Planejamento estratégico hospitalar: como montar e qualificar a gestão

Por Dr. José Aldair Morsch, 19 de abril de 2021
Planejamento estratégico hospitalar aproxima objetivos

Sua unidade de saúde já conta com um bom planejamento estratégico hospitalar?

Se a resposta é não, vale repensar seu modo de conduzir a gestão.

Investir em um plano de ações consistente é vital para manter a competitividade, viabilizar a eficiência nos resultados e evitar desperdícios.

Afinal, ainda que tenham uma destacada missão social, hospitais e clínicas não deixam de ser empresas.

Como tal, precisam cobrir custos e gerar lucro para seguirem funcionando.

Nesse contexto, adotar boas práticas de gerenciamento se torna tão importante quanto oferecer atendimento de qualidade durante a jornada do paciente.

E a melhor maneira de unir esses dois quesitos é apostar no planejamento estratégico hospitalar.

É sobre isso que falo ao longo deste artigo.

Acompanhe cada linha para entender o papel desse processo na área da saúde,.

Você vai conferir sugestões para montar um planejamento certeiro e soluções para otimizar a gestão de estabelecimentos de saúde.

O que é planejamento estratégico hospitalar?

Planejamento estratégico hospitalar é um processo que tem como objetivo a manutenção e crescimento de unidades de saúde, identificando seu estado atual, o estado desejado e traçando um roteiro para atingir o que se deseja.

Antes de tudo, tem a ver com o futuro do hospital.

Ou seja, com a forma como o gestor o enxerga ali na frente.

Nesse sentido, gosto muito das palavras do guru do marketing, Philip Kotler.

Ele diz o seguinte:

“Planejamento estratégico é definido como o processo gerencial de desenvolver e manter uma adequação razoável entre os objetivos e recursos da empresa e as mudanças e oportunidades de mercado.”

Então, estamos falando sobre um conjunto de mecanismos que utiliza o conhecimento atual sobre o cenário interno e externo da instituição.

É um esforço que inclui tudo aquilo que pode impactar no seu desempenho.

A partir daí, são projetados cenários futuros, permitindo uma tomada de decisão mais assertiva.

Também para entendermos o conceito, vale recorrer à contribuição de Francisco Gomes de Matos e Idalberto Chiavenato no livro “Visão e Ação Estratégica“. 

Segundo eles, o planejamento estratégico aplicado se baseia em cinco características:

  1. Está relacionado com a adaptação da organização a um ambiente mutável
  2. É orientado para o futuro, ou seja, traçado considerando iniciativas de longo prazo
  3. É compreensivo, o que significa que abrange todos os stakeholders e departamentos da organização
  4. É um processo de construção de consenso, que deve envolver as lideranças, cativar clientes internos (funcionários) e externos (pacientes)
  5. É uma forma de aprendizagem organizacional, pois trabalha para que o estabelecimento de saúde adquira ferramentas para se adaptar diante das incertezas do mercado.

 

Para que serve o planejamento estratégico em saúde

O planejamento estratégico em saúde serve para orientar a gestão.

Para isso, indica os passos necessários à concretização dos objetivos da instituição.

Do mesmo modo, apesar de ter um apelo voltado ao longo prazo, também contribui para organizar as ações que devem ser tomadas em curto e médio prazo para promover as mudanças desejadas.

Importância do planejamento estratégico hospitalar aparece nos resultados

Plano estratégico é instrumento que orienta a gestão hospitalar e qualifica decisões

Acredito que pensar em um exemplo ajuda a compreender a importância desse instrumento.

Então, imagine que você está descontente com a condição financeira atual, principalmente porque não consegue pagar por viagens durante as férias.

Você trabalha registrado, tendo como única fonte de renda o salário, o que pede uma mudança para alterar seu estado atual e permitir a inclusão de viagens no orçamento.

Caso não se dedique a um diagnóstico das receitas e despesas e modificações no comportamento, dificilmente vai conseguir viajar uma vez por ano.

Essa conquista exige planejamento. 

Assim como o sucesso de uma organização complexa, como um hospital.

Controlar as entradas e saídas, recursos materiais e humanos, obedecer à legislação, estabelecer protocolos de atendimento, treinar as equipes e garantir a qualidade são apenas alguns dos desafios para a unidade de saúde atingir o sucesso.

Acima de tudo, é necessário planejar as atividades em nível estratégico.

Seu compromisso enquanto gestor é envolver todos os setores em uma visão ampla e de longo prazo, que será desdobrada em metas e ações pontuais.

Cada etapa finalizada fará com que o hospital ou clínica chegue um pouco mais perto de seus objetivos.

Importância do planejamento estratégico como foco na gestão hospitalar

O planejamento estratégico pode ser comparado a uma bússola.

Antes de mais nada, por indicar o melhor caminho para um hospital ou clínica de saúde, diminuindo os riscos e tornando o futuro mais previsível.

Esse instrumento se concentra em mudanças no comportamento organizacional.

Dessa forma, possibilita o desenvolvimento e a sobrevivência das unidades de saúde no longo prazo.

Vou citar agora o artigo O Planejamento Estratégico Dentro do Conceito de Administração Estratégica“, de Hernan E. Contreras Alday.

Em suas palavras, o tipo de interação entre uma organização e o ambiente determina as consequências vivenciadas por ela.

Normalmente, segue este padrão:

  • Interação negativa (não reagente, não adaptativa, não inovativa) limita a sobrevivência ao curto prazo, levando à falência da companhia
  • Interação neutra (reagente e adaptativa) contribui para a sobrevivência a longo prazo, contudo, de forma estagnada
  • Interação positiva (reagente, adaptativa e inovativa) conduz à sobrevivência a longo prazo, com a vantagem competitiva do aprendizado e desenvolvimento.

Para que a gestão em saúde alcance as metas e objetivos propostos, é essencial que se dedique à sobrevivência a longo prazo, utilizando o planejamento estratégico como aliado.

Desse modo, é possível identificar e reduzir o desperdício de insumos.

Igualmente, pode investir em manutenção preventiva para cortar gastos.

Sem falar em implementar protocolos que aumentem a produtividade e entreguem valor ao paciente, colaborando com a sua fidelização.

Como montar um planejamento estratégico na administração hospitalar

Um planejamento estratégico para a administração hospitalar deve focar em três fundamentos principais: 

  • Definição de objetivos
  • Escolha e realização de ações 
  • Avaliação para ajustar o que foi feito.

 

Gestão estratégica no hospital tem uma série de etapas

Coleta e análise de dados sobre a unidade de saúde são parte fundamental do plano

Inicialmente, entretanto, vale desdobrar esses fundamentos em cinco etapas para montar um plano eficiente.

É o que você confere em detalhes agora.

1. Análise do ambiente interno e externo

Antes de tudo, entenda que o planejamento começa com uma autoavaliação.

Aqui, o objetivo é identificar qual é a sua posição no mercado.

Então, é preciso reconhecer o ambiente interno e o externo, o que agrega informações sobre as oportunidades e os riscos aos quais o hospital está exposto.

Ao olhar para o cenário interno, você vai perceber pontos fortes, como a existência de atendimento humanizado.

Da mesma forma, haverá pontos fracos, a exemplo de atrasos em consultas e exames.

Já o contexto externo deve incluir uma avaliação sobre a concorrência.

Além disso, levantar possíveis eventos capazes de interferir nos resultados do negócio.

Entre eles, a entrada de novos players e atualizações na legislação.

2. Escolha de uma diretriz ou objetivo

Depois de conhecer sua posição atual, é hora de estabelecer os objetivos.

Eles podem ser específicos ou orientados por uma diretriz organizacional – missão, visão ou valores.

A missão define o porquê da existência do hospital ou clínica.

Dá destaque ao seu diferencial na comparação com os concorrentes.

Por sua vez, a visão corresponde a um objetivo ousado, com base em princípios como a melhoria contínua e a superação para alcançar a excelência.

Finalmente, os valores norteiam os serviços prestados pela unidade de saúde, sendo definidos por palavras-chave que explicam suas prioridades.

É importante lembrar que mesmo os objetivos específicos devem estar de acordo com as diretrizes.

Dessa forma, ambos vão se complementar para uma gestão bem-sucedida.

3. Elaboração da estratégia

A estratégia diz respeito a iniciativas que contemplem ou obtenham impactos para as organizações como um todo.

Portanto, um treinamento direcionado aos profissionais de enfermagem não entra nesse nível mais alto do planejamento.

No entanto, fomentar a educação continuada pode ser uma das premissas para elevar a qualidade do serviço prestado.

Usando dados de mercado, internos, ideias das lideranças e colaboradores, projete os possíveis cenários e soluções para que o hospital aproveite as oportunidades e reduza os riscos.

Nesse sentido, não se esqueça de determinar o propósito, prazos e responsáveis pelas ações.

Assim, fica mais simples compreender e monitorar o andamento da estratégia.

4. Execução da estratégia

Hora de “colocar a mão na massa” e implantar o que ficou determinado na estratégia.

Nesta etapa, use metodologias que facilitem a visualização do progresso, com o status das metas e o que falta para que sejam cumpridas.

Desde já, uma dica é empregar o Kanban.

O sistema usa colunas e cartões coloridos para separar as tarefas a fazer daquelas em andamento e do que já foi concluído.

Equipes médicas são alvo de um planejamento estratégico hospitalar

Resultados do plano de ação dependem do envolvimento de toda a equipe médica

5. Controle e avaliação

O acompanhamento por parte das lideranças e responsáveis por cada etapa da estratégia é fundamental durante o processo de execução.

Porém, mais do que garantir o cumprimento das metas, esta última fase serve para medir o nível de sucesso das iniciativas.

Ela evidencia falhas e oportunidades de melhoria.

Tais tarefas podem ser executadas com a avaliação por meio de indicadores, que são parâmetros de análise positiva ou negativa. 

Um exemplo clássico é o ROI (Retorno sobre Investimento).

Nesse sentido, caso sejam percebidos erros ou inadequações, eles podem ser corrigidos rapidamente para que a estratégia se torne mais efetiva.

Exemplo de planejamento estratégico hospitalar

Para este tópico, trago uma sugestão de modelo de planejamento estratégico hospitalar.

É claro que cada negócio tem particularidades a observar.

Contudo, podemos tomar como base a existência de quatro campos principais.

Eles estão descritos no livro “A execução premium: a obtenção da vantagem competitiva através do vínculo da estratégia com as operações do negócio”, de Robert Kaplan e David Norton.

Agora, apresento um breve resumo das etapas que você deve observar.

Esclarecer a visão:

  • Missão
  • Valores
  • Visão
  • Deslocamento estratégico (estado atual para estado desejado)
  • Estrutura estratégica.

Desenvolver a estratégia:

  • Análise ambientes externo e interno
  • Formulação da estratégia.

Traduzir a estratégia:

  • Mapeamento de propostas
  • Perspectivas
  • Indicadores
  • Objetivos
  • Metas.

Desenvolver o plano:

  • Iniciativas estratégicas
  • Orçamento/financiamento
  • Controle
  • Prestação de contas/feedback

 

Planejamento hospitalar é aliado da gestão estratégica

Dados financeiros são apenas uma parte do objeto de análise em um planejamento hospitalar

Desafios e soluções na gestão estratégica hospitalar

Basicamente, há três obstáculos principais para uma gestão estratégica eficiente da unidade hospitalar.

Eles não são únicos, é claro.

Porém, ao encontrar soluções para vencer essas barreiras, você dá um passo certeiro para alcançar os objetivos traçados.

Acompanhe quais são:

Confundir planejamento com orçamento

Embora o valor disponível seja fundamental para viabilizar a execução da estratégia, esse não é o único ponto a se considerar.

Por vezes, vale a pena enxugar custos em determinadas áreas para obter um valor que supra a demanda por atualização, inovação e educação continuada para as equipes.

Afinal, a qualidade do atendimento prestado depende, entre outros fatores, da capacitação dos colaboradores do hospital, que precisam adquirir conhecimentos complexos.

Portanto, mantenha um bom controle financeiro, com registros detalhados das entradas e saídas.

Acima de tudo, essa medida permite priorizar iniciativas que trarão um resultado interessante a médio e longo prazo.

Não tirar o plano do papel

De nada adianta passar horas ou até dias elaborando um bom planejamento para, em seguida, deixar o documento guardado em gaveta ou esquecido no computador, concorda?

Nesse sentido, é necessário envolver as lideranças no desenvolvimento das estratégias.

Faça isso de modo a garantir que elas se responsabilizem por cada etapa.

Dessa forma, todos colaboram e assumem o projeto como seu, zelando pelo cumprimento das metas.

Se não der para colocar todo o plano em prática no primeiro mês, por exemplo, estude um jeito para começar com uma das propostas.

Como alternativa, adapte o documento para que as metas sejam executadas em um prazo viável, de acordo com os recursos hoje disponíveis.

Ignorar o auxílio da tecnologia

Investir em tecnologia em saúde é um movimento estratégico.

Primeiramente, porque resulta em economia de tempo e dinheiro.

Além disso, aumenta a percepção de valor dos serviços aos olhos do paciente.

Por exemplo, contar com uma plataforma de telemedicina.

Ela possibilita reduzir custos com a emissão de laudos, optando pela versão digital.

O mesmo acontece com o aluguel de equipamentos médicos, através do comodato.

Funciona assim: pagando um valor fixo por mês, o hospital ou clínica podem utilizar gratuitamente o aparelho, ganhando, também, um pacote de 30 laudos a distância.

Conclusão

O planejamento estratégico hospitalar é um conjunto de mecanismos que contribuem para um gerenciamento eficiente, posicionando o negócio de forma positiva para alcançar o sucesso.

No entanto, para que seja executado corretamente, é vital dispor de um profissional qualificado em administração hospitalar.

Cabe a ele valorizar a missão social do estabelecimento, sem deixar a saúde financeira de lado.

Essa tarefa fica mais simples quando há investimento em tecnologias inovadoras, como a telemedicina, que diminui gastos com equipamentos e laudos médicos.

Se você quer saber mais sobre essa opção promissora para otimizar o trabalho da sua equipe, clique aqui e saiba como funciona a plataforma de telemedicina Morsch.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin