Protocolo de Manchester: o que é, significado das cores e como funciona

Por Dr. José Aldair Morsch, 15 de fevereiro de 2024
Protocolo de Manchester

O Protocolo de Manchester consiste em um método de classificação de riscos amplamente utilizado no mundo para determinar quais são os atendimentos prioritários nas unidades de emergência.

Por meio desta metodologia, é possível identificar de maneira célere quais são os pacientes estáveis e aqueles com riscos mais elevados.

Dessa forma, é possível organizar o atendimento para que os mais urgentes sejam recebidos primeiro.

Porém, lembre-se de que a ferramenta não deve ser utilizada para presumir os diagnósticos, mas apenas para identificar em quais situações existem maiores riscos fatais, de perda de função ou mesmo de órgãos.

Quer saber como utilizar a prática e como ela pode lhe auxiliar a garantir uma melhor organização dos seus atendimentos?

Neste texto, explico em detalhes o funcionamento, quais são os equipamentos necessários, os responsáveis envolvidos, os benefícios e meios de implementação do protocolo de Manchester.

Ao final, apresento ainda soluções de telemedicina que agilizam rotinas de saúde.

O que é o Protocolo de Manchester?

O Protocolo de Manchester é um processo de seleção de pacientes com base em sua condição clínica e na urgência por atendimento.

De acordo com material da Secretaria de Saúde de São Paulo:

“Na prática, é um método de triagem de pacientes que determina escalas de urgência, ou seja, os pacientes que necessitam de atendimento médico são classificados de acordo com a gravidade do quadro clínico apresentado e o tempo de espera recomendado”.

Trata-se da ferramenta de classificação de risco mais popularmente empregada nos serviços de saúde brasileiros, assim como em outros países.

A divisão por cores e simplicidade da metodologia são algumas das razões para que seja amplamente utilizada em diferentes locais.

Quem criou o Protocolo de Manchester?

O protocolo foi inventado em 1994, pelo médico e professor Kevin Mackway Jones, e passou a ser recomendado em todos os hospitais do Reino Unido alguns anos mais tarde.

A primeira instituição a adotar essa ferramenta foi o Manchester Royal Infirmary, na cidade de Manchester, em 1997 – vem daí a referência que dá nome à metodologia.

Nos dias de hoje, o Protocolo de Manchester é utilizado em mais de 25 países, a exemplo de Áustria, Alemanha, México, Noruega, Portugal e Espanha.

Para que serve o Protocolo de Manchester

A principal finalidade da ferramenta é priorizar os atendimentos conforme a necessidade do paciente.

Quando usado de maneira efetiva, o Protocolo de Manchester permite salvar vidas a partir da identificação e socorro imediato a pessoas com alto risco de morte.

Nesse contexto, a importância de sua adoção está diretamente ligada à superlotação de hospitais, uma vez que possibilita uma organização rápida e efetiva dos pacientes, para que sejam priorizados aqueles de urgência.

A partir do enquadramento dos casos, dá para encaminhar os doentes aos locais adequados para a assistência, como a sala de emergência.

Além de fornecer uma estimativa em relação ao tempo de espera por atendimento, agregando qualidade e transparência na comunicação.

Por consequência, doentes e acompanhantes enxergam maior valor nos serviços prestados, o que contribui para fidelizar pacientes.

Entenda as cores do Protocolo de Manchester

No Protocolo de Manchester, os profissionais de saúde precisam efetuar uma avaliação do quadro clínico do paciente.

O objetivo é identificar o risco do quadro em questão, colocando uma pulseira no indivíduo para indicar a gravidade do caso e a priorização do seu atendimento.

Confira como é feita a classificação e o que é levado em consideração em cada caso:

Emergencial: cor vermelha

Os casos de emergência são aqueles em que os indivíduos estão com risco de morte ou em condições de extrema gravidade.

Ou seja, aqueles com pulseira de cor vermelha precisam ser atendidos imediatamente.

Entre os quadros mais comuns nesses casos, estão:

  • Crises de convulsão
  • Paradas cardiorrespiratórias
  • Hemorragias sem controle
  • Dor no peito com falta de ar
  • Queimadura em mais de 25% do corpo
  • Tentativa de suicídio, entre outros quadros semelhantes.

Depois da cor vermelha, vem a laranja.

Muito urgente: cor laranja

A cor laranja também identifica os pacientes urgentes, mas em um nível um pouco menos elevado do que o anterior.

Em média, o tempo aceitável de espera nesses casos é de até 10 minutos.

As condições geralmente tratadas como muito urgentes incluem:

  • Dores muito severas
  • Cefaleia de rápida progressão
  • Arritmia sem sinais de instabilidade
  • Entre outras situações de igual gravidade.

Passamos, então, `à cor amarela.

Como o Protocolo de Manchester funciona na prática?

O Protocolo de Manchester é um processo de seleção de pacientes com base em sua condição clínica

Urgente: cor amarela

Nos casos urgentes, podemos considerar que existem riscos para o paciente, mas eles não são imediatos.

Assim, o tempo de espera pode chegar a até 1 hora.

Os casos mais comuns são:

  • Desmaios
  • Crises de pânico
  • Dores ou hemorragias moderadas
  • Irregularidades nos sinais vitais
  • Casos de hipertensão, e assim por diante.

Em seguida, vem a cor verde.

Pouco urgente: cor verde

Os casos menos graves são identificados com pulseiras verdes e têm um tempo aceitável de espera de até 2 horas.

Nessas situações, é comum que os quadros tenham: febre, dores leves, viroses, tonturas, resfriados, náuseas, hemorragia sob controle, entre outros.

Não urgente: cor azul

Para finalizar, os quadros mais simples são identificados pela cor azul e aceitam até 4 horas de espera para os pacientes.

Como é de se imaginar, as situações não urgentes envolvem atendimentos rotineiros, como a administração de medicamentos receitados pelo médico, troca de sonda, dores relacionadas a condições crônicas já diagnosticadas, etc.

Como funciona o Protocolo de Manchester na prática?

O protocolo funciona a partir de uma dinâmica específica, com base em algoritmos de classificação de risco.

Ao chegar em um hospital ou clínica, cada paciente passa por uma triagem conduzida por um enfermeiro responsável pelo protocolo.

Existem diferentes sistemas de suporte para enquadrar o paciente em uma das classificações que detalhei acima.

Um deles avalia a dor sentida, atribuindo-lhe uma nota de 0 a 10, sendo que as notas correspondem a:

  • 1 a 4: dor leve e recente, com início em até 7 dias – cor verde
  • 5 a 7: dor moderada – cor amarela 
  • 8 a 10: dor grave sentida há mais de 7 dias – cor laranja.

Uma vez avaliados os sinais vitais e sintomas, o paciente recebe uma pulseira ou etiqueta com a respectiva cor, sendo atendido no tempo previsto.

Vale lembrar que a triagem não sugere nem equivale a qualquer hipótese diagnóstica.

Exemplos de aplicação do Protocolo de Manchester

Para dar exemplos práticos, vamos imaginar que um paciente tenha chegado ao pronto-socorro de um hospital sentindo um aperto ou pressão no peito, que surgiu de repente e já dura 15 minutos.

O desconforto não melhora com movimentos ou repouso e é possível notar falta de ar intensa e suor frio.

Rapidamente, o profissional responsável sinaliza o caso como uma emergência, colocando uma pulseira vermelha no paciente.

Afinal, ele apresenta sinais de infarto agudo do miocárdio ou angina, o que exige atenção imediata para evitar a morte ou sequelas.

Imagine agora que outra pessoa chegou ao hospital sofrendo com vômitos intensos e diarreia.

Embora os sintomas sejam incômodos, seus sinais vitais têm pouca alteração, o que lhe confere uma pulseira amarela – pois se trata de um caso urgente.

Saiba as principais vantagens do Protocolo de Manchester

 A principal finalidade da ferramenta é priorizar os atendimentos conforme a necessidade do paciente

Quais os equipamentos necessários para a adoção do Protocolo de Manchester?

Para realizar as avaliações necessárias para determinar os riscos e garantir que o Protocolo de Manchester flua de maneira correta, alguns equipamentos e materiais são indispensáveis nas unidades de saúde.

Eles incluem:

Além de conhecer as classificações e insumos necessários para o Protocolo de Manchester, também é fundamental compreender quem são os seus responsáveis. 

Quem são os responsáveis pela execução do Protocolo de Manchester?

De acordo com a lei, é responsabilidade da equipe de enfermagem designar o especialista que será responsável por executar o Protocolo de Manchester na clínica ou hospital em questão.

Esse profissional de enfermagem precisa ser devidamente treinado para lidar com a responsabilidade da triagem, tendo realizado curso específico sobre a ferramenta.

Dessa forma, será capaz de identificar quadros de alto risco, a fim de que sejam atendidos com prioridade.

Além disso, o enfermeiro responsável precisa cumprir suas funções com celeridade, para garantir a fluência das intervenções, e possuir uma boa capacidade interpessoal para lidar com os pacientes em espera.

Tenha em mente que, além do responsável, todos os profissionais de saúde precisam se engajar em prol do Protocolo de Manchester.

A infraestrutura também deve ser adequada para a sua execução.

Dessa maneira, gestores, profissionais, pacientes e acompanhantes podem aproveitar as vantagens da ferramenta.

Quais são as principais vantagens do Protocolo de Manchester?

Neste ponto, fica evidente a importância do Protocolo de Manchester para as unidades de emergência e demais setores de um hospital

A metodologia também é essencial para garantir a segurança do paciente e a humanização no hospital.

Garanta mais segurança para seus pacientes

O Protocolo de Manchester é baseado em padrões sólidos, sistemáticos e respaldo científico.

É por isso que seu uso é tão amplo ao redor do mundo.

Assim, a segurança é garantida para os pacientes, que passam a ter um apoio objetivo para seus encaminhamentos e para a redução de riscos ligados a complicações de saúde.

Aumente a satisfação do público

Com a segurança fornecida pelo Protocolo de Manchester, os pacientes se sentem mais tranquilos e bem acolhidos nas unidades de saúde.

Além disso, ao entender melhor qual será o tempo de espera, suas expectativas são alinhadas e a satisfação do paciente com a experiência de atendimento se torna maior.

Defina a melhor organização possível

Por meio do Protocolo de Manchester, todos os fluxos de atendimento são padronizados, a organização para as intervenções de urgência é feita da maneira mais adequada possível e o direcionamento dos recursos se torna assertivo.

Assim, a organização da unidade é favorecida, uma vez que os padrões são bem definidos, assim como os profissionais, equipamentos e demais insumos médicos, que são alocados junto aos pacientes que mais precisam.

Tenha um maior alinhamento entre enfermeiros e médicos

Sem métodos como o Protocolo de Manchester, é comum que os profissionais de saúde discordem a respeito de certos casos e suas respectivas classificações de risco.

Isso pode gerar atrasos nas intervenções, além de falta de clareza e consenso entre as equipes que efetuam os atendimentos.

Como o protocolo adota um padrão único, com critérios de classificação bem definidos, ele não abre brechas para que esse tipo de problema ocorra.

Reduza a incidência de fatalidades

Não é novidade que o tempo de espera excessivo pode ser fatal

Por isso, a priorização que o Protocolo de Manchester garante para casos graves é capaz de salvar muitas vidas.

Além disso, evita sequelas como perda de órgãos ou de funções.

Torne sua unidade de atendimento mais segura

Além da própria segurança agregada aos pacientes, é importante ressaltar que as instituições de saúde se tornam mais seguras com o Protocolo de Manchester.

Isso porque, como explicarei no próximo item, o uso do método depende de auditorias constantes e análises muito rigorosas para determinar se os seus resultados são realmente efetivos na clínica ou hospital em questão.

Assim, sempre que a instituição for aprovada dentro dos critérios que guiam o protocolo, ela poderá ter certeza de que atua em conformidade com os padrões ideais de classificação emergencial.

Além disso, seus profissionais atendem dentro de critérios sólidos de segurança e os pacientes não terão seus riscos aumentados por esperas excessivas.

Como implementar o Protocolo de Manchester nas clínicas ou hospitais?

Agora que você já conhece os principais detalhes sobre o Protocolo de Manchester, vou detalhar as etapas fundamentais para implementá-lo com sucesso na sua unidade de saúde.

1. Conscientize a equipe sobre a importância da classificação de risco

O primeiro passo para ter sucesso na implementação do Protocolo de Manchester é conscientizar toda a equipe médica a respeito da relevância da gestão de urgências e da classificação de riscos.

De acordo com o Grupo Brasileiro de Classificação de Risco, não só os enfermeiros e os médicos devem ser treinados como classificadores, mas também a própria direção e coordenação da unidade de emergência.

Ainda segundo a instituição, uma Palestra de Gestão a Partir da Classificação de Risco deve ser promovida aos profissionais, abordando os modelos de classificação com foco no Protocolo de Manchester. 

Além de problemas comuns na entrada, passagem e saída dos pacientes e diagnóstico situacional dos serviços de urgência.

2. Capacite a sua equipe como classificadores pelo GBCR

Por falar no Grupo Brasileiro de Classificação de Risco, a instituição também fornece capacitação com certificação profissional de classificador do Protocolo de Manchester.

De validade internacional, o documento precisa ser atualizado a cada três anos ou sempre que houver uma nova edição de regras do protocolo.

Porém, em mais de 30 anos de aplicação, o Protocolo de Manchester passou apenas por três edições, o que só reforça o quanto o método é sólido e estável.

Aqueles que forem reprovados podem repetir a capacitação, mas somente após 30 dias de intervalo.

Outra possibilidade é o treinamento a distância, disponibilizado pelo GBCR por meio da plataforma Zoom.

As vantagens do Protocolo de Manchester em clínica ou hospital

 No Protocolo de Manchester, os profissionais de saúde precisam efetuar uma avaliação do quadro clínico do paciente

3. Chame um tutor do GBCR para fazer um acompanhamento presencial

Depois que o Protocolo de Manchester é implementado na unidade de saúde, um tutor do GBCR vai até o local para realizar um acompanhamento presencial.

O objetivo desse encontro é corrigir eventuais erros, promover melhorias e sanar dúvidas que possam ter restado entre os profissionais.

4. Capacite auditores internos

Para garantir a conformidade e excelência do Protocolo de Manchester, ele precisa ser auditado todos os meses, de acordo com as recomendações do GBCR. 

Dessa maneira, sua clínica ou hospital deve capacitar auditores internos.

O ideal é que sejam, no mínimo, um auditor médico e outro enfermeiro.

O próprio GBCR oferece cursos de auditoria, que também podem ser realizados presencialmente ou à distância, via plataforma Zoom.

5. Faça uma auditoria externa para verificar o controle do sistema

Além da exigência de auditorias internas periódicas, o Protocolo de Manchester demanda processos contínuos de auditorias externas.

Realizadas pela GBCR, têm como objetivo garantir que a operacionalização do método seja feita de acordo com os padrões estabelecidos.

Isso porque, mais que um cuidado indispensável para qualquer unidade de saúde emergencial, os sistemas de avaliação de riscos exigem extremo rigor.

Eles devem ser devidamente controlados para que os profissionais os utilizem com todo o critério, cuidado e qualificação necessários para a segurança dos pacientes.

Conclusão

Espero ter esclarecido tudo sobre o Protocolo de Manchester

Se quiser mais praticidade e qualidade para utilizá-lo, conte com o apoio da solução que é referência em gestão para clínicas e hospitais.

Com a Telemedicina Morsch, você tem acesso às melhores tecnologias para aprimorar os seus atendimentos, reduzir os custos e garantir muito mais excelência aos seus pacientes.

Se você quer ir além do Protocolo de Manchester e deseja descobrir mais métodos capazes de revolucionar a sua atuação na área da saúde, continue acompanhando os artigos exclusivos que publico aqui.

A fim de difundir informações valiosas para médicos e pacientes, contemplamos questões que vão desde a promoção da saúde até a atenção primária.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin