19

A GINA realizou estudos e análises sobre a possibilidade de a asma ser fator de risco para formas graves de Covid-19.

Afinal, a asma fragiliza as vias aéreas inferiores, o que poderia aumentar as chances de o coronavírus alcançar os pulmões, causando pneumonia.

Contudo, as conclusões apontaram para resultados diferentes.

Conheça as principais abaixo.

Asmáticos não têm maior risco de infecção ou quadros severos de Covid-19

Na maioria dos casos, pessoas com asma não estão em maior perigo de contrair o vírus ou necessitar de hospitalização – desde que a doença esteja controlada.

Uma informação interessante divulgada pela GINA está na diminuição de exacerbações de asma tendo a gripe como gatilho, o que foi observado por muitos países durante a pandemia pelo coronavírus.

Provavelmente, a redução se explica devido às medidas de prevenção da Covid-19, que também evitam outras infecções respiratórias: usar máscara facial, lavar as mãos com frequência e praticar o isolamento social.

Porém, o risco de morte por Covid-19 aumenta em pessoas que precisaram recentemente de corticosteroides orais (OCS) para tratar a asma e em pacientes hospitalizados com asma grave.

Indivíduos com asma devem continuar tomando sua medicação de controle

A GINA não recomenda qualquer pausa no tratamento da asma, mesmo que o paciente seja infectado pelo coronavírus.

Corticosteroides inalados (ICS) e outros medicamentos que evitam crises devem ser trocados ou retirados apenas sob prescrição médica.

Todos os pacientes devem ter um plano de ação por escrito

Asmáticos precisam de um documento simples e conciso para que saibam lidar com o agravamento da doença.

Manuscrito, impresso ou digital, esse plano de ação deve esclarecer sobre o uso e aumento nas doses de analgésicos e medicamentos de controle, além de sinais de alerta para buscar ajuda médica.

Na suspeita ou confirmação de Covid-19, evite nebulizadores

Administrar a medicação via nebulizador aumenta o risco de transmissão da patologia para profissionais de saúde e outros pacientes.

Conforme detalha a já citada diretriz da GINA:

“Em vez disso, administrar beta2-agonistas de ação curta para asma aguda em adultos e crianças, usar inalador pressurizado dosimetrado e espaçador, com bocal ou máscara facial bem ajustada, se necessário”.

Outras conclusões e recomendações sobre Covid-19

Elenco mais orientações importantes da GINA sobre o tema:

  • Evite realizar espirometria em pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19
  • Siga as recomendações locais de controle de infecção se outros procedimentos de geração de aerossóis forem necessários, a exemplo de oxigenoterapia, teste do escarro, ventilação manual, ventilação não invasiva e intubação
  • Incentive e colabore para que os pacientes sejam vacinados contra o coronavírus e outros vírus respiratórios, incluindo influenza.

Depois de conhecer as recomendações da GINA, vamos ver como a telemedicina ajuda no enfrentamento da asma.

Como a telemedicina ajuda no diagnóstico da asma?

Embora o diagnóstico seja essencialmente clínico, exames complementares podem ser solicitados para confirmar ou afastar a suspeita de asma.

Raio X de tórax, exames de sangue e espirometria são os procedimentos que dão suporte à detecção da patologia.

Contar com uma parceira de telemedicina traz benefícios à entrega dos resultados, acelerando o início do tratamento.

Usando o serviço de telediagnóstico, sua equipe ganha agilidade, sem deixar a qualidade de lado.

Basta que um médico ou técnico de enfermagem realize o exame e compartilhe as imagens ou gráficos na plataforma da Telemedicina Morsch.

Em seguida, um especialista de plantão avalia os achados, produzindo o laudo online em minutos.

Caso sua clínica ou hospital não tenha aparelho de espirometria, dá para utilizar esse dispositivo sem custo por meio do aluguel em comodato.

O benefício está disponível para clientes que contratam pacotes de laudos online.

Confira todas as vantagens de ter a Morsch como sua parceira!

Conclusão

Ao final deste artigo, espero ter esclarecido as principais questões sobre a GINA (Global Initiative for Asthma).

Seguir as recomendações da iniciativa contribui para a qualificação da assistência ao paciente asmático por todo o mundo.

Se gostou deste conteúdo, continue se mantendo atualizado sobre pneumologia!

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin