Para que serve o EEG infantil e quando deve ser feito

Por Dr. José Aldair Morsch, 1 de maio de 2019
Eletroencefalograma infantil: o que é, para que serve e considerações clínicas

Você sabe como funciona o eletroencefalograma infantil?

A indicação desse exame para crianças não é tão comum, mas pode ser bastante útil em alguns casos, como na suspeita de epilepsia e alterações neurológicas.

Mas a condução e o traçado obtido com o EEG sofrem alterações de acordo com a idade, tipo de teste e histórico do paciente.

Daí a necessidade de neurologistas, pediatras e outros profissionais de saúde ampliarem seus conhecimentos a respeito desse tema.

Você pode começar lendo este artigo, que traz informações essenciais sobre o eletroencefalograma infantil.

Acompanhe até o final para conhecer também estratégias para otimizar a emissão de laudos médicos desse importante teste.

Eletroencefalograma infantil: o que é?

Eletroencefalograma infantil é um exame de diagnóstico que monitora a atividade elétrica do cérebro em bebês e crianças.

Seja qual for a idade, o cérebro humano funciona através de impulsos elétricos gerados por células nervosas chamadas neurônios.

Esses impulsos são responsáveis pela coordenação das ações realizadas pelo organismo, dando ordens a determinados órgãos e sistemas que deverão executá-las.

Apesar de passar por mudanças ao longo da vida – especialmente na infância -, a atividade cerebral normal segue alguns padrões, que são captados e expressos no EEG na forma de traçado.

Para que serve o eletroencefalograma infantil?

O eletroencefalograma infantil serve para detectar anormalidades, apoiando diagnósticos de males neurológicos e distúrbios da consciência em menores de 12 anos.

A epilepsia, doença representada por perturbações neuronais que podem, ou não, ser acompanhadas de convulsões, é um exemplo de patologia que pode ser identificada com o auxílio do exame.

Nesse caso, a avaliação clínica é fundamental, uma vez que o diagnóstico de epilepsia tem base nos sintomas e histórico do paciente, encontrando suporte no EEG.

Quando realizado em bebês e crianças, o teste pode servir para finalidades específicas, como na identificação de atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor.

Um estudo publicado em 2010 mostrou que 91% das crianças com alterações no traçado do EEG tinham suspeitas de atrasos no desenvolvimento, enquanto 40% das crianças com traçado normal tiveram um desenvolvimento neuropsicomotor normal.

Inflamações, tumores, edemas (inchaços), AVC (acidente vascular cerebral) e doenças degenerativas também podem ser sinalizados nos resultados do eletroencefalograma.

O teste serve ainda para investigar possíveis complicações após quedas e concussões.

Eletroencefalograma infantil: fases e considerações clínicas

Assim como os demais tecidos do corpo, o cérebro passa por fases de desenvolvimento durante os primeiros anos de vida.

Por isso, o traçado do eletroencefalograma de um recém-nascido, uma criança e um adulto apresentam diferenças, sem que isso implique em patologias.

Para estudar o traçado do EEG, vale considerar os tipos de onda cerebral, determinados pela amplitude e frequência.

Alfa, beta, teta e delta são as principais ondas que aparecem no resultado do teste, e estão relacionadas a padrões ou atividades do cérebro.

Esses padrões podem variar de acordo com a idade do paciente.

EEG Neonatal

Realizar o exame em um recém-nascido pede alguns cuidados, como o posicionamento diferenciado dos eletrodos, adequações para que sejam fixados na pele delicada do bebê e redução na frequência aplicada durante o EEG.

Quanto aos resultados, é comum um traçado descontínuo.

Já traçados de baixa amplitude, períodos de inatividade cerebral maiores que 30 segundos e presença do padrão teta podem indicar mau prognóstico e a existência de doenças neurológicas.

Em adultos saudáveis, ondas teta estão relacionadas à redução na atividade cerebral e normalmente aparecem durante o estado de sonolência.

Além de diferentes modalidades de inflamações no encéfalo, o EEG é fundamental para diagnosticar crises epilépticas neonatais, como apneia (obstrução súbita e rápida da respiração), taquipneia (aceleração no ritmo da respiração), mastigação, dentre outras.

EEG 1 e 12 meses

Como citei acima, existem ritmos específicos da atividade cerebral, conhecidos como ondas mentais.

Uma delas é a onda alfa, que possui uma frequência entre 7 e 13 Hertz (HZ) e só é formada por volta dos três anos de idade.

Mas um ritmo precursor da onda alfa começa a ser registrado a partir dos dois meses de idade, quando possui frequência de 3 a 4 HZ, que aumenta para 5 a 7 HZ quando o bebê tem 12 meses.

Outra característica presente até um ano de idade são frequências lentas e predominantes durante o sono (1 a 3 HZ).

EEG 1 a 3 anos

Aos três anos, o precursor do ritmo alfa se torna uma onda, chegando a alcançar 8HZ.

Outras ondas comuns no eletroencefalograma – delta e teta – se apresentam com uma frequência baixa, entre 2 e 6HZ.

Em um adulto saudável, ondas teta têm entre 4 e 7HZ, enquanto as delta, relacionadas ao sono profundo, permanecem entre 4 e 0HZ.

EEG 3 a 6 anos

As ondas presentes no pano de fundo do eletroencefalograma continuam amadurecendo.

Ondas alfa podem atingir 8 a 9 HZ quando a criança ultrapassa os 5 anos de idade.

EEG 6 a 12 anos

Crianças em idade escolar também apresentam evolução no ritmo alfa, que alcança de 8 a 12 HZ entre os 12 e 13 anos.

Durante essa etapa, também são estabelecidos os padrões normais para o sono não REM – fase em que o sono não é profundo.

Essas mudanças são essenciais para que sejam desenvolvidos ciclos de sono saudáveis, alternando entre as fases REM (Rapid Eye Movement) e não REM.

A sigla REM descreve a etapa mais profunda do sono, caracterizada pelo movimento rápido dos olhos e atividade cerebral intensa.

Indicação do eletroencefalograma pediátrico

Indicação do eletroencefalograma pediátrico

Indicação do eletroencefalograma pediátrico

O EEG não é comumente solicitado durante a infância, exceto na presença de alguma anormalidade, sintoma ou ocorrência em que possa ser útil – como numa avaliação após concussão.

Dentre os fatores que motivam o pedido do exame, vale destacar:

  • Convulsões (suspeita de epilepsia)
  • Diagnóstico de transtornos do espectro autista
  • Investigação de coma
  • Suspeita ou acompanhamento de encefalopatias
  • Distúrbios de comportamento
  • Confusão aguda
  • Dificuldades no aprendizado
  • Eventos com alto risco à vida de lactentes.

Contraindicação do eletroencefalograma infantil

O EEG não usa qualquer tipo de radiação, é indolor, não invasivo e seguro.

Portanto, contraindicações são bastante incomuns e costumam estar relacionadas ao gel condutor de eletricidade utilizado para fixar os eletrodos no couro cabeludo do paciente.

Caso a criança tenha alergias ou lesões na pele, os pais devem consultar o pediatra para que ele avalie se o paciente está apto a fazer o eletroencefalograma.

Também é imprescindível informar se a criança tem alergia a algum medicamento, pois pode ser necessária uma leve sedação para registro do EEG em sono.

Em casos de grandes ferimentos no couro cabeludo, grandes queimados, portadores de placas metálicas para compor a caixa craniana também terão muita dificuldade na realização do exame de eeg e o médico deverá analisar cada caso.

Pacientes com epilepsia podem sofrer convulsões durante o exame, mas serão rapidamente atendidos por médicos ou equipes de emergência na clínica ou hospital.

Vantagens do EEG Infantil

A vantagem mais evidente é a identificação precoce de doenças como Transtornos do Espectro Autista (TEA), epilepsia, inflamações e inchaços no cérebro.

No entanto, o eletroencefalograma infantil tem um papel importante no apoio ao diagnóstico de atrasos no desenvolvimento e outros males restritos às crianças.

Isso porque o exame é uma forma não invasiva, segura e indolor de obter registros das atividades cerebrais, comparando-as aos padrões esperados em cada idade.

No caso dos bebês, o EEG ganha ainda mais relevância, dando indícios de sintomas que eles não conseguem expressar.

Um exemplo é a apneia do sono que, se não observada e tratada rapidamente, pode interromper a respiração por alguns minutos, levando à morte da criança.

Preparo para o eletroencefalograma infantil

Preparo para o eletroencefalograma infantil

Preparo para o eletroencefalograma infantil

Existem três tipos de eletroencefalograma: em vigília, sono e com mapeamento cerebral.

Normalmente, o EEG em crianças é feito enquanto elas dormem, pois, assim, elas tendem a se movimentar menos.

Estudos estimam, ainda, que as anormalidades fiquem mais evidentes durante o sono.

Por isso, é útil que a criança vá dormir tarde no dia anterior e acorde cedo na data do exame, a fim de que esteja com sono.

Se ela tirar cochilos durante o dia, os pais podem agendar o EEG próximo a esses períodos.

Outra dica para que o paciente durma naturalmente é deixá-lo confortável, levando brinquedos, paninhos e objetos a que a criança tenha apego.

No dia do teste, o paciente deve se apresentar com o couro cabeludo limpo e seco, sem qualquer creme, condicionador ou gel.

Como a atividade cerebral é acelerada na presença de estimulantes, a criança não deve ter ingerido, nas últimas 24 horas, qualquer alimento com cafeína (achocolatados, refrigerantes, café, chá preto, etc.).

Caso o bebê ou criança não durma espontaneamente, pode ser administrado um medicamento para sedação leve.

Um dos sedativos usados em pediatria é o hidrato de cloral.

Como é feito o eletroencefalograma na criança

Primeiro, são retirados quaisquer itens que possam interferir nos registros do exame, como brincos e tiaras.

O bebê ou criança é deitado em uma maca ou posicionado em uma cadeira de modo confortável.

Já bebês com poucos meses de vida podem fazer o teste no colo da mãe.

Em seguida, o médico ou técnico em enfermagem posiciona os eletrodos do aparelho de EEG na cabeça do paciente, de acordo com a recomendação do solicitante.

O equipamento de EEG é, então, ligado, colhendo dados e gerando registros da atividade cerebral, em forma de traçado.

Durante o eletroencefalograma em vigília (acordado), é comum que o paciente precise executar alguns comandos, como abrir e fechar os olhos ou respirar rapidamente.

Também podem ser utilizados mecanismos para excitar os neurônios, como uma luz piscante (na estimulação intermitente com luz estroboscópica).

Se for analógico, o aparelho de EEG imprime as linhas em um papel específico.

Se for digital, envia as informações a um computador que contém um software capaz de transformá-las em imagens.

Dependendo da suspeita clínica, indicação de EEG em sono e vigília e colaboração da criança, o teste pode durar de algumas horas até dias.

Resultados do EEG Infantil

Resultados do EEG Infantil

Resultados do EEG Infantil

Expressa no laudo médico, a conclusão do eletroencefalograma vai apontar se o resultado é normal ou anormal, justificando qual a anormalidade identificada.

É importante ter em mente que a simples análise do EEG não significa que o paciente apresenta ou não uma doença.

Sua função é apoiar o diagnóstico, confirmando ou afastando suspeitas do pediatra.

Entretanto, resultados normais estão atrelados a melhores prognósticos.

Eles são constatados quando o traçado do EEG segue os padrões esperados para a idade e condições de saúde do bebê ou criança.

Exemplo de laudo de EEG infantil

1-CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DO EXAME:

Eletroencefalograma digital, realizado durante a vigília, em condições técnicas satisfatórias.

2-DESCRIÇÃO DOS ACHADOS:

Ritmo dominante alfa, 09 Hz, posterior, contínuo, irradiando-se para as regiões centrais, bem modulado em amplitude e em frequência, sincrônico, simétrico, sinusoidal e organizado.
Ritmo beta presente na frequência de 18 a 25 Hz, baixa amplitude, simétrico.
Durante o decorrer do exame e com manobras de ativação realizadas como olhos abertos, olhos fechados, hiperventilação e foto-estímulo intermitente, não alteram o traçado ou precipitaram descargas epileptiformes, não registrando com isso, grafoelementos patológicos.

3-CONCLUSÃO SOBRE O EEG INFANTIL

Eletroencefalograma dentro dos limites da normalidade para a faixa etária na presente data.

Já o resultado anormal é relatado se houver mudanças nesses padrões, como alterações na frequência ou amplitude das ondas cerebrais ou a presença de ritmos inadequados durante o sono.

Telemedicina Morsch na emissão de laudos a distância na neurologia

 

Segundo exigências do Conselho Federal de Medicina, o EEG pode ser conduzido por um técnico de enfermagem treinado.

Porém, apenas médicos neurofisiologistas clínicos (eletroencefalografistas) estão autorizados a interpretar os testes.

Essa avaliação envolve amplo conhecimento técnico e, no caso do EEG infantil, informações sobre as mudanças nos padrões observadas em diferentes idades.

O problema é que nem sempre há especialistas disponíveis em locais remotos, o que dificulta o acesso da população a resultados confiáveis e rápidos.

Mas esse cenário pode mudar com a contratação do serviço de laudos médicos à distância.

Criado por empresas de telemedicina, ele possibilita a emissão de laudos remotamente, evitando que pacientes precisem percorrer longas distâncias até os grandes centros urbanos.

As unidades de saúde também ganham força, com laudos disponíveis de forma ágil e segura.

Basta que um técnico em enfermagem ou médico realize o eletroencefalograma com um equipamento digital.

Os registros serão enviados ao computador, de onde são compartilhados imediatamente através da plataforma de telemedicina.

Uma vez lá disponíveis, os dados são acessados mediante login e senha por especialistas qualificados, que os avaliam e produzem o laudo médico.

Na Morsch, esse documento fica pronto em até 30 minutos, enquanto casos urgentes são acompanhados em tempo real.

Assim, há redução na espera pelos exames, deixando profissionais de saúde e pacientes satisfeitos.

Conclusão

 

Abordei, neste artigo, indicações, peculiaridades e realização do eletroencefalograma infantil.

Ficou clara a necessidade de contar com especialistas qualificados para laudar esses exames, o que se torna acessível por meio de parceria com a Telemedicina Morsch.

Entre em contato para saber mais sobre o serviço de laudos à distância em Neurologia.

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Referências Bibliográficas

SILVIA, Délrio Façanha; LIMA; Márcia Marques. Aspectos Gerais e Práticos do EEG – Revista Neurociências.

American Epilepsy Society. Electroencephalography (EEG): An Introductory Text and Atlas of Normal and Abnormal Findings in Adults, Children, and Infants.

Infant Electroencephalogram Coherence and Toddler Inhibition are Associated with Social Responsiveness at Age 4 – Alleyne P. R. Broomell,  Jyoti Savla, Martha Ann Bell.

BRAGATTI, José Augusto. O papel do EEG no diagnóstico em Neurologia.

O valor do eletroencefalograma na avaliação de suspeitas de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor em crianças com epilepsia – Revista Brasileira Crescimento e Desenvolvimento Humano – Monteiro, CBM et al.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin