Cuidados paliativos: o que são, princípios, tipos e como aplicar

Por Dr. José Aldair Morsch, 6 de setembro de 2023
Cuidados paliativos

Os cuidados paliativos não se restringem à fase terminal.

Sempre que possível, é importante que eles sejam iniciados junto a outros tratamentos, inclusive com finalidade curativa.

Dessa forma, o paciente poderá contar com um atendimento humanizado e completo, conduzido por uma equipe multidisciplinar.

Nos próximos tópicos, falo sobre a importância, princípios e exemplos de cuidados paliativos, incluindo estratégias para conduzir boas práticas na clínica ou hospital.

Você também vai entender a contribuição da telemedicina para esse tipo de assistência.

O que são cuidados paliativos?

Cuidados paliativos são aqueles destinados a pacientes com patologias que representam risco de vida.

Ou, como define o Instituto Nacional do Câncer (Inca):

“São os cuidados de saúde ativos e integrais prestados à pessoa com doença grave, progressiva e que ameaça a continuidade de sua vida”.

Esse conjunto de práticas serve para dar maior conforto ao paciente ao longo do tratamento, além de fornecer suporte aos familiares e cuidadores.

Para tanto, a assistência combina os conhecimentos de uma equipe multidisciplinar, que pode incluir médicos, psicólogos, profissionais de enfermagem, nutrição, fonoaudiologia, fisioterapia, assistentes sociais, entre outros.

Como mencionei na introdução do texto, os cuidados paliativos não se resumem à fase terminal – podem ser adotados logo após o diagnóstico da afecção.

O alívio do sofrimento está entre seus principais propósitos, junto ao tratamento da dor e outros sintomas incômodos.

Durante o acompanhamento contínuo, os profissionais de saúde ainda podem fazer o diagnóstico precoce de agravos à saúde, evitando complicações graves.

Qual a importância dos cuidados paliativos?

Adotar cuidados paliativos é importante porque promove a humanização do atendimento em consultórios, clínicas e hospitais.

A partir do acolhimento em saúde, é possível ampliar o bem-estar do paciente e, simultaneamente, oferecer uma rede de apoio aos familiares e cuidadores.

Isso porque as estratégias de cuidados paliativos vão além do aspecto físico e biológico, sendo baseadas numa visão holística de cada pessoa.

Nesse cenário, as esferas psicológica, social e espiritual também são contempladas e integradas às rotinas médicas para potencializar seus efeitos sobre a saúde do paciente.

Segundo descreve o artigo “Cuidados Paliativos: a importância do cuidado, do conforto e do controle dos sintomas”:

“O objetivo principal não é buscar a cura de forma obstinada e não reflexiva, mas, sim, cuidar, além da cura, sendo esta possível ou não. É prestar suporte aos pacientes e familiares, bem como gerenciar complicações frequentes e sintomas difíceis e a ação conjunta de uma dedicada equipe multiprofissional atenta às necessidades. A qualidade de vida deve ser uma busca incessante, devendo estar presente tanto no árduo curso oscilante das doenças crônicas geradoras de sofrimento como, também, nas doenças graves com prognóstico desfavorável e na finitude da vida”.

O acesso a esses cuidados melhora a qualidade de vida do paciente, familiares e cuidadores, disponibilizando ferramentas diferenciadas para o enfrentamento de doenças graves, crônicas e progressivas.

Portanto, faz sentido entender os cuidados paliativos como instrumentos de promoção da saúde integral fundamentados no conceito descrito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para a qual a saúde é:

“Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.

Quais são os princípios dos cuidados paliativos?

Em vez de protocolos, os cuidados paliativos são fundamentados em nove princípios.

São eles:

  1. Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis
  2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida
  3. Não acelerar nem adiar a morte
  4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente
  5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte
  6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto
  7. Abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto
  8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença
  9. Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes.

Esses princípios foram definidos pela OMS em 1986, e reafirmados na revisão atual Atlas de Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida.

Quando são indicados os cuidados paliativos?

O critério empregado para indicar a oferta de cuidados paliativos é a presença de uma doença que ameace a continuidade da vida do paciente.

Significa que nem sempre esse tipo de assistência é destinado a pessoas no fim da vida, pois pode fornecer suporte emocional e psíquico concomitante a terapias curativas.

Ou mesmo ao longo do tratamento de manutenção para patologias crônicas, que pode se estender por vários anos ou até décadas.

Nesse sentido, doenças neurodegenerativas, cardiovasculares e câncer são exemplos em que há recomendação para os cuidados paliativos.

Assim como patologias congênitas e/ou com avanço progressivo, como a esclerose múltipla.

Cabe à equipe médica ter um olhar empático para observar quando as necessidades do doente e familiares não estão sendo supridas pelo tratamento convencional, e indicar as medidas paliativas.

Em suma, elas podem começar a qualquer momento em que se façam desejáveis, sendo ofertadas a pessoas de qualquer idade, com qualquer prognóstico ou condição clínica.

Paliativismo

Os cuidados paliativos não se resumem à fase terminal e podem ser adotados logo após o diagnóstico da afecção

Tipos de cuidados paliativos

Os cuidados paliativos envolvem quatro dimensões, que são trabalhadas em conjunto a fim de proporcionar assistência integral centrada na pessoa – e não na doença.

Daí a necessidade de que sejam realizados por uma equipe multiprofissional, permitindo que os saberes se complementem e proporcionem acolhimento ao paciente.

A assistência pode ser disponibilizada pessoalmente, de maneira remota (usando uma plataforma de telemedicina) ou híbrida, quando ambas as modalidades são utilizadas.

Veja detalhes sobre os tipos de cuidados paliativos a seguir.

Cuidados físicos

A esfera física é semelhante a outros formatos de assistência, sendo conduzida por médicos, profissionais de enfermagem e outros colegas da área da saúde.

Cada um contribui com uma parte do tratamento, que é personalizado para suprir o que o paciente precisa.

As abordagens podem combinar medicamentos, exercícios de reabilitação, rotinas para prevenir agravos à saúde, dieta especial etc.

Cuidados psicológicos

O apoio psicológico faz toda a diferença, especialmente em situações delicadas vivenciadas por grande parte das pessoas que recebem cuidados paliativos.

Manter a mente saudável ajuda a enfrentar períodos de crise, perda da autonomia, desconforto extremo e a ideia de que a morte se aproxima.

Familiares, amigos e cuidadores também se beneficiam do suporte de profissionais de saúde mental para diminuir o estresse e sobrecarga de preocupações.

E receber ajuda após a morte do doente, na fase de luto.

Cuidados espirituais

Fé e espiritualidade também fazem parte dos cuidados paliativos, uma vez que oferecem conforto e esperança aos pacientes e familiares.

Nesse sentido, é essencial que as crenças do doente sejam respeitadas, possibilitando que atividades como aconselhamentos e rituais façam parte do seu dia a dia.

Cuidados sociais

Ainda que o paciente esteja fisicamente fragilizado, é saudável que participe de reuniões sociais para aumentar o bem-estar.

Refeições em família, jogos com amigos e outros contextos divertidos podem e devem integrar a rotina, desde que respeitem as limitações do doente.

Assistência paliativa

Adotar cuidados paliativos promove a humanização do atendimento em consultórios, clínicas e hospitais

Exemplos de cuidados paliativos

Os cuidados paliativos têm como foco o alívio do sofrimento físico e emocional.

Nesse contexto, um dos exemplos emblemáticos é o combate a qualquer tipo de dor, seja de intensidade leve, moderada ou severa.

Para tanto, podem ser usados fármacos analgésicos potentes, como a morfina – principalmente quando a doença se encontra em estágio avançado.

Também podem ser feitos alongamentos, acupuntura, massagens, ingestão de chás e outros alimentos com propriedades calmantes e analgésicas.

Diminuir o mal-estar gerado por tratamentos como quimioterapia também se enquadra entre os cuidados paliativos.

Assim como o respeito às decisões do paciente e a priorização de rotinas mais confortáveis, que resultem em menor desgaste físico e emocional.

Falando em emoções, muitas pessoas se sentem bem compartilhando sua experiência em sessões de terapia com o psicólogo, grupos de apoio e rodas de conversa que abordam assuntos tabus.

Conversar sobre a morte, sofrimento, saudades, legado e detalhes sobre a própria vivência ajuda a tornar o dia a dia mais leve.

O que é PPS em cuidados paliativos?

PPS (Palliative Performance Scale) é uma escala que avalia a funcionalidade do paciente, embasando a indicação de cuidados paliativos.

Criada pela Victoria Hospice Society, a ferramenta ainda tem valor prognóstico e pode ser usada como critério para avaliação da capacidade de trabalho.

Como explica um estudo publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia:

“Essa escala analisa cinco parâmetros: mobilidade, atividade e evidências de doenças, autocuidado, ingestão e estado de consciência e atribui valores de 0% a 100%, sendo que 0% significa a morte, 100% que o doente não possui alteração funcional. A escala PPS avalia cuidados paliativos se o paciente apresenta escore menor do que 40%”.

A PPS é uma das escalas de referência utilizadas em serviços de saúde para finalidades específicas, como a iniciação de cuidados paliativos em UTI.

Como aplicar os cuidados paliativos?

A aplicação dos cuidados paliativos deve ser individualizada para que atenda às expectativas e necessidades de cada paciente.

Para tanto, é importante seguir os princípios preconizados pela OMS no já citado Atlas de Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida, junto a normas nacionais como a Resolução 41/2018.

Ao estabelecer diretrizes para a organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados integrados, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o documento reforça pilares como a promoção da qualidade de vida por meio da melhoria do curso da doença.

Também acrescenta ferramentas como a comunicação sensível e empática, realizada por meio de três premissas:

  • Respeito à autodeterminação do indivíduo
  • Promoção da livre manifestação de preferências para tratamento médico através de diretiva antecipada de vontade (DAV)
  • Esforço coletivo em assegurar o cumprimento de vontade manifesta por DAV.

Profissionais contam ainda com a possibilidade de se qualificar nessa área, como explico a seguir.

Cursos de cuidados paliativos

Existem diversas opções para quem deseja se capacitar na oferta de cuidados paliativos.

Grande parte dos cursos é destinada a profissionais de saúde, oferecendo os formatos de pós-graduação, extensão e cursos livres, mas que exigem que os alunos tenham graduação ou técnico na área da saúde.

O próprio Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) oferece a qualificação profissional “Abordagem Domiciliar em Cuidados Paliativos Interdisciplinar”, com 45 horas de duração e no formato educação à distância (EaD).

Controle dos sintomas mais prevalentes como fadiga, anorexia e dor, procedimentos, escores e escalas utilizadas na avaliação do paciente estão entre os temas abordados.

Outras instituições públicas e privadas que oferecem capacitações nessa área são Fiocruz, Senac e Centro de Educação do Hospital Albert Einstein.

Cuidados paliativos na telemedicina

A telemedicina funciona como uma disciplina que conecta pacientes e equipes de saúde de maneira prática e segura.

Toda a comunicação é feita por meio de um software em nuvem.

É um local de armazenamento na internet com espaço infinito e que pode ser acessado a partir de qualquer dispositivo conectado à rede.

Nesse cenário, a telemedicina viabiliza cuidados paliativos a distância, apoiando a qualidade da assistência em domicílio.

Basta que o paciente ou cuidador use um notebook, tablet ou mesmo um smartphone para conversar e receber orientação de profissionais de saúde, sem precisar se deslocar.

Isso garante comodidade no acompanhamento por meio da teleconsulta, que é o atendimento feito por médicos, psicólogos, enfermeiros, etc.

Usando recursos avançados de áudio e vídeo, eles prestam assistência via videoconferência, numa sala virtual exclusiva dentro da plataforma de telemedicina.

O sistema ainda possibilita o telemonitoramento, garantindo a continuidade dos cuidados de saúde e dando suporte ao esclarecimento de dúvidas dos cuidadores.

O software completo da Telemedicina Morsch ainda disponibiliza:

Conheça soluções pensadas para otimizar o trabalho da equipe médica.

Conclusão

Ao final deste artigo, espero ter contribuído para ampliar seus saberes sobre cuidados paliativos.

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E leia mais conteúdos para profissionais de saúde que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin