Blockchain na saúde: o que é, para que serve e exemplos de uso

Por Dr. José Aldair Morsch, 22 de setembro de 2022
Blockchain na saúde

A aplicação da blockchain na saúde é uma realidade, como comprova a expansão dessa tecnologia.

De acordo com a pesquisa Global Market Insights, em 2020, o mercado de blockchain em healthcare estava avaliado em US$ 281 milhões, com projeções para alcançar até 2027 um crescimento de 52,1%.

Seguindo essa estimativa, ele passaria a movimentar mais de US$ 427 milhões em um período de cinco anos.

Esse crescimento deve ser impulsionado principalmente pela aplicação da Internet das Coisas (IoT) na área da saúde, aumentando a demanda por tecnologia blockchain no setor.

Por essas e outras razões, acredito que todos nós, profissionais de saúde, precisamos ficar muito atentos às aplicações da blockchain, incorporando-as gradativamente às nossas rotinas.

Neste texto, vou detalhar bem esse assunto.

Acompanhe!

O que é blockchain na saúde?

Blockchain é o ambiente eletrônico criado para validar as transações com criptomoedas.

A primeira menção pública de que se tem registro do termo aconteceu em 2008, no artigo “Bitcoin: um sistema financeiro eletrônico peer-to-peer”, de Satoshi Nakamoto.

Essa é uma tecnologia considerada de base, ou seja, nela podem vir a se apoiar outras tecnologias.

Um exemplo disso é o protocolo TCP/IP, a partir do qual surgiu a internet.

Um dos avanços da blockchain é o nível de segurança muito mais elevado, já que nela as transações não podem ser validadas unilateralmente.

Isso torna a ação de fraudadores extremamente difícil, já que ela utiliza complexos sistemas de criptografia de dados.

É essa blindagem que fez com que a blockchain passasse a ser empregada em outros setores como plataforma de armazenagem e troca de informações, inclusive a área médica.

Como funciona a blockchain na saúde?

A cibersegurança é um tema que, há poucos anos, parecia distante da realidade dos médicos e empresas do segmento.

Não demorou para que a expansão da Transformação Digital e de conceitos como Internet das Coisas (IoT) fizesse com que digitalização chegasse também aos serviços de saúde.

O sucesso foi tanto que hoje a Telemedicina é uma realidade no Brasil e no mundo, levando atendimento médico aonde antes parecia não ser possível.

Porém, a exemplo de toda trajetória bem-sucedida, a escalada da digitalização na área médica veio acompanhada de muitos desafios, e a cibersegurança é um dos principais.

De acordo com um relatório da Tenable, somos o setor mais afetado nesse quesito, com 24,7% dos casos de violação de dados registrados em todo o mundo.

Esse quadro serve para ilustrar a importância da blockchain na saúde.

Chamada de “protocolo da confiança”, ela vem sendo adotada como solução pelas empresas médicas e farmacêuticas para preservar dados de pacientes, produtos e de seus profissionais.

Quais são os benefícios da blockchain na saúde?

Ainda que hoje o conceito de Inovação Aberta esteja em voga, sempre existirá a necessidade de trabalhar com dados sigilosos, e a área da saúde não é exceção.

Nesse ponto, a blockchain pode ser considerada como um verdadeiro divisor de águas para a indústria médica e farmacêutica.

Ela pode, por exemplo, proteger dados de alta confidencialidade de laboratórios que estejam desenvolvendo novos medicamentos.

Nas clínicas, hospitais e consultórios, ela é o porto seguro, no qual os dados dos pacientes e seus respectivos históricos poderão ser mantidos em segredo.

Essas são algumas aplicações práticas da blockchain na saúde, o que traz consigo uma série de benefícios para as empresas desse setor fundamental.

Veja quais são.

Tecnologia blockchain na saúde

O nível elevado de segurança da blockchain fez com ela se expandisse para outros setores, incluindo a medicina

Para pacientes

A Medicina vem mudando, e um dos pontos em que ela mais evoluiu é na relação entre médico e paciente.

Já vai longe o tempo em que o médico era o todo-poderoso guardião do conhecimento, em consultas nas quais o paciente se limitava apenas a responder perguntas.

Hoje, as pessoas chegam aos consultórios muito mais informadas, o que obriga os especialistas a trabalhar melhor a comunicação.

Nesse aspecto, a blockchain capacita os pacientes a assumirem a propriedade de seus dados médicos.

Ela dispõe de mecanismos de consentimento que proíbem os profissionais de saúde de acessar informações sem a permissão do paciente.

Também permite que os pacientes participem de pesquisas, além de coletar e armazenar dados de dispositivos móveis e vestíveis com mais segurança.

Para profissionais de saúde

Embora todo médico seja preparado para orientar seus pacientes em seus tratamentos, em certas situações, a participação de outros profissionais se faz necessária.

Esse é um ponto em que a blockchain ajuda a tomar decisões, permitindo que médicos de diferentes locais visualizem os mesmos dados em tempo real.

Por ser um repositório de dados aberto, ela armazena os registros dos pacientes em um sistema descentralizado que não pode ser adulterado.

A blindagem proporcionada pela blockchain também viabiliza o credenciamento médico em eventos, empresas e até junto aos órgãos de controle oficiais.

Assim, a ação de impostores tende a ser cada vez mais difícil, o que é ótimo principalmente para os pacientes.

Para empresas da área médica

Quando os dados estão a salvo, as empresas ganham um suporte indispensável para prestar serviços médicos com mais qualidade.

Elas podem, assim, reduzir seus custos com cibersegurança, podendo até, em alguns casos, dispensar a contratação de servidores e licenças para sistemas antivírus.

Com menos preocupações nesse quesito, os gestores das empresas de saúde ganham mais tempo e recursos para investir no que realmente interessa: o bem-estar dos pacientes.

Não menos importante, as empresas médicas passam a ser mais atrativas para profissionais, já que a otimização dos custos pode refletir em benefícios e salários mais altos.

Isso sem contar a possibilidade de expansão para novas regiões sem se preocupar tanto em montar uma pesada infraestrutura em cibersegurança, seja na nuvem ou on premises.

Para farmacêuticos

A indústria farmacêutica é uma das mais beneficiadas com a blockchain, principalmente no que diz respeito às patentes.

Será cada vez mais difícil que concorrentes desleais se apropriem de fórmulas sem o consentimento, já que elas estarão protegidas em um ambiente eletrônico à prova de fraude.

No entanto, ela vai muito além de uma plataforma de armazenamento e gestão de dados, facilitando também outros tipos de atividades.

Ajuda, por exemplo, a recrutar participantes para ensaios clínicos, nos quais há sempre algum nível de confidencialidade e anonimato envolvido.

Auxilia ainda a gerar documentação confiável e auditável dos ensaios clínicos, em razão da imutabilidade dos seus registros.

Outro benefício considerável para as farmacêuticas é a possibilidade de detectar a origem de medicamentos sob suspeita de falsificação.

Blockchain na medicina

Empresas da área médica já fazem uso da blockchain para armazenar e acessar dados sobre pacientes

Para planos de saúde

Um problema recorrente em empresas de saúde é a glosa, que consiste na recusa de faturas por parte das operadoras em razão de falhas na comunicação ou dados inconsistentes.

Esse é mais um aspecto no qual a blockchain representa um avanço para as empresas de saúde, dando um suporte essencial para acelerar o processo de confirmação de dados de pacientes.

Os planos de saúde podem também elaborar contratos inteligentes, cuja gestão torna-se muito mais ágil e segura.

Uma vantagem que precisa ser destacada para empresas desse segmento é a redução de custos, já que eventuais intermediários tornam-se dispensáveis.

São benefícios que geram uma diminuição de gastos significativa que, por sua vez, pode ser repassada para os beneficiários, ampliando a oferta de serviços de saúde.

5 aplicações do blockchain na saúde

É consenso entre os profissionais da área da saúde que a blockchain tem ainda um vasto potencial a ser explorado.

Há uma grande expectativa por parte de médicos, farmacêuticos, enfermeiros e gestores de que ela venha a provocar dentro de pouco tempo uma verdadeira revolução.

Isso se considerarmos as atuais aplicações do protocolo da confiança, por si sós revolucionárias. Confira algumas delas na sequência.

Banco de dados

Diversas empresas da área médica, principalmente clínicas e hospitais, já fazem uso da blockchain para armazenar e acessar dados sobre pacientes.

Algumas inclusive trabalham com aplicativos open source, ou seja, de código aberto, os quais podem ser acessados livremente por profissionais interessados, desde que sejam credenciados.

Graças à criptografia extremamente avançada, ela torna os atendimentos mais rápidos, automatizando procedimentos administrativos de rotina.

Ajuda ainda a gerar contratos inteligentes de prestação de serviços, com os quais os pacientes podem se sentir mais seguros em caso de uma eventual falha médica.

Além disso, agiliza a consulta a prontuários, que ficam protegidos não só de violações de segurança, como também de alterações involuntárias.

Rastreio de produtos/medicamentos

Um desafio do setor de saúde é garantir a procedência dos produtos médicos e sua autenticidade.

Sistemas baseados em blockchain permitem que os clientes tenham conhecimento a respeito dos produtos que estão comprando.

Ela pode ser usada para rastrear itens desde o ponto de fabricação e em cada etapa da cadeia de suprimentos.

Nos mercados em desenvolvimento, onde medicamentos de prescrição falsificados causam prejuízos incalculáveis, garantir a procedência dos remédios é uma prioridade.

No Brasil, estima-se que a circulação de medicamentos falsos pode corresponder a 30% do mercado. Ou seja, 3 em cada 10 remédios podem ser de origem desconhecida.

O rastreio e controle de produtos é fundamental também para as empresas que fabricam dispositivos médicos.

Para esse segmento, a blockchain vem sendo usada como uma solução para monitoramento remoto, coibindo a ação de impostores e contrabandistas.

Facilita testes e ensaios

Estima-se que a indústria farmacêutica invista todo ano cerca de US$ 350 bilhões no desenvolvimento de novos medicamentos.

Isso gera uma grande quantidade de ensaios clínicos que produzem grandes quantidades de dados, envolvendo milhares de pessoas testadas, além de patrocinadores, médicos, pesquisadores e fabricantes.

Nesse contexto, erros podem ocorrer sem serem notados e, com isso, o risco de falsificação e roubo de informações aumenta.

A blockchain facilita o rastreio desses dados e o seu não-extravio, já que não podem ser manipulados unilateralmente.

Outro desafio enfrentado é o recrutamento de participantes para estudos e ensaios.

De acordo com o European Pharmaceutical Review,  apenas 8% dos pacientes com câncer participam de ensaios clínicos. 

A blockchain oferece um banco de dados vasto, seguro e sempre aberto, facilitando a sempre árdua tarefa de encontrar voluntários para testes.

As empresas podem ainda se beneficiar dela para controlar os orçamentos de seus ensaios. 

A farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim, por exemplo, desenvolveu todo um sistema contábil baseado em blockchain só para gerir seus testes.

Verificação de credenciais médicas

A verificação de credenciais, nas quais é preciso averiguar formação, habilidades e licenças médicas, é um processo dos mais lentos nas empresas de saúde.

Algumas podem levar entre quatro a seis meses para concluí-la.

Nesse aspecto, a blockchain pode agilizar o processo, substituindo a mão humana ao eliminar a necessidade de longas trocas de e-mail, telefonemas e consultas a banco de dados externos.

Ela permite também que as empresas de saúde registrem e sigam monitorando as credenciais de sua equipe.

O processo de contratação melhora e, assim, a transparência e a confiança entre subcontratados, hospitais e pacientes aumentam.

Além disso, os registros de blockchain permitem atualizações incrementais quando os profissionais precisarem adicionar qualificações.

Medidas preventivas

Em razão da quantidade massiva de dados que ela é capaz de armazenar, a blockchain já vem sendo usada por órgãos oficiais em ações de prevenção a doenças com potencial epidêmico.

Um bom exemplo disso é o que vem fazendo o Centro de Controle e Prevenção de doenças (CDC) nos Estados Unidos.

Com a ajuda de poderosos data centers baseados em blockchain e softwares avançados, eles vêm monitorando a incidência de certas doenças.

Assim, eles podem antecipar padrões de contágio, podendo com isso tomar as medidas de controle necessárias.

Qual a relação entre telemedicina e blockchain na saúde?

Uma das preocupações de pacientes e médicos em relação à telemedicina diz respeito à privacidade das consultas.

Como garantir que uma ligação não possa estar sendo interceptada no momento em que acontece?

A blockchain responde a essa questão com a descentralização dos dados, já que a informação é controlada por entidades remotas múltiplas.

A criptografia avançada dificulta a ação de crackers, com códigos que não podem ser alterados de forma alguma.

A Telemedicina Morsch se ajusta a essa realidade, oferecendo consultas protegidas, com sigilo garantido e acesso seguro, franqueado apenas aos profissionais e pacientes envolvidos.

Conclusão

Sua empresa de saúde pode se beneficiar com a blockchain, obtendo assim as vantagens que você conheceu neste artigo.

Uma maneira de melhorar os serviços prestados é contando com o serviço de laudos a distância com a equipe que eu coordeno aqui na Morsch.

A sua clínica pode realizar os exames usando equipamentos próprios ou mesmo adquiridos conosco em comodato.

Os laudos ficam seguros no sistema e disponíveis para pesquisa e relatórios estatísticos em 30 minutos, ou em tempo real para urgências.

Você pode imprimir e entregar ao paciente, salvar no seu computador ou enviar por email.

Conheça mais sobre a telemedicina com laudos a distância e agregue mais valor aos serviços médicos prestados pela sua clínica, consultório ou hospital.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin