Telemedicina no SUS: desafios e oportunidades para qualificar a assistência

Por Dr. José Aldair Morsch, 28 de junho de 2022
Telemedicina SUS

A telemedicina no SUS combina iniciativas que democratizam o acesso à saúde com qualidade.

Usando a internet e softwares modernos, essas ações conectam médicos, profissionais de saúde e pacientes em diferentes localidades.

Ao romper com a barreira geográfica, é possível ampliar o acesso a consultas com especialistas.

Mas não apenas isso, como também a interpretação de exames, apoio ao diagnóstico e formação profissional.

Não significa, porém, que todas as soluções da tecnologia já estejam disponíveis gratuitamente aos brasileiros.

Neste artigo, trago exemplos de uso da telemedicina no SUS, suas vantagens e quais soluções ainda podem ser adotadas para melhorar a saúde pública no Brasil.

Vou destacar ainda a eficiência dos laudos online entregues via plataforma de telemedicina.

Acompanhe!

Como é a telemedicina no SUS? 

A telemedicina no SUS funciona tanto a partir de iniciativas locais quanto nacionais, como o Programa Telessaúde Brasil Redes.

Isso acontece porque as esferas que compõem o Sistema Único de Saúde têm autonomia para realizar ações em nível municipal, estadual ou regional.

Nesse cenário, gestores públicos de municípios e estados brasileiros vêm otimizando seus serviços de saúde por meio da telemedicina desde os anos 1990.

Um dos primeiros registros data de 1994, quando a Rede Sarah deu início a um programa de videoconferência para troca de informações entre seus hospitais.

Desde então, surgiram várias frentes de assistência que se beneficiam do uso de tecnologias da informação e comunicação (TIC) para o compartilhamento de dados médicos.

Elas partiram tanto de iniciativas públicas quanto privadas, incluindo:

  • Telediagnóstico, viabilizado pela emissão de laudos de exames a distância
  • Segunda opinião médica para esclarecer questões sobre casos dúbios e orientar a respeito da conduta indicada
  • Teleconsulta, que possibilita a realização de anamnese e exame clínico por intermédio de um sistema de telemedicina.

Embora estejam disponíveis há décadas no país, foi nos últimos anos que a oferta de procedimentos a distância se popularizou dentro do SUS.

Principalmente diante do desafio do distanciamento social, imposto pela pandemia de covid-19 a partir de 2020.

O contexto levou o governo federal a criar um serviço de teleconsulta dentro do SUS, chamado TeleSUS.

Falo mais sobre ele nos próximos tópicos.

O que é o programa Telessaúde Brasil?

O Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes foi uma das primeiras iniciativas do Ministério da Saúde a levar serviços de telemedicina ao SUS.

Ele opera por meio de núcleos estaduais, intermunicipais e regionais, que têm o objetivo de prestar serviços a funcionários do SUS, disponibilizando acesso à Teleconsultoria, Telediagnóstico, Tele-educação e Segunda Opinião Formativa.

O Telessaúde Brasil começou com a criação de núcleos instalados em universidades de nove estados, que prestavam suporte à atenção básica através da tecnologia.

Seus resultados promissores fizeram com que o projeto piloto recebesse investimentos do governo federal, sendo oficializado na Portaria nº 35/2007 do Ministério da Saúde, com o nome de Projeto Nacional de Telessaúde.

Mais tarde, a Portaria MS nº 2.546/2011 atualizou e expandiu a iniciativa.

Serviços de telemedicina disponíveis no SUS

Além dos núcleos do Telessaúde Brasil Redes, a telemedicina está presente em programas e estabelecimentos do SUS.

Reuni cinco exemplos impactantes, que você acompanha a seguir.

1. Laudo de ECG à distância nas ambulâncias do Samu

Profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) enfrentam uma rotina conturbada, atendendo casos de urgência e emergência.

Muitas vezes, seus pacientes são vítimas de infarto do miocárdio e outros eventos graves e tempo-dependentes.

Nessas situações, receber o diagnóstico imediato pode salvar a vida da vítima e evitar sequelas.

Por isso, as ambulâncias do Samu estão entre os locais contemplados há mais de uma década pelo serviço de telediagnóstico.

Equipadas com eletrocardiógrafos digitais, as unidades móveis permitem o envio dos resultados de eletrocardiogramas em tempo real a cardiologistas do HCor.

Em 10 anos de funcionamento, o serviço havia emitido mais de 800 mil laudos remotamente e diagnosticado cerca de 12 mil infartos por meio da telemedicina.

Medicina online SUS

A teleconsulta possibilita a realização de anamnese e exame clínico por meio de um sistema de telemedicina

2. Tele-educação no UNA-SUS

Trata-se de uma iniciativa de tele-educação, sub-área da telemedicina que propicia capacitação e treinamento online aos profissionais de saúde.

Segundo informa o site oficial da plataforma:

“O Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) foi criado em 2010 para atender às necessidades de capacitação e educação permanente dos profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS)”.

O UNA-SUS oferece opções de cursos abertos, de extensão, aperfeiçoamento, especialização e mestrados profissionais, além de um acervo de recursos educacionais na área da saúde.

O sistema é coordenado pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

3. Teleoftalmologia e PROADI-SUS

Visando suprir a demanda em vazios assistenciais no Rio Grande do Sul, o PROADI-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde) lançou o projeto Teleoftalmologia em 2017.

A ideia era reduzir as filas de espera para consultas oftalmológicas com o suporte da telemedicina.

Em março de 2021, a ação havia atendido 24 mil pacientes, que foram beneficiados pela teleconsulta e apoio ao diagnóstico oftalmológico.

4. Teleconsulta via TeleSUS

Lançado no final de abril de 2020, o TeleSUS é um sistema de atendimento à distância criado para auxiliar a população durante os períodos de isolamento social.

Com a telemedicina, o governo federal passou a fornecer aplicativo e chat online com questionário para verificar se o cidadão apresentava sintomas sugestivos de Covid-19 e dar orientações a partir dessa informação, incluindo o encaminhamento de casos graves à teleconsulta.

Três meses depois do lançamento, a iniciativa havia sido utilizada por 73,3 milhões de pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

Entre os usuários, 1,8 milhão tiveram consultas online com profissionais de saúde.

5. Telemedicina permanente no SUS na capital paulista

No campo das iniciativas municipais, cabe ressaltar a recente incorporação da telemedicina como ferramenta de atendimento permanente no âmbito da saúde pública em São Paulo.

O anúncio foi oficializado em novembro de 2021, com o intuito de desafogar os estabelecimentos do SUS.

A partir da aprovação do Projeto de Lei 45/2021, ficam autorizadas a teletriagem, consultas por videochamada, monitoramento de doentes crônicos e em condições especiais, como durante o pré-natal.

Benefícios da telemedicina no SUS

Ao dar detalhes sobre os projetos que utilizam telemedicina no SUS, citei algumas vantagens de investir em inovação.

Agora, comento quatro benefícios do sistema para médicos, profissionais de saúde e pacientes que recebem assistência em saúde à distância.

Reduz o tempo de espera por atendimento

As longas filas são uma queixa recorrente dos usuários do SUS, que chegam a 148 milhões de pessoas.

Dependendo do município e procedimento requerido, a espera pode chegar a meses ou anos.

Segundo o Conselho Nacional de Medicina e o Instituto Datafolha, em dados de 2018, 30% dos brasileiros precisam aguardar mais de um ano para receber assistência.

Muitas demandas correspondem a procedimentos simples da atenção básica, como consultas com especialistas e orientações para o tratamento de patologias crônicas.

Esses serviços podem ser facilmente supridos por meio de uma plataforma de telemedicina, que oferece agilidade na assistência.

Afinal, dá para conectar pacientes com profissionais de saúde em qualquer lugar do país, permitindo solucionar problemas como a superlotação de hospitais.

Telemedicina no sistema único de saúde

A telemedicina pode ajudar a reduzir o tempo de espera por atendimento, eliminando as grandes filas de espera

Fornece suporte às emergências

A opinião de profissionais experientes faz a diferença no atendimento a condições que colocam a vida da vítima em risco.

Daí a importância de contar com a telemedicina em ambulâncias e outras unidades de atendimento pré-hospitalar.

Graças à tecnologia, os profissionais in loco recebem laudos online, orientações e tiram dúvidas em tempo real.

Supre a carência por médicos fora dos centros urbanos

A telemedicina ajuda a diminuir as desigualdades no acesso ao atendimento médico, que é muito limitado em locais remotos e distantes das metrópoles brasileiras.

Um exemplo aparece nos dados da Demografia Médica 2020, estudo feito a partir da parceria entre Universidade de São Paulo (USP) e CFM.

A pesquisa revela a grande desproporção na distribuição de médicos, que estão concentrados nas capitais.

A cidade de Vitória (ES) possui 13,71 profissionais por mil habitantes, a maior quantidade de médicos por habitante do país.

Enquanto isso, no mesmo estado, pequenas cidades do interior têm em média 1,67 médico por mil habitantes.

Proporciona economia de tempo e dinheiro

Por dispensar deslocamentos de profissionais de saúde e pacientes, a telemedicina enxuga gastos referentes a transporte, alimentação e hospedagem.

Além de representar uma importante economia de tempo, permitindo a assistência a mais pacientes e melhor aproveitamento de recursos.

O que diz a legislação sobre telemedicina no SUS?

Em junho de 2022, o Ministério da Saúde anunciou a aprovação de uma nova portaria que regulamenta a telemedicina no SUS.

Para ter acesso ao atendimento de médicos especialistas e outros profissionais, a população terá de ir até uma Unidade Básica de Saúde (UBS), onde encontrará a estrutura necessária.

A expectativa é que os teleatendimentos sejam feitos junto a funcionários das UBS, pelo menos num primeiro momento.

Antes, não havia uma legislação que regulamentasse o tema no âmbito da saúde pública.

Contudo, já existiam normas mais gerais, a exemplo da Resolução CFM 2.314/2022, que define a telemedicina como:

“O exercício da medicina mediado por Tecnologias Digitais, de Informação e de Comunicação (TDICs), para fins de assistência, educação, pesquisa, prevenção de doenças e lesões, gestão e promoção de saúde”.

Além da Portaria GM/MS 1.768/2021, que estabelece a Política Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS).

O documento incentiva a adoção da telemedicina em seu Art. 14, ao atribuir como responsabilidade de todas as esferas de gestão do SUS:

  • Desenvolver ações de educação permanente, nas áreas de informação e informática em saúde, incluindo a saúde digital, destinadas aos profissionais da área de saúde
  • Implantar soluções digitais em saúde, segundo suas necessidades regionais, para atender às demandas informacionais, no cuidado integral à saúde, garantindo a interoperabilidade com os sistemas nacionais.

Soluções de telemedicina ainda não utilizadas no SUS

Embora haja avanços consideráveis alcançados com o uso da telemedicina pelo SUS, ainda existe muito espaço para aprimoramento.

Incluindo a resolução de antigos problemas a partir de serviços disponíveis nos softwares de telemedicina.

Conheça alguns deles a seguir.

Telecirurgia

A cirurgia a distância é outra ferramenta que qualifica o atendimento médico.

Com o auxílio de um robô, esse tipo de operação tem alta precisão, resultando em cortes menores e diminuindo sangramentos.

O que reduz as chances de complicações e colabora para acelerar a recuperação do paciente.

No entanto, essa tecnologia esbarra em barreiras como o alto custo e a necessidade de capacitação das equipes para manipular máquinas complexas.

Prontuário eletrônico do paciente (PEP)

O uso de telemedicina no SUS tem promovido a digitalização dos arquivos, inclusive do prontuário médico.

Contudo, existe uma solução mais avançada para a guarda, consulta, recuperação de informações e até cruzamento de dados dos pacientes. É um sistema completo, chamado prontuário eletrônico do paciente.

O PEP não apenas reúne e organiza o histórico de saúde, como ainda possui uma série de funcionalidades que otimizam o trabalho dos médicos.

Tabelas de medicamentos e fórmulas, modelos de receitas e alertas de atividades são exemplos desses recursos.

Comodato de equipamentos médicos

O aluguel em comodato é como um empréstimo de aparelhos médicos, geralmente atrelado a um contrato de prestação de serviços.

Na Telemedicina Morsch, oferecemos essa facilidade para parceiros que adquirem pacotes de laudos digitais, permitindo que utilizem dispositivos modernos a custo zero.

Parcerias que englobam o comodato têm o potencial de reduzir despesas do SUS com equipamentos empregados em testes de suporte diagnóstico.

Também ajudam a aumentar a oferta dos exames, viabilizando sua realização mesmo em regiões remotas.

Como ampliar o acesso da população à telemedicina?

Ao democratizar o acesso à assistência médica de qualidade, a telemedicina tem um papel importante na promoção da saúde.

Projetos realizados pela esfera pública são fundamentais para fazer com que os serviços médicos à distância cheguem até quem mais precisa.

Falo especialmente de locais remotos e pequenas cidades no interior dos estados brasileiros. Mas não bastam os esforços públicos para superar os desafios atuais.

Vale contar com a iniciativa privada para levar serviços essenciais aos quatro cantos do nosso país, que tem dimensões continentais.

Nesse cenário, empresas como a Telemedicina Morsch dão suporte às equipes médicas através da interpretação de exames e emissão de laudos online.

Basta acessar nossa plataforma na nuvem e compartilhar os resultados de diferentes testes, como ECG, raio X e espirometria.

Nosso time de especialistas analisa os resultados e emite o laudo digital em minutos.

Acesse esta página e saiba mais.

Conclusão

O uso de telemedicina no SUS ocorre de modo descentralizado, mas com resultados promissores.

Essa realidade pode mudar a partir da recente regulamentação do tema, realizada pelo Ministério da Saúde.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin