Doenças psicossociais: exemplos, causas, sintomas e prevenção

Por Dr. José Aldair Morsch, 25 de novembro de 2022
Doenças psicossociais

Relacionadas a fatores de organização do trabalho, as doenças psicossociais têm aumentado nos últimos anos.

O que não surpreende, pois essas patologias costumam surgir de sobrecarga e estresse – dois componentes comuns na rotina laboral de profissionais em todo o mundo.

Especialmente diante da crise de saúde pública desencadeada pela pandemia de Covid-19, que exigiu medidas de isolamento social e deixou um legado de insegurança econômica aos brasileiros.

Apesar da importância desse contexto, a pandemia está longe de ser a única razão para os casos crescentes de depressão, síndrome de burnout, ansiedade generalizada e outros transtornos mentais relacionados ao trabalho.

Discorro sobre eles ao longo deste texto, comentando sintomas, medidas de prevenção e tratamento para as doenças psicossociais.

Você pode contar com inovações como a teleconsulta para reforçar as ações de saúde ocupacional na sua empresa.

O que são doenças psicossociais?

Doenças psicossociais são patologias que provocam danos psicológicos desencadeados por fatores ambientais.

Daí a sua correspondência com o ambiente laboral, profundamente influenciado pela organização do trabalho.

Segundo definição da Instrução Normativa 98/2003, que aprovou a Norma Técnica sobre Lesões por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho da Previdência Social:

“Os fatores psicossociais do trabalho são as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho. Como exemplo de fatores psicossociais podemos citar: considerações relativas à carreira, à carga e ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho. A ‘percepção’ psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho”.

Ou seja, as doenças psicossociais nascem de fatores que combinam características externas (ambientais) às características internas de cada pessoa.

Quais são as doenças psicossociais ocupacionais?

Doenças psicossociais ocupacionais são aquelas relacionadas ao ambiente e condições de trabalho.

Essas patologias estão ligadas a fatores psicossociais como clima organizacional, metas estabelecidas, ritmo das tarefas, mecanismos de cobrança, entre outros.

Como mencionei acima, a percepção do empregado a respeito deles pode favorecer o surgimento de doenças que afetam a mente e as emoções.

Além de colaborar para eventos adversos como crises de asma, infarto do miocárdio, convulsões e acidente vascular cerebral (AVC).

A seguir, conheça cinco doenças psicossociais frequentemente ligadas ao trabalho.

Burnout

Reconhecida como doença ocupacional em janeiro de 2022, a síndrome de burnout tem como principal característica o esgotamento mental e físico.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, outros sinais da patologia são cinismo, sentimentos negativos sobre o trabalho e queda na eficácia profissional.

A OMS descreve o burnout como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.

Ansiedade patológica

Usei o termo acima porque dizer apenas que uma pessoa tem ansiedade não significa que ela sofra com uma doença psicossocial.

Níveis relativos de ansiedade são normais e servem para colocar mente e corpo em estado de alerta, a fim de mobilizá-los para ter a máxima dedicação a uma tarefa importante.

O problema começa quando o funcionário perde o controle sobre seus pensamentos, ficando sempre à espera de um evento catastrófico sem motivo real para isso.

Se a ansiedade é patológica, pode desencadear distúrbios como o transtorno de ansiedade generalizada, que mantém a vítima com níveis extremos de preocupação com o amanhã.

Uma simples apresentação para a equipe pode se tornar um pesadelo caso ela pense que não se sairá bem, por exemplo, causando mal-estar, tremores, palpitações e até desmaios.

Depressão

Angústia, tristeza profunda e perda de interesse pelas atividades profissionais são sintomas da depressão no trabalho.

No início, o colaborador pode experimentar queda na produtividade e energia para as tarefas, levando-o a comparecer à empresa apenas por obrigação (fenômeno conhecido como presenteísmo).

Se nada for feito, logo vêm as ausências físicas (absenteísmo) e o adoecimento se intensifica, reforçando crenças limitantes e estados emocionais negativos.

É preciso agir rápido, pois quadros de depressão profunda elevam o risco de suicídio.

Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)

Isolamento, humor deprimido e reações exageradas a estímulos externos estão entre os indicativos de transtorno do estresse pós-traumático.

Como o próprio nome sugere, o TEPT sempre tem origem em situações extremas vivenciadas pela vítima, a exemplo de assaltos, acidentes graves de trabalho e tragédias.

Os sintomas aparecem semanas ou alguns meses após a ocorrência, incluindo pesadelos, flashbacks e medo de situações que relembrem o evento traumático.

Transtornos psicossociais

A síndrome de Burnout é uma doença ocupacional que tem como característica o esgotamento mental e físico

Transtorno obsessivo compulsivo (TOC)

É uma doença descrita a partir de uma sequência de pensamentos intrusivos (obsessivos), seguidos por rituais para aliviar a ansiedade deixada pelos pensamentos (compulsões).

Por atingir áreas como organização e higiene, pode interferir na rotina de trabalho, afetando a eficiência do indivíduo e os relacionamentos interpessoais.

Um funcionário que tenha de lavar as mãos freneticamente, por exemplo, pode interromper uma reunião com um cliente importante, apenas para executar esse ritual.

Caso não o faça, a vítima sente que algo ruim vai acontecer.

O que causa as doenças psicossociais relacionadas ao trabalho?

“Os fatores psicossociais relacionados ao trabalho podem ser definidos como aquelas características do trabalho que funcionam como ‘estressores’, ou seja, implicam em grandes exigências no trabalho, combinadas com recursos insuficientes para o enfrentamento das mesmas”.

O trecho acima, retirado do Manual de auxílio na interpretação e aplicação da norma reguladora nº 35: trabalho em altura, apresenta o estresse ocupacional como consequência da existência de fatores psicossociais capazes de provocar adoecimento.

Isso faz muito sentido, pois estados de estresse são comuns às doenças psicossociais relacionadas ao trabalho.

Os fatores por trás dessas patologias estão diretamente ligados à organização do trabalho, que engloba valores da cultura empresarial, estrutura e clima organizacional.

Muitos autores têm se debruçado sobre esse assunto e, dependendo da referência utilizada, dá para encontrar diferentes itens enquadrados como fatores psicossociais de risco aos colaboradores.

Na visão da Organização Internacional do Trabalho, citada neste estudo, há cinco dimensões para os fatores psicossociais no trabalho:

  • Interação entre ambiente, conteúdo e condições de trabalho: inclui a autonomia dos trabalhadores, segurança no posto de trabalho, conforto térmico, iluminação, adaptação do mobiliário, uso de ferramentas adequadas
  • Capacidade dos trabalhadores de atender as demandas de trabalho: compreende treinamento, capacitação técnica, jornada laboral, horas extras, ritmo das tarefas, exigência de metas tangíveis ou não, colaboração entre colegas e auxílio das lideranças
  • Necessidades e expectativas dos trabalhadores: medidas de segurança e saúde do trabalho para diminuir o impacto de riscos ocupacionais como altura, radiação ionizante, poeiras minerais, choque elétrico etc.; plano de carreira, feedback, espaço para crescimento e contribuição para mudanças a partir das ideias dos empregados, benefícios e bônus
  • Cultura: aspectos sobre justiça organizacional, percepção sobre o ambiente laboral (clima), hierarquia, valorização de iniciativas
  • Fatores pessoais e extralaborais: equilíbrio entre vida profissional e pessoal, experiências passadas, problemas familiares ou financeiros, adoecimento próprio ou de entes queridos, perdas significativas, luto.

Quais os sintomas das doenças psicossociais?

Mais acima, comentei os sintomas característicos das principais doenças psicossociais.

Os incômodos podem variar de acordo com a patologia, ou ainda em diferentes estágios de um mesmo transtorno mental.

Por isso, escolhi focar nos sintomas iniciais dessas doenças, para facilitar sua identificação e diagnóstico precoce.

Assim como outras patologias, seu tratamento tem maiores chances de sucesso quando realizado desde o começo das manifestações clínicas, que podem se apresentar como:

  • Estresse crônico
  • Queda na produtividade
  • Mudanças nos padrões de comportamento
  • Desinteresse pelo trabalho
  • Irritação excessiva
  • Desânimo
  • Cansaço mental
  • Dificuldade de concentração
  • Lapsos de memória
  • Explosões emocionais
  • Isolamento
  • Dores de cabeça
  • Alergias na pele
  • Dores musculares
  • Palpitações
  • Tremores
  • Pressão alta
  • Preocupação exacerbada
  • Humor deprimido constante
  • Distúrbios gastrointestinais.

Afastamentos frequentes, faltas e alienação durante a jornada de trabalho são outros sinais de alerta para as doenças psicossociais.

Ao detectar esses fatores, é importante ter uma conversa franca com o funcionário, deixando claro que ele será acolhido e respeitado no ambiente laboral.

Como prevenir as doenças psicossociais no trabalho?

Prevenção é sempre o melhor caminho.

Pensando nisso, reuni quatro estratégias que podem ser adotadas por empresas de todos os setores e portes para evitar o surgimento e o agravo das doenças mentais relacionadas ao trabalho.

O ideal é que as iniciativas comecem com as lideranças, assessoradas por especialistas em saúde ocupacional, como profissionais do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho).

O time de Recursos Humanos e da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) podem atuar como multiplicadores, fortalecendo a valorização do capital humano e promoção da saúde.

Essas são as bases para as sugestões que você acompanha abaixo.

Doenças ocupacionais psicossociais

O tratamento das patologias psicossociais ocupacionais é feito por profissionais como psicólogos e terapeutas

1. Controle os riscos psicossociais

Toda empresa deve obedecer à legislação trabalhista, inclusive o disposto nas normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego.

Uma delas é a elaboração do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que contempla riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes.

Embora não cite exclusivamente os riscos psicossociais, alguns deles se enquadram entre os riscos ergonômicos, por exemplo:

  • Esforço físico
  • Imposição de rotina intensa
  • Monotonia e repetitividade
  • Jornada de trabalho prolongada
  • Controle rígido das tarefas
  • Situações de estresse, como assédio moral e sexual, bullying e prazos apertados.

É preciso identificar, avaliar e controlar esses riscos, que existem em maior ou menor proporção em qualquer negócio.

Portanto, é inteligente começar a prevenção de doenças psicossociais apostando em ações de saúde e segurança no trabalho (SST).

2. Invista em treinamento

Capacitar os empregados permite que tenham maior domínio sobre suas tarefas e ferramentas que elevam a produtividade.

Treinamentos ainda criam momentos de troca de experiências, proximidade e conscientização sobre temas relevantes, como a própria saúde mental.

3. Ofereça plano de carreira e benefícios

Insegurança quanto à manutenção do emprego e insatisfação elevam as chances de adoecimento mental.

Essas questões são amenizadas quando o funcionário conhece seu plano de carreira, recebendo incentivo para crescer.

Outra boa pedida é a valorização das pessoas por meio de benefícios corporativos.

4. Monitore o clima organizacional

Por representar a percepção dos colaboradores, o clima serve como termômetro de insatisfação e problemas de relacionamento.

Aposte, então, em pesquisas e outros instrumentos que permitam analisar essa variável.

5. Acompanhe a saúde dos empregados

Além do controle de riscos ocupacionais, a SST determina que os empregadores realizem ações de saúde no trabalho.

Isso engloba exames do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), capazes de sinalizar o adoecimento mental de maneira precoce.

6. Forneça cuidados de saúde mental

Seja junto ao plano de saúde, através de treinamentos, colocando profissionais à disposição na empresa ou em plataformas online.

Sempre que possível, invista em saúde mental para seus colaboradores, a fim de que desenvolvam autoconhecimento e inteligência emocional.

Essas competências contribuem para uma maior resiliência no dia a dia, diminuindo o risco de adoecimento.

Como tratar as doenças psicossociais ocupacionais?

Geralmente, o tratamento das patologias psicossociais ocupacionais é feito por profissionais como psicólogos e terapeutas.

Cabe ao RH encaminhar o funcionário doente para serviços de saúde mental, a fim de que receba orientação profissional que diminua seu sofrimento.

Casos severos e crises podem necessitar de medicamentos de suporte, que são receitados pelo psiquiatra.

Por vezes, o trabalhador precisará se afastar por alguns dias ou até semanas, a fim de se recuperar das exacerbações para ter condições de retornar às atividades laborais.

Como a telemedicina ajuda a tratar as doenças psicossociais?

A telemedicina leva assistência em saúde mental para dentro da sua empresa, através do serviço de consulta online.

Com a teleconsulta, seus funcionários conversam com psicólogos e psiquiatras online, no conforto de suas salas ou em casa.

Há opções avulsas ou em convênio com uma empresa de telemedicina, que facilita o acesso dos seus colaboradores.

O sistema Morsch, por exemplo, fica hospedado na nuvem, pedindo somente um dispositivo com conexão à internet para a consulta por videoconferência.

O processo é rápido desde o agendamento, feito dentro da plataforma.

Depois, é só acessar o link que enviamos na data e horário marcados para entrar numa sala virtual exclusiva e receber os cuidados de saúde.

Documentos como atestados, receitas e encaminhamentos são preenchidos a distância e enviados em tempo real ao paciente.

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Conclusão

Combater as doenças psicossociais é um dos maiores desafios para gestores e profissionais de saúde ocupacional na atualidade.

É possível investir em medidas preventivas e acolhimento, cultivando o bem-estar e a qualidade de vida no trabalho.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin