Ciclo cardíaco: entenda as suas fases e o funcionamento delas
Diversos eventos ocorrem de forma sincronizada para compor o ciclo cardíaco normal.
É através desses movimentos que cada batimento cardíaco se forma, possibilitando a oxigenação e envio do sangue para todo o corpo.
Independentemente do ritmo, o objetivo final é nutrir as células, fornecendo a energia necessária para que realizem suas tarefas e garantam o bom funcionamento de todos os órgãos e sistemas.
Daí a necessidade de que não apenas cardiologistas, como médicos de todas as especialidades compreendam a dinâmica do ciclo cardíaco, assunto que abordo neste artigo.
A partir de agora, trago informações essenciais sobre esse processo, seus componentes e os principais problemas que surgem quando há anormalidades no ciclo.
Se deseja ampliar os conhecimentos a respeito, acompanhe até o final.
Você ainda terá acesso a opções de telemedicina cardiológica de males cardiovasculares na sua unidade de saúde.
O que é ciclo cardíaco?
Ciclo cardíaco é um processo que reúne as atividades padrão do funcionamento do miocárdio.
Conhecido como bomba natural do corpo humano, esse órgão realiza batimentos de modo regular e sincronizado, por meio de movimentos de contração (sístole) e relaxamento (diástole).
Como adiantei na introdução do texto, o propósito do ciclo cardíaco é o envio de sangue oxigenado por todo o organismo.
Para tanto, é preciso que cada estrutura envolvida nos eventos realize sua função de forma adequada.
As principais estruturas relacionadas ao ciclo cardíaco são:
- Câmaras cardíacas (átrios e ventrículos)
- Nó sinusal
- Válvulas atrioventriculares (AV)
- Válvulas semilunares
- Artéria aorta
- Artéria e veia pulmonar
- Veias cavas.
Como funciona o ciclo cardíaco
O ciclo cardíaco funciona a partir de impulsos elétricos e diferenças de pressão.
São essas as forças que fazem as câmaras cardíacas se contraírem e relaxarem.
Vou começar o detalhamento desse processo por uma fase chamada contração isovolumétrica, que corresponde à sístole dos ventrículos (câmaras cardíacas inferiores).
Nesse momento, o eletrocardiograma mostra o pico da onda R e a pressão nos ventrículos aumenta, sem, contudo, elevar o volume dentro deles.
Até que a elevação da pressão ventricular resulta na abertura das válvulas semilunares e no início da etapa de ejeção rápida.
Como o nome sugere, na ejeção rápida há um envio veloz de sangue para a artéria aorta, responsável por distribuir o sangue para os vasos menores.
Em seguida, a queda de volume nos ventrículos perde velocidade, caracterizando a ejeção lenta.
O fechamento das válvulas semilunares encerra a ejeção ventricular, fazendo a pressão cair dentro dessas câmaras – porém, sem que o volume se altere.
É o chamado relaxamento isovolumétrico.
O próximo passo vem com a abertura das válvulas atrioventriculares para que o sangue que chegou aos átrios passe aos ventrículos através do enchimento rápido.
Depois, vem o enchimento lento dos ventrículos e a sístole atrial para completar a passagem de sangue dos átrios aos ventrículos.
Termina assim um ciclo cardíaco, logo após a onda P do traçado do ECG.
Onde começa o ciclo cardíaco?
A resposta mais adequada para essa questão é: o ciclo começa no marco estabelecido para estudar essa dinâmica.
Porque, como se trata de um ciclo, a ideia é que não existe começo ou fim, pois os eventos se repetem de maneira contínua.
Afinal, o coração não pode parar de bater.
Na descrição acima, por exemplo, iniciei a explicação pela sístole ventricular, que é o período de contração dessas câmaras.
No entanto, há quem comece pela sístole atrial e termine na ventricular.
O importante é compreender a sincronia entre os movimentos e sua sequência, que nunca pode mudar.
Mesmo pequenas alterações são potencialmente perigosas, ameaçando o bom funcionamento cardíaco.
Quais são as fases do ciclo cardíaco?
Mais acima, expliquei basicamente a dinâmica do ciclo cardíaco.
De forma simples, ele poderia ser dividido entre sístole e diástole, sempre partindo da perspectiva dos ventrículos.
Entretanto, vale lembrar que as câmaras cardíacas superiores – os átrios – executam movimentos diferentes de forma simultânea aos ventrículos.
Caso contrário, os átrios não estariam preparados para enviar sangue aos ventrículos assim que as válvulas atrioventriculares são abertas.
Apresento a seguir mais informações sobre as seis etapas do ciclo cardíaco.
1. Contração isovolumétrica
Nesse momento, os ventrículos acabaram de receber o sangue proveniente dos átrios.
A pressão ventricular aumenta, fazendo com que as válvulas atrioventriculares (localizadas entre as câmaras superiores e inferiores) se fechem.
Como sua função é bombear o sangue rico em oxigênio através da aorta e artéria pulmonar, os ventrículos começam a se contrair.
Após uma fração de segundo, atingem a pressão que precisam para abrir as válvulas semilunares (pulmonar e aórtica), que dão acesso às artérias.
Desse modo, o sangue irriga os pulmões via artéria pulmonar e o restante do corpo, começando pela aorta.
2. Ejeção ventricular rápida
O impulsionamento do sangue de cada ventrículo para as artérias exige nova elevação da pressão.
Portanto, os ventrículos seguem em sístole, contraídos para que o líquido seja ejetado.
Num primeiro momento, essa ação é rápida, enviando cerca de 70% do volume total dentro das câmaras cardíacas inferiores.
3. Ejeção ventricular lenta
O aumento da pressão alcança seu pico depois de os ventrículos enviarem a maior parte do sangue oxigenado rumo às artérias.
Sobra aproximadamente 30% do volume para que as câmaras sejam esvaziadas e possam se encher novamente no próximo ciclo cardíaco.
Inicia-se, então, a fase de ejeção ventricular lenta para finalizar o processo de ejeção.
4. Relaxamento isovolumétrico
Corresponde ao fim da sístole ventricular, quando as câmaras seguem para a fase de relaxamento.
Há queda nas pressões internas sem alteração no volume contido pelos ventrículos, o que deu origem ao nome relaxamento isovolumétrico.
Enquanto isso, o átrio direito recebe mais sangue proveniente das veias cavas superior e inferior, que será enviado aos pulmões durante a pequena circulação ou circulação pulmonar.
O processo serve para enriquecer o sangue com oxigênio, como explica este material sobre o sistema circulatório:
“As artérias pulmonares saem do ventrículo direito para os pulmões, carregando sangue não oxigenado (também chamado sangue venoso). Este sangue recebe oxigênio nos pulmões e volta para o coração, através de veias pulmonares para o átrio esquerdo. O sangue passa, então, para o ventrículo esquerdo, sendo distribuído para todo o organismo através da rede arterial”.
5. Diástase
Enquanto estão em repouso, os ventrículos vão recebendo sangue de forma lenta, sem a necessidade de contração dos átrios.
Essa é a etapa de enchimento ventricular lento ou diástase.
6. Enchimento ventricular rápido
A segunda fase de enchimento dos ventrículos é mais veloz, pois sofre pressão do sangue que ficou armazenado nos átrios enquanto os ventrículos se contraíam.
Assim, as válvulas tricúspide (do lado direito) e mitral (do lado esquerdo) se abrem, permitindo a passagem do líquido rapidamente.
O volume de sangue restante é expulso das câmaras superiores por meio da sístole atrial.
Problemas relacionados ao ciclo cardíaco
Anormalidades na anatomia das estruturas cardíacas e na condução dos batimentos são capazes de impactar o ciclo cardíaco.
Assim como déficits na irrigação sanguínea, como os provocados por cardiopatias isquêmicas.
Trago a seguir algumas doenças que impactam no funcionamento do coração, prejudicando seu desempenho.
Insuficiência cardíaca
O enfraquecimento ou rigidez do músculo cardíaco costuma estar por trás da incapacidade de bombear o sangue de forma eficiente para o organismo.
A insuficiência cardíaca pode ser sistólica, quando a fração de ejeção é reduzida, ou diastólica, quando a fração de ejeção é preservada.
Embora possa afetar ambas as câmaras inferiores, é comum que a patologia predomine no ventrículo direito ou no esquerdo.
Cardiomiopatia
A dilatação dos ventrículos e/ou de suas paredes é outro problema que compromete o ciclo cardíaco normal.
Diferentes tipos de cardiomiopatia dificultam os movimentos do coração, reduzindo sua eficiência, e podem até levar à insuficiência cardíaca.
Prolapso da válvula mitral
Presente em cerca de 5% a 10% da população mundial, esse defeito congênito afeta a válvula mitral, localizada entre o átrio e ventrículo esquerdos.
Os folhetos que compõem a estrutura possuem malformações, tornando-se mais espessos, maiores ou largos, o que impede seu completo fechamento diante da sístole ventricular.
Como resultado, há maior ou menor regurgitação de sangue para o átrio esquerdo.
Casos leves não costumam interferir na vida do paciente, enquanto os mais graves levam à insuficiência mitral.
Estenose mitral e outras valvulopatias
Outro problema que afeta a válvula mitral é o estreitamento, que impede a passagem da quantidade de sangue adequada para o ventrículo esquerdo.
Geralmente, essa condição é uma sequela da febre reumática.
Sob pressão e volume elevados, o átrio esquerdo cresce, facilitando o desenvolvimento da fibrilação atrial.
A válvula aórtica também pode sofrer com males como a regurgitação, decorrente de endocardite ou dissecção aórtica.
Fibrilação atrial e outras arritmias
A fibrilação atrial (FA) sinaliza dificuldades para que uma das câmaras superiores complete o movimento de contração (sístole), alterando o padrão do ciclo cardíaco.
Nesse cenário, a onda P observada no eletrocardiograma é substituída por pequenas oscilações irregulares: as ondas F.
Há ainda redução no débito cardíaco que, quando intensificada, pode levar à insuficiência do órgão.
A contração superficial das câmaras inferiores do coração ou fibrilação ventricular é ainda mais grave que a FA, representando ameaça à vida do paciente.
Infarto agudo do miocárdio
A função cardíaca pode ser afetada pela necrose provocada por obstrução do fluxo sanguíneo numa artéria coronária.
Nesses casos, o tratamento emergencial pode salvar a vida do paciente, impedindo a morte das células cardíacas.
Uma das causas mais evidentes para o infarto é a doença arterial coronariana, responsável pelo enrijecimento e redução do calibre das artérias.
Bloqueios de ramo
Atrasos na passagem do impulso elétrico e contração do ventrículo direito ou esquerdo podem diminuir a frequência cardíaca, desencadeando quadros de bradicardia.
Quando essa condição permanece por longos períodos, pode surgir insuficiência cardíaca em razão do bloqueio de ramo.
Como medir o ciclo cardíaco?
Não é possível medir o ciclo cardíaco.
No entanto, dá para monitorar seus eventos por meio de exames como o eletrocardiograma, que estuda a atividade elétrica do coração.
Ao interpretar o traçado do ECG, é possível medir a frequência cardíaca, contabilizando o número de batimentos por minuto.
Basta lembrar que, no resultado do teste, cada minuto corresponde a 300 quadradinhos.
Conte quantos deles estão entre um topo e outro da onda R.
Se observar, por exemplo, um quadradinho entre os topos, o miocárdio estará batendo a 300 bpm (batidas por minuto).
Se houver dois quadradinhos, estará a 150 bpm.
Se forem três, a 100 bpm, e assim por diante.
Para batimentos irregulares, tenha em mente que seis quadros maiores equivalem a seis segundos.
Então, conte os topos das ondas R projetadas sobre o papel e, depois, calcule uma média simples.
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Conclusão
Saber identificar anomalias no ciclo cardíaco é fundamental para médicos de diversas áreas.
Por isso, espero ter contribuído para tirar dúvidas e reforçar os detalhes principais ao longo do artigo.
Se achou o texto útil, compartilhe com seus contatos!
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