CID-11: o que muda na revisão da Classificação Internacional de Doenças?

Por Dr. José Aldair Morsch, 7 de dezembro de 2023
CID 11

Depois de mais de 30 anos, foi publicada a CID-11, revisão recente da Classificação Internacional de Doenças.

Anteriormente, as edições saíam a cada década, no entanto, a CID-10 acabou se estendendo a partir de atualizações anuais.

A nova versão se destaca pela adaptação a ferramentas digitais, além de conceitos contemporâneos para uma série de assuntos.

Neste artigo, explico as principais mudanças, aplicações e exemplos de códigos da CID-11.

Ao final, apresento os serviços de telemedicina que otimizam atividades diárias no consultório, clínica ou hospital.

O que é CID-11?

CID-11 é a edição mais recente da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).

Trata-se de um compilado de condições de saúde publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Desde a primeira edição, criada em 1900, a classificação se propõe a padronizar a nomenclatura das doenças e agravos, atribuindo códigos específicos que podem ser empregados em diferentes países.

Como adiantei na introdução do texto, as revisões anteriores eram finalizadas em intervalos de 10 anos.

A exceção foi a CID-10, que vigorava desde 1989 e recebia atualizações a cada ano para evitar a obsolescência.

Quando entra em vigor a CID-11

A expectativa é que a nova classificação seja empregada nos sistemas de informação da vigilância a partir de 1º de janeiro de 2025.

Segundo informa o site do Ministério da Saúde,

“O período de transição da CID-10 para a CID-11, incluindo a aplicação da classificação para coleta de dados, implica na definição de prazos e ações estratégicas necessárias para essa migração. Seguindo a estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), o período de transição deve ocorrer entre dois e três anos”.

Em 2022, o órgão iniciou a coordenação do processo de tradução da CID-11 para a língua portuguesa – rompendo com uma das barreiras para o uso da nova versão no Brasil.

Para isso, a pasta conta com a parceria da Câmara Técnica Assessora para Gestão da Família de Classificações Internacionais, Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Como acessar a CID-11?

A versão em inglês para a CID-11 está disponível no site da OMS.

Também é possível visualizar uma versão traduzida para o espanhol, mas a tradução para a língua portuguesa ainda não foi finalizada.

O que mudou na CID-11?

A nova edição traz alterações importantes e outras mais pontuais.

Alguns exemplos são descritos no comentário “Classificação Internacional das Doenças – 11ᵃ revisão: da concepção à implementação”, que cita:

  • Conhecimento médico atualizado. A ampla gama de entidades nosográficas reflete o desenvolvimento científico
  • Revisão e atualização da seção que versa sobre a segurança do paciente
  • Conceitos contemporâneos de atenção primária, com maior atenção ao campo de atuação em que grande parte dos diagnósticos são realizados
  • Atualização da seção sobre HIV, justificada pelos muitos achados sobre o tema nas últimas décadas
  • Seção suplementar para avaliação funcional do paciente antes e após a intervenção
  • Incorporação de todas as doenças raras, ganho importante no campo da pesquisa científica
  • Os códigos referentes a estresse pós-traumático foram atualizados e simplificados
  • O novo Capítulo 7 trata de distúrbios de sono-vigília, anteriormente apresentados nos capítulos sobre sistema respiratório, sistema nervoso ou saúde mental.

Entro em detalhes sobre outras mudanças a seguir.

Formato digital

Compilada a partir de dados de mais de 90 países, a CID-11 foi totalmente digitalizada, além de receber recursos multilíngues que permitem o uso em vários idiomas.

O formato simplifica a migração das tabelas de transição de e para CID-10, favorecendo a transformação digital na saúde.

Codificação sobre resistência bacteriana

Superbactérias ou bactérias resistentes a antibióticos causam cada vez mais preocupação na comunidade médica, científica e sociedade em geral.

Por isso, ganharam relevância na nova CID, que atribui codificações específicas para condições relacionadas a esses microrganismos.

Incongruência de gênero integra capítulo sobre saúde sexual

O termo “incongruência de gênero” se refere à transexualidade, substituindo o antigo “distúrbio de identidade de gênero”.

A troca remete a uma mudança muito mais profunda, pois a condição deixa de ser considerada doença mental.

De acordo com o já mencionado comentário a respeito da atualização da CID:

“A preocupação com a inclusão social e a aceitação das diferenças são aspectos relevantes da nova versão da CID. A codificação dessa condição por meio de pensamentos de cunho exclusivamente cultural, sem o devido embasamento científico, não seria possível”.

Novo capítulo sobre medicina tradicional

Práticas baseadas em teorias e experiências de diferentes culturas para a manutenção da saúde são empregadas por várias nações por todo o planeta.

Contudo, elas não contavam com registros oficiais, o que dificultava seu monitoramento e até a identificação de maneira padronizada.

Nesse cenário, a nova CID dedica todo o capítulo 26 a essas atividades, por vezes milenares, viabilizando seu acompanhamento e reconhecimento.

Significado Cid 11

CID-11 reúne compilado de condições de saúde publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

Transtornos dos jogos eletrônicos

A inclusão de gaming disorder na classificação acompanha a popularização e uso excessivo de jogos eletrônicos na atualidade.

Esse tipo de transtorno foi enquadrado como uma das condições que podem gerar adição, desde que atenda a critérios como um padrão de comportamento que interfira no funcionamento do indivíduo, prejudicando seu desempenho em diferentes esferas da vida.

Migração de autismo para TEA

Outra atualização importante se refere ao autismo, mencionado na CID-10 como autismo infantil ou autismo atípico dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD).

Já na CID-11, a condição recebe a nomenclatura transtorno do espectro autista (TEA), dentro da qual há subdivisões conforme os níveis de deficiência intelectual e linguagem funcional.

Nesse cenário, o termo TEA substitui classificações anteriores como a síndrome de Asperger, uma vez que, como observa estudo sobre o tema:

“Há uma tendência de agrupamentos mais conceituais e menos descritivos comportamentalmente. Nesses domínios de reciprocidade e comunicação social, são incluídos subdomínios associados a aspectos da linguagem pragmática e desempenho de habilidades sociais, como o ato de conversar adequadamente e gerenciar parcerias sociais”.

Síndrome de burnout

Doença ocupacional caracterizada pelo esgotamento mental, o burnout foi incluído no capítulo sobre Fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde da CID-11.

Na prática, a OMS não considera a condição como uma afecção clássica, e sim como consequência do estresse ocupacional crônico que não foi gerenciado com sucesso.

Ou seja, a síndrome de burnout deve ser considerada apenas dentro do contexto do trabalho, possuindo três dimensões:

  1. Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia
  2. Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho
  3. Redução da eficácia profissional.

A seguir, trago exemplos de códigos utilizados na CID-11.

Exemplos de códigos da CID-11

Antes de apresentar alguns códigos, vale pontuar que seu formato mudou.

Na CID-10, a sequência é formada por três componentes, sendo o primeiro uma letra que designa o capítulo, seguida por dois dígitos expressando o grupo e, depois, um número para designar a condição de saúde.

Já na CID-11, a sequência começa com um número que representa o capítulo, seguido por duas letras (ou uma letra e um número) que se referem ao grupo de afecções e, por fim, mais dois numerais para identificar a condição.

Para simplificar, listo alguns códigos abaixo:

  • 022E63 – Neoplasia melanoma in situ
  • 022E65Neoplasia de mama in situ
  • 055A11 – Diabetes mellitus tipo 2
  • 066A71 – Transtorno depressivo recorrente
  • 066B00 – Transtorno de ansiedade generalizada
  • 088B00 – Hemorragia cerebral
  • 11BA00 – Hipertensão
  • 11BA40Angina pectoris
  • 11BA41 – Infarto agudo do miocárdio
  • 12CA40 – Pneumonia
  • 13DA42Gastrite
  • 13DD51 – Hérnia inguinal
  • 15FB83.1 – Osteoporose
  • 16GA10 – Endometriose
  • 16GA90Hiperplasia da próstata
  • 24QD85 – Burnout
  • 25RA01.0 – COVID-19, vírus identificado.

O novo formato exige a atualização de médicos e demais profissionais de saúde.

Para que serve a Classificação Internacional de Doenças (CID)?

A CID serve como ferramenta estatística de saúde.

Dessa forma, padroniza a nomenclatura de diferentes condições e permitindo seu acompanhamento em diversas partes do mundo.

Conforme observa o braço da OMS nas Américas, chamado Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a Classificação Internacional de Doenças é usada para registrar e monitorar:

  • Causas de morte
  • Atenção primária
  • Câncer
  • Segurança do paciente
  • Dermatologia
  • Documentação da dor
  • Alergologia
  • Reembolso
  • Documentação clínica
  • Dicionários de dados para Diretrizes da OMS
  • Documentação digital do status de vacinação contra a COVID-19
  • Resultados de testes, etc.

Suas aplicações não se restringem ao registro de dados.

Ao padronizar os códigos para cada condição de saúde, a CID contribui para qualificar a assistência.

Isso porque, por meio dela, os profissionais encontram informação de interesse a respeito da conduta médica requerida, desde o diagnóstico até a abordagem terapêutica.

No campo da administração hospitalar, os códigos colaboram para a organização de registros como o prontuário médico.

Também facilitam o acesso aos procedimentos junto aos planos de saúde, proporcionando agilidade à busca e autorização dos serviços.

Com a adoção da CID-11, gestores, profissionais e até pacientes poderão consultar os códigos, suas especificações e divisões de modo simples.

Isso favorece a clareza e transparência das informações, fortalecendo a confiança dentro da relação médico-paciente.

Classificação Internacional de Doenças 11

Na CID-11, a sequência começa com um número que representa o capítulo, seguido por duas letras

Como a CID está estruturada?

A nova edição contém 28 capítulos e aproximadamente 17 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, embasados por mais de 120 mil termos codificáveis.

São muitas as possibilidades de combinações, capazes de gerar mais de 1,6 milhão de situações clínicas.

Veja os temas abordados em cada capítulo a seguir:

  1. Certas doenças infecciosas ou parasitárias (1A00 a 1G85)
  2. Neoplasias (2A00 a 2F9G)
  3. Doenças do sangue ou dos órgãos hematopoiéticos (3A00 a 3B81)
  4. Doenças do sistema imunológico (4A00 a 4B40)
  5. Doenças endócrinas, nutricionais ou metabólicas (5A00 a 5D56)
  6. Transtornos mentais, comportamentais ou do neurodesenvolvimento (6A00 a 6E69)
  7. Distúrbios do sono-vigília (7A00 a 7B02)
  8. Doenças do sistema nervoso (8A00 a 8E66)
  9. Doenças do sistema visual (9A00 a 9D93)
  10. Doenças do ouvido ou processo mastóide (AA00 a AB93)
  11. Doenças do sistema circulatório (BA00 a BE1F)
  12. Doenças do sistema respiratório (CA00 a CB64)
  13. Doenças do aparelho digestivo (DA00 a DE13)
  14. Doenças da pele (EA00 a EL80)
  15. Doenças do sistema musculoesquelético ou tecido conjuntivo (FA00 a FC01)
  16. Doenças do aparelho geniturinário (GA00 a GC7B)
  17. Condições relacionadas à saúde sexual (HA00 a HA6Z)
  18. Gravidez, parto ou puerpério (JA00 a JB65)
  19. Certas condições originadas no período perinatal (KA00 a KD3C)
  20. Anomalias de desenvolvimento (LA00 a LD90)
  21. Sintomas, sinais ou achados clínicos, não classificados em outra parte (MA00 a MH16)
  22. Lesões, envenenamento ou outras consequências de causas externas (NA00 a NF0A)
  23. Causas externas de morbidade ou mortalidade (PA00 a PL14)
  24. Fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde (QA00 a QF10)
  25. Códigos para fins especiais (RA00 a RA26)
  26. Capítulo Suplementar Doenças da Medicina Tradicional – Módulo I (SA00 a SH74)
  27. Seção suplementar para avaliação funcional (VD00 a VW61)
  28. Códigos de Extensão (XS8H a XD6UU3).

Conhecer a CID-11, portanto, é parte da rotina médica daqui para a frente.

Saiba mais sobre as classificações da CID com a telemedicina

A transição da CID-10 para CID-11 vai levar alguns anos, mas é importante que os profissionais de saúde estejam familiarizados com o novo código.

Naturalmente, existem sistemas que facilitam a consulta às classificações, como o prontuário eletrônico da Telemedicina Morsch.

Mais que um simples registro digital do histórico do paciente, esse software em nuvem reúne uma lista de recursos completa para auxiliar a equipe médica, englobando:

  • Módulos individuais das especialidades, como médicos, enfermagem, paramédicos
  • Usabilidade para ter na tela todas as janelas na forma de abas
  • Tabelas de medicamentos e fórmulas
  • CID de todas as doenças em apenas um clique
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Conclusão

Neste artigo, abordei os principais tópicos sobre a CID-11, que logo vai substituir a CID-10.

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Leia outros conteúdos para médicos que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin