TI-RADS: o que é, como funciona e quais as categorias da classificação?

Por Dr. José Aldair Morsch, 14 de março de 2025
TI-RADS

A classificação TI-RADS contribui para padronizar o diagnóstico e a conduta a respeito de nódulos na tireoide.

Utilizando essa ferramenta, médicos podem identificar características de malignidade, reduzindo a solicitação de procedimentos desnecessários e o desconforto para o paciente.

Também é possível focar nos achados suspeitos, o que permite a detecção precoce de doenças e aumenta as chances de sucesso do tratamento.

Continue a leitura deste artigo para conferir como funciona, quais as categorias e classificações de risco conforme TI-RADS.

Você também vai ficar por dentro das vantagens do telediagnóstico, que acelera a entrega de resultados de exames de imagem.

O que é TI-RADS?

TI-RADS é uma ferramenta de classificação de nódulos tireoidianos, criada pelo ACR (American College of Radiology).

A abreviação corresponde ao Thyroid Imaging, Reporting and Data System, ou Sistema de imagens, relatórios e dados da tireoide, em uma tradução livre.

O TI-RADS padroniza aspectos do diagnóstico e da conduta médica a partir de características dos achados, observadas através da ultrassonografia.

É inspirado no BI-RADS, sistema empregado para classificar nódulos nas mamas.

Entenda na sequência quais são os objetivos da categorização estabelecida pela ferramenta.

Para que serve a classificação TI-RADS?

TI-RADS serve para apontar as chances de malignidade de nódulos na tireoide.

Para tanto, ela oferece 5 características que, uma vez avaliadas, oferecem pontos que devem ser somados para atribuir um dos escores – de 1 a 5.

Quanto maior a pontuação final, maior o risco de câncer, uma vez que o nódulo terá dois ou mais aspectos comuns a neoplasias.

Ao estabelecer critérios objetivos para a avaliação dessas massas nas imagens ultrassonográficas, a classificação simplifica a identificação de achados suspeitos e sua diferenciação daqueles com menor potencial de malignidade.

Qual a importância do TI-RADS?

Embora o surgimento de nódulos de tireoide seja frequente, nódulos incidentais têm baixa incidência de malignidade.

Combinado à popularização da ultrassonografia de alta resolução para analisar alterações na tireoide, esse fator pode resultar na realização de procedimentos invasivos sem necessidade, diante de nódulos notadamente benignos.

O que consome tempo e outros recursos, além de causar ansiedade e expor o paciente a riscos desnecessários, relacionados à punção aspirativa com agulha fina (PAAF) ou biópsia excisional.

O TI-RADS viabiliza uma estratificação de risco por meio de uma sistematização que evidencia os casos com maior suspeita de malignidade, reduzindo a solicitação de exames e outros procedimentos se houver maiores indícios de benignidade.

Também permite o diagnóstico precoce de câncer e outras condições patológicas que acometem a glândula tireoide, colaborando para uma maior celeridade no tratamento.

Como funciona a classificação TI-RADS?

Mencionei, mais acima, que a classificação utiliza as características do nódulo, que recebem pontuações para o futuro enquadramento numa das categorias de risco.

Tudo começa com a solicitação do exame de ultrassom da tireoide, que permite visualizar a glândula, linfonodos e outras estruturas em redor.

Rápido, simples, não invasivo e indolor para o paciente, esse método de diagnóstico por imagem é capaz de exibir alterações nas estruturas anatômicas, incluindo cistos e nódulos.

Geralmente, o procedimento é pedido diante de alterações em exames de rotina, como a elevação no nível de TSH e sintomas de doenças na tireoide, a exemplo de:

A partir das imagens exibidas pela ultrassonografia, o radiologista avalia cinco características, atribuindo os respectivos pontos para cada uma.

Por fim, soma todos eles para chegar à pontuação final e enquadrar a massa numa das categorias do TI-RADS, como explico mais à frente.

TI-RADS nódulos

O TI-RADS viabiliza uma estratificação de risco por meio de uma sistematização que evidencia os casos

Quais as características avaliadas na TI-RADS?

Agora que falamos sobre o processo de classificação, vamos avançar para as cinco características que embasam os escores de TI-RADS.

Tomei como referência o artigo “TI-RADS-ACR 2017: ensaio iconográfico”.

Acompanhe:

Composição

A análise começa com o conteúdo interno do nódulo, que pode ser formado por tecido sólido, fluido ou uma mistura deles.

A massa pode apresentar componente interno:

  • Cístico: preenchido por fluido de forma completa, ou quase completa. Pontos: 0
  • Espongiforme: contendo múltiplos pequenos espaços císticos que correspondem a menos de metade do volume total. Pontos: 0
  • Sólido-cístico: tem tecido sólido e cístico, podendo um deles predominar. Pontos: 1
  • Sólido: o tecido sólido preenche total ou quase totalmente a área interna do nódulo. Também é o enquadramento dado quando não se pode determinar a composição da massa na tireoide. Pontos: 2.

A próxima característica avaliada é a ecogenicidade.

Ecogenicidade

De forma simplificada, a ecogenicidade revela o quanto um tecido reflete as ondas de radiofrequência empregadas na ultrassonografia, na comparação com as estruturas em redor.

No caso da tireoide, deve-se comparar o tecido sólido do nódulo às estruturas adjacentes (parênquima tireoidiano ou musculatura cervical anterior), verificando se é:

  • Hiperecoico: caso a ecogenicidade esteja aumentada em relação ao parênquima tireoidiano. Pontos: 1
  • Isoecoico: se a ecogenicidade for semelhante à do parênquima tireoidiano. Casos em que essa característica não puder ser determinada também devem ser considerados isoecoicos. Pontos: 1
  • Hipoecoico: quando a ecogenicidade é reduzida em relação ao parênquima tireoidiano. Pontos: 2
  • Marcadamente hipoecoico: caso a ecogenicidade seja reduzida em relação à musculatura cervical anterior. Pontos: 3.

Então, passamos a avaliar a forma do achado.

Forma

Para avaliar a forma, deve-se comparar o diâmetro anteroposterior e o diâmetro horizontal medido no plano transversal, com o objetivo de identificar se o nódulo é mais alto ou mais largo.

Ele será mais alto do que largo quando o diâmetro anteroposterior for maior que o diâmetro horizontal no plano transverso – o que corresponde a um achado de alta especificidade para lesões malignas, que acrescenta 3 pontos ao escore.

Margens

A definição e aspecto das margens se refere à borda do nódulo com o parênquima tireoidiano/extratireoidiano adjacente, que pode ser:

  • Lisa: engloba os nódulos de bordas bem definidas, sem interrupções e curvilíneas. Pontos: 0
  • Irregular: também chamada lobulada, a margem pode ter formato denteado, espiculado ou com ângulos agudos, além de protusões bem definidas de partes moles. Pontos: 2
  • Extensão extratireoidiana: classificação dada para lesões que ultrapassam a borda da tireoide, invadindo tecidos moles e/ou estruturas vasculares subjacentes. Pontos: 3
  • Mal definida ou indefinida: se refere a uma borda de difícil distinção com o parênquima tireoidiano, que não apresenta irregularidades ou espículas. Pontos: 0.

Por fim, a análise busca por focos ecogênicos.

Focos ecogênicos

Nesta última categoria, deve-se identificar regiões focais de aumento significativo da ecogenicidade na área interior do nódulo.

Pode haver uma ou várias delas, com diferentes formas, tamanhos e/ou em associação com artefatos de atenuação posterior.

Dá para identificar lesões do tipo:

  • Focos ecogênicos puntiformes: observados nas imagens do ultrassom como pequenos pontos ecogênicos sem sombra acústica posterior. Pontos: 3
  • Macrocalcificações: calcificações de tamanho suficiente para gerar sombra acústica posterior, podendo apresentar formas irregulares. Pontos: 1
  • Calcificações periféricas: ocupam a periferia do nódulo, sem que sejam necessariamente contínuas. Costumam gerar sombras acústicas que obscurecem o conteúdo central do nódulo. Pontos: 2.

Entenda na sequência como é a classificação conforme a malignidade do achado.

Quais as categorias de risco da classificação TI-RADS?

Também são cinco as categorias do TI-RADS, classificadas em ordem crescente de risco para malignidade.

Ou seja, quanto maior a pontuação, maior o número atribuído e as chances de ser uma lesão carcinogênica.

Veja detalhes sobre cada categoria abaixo:

TI-RADS 1

Essa categoria reúne os nódulos classificados como benignos, a exemplo de nódulos completamente císticos, predominantemente císticos e espongiformes.

Eles não marcam nenhum ponto, recebendo o escore 0 conforme suas características.

TI-RADS 2

Lesões provavelmente benignas se enquadram nesta categoria, recebendo a pontuação máxima de 2 pontos.

TI-RADS 3

Achados levemente suspeitos para malignidade recebem TI-RADS 3, somando 3 pontos devido a suas características.

Um exemplo foi descrito da seguinte maneira no já mencionado estudo “TI-RADS-ACR 2017: ensaio iconográfico”:

“Nódulo sólido (2 pontos), hiperecogênico (1 ponto), mais largo do que alto (0 pontos), margens lisas (0 pontos), sem artefatos de atenuação posterior ou focos ecogênicos (0 pontos). Ao total foram 3 pontos, sendo classificado como TI-RADS 3”.

TI-RADS 4

Nódulos moderadamente suspeitos se enquadram nessa categoria, somando entre 4 e 6 pontos a partir de suas características.

Confira outro exemplo prático descrito no artigo sobre TI-RADS:

“Nódulo sólido (2 pontos), hipoecoico (2 pontos), mais largo do que alto (0 pontos), margem lobulada (2 pontos), sem artefatos de atenuação posterior ou focos ecogênicos (0 pontos). Ao total foram 6 pontos, sendo classificado como TI-RADS 4”.

TI-RADS 5

A última categoria reúne os achados altamente suspeitos de malignidade, cujas características lhes atribuíram 7 pontos ou mais, a exemplo de um:

“Nódulo sólido (2 pontos), hipoecoico (2 pontos), mais largo do que alto (0 pontos), com extensão extratireoidiana (3 pontos), sem artefatos de atenuação posterior ou focos ecogênicos (0 pontos). Ao total foram 7 pontos, sendo classificado como TI-RADS 5”.

Ferramenta TIRADS

São cinco as categorias do TI-RADS, classificadas em ordem crescente de risco para malignidade

Como usar a classificação TI-RADS no tratamento médico?

Apesar de o cálculo do escore e enquadramento em uma das categorias de risco ser importante, a aplicação do TI-RADS não se encerra nessa etapa.

Após a estratificação de risco, é possível verificar qual a conduta médica indicada para cada categoria, que consiste em:

  • Conduta para TI-RADS 1 e 2: seguimento desnecessário para achados benignos e provavelmente benignos
  • Conduta para TI-RADS 3: avaliação do tamanho do nódulo para lesões levemente suspeitas de malignidade. Nesse cenário, a PAAF é recomendada caso o nódulo tenha 2,5 cm ou mais, e o seguimento, para massas com 1,5 cm ou menos, com novos exames realizados após 1, 3 e 5 anos
  • Conduta para TI-RADS 4: se a lesão medir até 1 cm, é indicado seguimento em 1, 2, 4 e 5 anos. Já nódulos medindo 1,5 cm ou mais devem ser submetidos à PAAF
  • Conduta para TI-RADS 5: tumores com 1 cm ou mais devem ser puncionados, enquanto aqueles menores que 0,5 cm podem ser acompanhados por meio de exames de seguimento anuais.

Cabe reforçar que, assim como outros sistemas de classificação, o TI-RADS não deve ser usado isoladamente para diagnosticar uma lesão e decidir sobre a abordagem terapêutica.

Queixas, dados do histórico do paciente, do exame clínico e de outros procedimentos complementares devem ser considerados, bem como as preferências do próprio paciente.

Para tanto, é fundamental que o médico empregue seu raciocínio clínico e expertise para orientar sobre o tratamento mais adequado para cada indivíduo, de forma personalizada.

Quais as vantagens do laudo a distância em exames de imagem?

O laudo a distância está disponível para diferentes exames radiológicos que dispensam a presença de um especialista durante sua realização.

Nesse contexto, o serviço de telediagnóstico é útil para procedimentos que auxiliam no diagnóstico de problemas na tireoide e em outras estruturas anatômicas, gerando imagens passíveis de interpretação remota.

É o caso do raio-X, mamografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética etc., que podem ter os registros avaliados através da radiologia online.

Basta que os exames sejam realizados normalmente por um médico ou técnico em radiologia devidamente treinado.

Em seguida, ele compartilha os registros via plataforma de telemedicina.

Empresas modernas como a Morsch disponibilizam um software de telemedicina em nuvem, que pode ser acessado a partir de qualquer dispositivo conectado à internet.

Outra facilidade está na configuração do equipamento para o envio automático das imagens ao nosso PACS.

Uma vez visíveis, elas são analisadas por um radiologista especializado na área do exame, que compõe o laudo online.

O profissional finaliza o documento com sua assinatura digital, garantindo a autenticidade, e o libera em minutos no sistema!

O laudo digital pode ser impresso, enviado por e-mail ou aplicativos de mensagens, ou mesmo disponibilizado ao paciente por meio de login e senha na plataforma.

Em nosso software, os documentos ficam armazenados na nuvem, onde são protegidos por criptografia de ponta a ponta, e podem ser anexados ao prontuário eletrônico.

No mesmo ambiente virtual, a equipe médica ainda encontra a opção de segunda opinião médica, teleconsulta integrada ao prontuário e muito mais!

Conheça todas as soluções disponíveis neste link!

Conclusão

Neste artigo, apresentei a classificação TI-RADS, destinada a categorizar lesões na tireoide por meio de imagens do ultrassom.

Ficou clara a relevância desse sistema que, contudo, deve ser utilizado junto a outras ferramentas médicas, a fim de aumentar a acurácia diagnóstica.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin