Pneumonia química: o que é, causas, sintomas e tratamento

Por Dr. José Aldair Morsch, 28 de novembro de 2022
Pneumonia química

Resultante da inalação de substâncias tóxicas, a pneumonia química pode se manifestar dias após a exposição do paciente.

Fumaça, vapores e até suco gástrico estão entre os agentes capazes de desencadear a doença, provocando desde quadros críticos como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), até aqueles de menor gravidade.

Vale ressaltar que, mesmo que o doente esteja com sintomas leves, é necessário diagnosticar e tratar a patologia, impedindo agravos e complicações.

Nas próximas linhas, apresento um panorama completo sobre pneumonite química, com sintomas, como detectar e qual a abordagem terapêutica adequada.

Também vou mostrar de que forma a telemedicina e os laudos a distância dão agilidade ao diagnóstico.

Boa leitura!

O que é pneumonia química?

Pneumonia química é um quadro inflamatório pulmonar causado pela inalação de substâncias tóxicas e irritantes.

Trata-se de um tipo de pneumonia com menor prevalência que a bacteriana ou viral, mas que merece atenção da equipe médica.

Porque, dependendo da toxicidade do agente químico inalado, a doença pode evoluir para insuficiência respiratória e SRAG, colocando a vida do paciente em risco.

O mecanismo por trás da patologia, também chamada de pneumonite química, é similar às demais modalidades de infecção pulmonar.

Tudo começa com a inalação do patógeno, o que pode ocorrer durante um incêndio ou ao acordar após uma cirurgia e aspirar o vômito, que contém suco gástrico.

A substância percorre traqueia, brônquios e bronquíolos, chegando até as pequenas bolsas responsáveis pelas trocas gasosas que permitem a respiração – os alvéolos.

Essas estruturas ficam cheias de líquido e são lesionadas, o que aciona células do sistema imunológico e agrava a dificuldade para a oxigenação do sangue.

A barreira entre pulmões e corrente sanguínea fica ainda mais espessa com a fibrose pulmonar, o que leva à insuficiência respiratória.

Daí a importância de detectar a pneumonite química precocemente, a fim de administrar terapias que auxiliem no combate à reação inflamatória.

Qual é a causa da pneumonia química?

De maneira resumida, a pneumonia química é causada pela inalação de fumaças, névoas, vapores ou líquidos com propriedades irritantes ao tecido pulmonar.

Vítimas de incêndio, trabalhadores expostos a agentes químicos e pacientes sedados estão entre os indivíduos com risco aumentado para a doença.

Tanto que a patologia ganhou destaque na mídia em janeiro de 2013, logo após a tragédia da boate Kiss, que matou 242 pessoas na cidade de Santa Maria/RS.

Na época, os mais de 600 sobreviventes ainda corriam risco de sofrer com pneumonite química devido à inalação da fumaça.

Para se ter uma ideia do perigo, em 30 de janeiro, três dias após o incêndio, 143 sobreviventes estavam internados em Santa Maria e Porto Alegre com a doença.

Ao comentar o caso, o pneumologista pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), Hermano Albuquerque de Castro explicou que quem sobrevive a incêndios costuma inalar fumaça (produtos incompletos da combustão).

Esse cenário leva a:

“Um dano inflamatório nas vias aéreas que pode ser responsável por até 70% da mortalidade em pacientes vítimas dos incêndios. A fumaça é a mistura de gases, como o monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e material particulado. Os gases e os particulados podem agir diretamente sobre as células que constituem o revestimento pulmonar produzindo o processo inflamatório”.

Segundo o especialista, o pulmão pode sofrer:

  • Lesão térmica direta, decorrente da temperatura da fumaça
  • Redução da inalação do oxigênio com diminuição da fração inspirada de oxigênio
  • Inflamação aguda local ou sistêmica por gases tóxicos.

Além dos incêndios, a inalação de gases tóxicos pode resultar de exposição por proximidade a uma fábrica e suas chaminés, ou, mais frequentemente, ter origem ocupacional.

Exposição ocupacional

Ambientes e atividades laborais que permitam contato com vapores, névoas, fumaça e solventes elevam o risco de adoecimento por pneumonia química.

Portanto, o ideal é que as empresas implementem medidas de segurança e saúde no trabalho, prevenindo ou diminuindo o contato com esses agentes químicos.

Muitas vezes, essas ações são reforçadas pelo uso de equipamento de proteção individual (EPI) como máscaras faciais.

Aspiração de suco gástrico

Pacientes inconscientes ou semiconscientes devido à anestesia, overdose de drogas ou álcool ficam sujeitos a aspirar suco gástrico, que também é nocivo ao tecido pulmonar.

Isso ocorre quando elas inalam o conteúdo do vômito.

Portanto, é essencial que as equipes de saúde estejam atentas nesses casos, dando suporte até que a pessoa recupere a consciência.

Pneumonite química

A pneumonia química indica um tipo de pneumonia com menor prevalência que a bacteriana ou viral

Quais os sintomas da pneumonia química?

Apesar de ser um tipo de pneumonia, a reação provocada pela pneumonite química não costuma ter relação com infecções.

Por isso, a febre não é um sintoma comum na maioria dos casos, embora possa surgir.

O quadro típico da doença inclui três principais manifestações clínicas:

  1. Dispneia
  2. Tosse com muco espesso, espumoso e rosado
  3. Cansaço crônico.

Geralmente, os sintomas se iniciam de maneira repentina, porém, tardia.

Os incômodos podem surgir até 72 horas após a inalação de agentes tóxicos, o que dificulta que pacientes e acompanhantes os associem à inalação de substâncias tóxicas.

Doses elevadas desses agentes tendem a desencadear quadros críticos, com dispneia grave e até perda da consciência.

Dependendo do caso de pneumonia química, outros sinais podem aparecer, a exemplo de:

  • Sibilos
  • Hemoptise
  • Dor de garganta
  • Desconforto abdominal
  • Enjoo
  • Confusão mental
  • Febre
  • Mal-estar generalizado.

Como é feito o diagnóstico da pneumonia química?

A patologia tem diagnóstico clínico, que pode ser confirmado através de exames como o raio X de tórax.

No entanto, as etapas do exame clínico são fundamentais para a suspeita de pneumonia química.

Veja a seguir as três principais fases do diagnóstico.

Anamnese

A entrevista com o paciente é o primeiro passo na investigação da pneumonite química.

Dependendo do estado clínico, pode haver dificuldade para responder às questões, devido à sensação de falta de ar característica do quadro inflamatório nos pulmões.

Ou mesmo devido à confusão mental, que torna as memórias turvas.

Nesses casos, vale pedir ajuda ao acompanhante, a fim de fazer uma avaliação integral do doente.

A anamnese permite que o médico se aproxime e crie um ambiente confiável, a fim de deixar o cliente à vontade para comentar detalhes que considere importantes.

Nesse cenário, cabe ampliar as conversas para que não fiquem restritas à queixa principal, coletando informações sobre estilo de vida, hábitos e, em especial, acontecimentos dos últimos dias.

É recuperando os fatos que paciente e acompanhante podem se recordar de exposição à fumaça, névoa ou vapor possivelmente tóxicos.

Quem lida com esses riscos no trabalho também poderá mencionar detalhes do dia a dia na empresa, fornecendo dados indispensáveis ao diagnóstico.

O que é pneumonia química

O raio X de tórax é um dos exames mais solicitados para a investigação de quadros de pneumonia química

Avaliação física

Logo após a anamnese, vem o exame físico e avaliação dos sintomas.

Como mencionei mais acima, a combinação entre dispneia e tosse produtiva sugere pneumonite química, principalmente se houver histórico de exposição a gases tóxicos.

Daí a necessidade de verificar a coloração do muco, além de realizar manobras de:

  • Inspeção: observação visual do paciente na busca por alterações decorrentes de doenças. Além da tolerância a movimentos e possíveis dificuldades na fala, vale analisar se há pontos de cianose, examinando boca e pontas dos dedos
  • Palpação: consiste no tato do médico para reconhecer anomalias na forma, volume e outros aspectos físicos que indiquem hipóxia e mau funcionamento pulmonar
  • Percussão: leves toques e “golpes” no corpo do paciente, que emitem sons próprios e podem apontar alterações específicas
  • Ausculta: refere-se à escuta dos sons emitidos pelo organismo através de ferramentas como o estetoscópio. É útil para identificar sibilos (chiados no peito), por exemplo.

Após o exame clínico, dá para formular uma ou mais suspeitas e solicitar procedimentos complementares.

Exames complementares

Certos procedimentos ajudam a tirar dúvidas sobre o diagnóstico, confirmando ou afastando a suspeita de pneumonia química.

Os mais comumente solicitados são:

  • Raio X de tórax: emprega radiação ionizante para formar uma fotografia interna torácica. As imagens radiográficas aparecem em preto, branco e tons de cinza, de acordo com a densidade do tecido (que interfere na captação de raios X). Como os pulmões são cheios de ar (que aparece em preto), massas e inflamações podem ser observadas em tons mais claros
  • Oximetria de pulso: oferece dados sobre a saturação de oxigênio com agilidade e de forma não invasiva. O oxímetro é um pequeno dispositivo colocado no dedo do paciente, que usa sensores para monitorar os níveis de O2. Por isso, dá suporte na identificação de hipoxemia, que é caracterizada por uma saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente
  • Teste de escarro: é um exame laboratorial que consiste na avaliação de amostra do fluido eliminado via tosse para constatar o agente causador da pneumonia
  • Tomografia computadorizada torácica: exame de imagem mais sofisticado que o raio X, pois usa radiação combinada a um tubo giratório para coletar vários cortes de imagens de uma mesma região, a partir de diferentes perspectivas. A TC de tórax pode ser solicitada quando o paciente chegar ao serviço de saúde em estado grave, tiver piora repentina ou pertencer a grupos de risco, a exemplo de idosos e pneumopatas.

Como tratar pneumonia química?

O tratamento consiste na manutenção da via aérea, aumento da disponibilidade de oxigênio e combate à inflamação.

Primeiramente, pode ser realizada broncoscopia, exame de imagem que emprega um cateter, para desobstrução da traqueia, eliminando partículas e outros materiais irritantes ao trato respiratório.

Em alguns casos, será preciso realizar oxigenoterapia ou mesmo intubar o paciente para a suplementação de O2.

O quadro também pode ser aliviado com a administração de broncodilatadores de ação curta, combinados às demais medidas para restabelecer o fluxo aéreo normal.

Por vezes, há suspeita de infecção secundária, como a pneumonia bacteriana, pois a doença química deixa os órgãos mais suscetíveis a microrganismos patógenos.

Nesse contexto, são usados antibióticos.

Por fim, mas não menos importante, cabe ao médico ficar atento à condição clínica do paciente, encaminhando-o à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quando reparar em dispneia intensa.

O monitoramento da saturação de oxigênio periodicamente auxilia nessa tarefa, evidenciando sinais de alerta como SatO2 abaixo de 85%, que representa alto risco de parada cardiorrespiratória.

Telemedicina no diagnóstico da pneumonia química

Telemedicina é uma disciplina que nasceu e evoluiu a partir de inovações tecnológicas para conectar profissionais de saúde.

Dada a complexidade de tarefas como a interpretação de exames, uma das primeiras utilidades dessa área foi o pedido de segunda opinião médica por telefone.

Mais tarde, os aparelhos de fax permitiram o envio de gráficos de ECG para especialistas distantes geograficamente, que analisavam os registros e enviavam sua opinião pelo equipamento.

No Brasil, a prestação de serviços médicos a partir de tecnologias da informação e comunicação (TICs) é regulamentada desde o início do século 21, quando foi publicada a Resolução CFM 1.643/2002.

Duas décadas mais tarde, a nova Resolução CFM 2.314/2022 substituiu a primeira, definindo a telemedicina como:

“O exercício da medicina mediado por Tecnologias Digitais, de Informação e de Comunicação (TDICs), para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e lesões, gestão e promoção de saúde”.

Nesse cenário, empresas modernas como a Telemedicina Morsch vêm otimizando a emissão de laudos de exames como o raio X torácico e a TC de tórax.

Basta que um médico ou técnico em radiologia in loco conduzam os exames normalmente e, em seguida, compartilhem as imagens em nosso software de telemedicina.

Equipamentos digitais podem ser configurados para enviar os arquivos DICOM diretamente ao nosso PACS em nuvem.

Em seguida, um radiologista de plantão inicia a avaliação das imagens, considerando dados do paciente e a suspeita de pneumonia química.

Ele produz o laudo médico, assinado digitalmente e liberado no sistema.

Dessa forma, sua equipe recebe laudos online em minutos via plataforma de telemedicina.

Leve essa inovação para sua clínica hoje mesmo, clicando aqui.

Conclusão

Espero que este artigo tenha ajudado a expandir seus conhecimentos sobre pneumonia química.

A história de exposição a fumaças, vapores e névoas contendo agentes tóxicos, ou de aspiração de suco gástrico auxiliam no diagnóstico dessa doença.

Lesões ao tecido pulmonar são visualizadas com o suporte de exames radiológicos como raio X e tomografia, que podem ser laudados a distância.

Conte com a] e ao diagnóstico.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin