Estratégias para manter a humanização do atendimento em telediagnósticos
A humanização do atendimento em saúde é um princípio fundamental, e o telediagnóstico, apesar de sua natureza remota, não deve ser exceção.
Essa modalidade, no entanto, apresenta um desafio importante: como garantir que o paciente se sinta acolhido e valorizado, mesmo quando não há contato direto entre ele e o especialista que vai avaliar e interpretar seu exame de imagem?
A relação médico-paciente, tradicionalmente construída em interações presenciais, precisa ser adaptada para o ambiente digital.
O desafio está em criar estratégias que garantam uma comunicação empática, rápida e eficiente entre os profissionais envolvidos e, quando possível, com o próprio paciente.
O objetivo deste artigo é discutir as melhores práticas para manter a humanização no atendimento no telediagnóstico, preservando a empatia e a confiança em cada etapa do processo, desde a solicitação do exame até a entrega do laudo.
Telediagnóstico e o desafio da humanização
O telediagnóstico se refere à interpretação de exames de imagem a distância, como tomografias, ressonâncias magnéticas e raios-X, feita por especialistas em plataformas de telemedicina.
Esse processo possibilita que médicos em qualquer parte do país ou do mundo acessem os resultados e interpretem os exames, oferecendo laudos médicos para apoiar decisões clínicas, mesmo sem estarem fisicamente presentes.
A principal vantagem é a agilidade: os laudos podem ser emitidos de forma muito mais rápida do que no modelo tradicional.
Com a pandemia de Covid-19, a telemedicina se consolidou como uma ferramenta essencial para garantir o atendimento médico, e o telediagnóstico foi uma das áreas que mais cresceu.
A necessidade de distanciamento físico acelerou a adoção de tecnologias que permitissem a continuidade dos cuidados de saúde, incluindo a emissão de laudos a distância.
Essa mudança trouxe grandes avanços, mas também reforçou a necessidade de repensar a forma como o atendimento é humanizado quando realizado remotamente.
O telediagnóstico é, em sua essência, um processo técnico.
O paciente realiza o exame em uma clínica ou hospital, e as imagens são enviadas para interpretação em uma plataforma de telemedicina.
Nesse modelo, o contato direto entre paciente e especialista é mínimo ou inexistente.
E a interação é, na maioria dos casos, restrita ao médico solicitante e ao especialista responsável pelo laudo.
Isso pode gerar uma sensação de distanciamento para o paciente, que muitas vezes não compreende como o processo funciona e pode se sentir menos amparado emocionalmente.
O grande desafio está em manter a comunicação clara e empática, mesmo em um ambiente predominantemente digital.
Princípios da humanização no telediagnóstico
Humanizar o atendimento vai além de fornecer o cuidado clínico adequado.
Significa considerar as necessidades emocionais, psicológicas e sociais do paciente, demonstrando empatia e compreensão.
No telediagnóstico, onde a interação direta com o paciente é limitada, essa humanização precisa ser refletida em cada detalhe da comunicação e no processo de colaboração entre os médicos envolvidos.
Mesmo quando o contato é feito apenas entre médicos, é possível inserir a empatia no processo.
O especialista responsável pelo laudo deve se colocar à disposição para esclarecer dúvidas, discutir os achados do exame e oferecer suporte ao médico solicitante, garantindo que este se sinta amparado para explicar os resultados ao paciente de forma acolhedora.
Essa atenção aos detalhes, mesmo nas interações entre profissionais, tem um impacto indireto, mas poderoso, na experiência do paciente.
Além disso, a comunicação precisa ser o ponto central da humanização.
Um laudo bem estruturado, com informações claras e acessíveis, faz parte desse processo.
Além disso, é importante que haja canais abertos de contato entre o médico solicitante e o especialista, permitindo um fluxo contínuo de informações e a possibilidade de discussões mais profundas sobre os casos.
Estratégias de humanização no processo de telediagnóstico
Dado que a interação no telediagnóstico é predominantemente entre os médicos envolvidos, garantir que o processo seja humanizado requer estratégias focadas em comunicação, personalização e empatia.
Abaixo, comento sobre ações que, quando aplicadas de forma adequada, ajudam a transformar o telediagnóstico em um processo mais empático e acolhedor.
Personalização do laudo e dos feedbacks
Chamar os pacientes pelo nome no laudo, embora pareça simples, pode fazer uma grande diferença.
Isso personaliza o atendimento e ajuda a criar um sentimento de proximidade, mesmo que o paciente não interaja diretamente com o especialista.
Além disso, fornecer informações claras e detalhadas no documento, evitando termos técnicos quando não necessários, ajuda o médico solicitante a explicar os resultados de forma mais acessível e acolhedora.
Comunicação humanizada com o médico solicitante
É fundamental que a comunicação entre o especialista e o médico solicitante seja contínua e eficiente.
O especialista deve estar disponível para discutir o caso, responder perguntas e oferecer esclarecimentos adicionais, especialmente em situações complexas.
Ferramentas como chat online, videoconferências ou até mensagens de voz podem facilitar essa troca, tornando-a mais dinâmica e humanizada.
Isso garante que o médico solicitante tenha o suporte necessário para transmitir segurança ao paciente.
Oferecer canais de comunicação para tirar dúvidas
Outra estratégia eficiente é estabelecer canais de comunicação abertos para que o médico solicitante possa entrar em contato com o especialista sempre que houver dúvidas sobre o laudo.
Isso cria uma rede de suporte e fortalece a relação entre os profissionais, refletindo diretamente na qualidade do atendimento e satisfação do paciente.
Explicações adicionais por vídeo ou áudio
A personalização da comunicação pode incluir o envio de explicações adicionais por vídeo ou áudio, além do laudo escrito.
Isso facilita a compreensão dos achados e permite que o médico solicitante tenha uma visão mais clara do exame.
Explicações verbais tornam o processo mais dinâmico e próximo, humanizando ainda mais a interação.
Formação de uma rede multidisciplinar
Incluir enfermeiros, psicólogos e outros especialistas no processo de telediagnóstico pode enriquecer o atendimento.
Essas equipes podem atuar como intermediários, auxiliando na transmissão das informações e oferecendo suporte emocional.
Além disso, o médico solicitante deve ser visto como parte ativa da equipe, colaborando diretamente com o especialista para garantir um atendimento mais completo e humanizado.
Ferramentas tecnológicas que podem melhorar o processo
A tecnologia, quando bem utilizada, pode ser uma grande aliada da humanização.
Softwares que utilizam inteligência artificial, por exemplo, permitem que os laudos sejam emitidos mais rapidamente, liberando mais tempo para que os médicos se concentrem na interação com os pacientes.
Além disso, a automação de processos, como a triagem de exames, pode ajudar a otimizar o tempo dos especialistas, permitindo uma comunicação mais detalhada e humana quando necessário.
Avaliação contínua do processo de telediagnóstico
Estabelecer um mecanismo de feedback contínuo entre os profissionais envolvidos no telediagnóstico pode ajudar a manter a qualidade e o atendimento humanizado.
Após cada caso, o médico solicitante poderia preencher um formulário ou fornecer uma avaliação direta sobre a interação com o especialista, a clareza do laudo e a qualidade da comunicação.
Essa estratégia ajuda a identificar falhas na comunicação ou áreas onde a humanização pode ser reforçada, garantindo que o processo esteja sempre em evolução.
Educação e treinamento contínuos sobre humanização
Promova treinamentos contínuos para os profissionais de saúde sobre a importância da humanização no atendimento remoto.
Isso pode incluir cursos ou workshops sobre comunicação empática, a importância do feedback detalhado e como transmitir segurança e clareza a partir dos laudos online.
Também pode envolver discussões sobre o uso da tecnologia como uma aliada para otimizar a interação, sem perder o foco na experiência humana do paciente.
Essa estratégia garante que, mesmo com o avanço tecnológico, o foco no cuidado humanizado seja reforçado ao longo do tempo, evitando que a prática se torne apenas técnica e distante.
O impacto da humanização nos resultados do telediagnóstico
A humanização no telediagnóstico traz benefícios claros, tanto para os pacientes quanto para os profissionais envolvidos no processo de saúde.
Embora a interação direta entre o especialista e o paciente seja limitada no telediagnóstico, a adoção de práticas humanizadas pode melhorar a confiança, a satisfação do paciente e os resultados clínicos.
Comento sobre isso abaixo.
A confiança entre médicos e pacientes
Uma comunicação humanizada entre o especialista e o médico solicitante contribui para o fortalecimento da relação de confiança com o paciente.
Quando o médico está bem informado e seguro sobre o diagnóstico, ele consegue transmitir essas informações de forma mais clara e acolhedora, o que reduz a ansiedade do paciente e aumenta a adesão ao tratamento.
Estudos indicam que a humanização do atendimento em saúde melhora bastante a satisfação do paciente.
Uma revisão publicada pela Frontiers destaca que a comunicação clara e empática é um dos fatores mais importantes na percepção de humanização por parte dos pacientes.
Quando a equipe de saúde, incluindo médicos que interpretam exames a distância, mantém uma comunicação próxima e acessível, os pacientes relatam maior confiança no diagnóstico e no tratamento recomendado
Esse fator é essencial no telediagnóstico, onde a relação de confiança se constrói, em grande parte, pela qualidade da comunicação entre o médico solicitante e o paciente.
Redução da ansiedade e do estresse do paciente
Um estudo conduzido em unidades de terapia intensiva e publicado na Critical Care mostrou que esforços para humanizar o atendimento podem reduzir a ansiedade e o estresse, tanto durante o tratamento quanto no processo de recuperação.
Entre eles, a comunicação mais presente e a inclusão do paciente nas decisões sobre seu tratamento.
No telediagnóstico, essa abordagem pode ser aplicada ao garantir que o médico solicitante receba informações claras e detalhadas, permitindo que ele explique o diagnóstico clínico ao paciente de forma compreensível e empática
Resultados clínicos melhores
A humanização no telediagnóstico também impacta diretamente nos resultados clínicos.
Laudos bem elaborados, com explicações detalhadas e acessíveis, ajudam a garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado o mais rápido possível.
Além disso, há uma forte correlação entre a humanização do atendimento e melhores desfechos clínicos.
O já citado estudo publicado na Critical Care apontou que a personalização do cuidado e a comunicação clara entre as equipes de saúde reduzem erros médicos e mal-entendidos durante o tratamento.
Redução do burnout entre os profissionais de saúde
Outro impacto importante da humanização no telediagnóstico é a redução do burnout entre os profissionais de saúde.
Profissionais que trabalham em ambientes humanizados, onde a empatia e a comunicação são prioridades, relatam menor estresse e maior satisfação no trabalho.
Isso é especialmente relevante em áreas como o telediagnóstico, onde a carga de trabalho pode ser intensa e a automação dos processos pode contribuir para a desumanização do atendimento.
Caso simulado: humanização no atendimento de telediagnóstico
Jeferson dos Santos, de 58 anos, reside em uma cidade no interior do Ceará, distante dos grandes centros médicos.
Ele reclama de dores no tórax após um acidente de trânsito, tendo sido encaminhado para o hospital local.
Após a realização de uma tomografia computadorizada, os médicos precisam de uma avaliação especializada para entender a gravidade da lesão.
No hospital local, a equipe médica coleta as imagens de tomografia e, utilizando uma plataforma de telemedicina, envia os dados do exame para serem analisados por um especialista em radiologia.
Em geral, o laudo médico é liberado em até 30 minutos. Porém, como essa é uma situação de urgência, o exame é interpretado em tempo real.
Dentro da plataforma, a comunicação entre o médico solicitante e o especialista ocorre por meio de uma teleinterconsulta, que é uma ferramenta específica para a discussão de casos clínicos entre os profissionais de saúde.
Ela permite que o médico solicitante e o especialista troquem informações adicionais sobre o histórico do paciente, detalhes específicos das imagens e dúvidas sobre a conduta médica a ser adotada.
Nesse momento, ele detalha os pontos mais críticos das imagens, como possíveis fraturas ou complicações pulmonares decorrentes do acidente.
Munido das informações disponíveis, o médico solicitante retorna ao paciente com um laudo claro e detalhado, além de uma explicação sobre a gravidade da lesão e os próximos passos para o tratamento.
Durante esse processo, ele pode tranquilizar o paciente e sua família, oferecendo uma abordagem mais humanizada e assertiva.
Graças à rapidez do telediagnóstico e ao suporte da teleinterconsulta, o paciente recebe um tratamento adequado, baseado em um laudo especializado, mesmo estando em uma cidade remota.
Conclusão
Humanizar o atendimento no telediagnóstico, apesar dos desafios apresentados pela natureza remota do processo, é não apenas possível, mas essencial.
Ao investir em estratégias que garantam uma comunicação clara e empática, você se habilita a transmitir segurança e confiança para os pacientes, mesmo que não haja contato direto com o especialista responsável pelo laudo.
Além disso, o uso de tecnologias adequadas, que permitam personalizar o atendimento e facilitar a comunicação, torna o processo mais eficiente.
Seguindo as estratégias listadas neste texto, as instituições de saúde também promovem um ambiente de cuidado e empatia, essenciais para a recuperação e o bem-estar dos pacientes.
Seu próximo passo está na adoção de plataformas de telemedicina com foco na humanização, garantindo que a tecnologia continue a servir como aliada, e não um obstáculo, na relação médico-paciente.
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