Volume e capacidade pulmonar: o que é, como medir e interpretar

Por Dr. José Aldair Morsch, 2 de agosto de 2022
Volume e capacidade pulmonar

Medições de volume e capacidade pulmonar são indispensáveis para avaliar o desempenho dos pulmões.

Eles fornecem indicativos de alterações importantes na capacidade respiratória, apoiando uma conduta médica adequada no diagnóstico e tratamento do paciente.

É a partir de sua interpretação que são detectadas doenças pulmonares obstrutivas e restritivas, a exemplo da asma e DPOC.

Continue lendo este artigo em que explico a diferença entre volume e capacidade pulmonar e como calcular e avaliar essas medidas com o auxílio da espirometria.

Acompanhando o texto até o final, você ainda encontra as soluções de telemedicina que apresento para ter acesso ao laudo online, diminuindo a sobrecarga de tarefas para a equipe médica.

Qual a diferença entre volume e capacidade pulmonar?

É natural ter essa dúvida no início dos estudos em pneumologia, ou mesmo durante a carreira médica.

Afinal, os conceitos de volume e capacidade pulmonar andam de mãos dadas, formando uma relação de dependência.

Além de serem citados em conjunto com frequência, dada sua relevância para o exame clínico de pacientes que apresentam sintomas como dispnéia, dor precordial e sibilo.

E também na realização de exames complementares, a exemplo da espirometria.

Porém, entender a diferença entre os conceitos não é tão complicado.

Basicamente, o volume representa uma medida única, que descreve o limite de ar que pode ser inspirado ou expirado por uma pessoa.

Ou, ainda, a quantidade de ar que permanece como reserva para manter os pulmões funcionando.

Já a capacidade pulmonar é composta por dois ou mais volumes, necessitando ser calculada com base nesses valores.

O que é volume pulmonar?

Volume pulmonar é a quantidade de ar comportada por esses órgãos, representando médias, reservas ou limites durante os movimentos respiratórios de inspiração e expiração – como o ar é formado por gases, essas medidas são dadas em unidades de volume, geralmente em mililitros (mL).

Manter os volumes pulmonares dentro dos parâmetros normais é essencial para o bom funcionamento do aparelho respiratório, pois os pulmões dependem deles para realizar as trocas gasosas necessárias à respiração.

Esse processo é fundamental para a manutenção da vida, fornecendo o oxigênio que dá energia às células de todo o corpo.

Claro que a respiração não é impactada apenas pelos volumes pulmonares.

Ela ainda sofre a influência das condições das vias aéreas superiores – nariz, cavidades nasais, faringe e laringe.

Elas são responsáveis por captar, filtrar e aquecer o ar que entra no corpo, permitindo que chegue aos pulmões através da traqueia.

Depois, ele segue pelos brônquios, que são tubos que nascem na traqueia, é dividido entre pulmão direito e esquerdo e chega aos bronquíolos, ductos alveolares e alvéolos.

É nos alvéolos que ocorrem as trocas de gases propriamente ditas, culminando na eliminação de gás carbônico e no reabastecimento das células com oxigênio.

O que é capacidade pulmonar?

Capacidade pulmonar é o resultado da combinação entre dois ou mais volumes pulmonares, relacionada à quantidade de oxigênio que alcança a corrente sanguínea, sendo transportado pelas hemácias por todo o organismo.

Assim como no caso do volume, existe mais de uma medida de capacidade pulmonar, descrevendo produtos dos movimentos inspiratórios, expiratórios ou a Capacidade Pulmonar Total (CPT).

Quais os volumes e capacidades pulmonares?

Como mencionei acima, há diferentes medidas de volumes e capacidades pulmonares.

Cada qual oferece valores importantes para as avaliações clínicas e de capacidade respiratória, detalhando o condicionamento pulmonar do paciente.

Colaboram ainda para demonstrar o condicionamento físico, sendo apresentadas em exames como o teste ergométrico.

Esse procedimento corresponde a um eletrocardiograma sob esforço, que aumenta a demanda por oxigênio, fazendo o coração e os pulmões trabalharem mais depressa.

Isso torna o teste interessante para avaliar o funcionamento não apenas do sistema cardiovascular, mas também do respiratório.

Veja a seguir uma descrição para os volumes e capacidades pulmonares.

Volume pulmonar

O volume pulmonar é a quantidade de ar que permanece como reserva para manter os pulmões funcionando

Volume Corrente (VC)

Essa é a medida mais básica de volume pulmonar, referente ao ar que entra e sai durante a respiração basal.

Ou seja, é o volume que circula pelas vias aéreas normalmente, sem que haja qualquer interferência ou esforço.

O volume corrente de uma pessoa saudável fica em torno dos 500 mL.

Volume de Reserva Inspiratória (VRI)

O VRI é alcançado quando o indivíduo inspira o máximo de ar possível, enchendo os pulmões de maneira forçada.

A nomenclatura “volume de reserva” indica que estamos falando sobre volumes além do que circula pelas vias aéreas superiores e inferiores normalmente.

Tanto que o volume de reserva inspiratória pode atingir 3.000 mL.

Volume de Reserva Expiratória (VRE)

É o oposto do VRI, sendo mensurado a partir da quantidade máxima de ar expirado de uma só vez.

Também pede que o movimento seja forçado, a fim de eliminar mais ar do que seria expirado numa respiração basal.

O volume de reserva expiratória costuma ser de aproximadamente 1.100 mL.

Volume Residual (VR)

Outra medida relevante é o volume residual, que corresponde à quantidade de ar que permanece nos pulmões depois da expiração máxima.

Não surpreende que os órgãos preservem parte do volume de ar, ainda que pressionados para eliminar totalmente os gases respiratórios.

Afinal, se houvesse esvaziamento completo, os pulmões poderiam entrar em colapso ou colabamento pulmonar, quando há redução no volume e capacidade respiratória.

Esse quadro representa risco à saúde ou até à vida do paciente, dependendo do nível de comprometimento dos alvéolos – pequenas bolsas responsáveis pela troca de gás carbônico por oxigênio.

Geralmente, o VR fica em torno de 1.200 mL.

Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1)

Obtido normalmente com a espirometria, o VEF1 indica o volume de ar que é exalado no primeiro segundo durante a manobra de CVF.

Capacidade Pulmonar Total (CPT)

A CPT é medida logo após o enchimento ou inspiração máxima, mostrando o volume total quando os pulmões estão cheios de ar.

A Capacidade Pulmonar Total é obtida por meio da soma de quatro volumes: VC, VRI, VRE e VR.

Capacidade pulmonar

A capacidade pulmonar está relacionada à quantidade de oxigênio que alcança a corrente sanguínea

Capacidade residual funcional (CRF)

Mede o volume que fica nos pulmões depois de um movimento expiratório normal.

Para encontrar a CRF, basta somar VR e VRE.

Capacidade Inspiratória (CI)

Já a capacidade inspiratória é calculada somando-se VC e VRI.

A CI indica qual o volume total aspirado normalmente.

Capacidade Vital (CV)

A capacidade vital responde pelo volume máximo de ar movimentado nos pulmões.

Ou seja, faz referência à somatória entre todos os volumes que representam a entrada e saída de ar desses órgãos.

Portanto, a CV é obtida pela combinação entre volume de reserva inspiratória (VRI), expiratória (VRE) e volume corrente (VC).

Capacidade Vital Forçada (CVF)

Pode ser definida como o volume máximo de ar exalado com esforço máximo.

A manobra de CVF tem início a partir do ponto de máxima inspiração.

Doenças relacionadas ao volume e capacidade pulmonar

Como expliquei nos tópicos anteriores, as medidas de volume e capacidade pulmonar permitem avaliar se o desempenho dos pulmões é normal ou se há alterações importantes.

Quando os valores se distanciam do padrão, a tendência é que haja doenças pulmonares obstrutivas e restritivas, ou mistas (que unem o padrão restritivo ao obstrutivo).

Abaixo, discorro sobre os dois principais grupos dessas patologias.

Doenças pulmonares de padrão obstrutivo

Como o nome sugere, esse grupo de doenças respiratórias tem origem em obstruções que levam ao aumento da resistência das vias aéreas.

Nesse cenário, o raio dos bronquíolos fica reduzido, dificultando as trocas gasosas e a respiração.

As principais patologias que se enquadram nesse padrão são:

  • DPOC: caracterizada especialmente pelo enfisema pulmonar, a doença pulmonar obstrutiva crônica também pode incluir sintomas de bronquite crônica. Geralmente, está relacionada ao fumo, que provoca a destruição dos septos interalveolares – estruturas que separam os alvéolos
  • Bronquite crônica: quadro inflamatório da mucosa dos brônquios que se manifesta através de tosse produtiva quase diariamente, durante três meses ao ano, por pelo menos dois anos seguidos. Também costuma ter associação com a destruição celular gerada pelo cigarro
  • Asma: doença crônica desencadeada por reações inflamatórias agudas e esporádicas, condicionadas por alérgenos como pelos de animais, poeira e odores fortes. Frequentemente, o asmático experimenta períodos assintomáticos, intercalados a crises agudas que causam sibilo ou chiado no peito, dispneia e tosse.

Agora, falo sobre doenças de padrão restritivo.

Doenças pulmonares de padrão restritivo

Nas patologias de padrão restritivo, há redução do volume pulmonar, prejudicando a expansão necessária para o bom funcionamento dos pulmões.

Como define este material técnico sobre as características dessas patologias:

“Uma doença restritiva é uma doença respiratória associada ao parênquima respiratório ou não, que faz com que o sistema tenha a complacência diminuída. Portanto, o achado da espirometria destes indivíduos é de volumes e capacidades diminuídas”.

O diagnóstico das patologias restritivas inclui a identificação de um padrão respiratório de maior frequência respiratória e menor volume corrente.

Algumas doenças incluídas nesse grupo são:

  • Fibrose pulmonar: substituição do tecido pulmonar saudável por cicatrizes, comprometendo a troca gasosa que possibilita a respiração. Essa condição é irreversível e pode ser ocasionada por diversas patologias, principalmente as pneumoconioses, doenças infecciosas e autoimunes
  • Doença pulmonar intersticial: grupo que inclui a fibrose pulmonar e uma série de outras enfermidades, muitas vezes, raras. Elas têm em comum o excesso de células inflamatórias no espaço intersticial, que inclui alvéolos e o entorno dos vasos sanguíneos da região
  • Sarcoidose: doença sistêmica de causa desconhecida, que costuma afetar os pulmões, fazendo surgir granulomas (grupos de células inflamatórias). Tende a desaparecer de forma espontânea.

A seguir, explico como medir a capacidade pulmonar.

Como medir a capacidade pulmonar?

Diversas patologias que acabei de descrever são diagnosticadas por meio da espirometria ou prova de função pulmonar.

Trata-se de um exame rápido, indolor e não invasivo, que permite avaliar a capacidade pulmonar através de gráficos que informam valores dos volumes atingidos pelo paciente.

O que é espirometria?

Espirometria é um exame de suporte diagnóstico que possibilita a medição do volume e capacidade pulmonar.

O procedimento é feito com o paciente em pé ou sentado, sempre em posição confortável para que não haja interferência externa nos resultados.

Primeiro, o paciente deve ser orientado a obedecer às indicações de manobras, que serão dadas pelo profissional responsável pelo exame – pode ser um médico ou técnico de enfermagem.

Depois, um clipe nasal é colocado para impedir qualquer fluxo de ar pelas narinas, pois o espirômetro avalia somente o ar que entra e sai pela boca.

Esse dispositivo costuma ser leve e portátil, sendo composto por um bocal ligado a um pequeno monitor.

Durante o procedimento, o paciente sopra pelo bocal de diferentes maneiras, começando pela respiração normal.

Em seguida, vêm movimentos de inspiração e expiração forçada, a fim de registrar os volumes máximos alcançados.

O sopro para eliminar a quantidade máxima de ar dura pelo menos seis segundos consecutivos, até gerar três gráficos aceitáveis e reprodutíveis.

Se houver necessidade, a espirometria pode ser repetida com o auxílio de um medicamento broncodilatador.

Como avaliar os volumes pulmonares?

A avaliação começa com a análise do gráfico de volumes e capacidades pulmonares, além das quantidades registradas pelo aparelho de espirometria.

A partir desses dados, é possível utilizar diretrizes para diagnosticar doenças de padrão obstrutivo, detectando:

  • VEF1/CVF < Limite Inferior (LI)
  • VEF1 e fluxos geralmente reduzidos.

Ou distúrbios respiratórios restritivos, quando é possível notar:

  • VEF1/CVF > Limite Inferior (LI)
  • CVF < LI
  • Fluxo Expiratório Forçado (FEF) 25-75%/CVF > 1,5 – com fluxos supranormais, considerando paciente com diagnóstico esperado de restrição.

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Interpretação e laudo de espirometria online

O laudo de espirometria é responsabilidade de pneumologistas especializados no exame.

Eles detêm o conhecimento necessário para avaliar os valores de volume, capacidades pulmonares e anormalidades.

Além dos saberes, a tarefa pede dedicação exclusiva, o que pode sobrecarregar os pneumologistas de plantão.

Mas é possível reverter esse cenário, reforçando sua equipe com o serviço de telediagnóstico, e é sobre isso que quero discorrer agora.

Basta realizar a espirometria normalmente e compartilhar os gráficos gerados na plataforma de telemedicina Morsch, acessível a partir de qualquer dispositivo conectado à internet.

Isso porque o software fica hospedado na nuvem, onde conta com amplo espaço de armazenamento e mecanismos de proteção como a criptografia.

Uma vez que os dados do exame estejam online, um de nossos especialistas inicia sua interpretação e elaboração do laudo a distância.

O documento é assinado digitalmente para atestar a autenticidade, e liberado em minutos no sistema de telemedicina.

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Conclusão

Com este texto, espero ter te ajudado a compreender os conceitos e valores relacionados ao volume e capacidade pulmonar.

Além de trazer informações relevantes ao diagnóstico e tratamento de doenças respiratórias.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin