Como interpretar espirometria: quais as informações do exame e o que elas significam?

Por Dr. José Aldair Morsch, 17 de março de 2025
Como interpretar espirometria

Aprender como interpretar espirometria pode parecer algo simples, já que o resultado é fornecido pelo software do aparelho utilizado no exame.

Na prática, porém, não é exatamente assim que funciona, como você vai perceber ao longo deste artigo.

A proposta é que, ao final da leitura, seja possível entender detalhes sobre a espirometria, valores de referência, volumes e capacidades pulmonares descritas nos resultados.

Para começar, enfatizo que, ao realizar um exame pulmonar, perseguir a precisão diagnóstica é indispensável.

E contar com tecnologias modernas colabora para qualificar a interpretação e resultados do exame, empregando, por exemplo, a telemedicina e o laudo a distância.

O que é exame de espirometria?

Espirometria é um exame que avalia a capacidade pulmonar do paciente. Ele quantifica o volume de ar que a pessoa é capaz de inspirar e expirar durante a respiração.

Em outras palavras, mede a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões, além da velocidade com que isso ocorre, o que se chama de análise dos fluxos.

O procedimento também é conhecido por outros nomes, como prova de função pulmonar, prova ventilatória ou teste do sopro.

Este último faz referência ao modo como é realizado – já que o paciente sopra em um tubo conectado ao espirômetro, aparelho que recebe e analisa as informações.

O exame é rápido (dura menos de 30 minutos), não invasivo e indolor para o paciente. Tanto é que a espirometria é utilizada de forma rotineira na pneumologia, como veremos a seguir.

Para que serve a espirometria?

A espirometria serve para avaliar a ventilação pulmonar, verificando possíveis anormalidades durante os movimentos de respiração do paciente.

Como disse anteriormente, o exame checa a quantidade de ar e também a velocidade com que é inspirado e expirado. 

Dessa forma, é usado para identificar possíveis doenças pulmonares restritivas ou obstrutivas.

Falarei mais delas no próximo tópico.

Mas, por enquanto, é importante entender por que a espirometria atua na detecção dessas patologias.

A quantidade de ar movimentada durante um ciclo respiratório é um elemento decisivo para atestar a saúde pulmonar.

Na espirometria, ela é medida durante um determinado período de tempo, permitindo verificar se os pulmões cumprem suas funções de ventilação.

O sinal de alerta é ligado quando há divergência entre os valores medidos e os valores de referência para um determinado grupo de indivíduos, que variam em idade, altura, peso e até etnia.

Quando isso ocorre, é necessário realizar uma investigação mais aprofundada sobre a possibilidade de existência de doenças como:

Na sequência, explico como é realizado esse exame.

Como fazer o exame de espirometria?

Durante o exame, o paciente permanece sentado, em posição confortável, sem que se sujeite a qualquer tipo de esforço.

Um clipe nasal é colocado, de modo a impedir a passagem do ar por suas narinas.

Há um tubo com bocal descartável, conectado ao aparelho de espirometria. Esse tubo é posicionado junto à boca do paciente e é por ali que ele sopra.

De início, ele deve respirar normalmente. Depois, deve encher o pulmão e soprar com força e rapidez – tão rápido e forte quanto for possível para ele.

Esse movimento deve ser realizado por pelo menos seis segundos, até que esvazie por completo os pulmões. 

São obtidos pelo menos três gráficos aceitáveis e reprodutíveis.

O exame pode ser repetido na sequência, desta vez, com a aplicação de uma medicação broncodilatadora, normalmente por spray.

O que ela faz, como o nome indica, é dilatar os brônquios, qualificando o fluxo de ar em uma ação rápida.

Essa versão é chamada de espirometria com prova broncodilatadora.

Como você deve imaginar, seu uso se destina a aprofundar a investigação sobre possíveis doenças pulmonares.

Para tanto, é imprescindível saber como interpretar a espirometria.

Como Interpretar Espirometria infantil

A espirometria normal indica que os resultados estão dentro dos valores de referência

Quais as informações do espirômetro?

Conforme o exame é realizado, o espirômetro já apresenta informações sobre a capacidade pulmonar do paciente.

Veja, a seguir, detalhes sobre algumas delas.

Capacidade vital (CV) 

A CV se refere ao maior volume de ar mobilizado na expiração.

Capacidade vital forçada expiratória (CVF)

A CVF representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, o que se dá a partir do ponto de máxima inspiração.

Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1)

A VEF1 indica o volume de ar que é exalado no primeiro segundo durante a manobra de CVF.

Relação VEF1 / CVF

O diagnóstico de distúrbio obstrutivo é obtido a partir da razão entre as duas medidas. 

O resultado depende de equação determinada conforme o paciente.

Fluxos expiratórios

Envolve diferentes parâmetros, como o fluxo expiratório forçado máximo ou pico de fluxo expiratório, que representa o fluxo máximo de ar durante a manobra de CVF.

Também o fluxo expiratório forçado médio (FEF 25-75%), indicando um parâmetro obtido durante a manobra de CVF.

Como interpretar espirometria?

Antes de explicar como interpretar espirometria, é importante registrar os resultados possíveis no exame.

São cinco possibilidades:

  1. Exame normal
  2. Distúrbio ventilatório obstrutivo (leve, moderado ou grave)
  3. Distúrbio ventilatório restritivo (leve, moderado ou grave)
  4. Distúrbio ventilatório misto (com detecção de anormalidade obstrutiva e restritiva)
  5. Exame inespecífico.

Tais conclusões são obtidas inicialmente, utilizando o relatório gerado pelo espirômetro.

Além dos valores numéricos, o documento apresenta o desempenho do paciente no exame na forma de gráficos de volume-tempo e de fluxo-volume.

Neles, é possível notar a morfologia de curvas expiratórias e inspiratórias, que é o que qualifica a interpretação dos resultados.

A partir delas, é elaborado um laudo que aponta a presença e o tipo de distúrbio ventilatório, detalhes sobre os fluxos expiratório e inspiratório, além da possível resposta ao broncodilatador.

Esse laudo leva em conta valores de referência, que variam conforme a idade do paciente, peso, altura e etnia.

Não há como interpretar espirometria corretamente sem levar todos esses fatores em conta.

Vamos, então, aos valores normais e também àqueles que identificam anormalidade no exame.

Resultados da prova de função pulmonar

Apenas pneumologistas qualificados na área do exame podem interpretar a espirometria

Exame normal

A espirometria normal indica que os resultados estão dentro dos valores de referência para um paciente sem doença respiratória.

Ou seja, o exame é definido como normal na comparação com as equações válidas para o mesmo perfil que o do paciente, considerando todos os fatores que mencionei acima.

Distúrbio ventilatório obstrutivo

  • VEF1/CVF < Limite Inferior (LI)
  • VEF1 e fluxos geralmente reduzidos

Se há um distúrbio ventilatório obstrutivo, liga-se o sinal de alerta.

Isso acontece quando os valores obtidos de VEF1/CVF e VEF1 aparecem reduzidos.

Também há obstrução quando existe redução da razão VEF1/CVF% em sintomáticos respiratórios, ainda que haja VEF1 normal.

Em caso de razão VEF1/CVF% limítrofe, uma redução de Fluxo Expiratório Forçado (FEF) 25-75% ou outros fluxos terminais são indicativos de obstrução em sintomáticos respiratórios.

Conforme os parâmetros, o distúrbio obstrutivo pode ser classificado como leve, moderado ou grave, de acordo com os valores abaixo:

Distúrbio ventilatório obstrutivo leve

O distúrbio é considerado leve quando a relação VEF1/CVF (%) fica entre 60 e o Limite Inferior (LI).

Distúrbio ventilatório obstrutivo moderado

Uma relação VEF1/CVF (%) entre 41 e 59 caracteriza um distúrbio obstrutivo moderado.

Distúrbio ventilatório obstrutivo grave

Já quando a relação VEF1/CVF (%) é menor que 40, há distúrbio grave.

Distúrbio ventilatório restritivo

  • VEF1/CVF > Limite Inferior (LI)
  • CVF < LI
  • FEF 25-75%/CVF > 1,5 – com fluxos supranormais, considerando paciente com diagnóstico esperado de restrição.

Quando um padrão restritivo é identificado, temos aí sinais de que há redução da capacidade vital (forçada ou não), redução da VEF1 e do Índice de Tiffeneau normal, o qual resulta da relação VEF1/CVF.

Distúrbio ventilatório restritivo leve

O grau leve é caracterizado por CVF entre 60 e o Limite Inferior (LI).

Distúrbio ventilatório restritivo moderado

Um distúrbio moderado apresenta CVF entre 51 e 59.

Distúrbio ventilatório restritivo grave

Já uma classificação grave é dada se a CVF estiver abaixo de 50.

Distúrbio ventilatório misto

  • VEF1/CVF < Limite Inferior (LI)
  • CVF < LI.

Além disso, há três situações possíveis com base na diferença entre os percentuais previstos de CVF menos VEF1.

Geralmente, a diferença em percentual entre o VEF1 e a CVF é <12%.

Nesse contexto, o resultado aponta para a presença de processo obstrutivo associado à restrição.

Frequentemente, é um resultado que requer a medição da capacidade pulmonar total (CPT).

Exame inespecífico

Em certos casos, há presença de anormalidade ventilatória, porém, sem elementos para identificar obstrução ou restrição de forma clara.

Comumente, os valores registrados não atendem a todos os quesitos de classificação para distúrbios ventilatórios obstrutivos, restritivos ou mistos.

Um exemplo foi descrito no estudo “Bases e Aplicações Clínicas dos Testes de Função Pulmonar” da seguinte forma:

“Na ausência de uma causa aparente para restrição, o encontro de redução da capacidade vital associada à relação VEF1/CVF normal é um achado inespecífico, o que exige medida da capacidade pulmonar total (CPT) para definir a causa da redução da capacidade vital.”

Quem interpreta a espirometria?

Segundo determina o Conselho Federal de Medicina, apenas pneumologistas qualificados na área do exame podem interpretar a espirometria.

Afinal, é necessário ter conhecimento profundo sobre o funcionamento do sistema respiratório e os parâmetros registrados pelo exame para que seja avaliado corretamente.

A interpretação e emissão do laudo médico podem ser feitas por um especialista da equipe médica local ou a distância, por um pneumologista que atenda via plataforma de telemedicina.

Como Interpretar Espirometria

A espirometria serve para avaliar a ventilação pulmonar, verificando possíveis anormalidades

Como é o laudo da espirometria?

A estrutura básica do laudo de espirometria deve conter:

  • Nome completo do paciente
  • Nome e endereço do local onde o exame foi feito
  • Nome do médico solicitante
  • Data de realização do exame
  • Justificativa para a solicitação do procedimento
  • Conduta e descrição detalhada do exame, incluindo os valores relativos às condições ventilatórias do paciente – VEF1, CVF etc.
  • Hipótese diagnóstica, apontando se há distúrbio ventilatório e de qual tipo
  • Informações adicionais sobre o paciente, como idade, peso, altura, etc.
  • Assinatura do médico responsável pelo laudo.

Caso seja um laudo online, o pneumologista deve inserir sua assinatura digital ao final do documento.

Exame de espirometria na telemedicina

Um exame de espirometria pode ser realizado por um técnico de enfermagem ou um médico do trabalho, se for uma espirometria ocupacional.

Ambos os profissionais se tornam habilitados para conduzir o procedimento, desde que devidamente treinados para isso.

No entanto, não há como interpretar espirometria apenas com base no que o espirômetro informa. 

O problema está na falta de precisão do software, somado ao caráter altamente técnico do exame.

O ideal, portanto, é que os resultados sejam analisados por um pneumologista, como expliquei nos tópicos anteriores.

Por outro lado, o custo de contratação desse profissional pode ser impeditivo, ainda que para demandas específicas.

Mas existe uma solução por meio da telemedicina pneumológica, que viabiliza a interpretação online da espirometria por especialistas com CRM e RQE ativos.

Graças ao avanço da tecnologia, é possível recorrer a uma plataforma online, segura e 100% confiável para isso.

Como interpretar espirometria usando a telemedicina?

A Telemedicina Morsch disponibiliza aos seus clientes um ambiente virtual completo para a transferência de arquivos, inclusive as informações coletadas durante a espirometria.

Tais arquivos são armazenados em nuvem, ou seja, não ficam guardados fisicamente em um computador, o que amplia o acesso a pessoas autorizadas ao mesmo tempo em que garante a segurança dos dados.

De posse de login e senha, o pneumologista recebe essas informações, interpreta os resultados da espirometria e devolve os laudos em cerca de 30 minutos.

A Morsch oferece ainda treinamento para os funcionários que irão realizar os exames e fornece o espirômetro em regime de comodato.

Assim, o equipamento é cedido sem custos mediante a contratação de um pacote de laudos.

Conheça todas as vantagens da telepneumologia aqui!

Conclusão

Conversamos, neste artigo, sobre como interpretar espirometria, um exame fundamental para avaliar a saúde pulmonar.

Apesar de simples, é um procedimento que pode facilmente induzir ao erro se não passar pela análise de um profissional habilitado, que no caso é o médico pneumologista.

Esse especialista pode ser acionado a distância através de um sistema de telemedicina online, com segurança, praticidade e a um custo que cabe no seu orçamento.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin