O que devemos avaliar no exame neurológico?

Por Dr. José Aldair Morsch, 6 de maio de 2019
imagem em desenho da cabeça com atividade cerebral

Criado há mais de um século, o exame neurológico continua sendo uma ferramenta essencial para a identificação e análise de males que afetam o sistema nervoso.

Através de procedimentos relativamente simples, essa avaliação revela informações sobre o funcionamento do cérebro, medula espinhal e nervos – os tecidos que coordenam todas as tarefas desempenhadas pelo organismo.

Daí a necessidade de neurologistas, clínicos e outros profissionais conhecerem a dinâmica e as possíveis alterações mostradas durante os testes.

Para ampliar seus conhecimentos no tema, elaborei este artigo com orientações importantes.

Acompanhando até o fim, você também encontra dicas para otimizar os laudos médicos de exames neurológicos complementares, utilizando tecnologias, como a telemedicina.

O que é um exame neurológico?

Exame neurológico é uma avaliação clínica, não invasiva, que busca identificar e dimensionar transtornos que afetam o sistema neurológico.

Ela é composta por uma série de testes físicos que analisam a função das estruturas responsáveis pelo funcionamento do corpo humano.

Anamnese, nível de consciência, reflexos, equilíbrio e sensibilidade são algumas etapas do exame neurológico.

Traumas, concussões, suspeita de tumores ou AVC (acidente vascular cerebral) podem motivar a avaliação, que também costuma ser realizada em pacientes internados.

Dependendo da suspeita clínica, o médico pode focar no estudo minucioso de determinadas respostas neurológicas, sejam elas voluntárias ou não.

Nesses casos, um exame completo pode incluir testes de diagnóstico por imagem, como eletroencefalograma e polissonografia, que colaboram para diagnósticos assertivos.

Para que serve o exame neurológico?

Exame do reflexo patelar no paciente

Para que serve o exame neurológico?

O exame neurológico serve para constatar anormalidades no sistema neurológico, indicando lesões e patologias.

Apesar do salto tecnológico promovido por inovações no campo da neurologia nas últimas décadas, a avaliação clínica continua sendo um mecanismo norteador para o diagnóstico e tratamento de transtornos.

Inclusive, é a partir dessa avaliação que neurologistas podem solicitar exames mais específicos, resultando em uma análise ampla e aumentando as chances de um prognóstico positivo.

É por isso que o exame neurológico vem sendo estudado e aperfeiçoado por mais de 100 anos, se tornando cada vez mais confiável e eficiente.

Ao contrário de outras abordagens médicas, seus testes se concentram nas funções que são desempenhadas pelas estruturas anatômicas, e não nas estruturas em si.

Até porque a análise aprofundada das estruturas só é possível através de cirurgia ou exames de diagnóstico, uma vez que a maior parte delas (especialmente o sistema nervoso central) está protegida pelos ossos do crânio ou da coluna.

Em resumo, o exame neurológico auxilia na detecção de:

  • Doença autoimune, quando o próprio organismo ataca células saudáveis
  • Lesões no cérebro e nos nervos
  • Tumores
  • Males cardiovasculares
  • Inflamações
  • Infecções
  • Doenças degenerativas
  • Patologias metabólicas.

Como fazer o exame neurológico

O exame é composto, basicamente, por anamnese e avaliação física.

A ideia é que, ao final da avaliação, seja possível descrever um exame físico neurológico abrangente e identificar anormalidades que sinalizem comprometimento neurológico.

Formado por cérebro e medula espinhal, o sistema nervoso central (SNC) coordena as ações realizadas pelo corpo, enviando mensagens com comandos através dos nervos.

Nervos e terminações nervosas compõem o sistema nervoso periférico, responsável pela entrega das mensagens emitidas pelo SNC.

Portanto, cérebro, medula e nervos periféricos são os objetos de estudo do exame neurológico.

Veja, a seguir, descrição e detalhes de cada etapa dessa avaliação.

Anamnese

O primeiro passo de qualquer exame neurológico é uma entrevista com o paciente, conhecida como anamnese.

Nessa etapa, o médico se informa sobre o que motivou o acompanhamento neurológico, além do histórico familiar do paciente.

Se houver doenças preexistentes ou crônicas, é importante saber quando elas foram desencadeadas, possíveis causas, evolução dos sintomas, exames e tratamentos realizados.

Além do relato do paciente, é preciso considerar seu histórico pessoal, como idade, sexo, profissão, contatos ambientais, rotina e comportamentos.

Exame físico neurológico: principais avaliações

Exame físico neurológico dos músculos faciais

Exame físico neurológico da cabeça

Estímulos simples e complexos são avaliados durante os testes físicos, que têm por objetivo determinar anomalias no funcionamento do sistema neurológico.

Como as respostas são baseadas em evidências que devem ser interpretadas, cada etapa da avaliação física possui padrões para orientar o que é considerado normal.

São os desvios desses padrões que indicam danos à integridade das conexões nervosas do corpo.

A Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN) recomenda que o exame físico seja composto da avaliação das funções neurológicas motoras, sensitivas, sensoriais e superiores.

1. Nível de consciência

O teste do nível de consciência serve para medir o grau de alerta comportamental do paciente, detectando se ele está em coma ou mesmo a gravidade do impacto após um trauma cranioencefálico.

O protocolo mais comumente utilizado nesta etapa é a escala de coma de Glasgow.

Essa ferramenta atribui pontuação específica (de 3 a 15 pontos) de acordo com as respostas do paciente a três tipos de exame: abertura ocular, capacidade verbal e motora.

Um escore abaixo de 8 indica estado de coma ou trauma grave. De 9 a 12, a situação é moderada. Já uma pontuação acima de 13 aponta impactos leves.

2. Estado Mental

Quando o paciente não apresenta dano neurológico severo, o médico segue para a análise do conteúdo da consciência, que detalha o nível de compreensão e elaboração de tarefas complexas, como as relativas à linguagem e comunicação.

Essa avaliação pode ser feita através de ferramentas como o MEEM (Mini-Exame do Estado Mental), formado por uma série de perguntas e atividades.

Localização, data, hora, repetição de palavras, leitura, desenho e resolução de problemas matemáticos são tarefas realizadas durante o MEEM.

Ao final do teste, o neurologista compara a pontuação do paciente às notas de corte consideradas normais, que dependem de fatores como idade e escolaridade.

3. Nervos cranianos

Caso suspeite de danos nos órgãos dos sentidos (ouvidos, olhos, língua, nariz), região do rosto, pescoço, ombros ou partes internas do encéfalo, o médico realiza testes específicos para examinar os 12 pares de nervos presentes no crânio.

Geralmente, o exame neurológico inclui ao menos alguns testes desses nervos, que são frequentemente afetados por traumas, lesões, infecções e até por alterações no fluxo sanguíneo.

Um exemplo é o estudo do nervo facial, responsável pela movimentação dos músculos do rosto e sensibilidade gustativa na maior parte da língua.

Para verificar a sua integridade, o neurologista examina a face do paciente, buscando qualquer anormalidade ou assimetria, tanto em repouso quanto durante movimentações como enrugar a fronte e mostrar os dentes.

4. Coordenação e equilíbrio fazem parte do exame neurológico

Além dos nervos cranianos, o corpo humano possui nervos motores e sensitivos, que são responsáveis pela coordenação e equilíbrio durante os movimentos.

Nervos motores levam impulsos do cérebro até músculos voluntários, resultando no movimento de braços e pernas, por exemplo.

Já os nervos sensitivos transportam ao encéfalo dados sobre sensações (dor, temperatura, vibração), forma e posição de objetos.

Para testar a coordenação, é comum que se peça ao paciente para tocar um dedo com o indicador e, em seguida, o nariz. Ele pode repetir esse movimento várias vezes, com os olhos abertos e fechados.

A posição e equilíbrio são avaliados por meio do Teste de Romberg, no qual o paciente fica de pé, parado e com os pés juntos.

Assim, o médico observa se consegue manter o equilíbrio, tanto com os olhos abertos quanto fechados.

5. Marcha

Após avaliar o equilíbrio e coordenação, o neurologista testa a marcha do paciente, pedindo que ele caminhe em linha reta com os olhos fechados, colocando um pé à frente do outro.

Também são realizadas caminhadas apoiadas no calcanhar e na ponta dos pés, a fim de medir a força dos músculos da panturrilha.

Distúrbios na marcha podem indicar diversas doenças ou lesões, como Parkinson e danos ao cerebelo (área do cérebro que coordena o equilíbrio e movimentos voluntários).

6. Exame de Motricidade

Nesta etapa, são realizados testes para avaliar os movimentos espontâneos executados pelo corpo.

Enquanto os movimentos voluntários dependem de ordens do cérebro, os involuntários ocorrem sem interferência cerebral, e são examinados através de reflexos.

Falarei mais sobre eles no próximo tópico.

A motricidade voluntária é medida, pedindo que o paciente realize movimentos em várias partes do corpo, contra a resistência do examinador ou da gravidade (teste de força) ou com sensibilização, mantendo os membros na mesma posição por alguns instantes.

Quando um músculo apresenta fraqueza excessiva ou não consegue desempenhar movimentos de forma adequada, isso pode significar que há algo errado com a região do cérebro, medula ou nervos que controlam esse músculo.

7. Reflexos

São reações automáticas mediante alguns estímulos.

Os reflexos não envolvem ordens do cérebro. Sua resposta segue por nervos sensitivos até a medula espinhal, de onde são transmitidos a um nervo motor.

Esse nervo, então, manda um sinal para determinado músculo, desencadeando o reflexo.

O mais conhecido é o reflexo patelar, no qual o médico dá uma pancada leve no joelho do paciente com um martelo de borracha.

A reação esperada é que o músculo da coxa se contraia e a parte abaixo do joelho se mova.

Caso o organismo não dê a resposta adequada, é sinal de algum problema nos nervos envolvidos, medula ou músculos.

8. Teste de Sensibilidade como exame neurológico

O teste de sensibilidade serve para verificar a capacidade do tato em algumas regiões da pele, a fim de investigar sintomas como formigamento.

Em geral, é realizado com o estímulo de um objeto específico, que é encostado brevemente na área examinada, sem que o paciente possa enxergá-la.

O neurologista pede que o paciente relate quando sentir o contato com o objeto, registrando as respostas em uma ficha.

A perda da sensibilidade pode ser consequência de ferimentos, lesões e infecções nos nervos sensoriais.

Exames complementares na Neurologia

Paciente realizando um eletroencefalograma

Exames complementares na Neurologia – Eletroencefalograma

Embora o exame neurológico seja bastante eficiente, há casos em que é preciso estudar melhor os estímulos do sistema nervoso, a fim de fornecer um diagnóstico preciso.

Por isso, ao constatar anormalidades, médicos podem pedir o auxílio de diferentes exames.

Eletroencefalograma e polissonografia são os testes mais comuns nesse campo.

Eletroencefalograma (EEG)

Consiste em um monitoramento dos impulsos elétricos emitidos pelo cérebro, obtido a partir da fixação de eletrodos em partes da cabeça do paciente.

Seu resultado é expresso por meio de um traçado que mostra as chamadas ondas mentais, que estão relacionadas a algumas atividades cerebrais.

Esse traçado é comparado a padrões de normalidade que levam em conta a idade, histórico e condição de saúde do paciente.

O EEG é eficaz para apoiar o diagnóstico de inflamações e doenças, como a epilepsia.

Polissonografia no exame neurológico

Utilizada para verificar a existência de distúrbios do sono, a polissonografia é um monitoramento mais completo das ações do paciente enquanto ele dorme.

O exame é composto por testes que medem, além da atividade cerebral, o funcionamento muscular, respiratório, cardíaco, entre outros.

Narcolepsia (sonolência de modo súbito e incontrolável), apneia (obstrução súbita da respiração) e estágios avançados de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) são alguns dos males investigados durante os testes.

Teleneurologia: Telemedicina na Neurologia

Observamos, ao longo deste texto, que a complexidade do exame neurológico exige uma série de conhecimentos.

Essa avaliação é apenas uma das tarefas dos neurologistas que atuam em clínicas e hospitais.

Com uma rotina intensa, esses profissionais podem ficar sobrecarregados ao acumular diversas atividades em um mesmo dia, como avaliações neurológicas e a interpretação dos exames complementares.

Entretanto, o laudo médico do eletroencefalograma, polissonografia e outros testes só pode ser emitido e assinado por especialistas.

Nesse cenário, empresas uniram telemedicina e neurologia para criar a teleneurologia, uma opção inteligente para acabar com a sobrecarga de neurologistas e otimizar os resultados de exames.

Através dessa especialidade, estabelecimentos de saúde podem contratar o serviço de laudos médicos a distância, delegando a análise dos testes complementares aos médicos da empresa de telemedicina.

Sobre a Telemedicina Morsch

Com tecnologia de ponta e um time completo de especialistas, a Morsch facilita o dia a dia de clínicas e hospitais, oferecendo o serviço de laudos a distância.

Negócios de todos os portes e regiões do Brasil podem se beneficiar desse serviço.

Basta treinar técnicos em enfermagem para a condução dos exames de diagnóstico com aparelhos digitais.

Em seguida, eles transmitem os registros via plataforma de telemedicina, acessada online mediante login e senha.

Os resultados são observados e interpretados por especialistas da empresa de telemedicina, que produzem e assinam o laudo médico digitalmente.

Esse processo ágil permite que o documento fique pronto em até 30 minutos. Laudos urgentes são disponibilizados em tempo real na plataforma.

Caso a unidade não tenha equipamento digital, você pode aderir ao aluguel em comodato e receber o direito de usar dispositivos modernos ao contratar uma quantidade mínima de laudos por mês.

Conclusão

Abordei, neste artigo, as principais etapas, orientações e testes que integram o exame neurológico.

Fica clara sua importância, além da necessidade de testes complementares, como eletroencefalograma e polissonografia, em casos específicos.

Conte com a Telemedicina Morsch para conferir agilidade aos resultados dos testes neurológicos, auxiliando sua equipe no dia a dia.

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Referências Bibliográficas

SILVEIRA, Sebastião Gusmão Roberto Leal.  Exame Neurológico.

LEHMAN, Linda Faye; et al. Avaliação Neurológica Simplificada. BeloHorizonte: ALM International, 1997.
104 p.: il.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin