Eletrocardiograma infantil: entenda como é feito o ECG pediátrico

Por Dr. José Aldair Morsch, 6 de março de 2025
Eletrocardiograma infantil

Como todo exame realizado em crianças, o eletrocardiograma infantil tem suas peculiaridades e pontos de atenção.

Não que ele represente riscos à saúde dos pequenos, mas é fundamental que seja realizado e interpretado de forma adequada.

Afinal, é peça-chave no diagnóstico de anomalias cardiovasculares, como as congênitas.

Apesar de a condução do procedimento ser semelhante ao eletrocardiograma em adultos, existem diferenças importantes na análise de suas informações.

Se você deseja saber mais sobre o eletrocardiograma pediátrico, leia este artigo até o fim.

Vou trazer detalhes sobre esse exame de coração, incluindo indicações, resultados e o preparo exigido para a sua realização.

Além de trazer soluções para otimizar o laudo desse importante exame, utilizando a telemedicina cardiológica.

O que é eletrocardiograma infantil?

Eletrocardiograma infantil é um exame que mostra a atividade elétrica do coração em recém-nascidos, bebês e crianças.

Essa atividade é a responsável pelo funcionamento do músculo cardíaco, que se movimenta para bombear o sangue por todo o corpo.

É o sangue que nutre as células do organismo, transportando o oxigênio e nutrientes necessários para que elas desempenhem suas tarefas com eficiência.

Daí a importância de avaliar a saúde do coração.

Durante as últimas décadas, a eletrocardiografia tem apoiado o trabalho de cardiologistas, clínicos gerais e pediatras.

Por ser um exame rápido, indolor, não invasivo e que, em geral, não apresenta contraindicações ou efeitos colaterais, o ECG pode ser feito em bebês e crianças.

Para que serve o eletrocardiograma infantil?

O ECG infantil serve para detectar anormalidades no ritmo cardíaco, que sinalizam condições patológicas.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, esse é considerado o exame padrão ouro para o diagnóstico de diversas doenças cardiovasculares, como arritmias, distúrbios de condução e isquemias.

Também é comum que o procedimento auxilie no diagnóstico de cardiopatias congênitas, especialmente durante os primeiros anos de vida.

É importante entender que o coração é uma bomba dividida em quatro câmaras, chamadas átrios e ventrículos.

Cada lado do músculo tem um átrio e um ventrículo.

No órgão, também há quatro válvulas que se abrem para permitir que o sangue circule em uma única direção de cada vez – entrando ou saindo.

Para nutrir o corpo, o sangue vai até os pulmões, onde capta oxigênio e retorna ao músculo cardíaco para ser bombeado ao restante do organismo.

As patologias congênitas costumam afetar o processo de circulação do sangue, ou os tecidos do músculo cardíaco.

A partir de gráficos com oscilações que representam os diferentes movimentos do miocárdio – as ondas do eletrocardiograma –, um médico especialista identifica possíveis anomalias, diagnosticadas com ou sem o suporte de outros exames cardiológicos.

Indicações do eletrocardiograma infantil

A eletrocardiografia é um dos exames cardiológicos mais comuns e, portanto, pode ser solicitada apenas para monitorar o desenvolvimento da criança.

Mas há outros fatores que motivam a solicitação do exame, como os seguintes:

  • Episódios de cianose – cor azulada na pele ou mucosas, que ocorre quando os tecidos não recebem oxigênio suficiente
  • Suspeita ou diagnóstico prévio de arritmias
  • Ingestão de drogas
  • Hipotermia
  • Febre reumática
  • Miocardite – inflamação do miocárdio (músculo cardíaco)
  • Pericardite – inflamação do pericárdio, a membrana que envolve o coração
  • Insuficiência cardíaca
  • Cardiopatias congênitas
  • Histórico familiar de morte súbita
  • Crises de apneia.

Cardiopatias congênitas, endocardite infecciosa, miocardite, pericardite, insuficiência cardíaca e hipertensão arterial são algumas condições comuns durante a infância.

Suspeitas dessas doenças também costumam levar o pediatra ou cardiologista a solicitar um eletrocardiograma.

ECG infantil

O ECG infantil serve para detectar anormalidades no ritmo cardíaco, que sinalizam condições patológicas

Diferenças entre o eletrocardiograma infantil e o adulto

Embora o aparelho de eletrocardiograma (eletrocardiógrafo) e a lógica por trás do exame sejam os mesmos para qualquer idade, existem pontos de atenção no ECG infantil.

Um deles é a exigência de que o paciente fique parado durante todo o procedimento.

É possível orientar crianças maiores para que fiquem paradas, mas não bebês.

Outra diferença está nos resultados e interpretação da eletrocardiografia.

Quando o bebê nasce, seu aparelho cardiovascular – formado por coração, veias e artérias – tem as mesmas características da vida intrauterina.

Uma delas é o predomínio das câmaras direitas do coração quando comparadas às do lado esquerdo, ao contrário do que ocorre no coração de um adulto.

Aos poucos, o músculo cardíaco e vasos sanguíneos dos bebês

vão se alterando, até chegarem ao padrão na idade adulta.

Por consequência, o traçado do eletrocardiograma muda conforme a idade do paciente.

Nos tópicos a seguir, comento sobre outras diferenças que podem influenciar nos resultados do ECG infantil.

Como é feito o eletrocardiograma infantil?

A realização do eletrocardiograma infantil é relativamente simples.

Primeiro, a criança é posicionada em uma maca, deitada de barriga para cima ou em decúbito dorsal.

O cardiologista, pediatra ou técnico de enfermagem que conduz o exame encontra as posições nas quais os eletrodos serão fixados, e marca esses locais com um gel.

Além de ajudar a fixar os eletrodos do aparelho de ECG, o gel conduz eletricidade, melhorando os registros do exame.

Em seguida, o profissional posiciona os eletrodos no paciente, distribuídos entre as extremidades de braços e pernas e pelo tórax.

O ECG costuma durar apenas alguns minutos.

Assim que os eletrodos estão posicionados, o eletrocardiógrafo é ligado.

Os eletrodos coletam informações sobre a atividade elétrica do coração em diferentes áreas, e as enviam ao monitor.

O aparelho, então, transforma os dados em gráficos de linha.

Se o equipamento for convencional, as linhas são registradas em papel especial. Se for digital, ficam armazenadas no computador.

Eletrocardiograma em bebês

Em recém-nascidos e lactentes, especialistas recomendam duas posições adicionais dos eletrodos no tórax.

Conhecidas como V3R e V4R, elas servem para colher detalhes do ventrículo direito.

Geralmente, os eletrodos periféricos são colocados no tronco do bebê, a fim de evitar artefatos devido a movimentos durante o ECG.

Eletrocardiograma em crianças e adolescentes

Caso a criança seja pequena e/ou tenha dificuldade para ficar imóvel, os eletrodos também serão posicionados mais longe das mãos e pés, para evitar prejuízos nos resultados.

Conforme a idade avança, o ECG assume um padrão mais próximo ao de pacientes adultos, com a dominância do ventrículo esquerdo – o que dispensa a adição de V3R e V4R.

Preparo para o eletrocardiograma infantil

Mencionei, mais acima, que o ECG pediátrico é um exame rápido, simples e indolor.

Seu preparo também é simples, sendo recomendado não aplicar cremes, talco ou outros cosméticos no corpo da criança, para melhor aderência dos eletrodos usados no procedimento.

Outra dica é vestir a criança com roupas confortáveis e fáceis de retirar, como camisas com botões.

Se for um bebê, o ideal é agendar o ECG próximo aos horários de sono, quando é mais fácil mantê-lo imóvel.

Também é importante levar os resultados de outros exames cardiológicos para comparação.

Quanto ao preparo na clínica ou hospital, pode ser preciso utilizar eletrodos em tamanho menor que o padrão, ou adaptar sua posição considerando o tamanho da caixa torácica do paciente.

Contraindicações e riscos do ECG infantil

Em geral, o eletrocardiograma infantil não possui contraindicações.

Mas a fixação dos eletrodos pode incomodar alguns pacientes sensíveis, como bebês com feridas ou alergias na pele.

Por isso, é importante avisar o pediatra e o cardiologista se houver alergias ou ferimentos, especialmente no tórax, pulsos e tornozelos.

Riscos do eletrocardiograma infantil

A eletrocardiografia, em si, não envolve riscos consideráveis.

No entanto, pode ser difícil fazer o exame em crianças com doenças que causem grande agitação ou comportamento hiperativo.

Caso seja imprescindível a realização do ECG, essas crianças precisarão receber sedação leve, de acordo com a orientação médica.

Pais e responsáveis deverão permanecer na sala de exames, garantindo a segurança do paciente e auxiliando o profissional de saúde se houver intercorrências como movimentos bruscos, que aumentam as chances de quedas e lesões.

Raramente, podem ocorrer irritações na pele após o ECG, devido ao gel condutor usado para fixar os eletrodos.

Daí a necessidade de evitar a exposição ao sol alguns dias após o eletrocardiograma pediátrico.

Resultados do eletrocardiograma infantil

Assim como nos adultos, o resultado de um eletrocardiograma infantil pode ser normal ou alterado.

No entanto, há dificuldades maiores na hora de estabelecer padrões eletrocardiográficos normais de crianças.

Isso porque, como citei alguns tópicos acima, o sistema cardiovascular das crianças está em desenvolvimento, sofrendo muitas mudanças antes de chegar ao padrão observado nos adultos jovens.

Idade, frequência cardíaca, má posição durante o exame e outros fatores causam alterações no traçado do ECG, que nem sempre indicam patologias.

Por isso, é imprescindível que os registros sejam analisados por especialistas qualificados, que tenham acesso a informações do histórico do paciente.

Valores normais de um eletrocardiograma infantil

Para explicar os valores descritos no exame, vou falar sobre o ritmo cardíaco.

O coração bate em um ritmo padrão (ritmo sinusal), determinado conforme a frequência cardíaca (FC) e condução.

Por sua vez, a FC mostra quantas vezes o coração bate a cada minuto.

Ela sofre a influência de fatores como a idade, alimentação e prática de exercícios físicos e até a forma como a criança respira durante o exame.

Uma das principais características de um eletrocardiograma pediátrico é uma FC mais alta que o normal em adultos jovens (entre 60 e 100 batidas por minuto).

Em um recém-nascido, a FC normal fica entre 90 e 160 bpm, indicando o esforço do músculo cardíaco para bombear o sangue.

Outras alterações podem ser vistas na duração das ondas elétricas registradas pelo ECG.

Além dos valores de frequência, o ECG infantil mostra menor duração das principais ondas (P e T) e intervalos (PR e QRS).

A seguir, comento detalhes sobre eles.

Você pode ver uma tabela com os valores normais para cada idade nesta diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Variações do eletrocardiograma infantil com a idade

As principais variações no sistema cardiovascular são referentes à frequência cardíaca, posicionamento do eixo cardíaco, posição e duração das ondas que formam o traçado do ECG.

A frequência varia depois do nascimento, aumentando durante as primeiras duas a quatro semanas de vida, quando pode atingir valores médios de 140 bpm.

Depois, diminui com o crescimento da criança.

É comum que o eixo elétrico mostre desvio para a direita

Em geral, o eixo se move e toma a posição normal (entre -30º e 90º) até os oito anos de idade.

O eixo cardíaco é a principal direção do estímulo elétrico na trajetória através dos ventrículos.

Variação das ondas no ECG infantil

Para compreender a variação das ondas que aparecem no eletrocardiograma, vale recordar a dinâmica de funcionamento do coração.

Os impulsos elétricos nascem no nó sinusal, que fica no ponto alto do átrio direito – uma das câmaras superiores do músculo cardíaco.

Quando a atividade elétrica é normal, os impulsos são produzidos de forma regular e distribuídos por todo o coração, levando à entrada de íons de cálcio nas células cardíacas.

Esse processo é chamado de despolarização elétrica, e provoca a contração do músculo cardíaco.

Em seguida, as células liberam íons de potássio, em um processo denominado repolarização.

Após a repolarização, as células estão preparadas para uma nova despolarização.

Durante o batimento cardíaco, o impulso elétrico começa no nó sinusal, despolariza o átrio direito e o esquerdo e chega ao nodo atrioventricular (entre os átrios e os ventrículos).

Ali, o impulso sofre um retardamento, e os átrios se contraem.

Depois, o impulso chega aos ventrículos, causando a despolarização das células, que se contraem novamente e bombeiam o sangue pelo coração.

No traçado do ECG, cada batida é formada por uma onda P, um complexo QRS e uma onda T.

A onda P registra a contração dos átrios.

O complexo QRS corresponde à contração dos ventrículos.

Já a onda T indica a repolarização ventricular.

Em um adulto saudável, cada batimento leva, em média, 0,19 segundo, mas costuma ser mais rápido em uma criança, pois as ondas têm menor duração.

A onda P tem duração média de 0,06 segundo no primeiro ano de vida, aumentando até 0,09s aos 10 anos.

O complexo QRS também sofre mudanças, tanto na duração quanto na posição (conhecida como eixo).

Sua duração média passa de 0,06 segundo nos primeiros dias de vida, para 0,09 seg após os 15 anos.

ECG pediátrico

As eletrocardiografias em bebês e crianças precisam de maior zelo na interpretação

Interpretação do resultado do ECG pediátrico

Devido às variações mencionadas acima, as eletrocardiografias em bebês e crianças precisam de maior zelo na interpretação.

Importante ressaltar que apenas cardiologistas pediátricos qualificados podem interpretar e laudar o exame, o que requer conhecimento especializado.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia afirma que é fundamental considerar as variações próprias de cada faixa etária, consultar referências para cada idade e correlacionar os achados do ECG com os dados clínicos.

Isso porque mesmo algumas anomalias registradas no ECG infantil não estão relacionadas a doenças.

Um exemplo é a arritmia sinusal, uma variação na frequência cardíaca causada pela respiração, a qual tende a desaparecer com a idade.

Outras particularidades que podem ser descritas no laudo normal do ECG pediátrico são:

  • Atraso de condução no ramo direto (RSR’ em V1): pode surgir entre neonatos
  • Padrão de sobrecarga do ventrículo direito: onda R ampla em V1, onda S profunda em V6 e desvio de eixo para a direita, normalmente presente no primeiro mês de vida
  • Padrão juvenil: onda T com amplitude aumentada, negativa em V1 – o que pode se estender até V3 ou V4. Costuma permanecer desde o primeiro mês até os 8 anos de idade
  • Discreta elevação do segmento ST: presente em gráficos de ECG de adolescentes saudáveis
  • Padrão de repolarização precoce: ponto J elevado e ondas T mais altas que o padrão para adultos jovens, também presente no eletrocardiograma de adolescentes.

Na sequência, saiba quando o ECG pediátrico é utilizado como mecanismo de monitoramento cardíaco.

Acompanhamento de crianças com alterações no eletrocardiograma

Neste ponto, ficou claro que certos padrões vão se alterando à medida que o paciente amadurece, até que se assumam o traçado do ECG normal para jovens adultos.

Contudo, doenças crônicas e alterações nos resultados devem motivar um monitoramento junto ao cardiologista, que poderá recomendar um check-up cardiológico anualmente para evitar complicações de saúde.

Certamente, o ECG terá papel relevante nesse acompanhamento, fornecendo dados sobre o ritmo cardíaco sem grande desconforto para o paciente pediátrico.

Conforme afirma este artigo sobre a evolução do exame:

“O ECG é um método de triagem de baixo custo e ainda permite a profilaxia de eventos súbitos, partindo do diagnóstico precoce, o que tem um forte impacto sobre a saúde de uma família ou uma comunidade.” 

Nesse contexto, pacientes, profissionais e estabelecimentos de saúde também se beneficiam da comodidade da telemedicina aplicada à cardiologia (telecardiologia), que confere celeridade à entrega dos laudos.

Telecardiologia e laudo a distância na interpretação de ECG infantil

Como vimos, a interpretação de um eletrocardiograma infantil envolve uma série de detalhes, exigindo profissionais experientes para essa tarefa.

Mas a carência de especialistas na área médica não é novidade, principalmente em cidades pequenas no interior do Brasil.

Nelas, crianças e familiares podem esperar dias pelos resultados, provocando atrasos no diagnóstico e possível tratamento de patologias graves.

Por isso, clínicas e hospitais infantis têm contado com serviços de telecardiologia.

Essa especialidade é uma aplicação da telemedicina na cardiologia, que possibilita a emissão de laudos online.

Basta que um médico ou técnico de enfermagem receba capacitação e realize o eletrocardiograma digital.

Os dados coletados são enviados a um computador por um software específico, armazenados e compartilhados na plataforma de telemedicina.

Em seguida, especialistas qualificados avaliam os achados do exame, considerando a suspeita clínica e histórico do paciente.

Eles registram sua análise e conclusão no telelaudo, que é assinado digitalmente e liberado em minutos via sistema Morsch.

Em caso de urgências, o laudo é entregue imediatamente.

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Conclusão

Neste artigo, falei sobre as particularidades, resultados e doenças diagnosticadas por meio do eletrocardiograma infantil.

Também comentei a importância da interpretação desse exame, que deve ser feita por especialistas experientes.

Se a sua clínica ou hospital ainda não disponibiliza o exame, você pode contar com o telediagnóstico via Telemedicina Morsch com toda a comodidade, agilidade e a um valor que cabe no seu orçamento.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin