Administração por via intravenosa: como aplicar e quais cuidados tomar
A administração de medicamentos por via intravenosa se destaca pela rapidez no impacto provocado pelos fármacos.
Injetados diretamente na corrente sanguínea, os compostos são logo distribuídos por todo o organismo, desencadeando um efeito sistêmico.
Daí a importância dessa via na ação diante de emergências, além da possibilidade de controle rígido na dispensação de substâncias para pacientes internados.
Quer aprofundar os conhecimentos sobre o tema?
Então, este texto é para você.
Trago um panorama completo sobre administração por via intravenosa nos próximos tópicos, incluindo dicas de aplicação, cuidados e vantagens.
Leia até o final para descobrir também como a telemedicina ajuda na escolha da via de administração.
O que é via intravenosa?
Via intravenosa é aquela que permite o acesso de um medicamento ou outra solução ao organismo através de injeção direta em uma veia.
Para tanto, é necessário fazer uma punção venosa e utilizar uma agulha longa, capaz de penetrar os tecidos subcutâneo e muscular para alcançar o vaso sanguíneo.
O acesso por via intravenosa é útil tanto na administração de um composto em dose única quanto na administração contínua.
Quando a técnica é empregada para dose única, o efeito é rápido, assim como sua duração.
É o caso de medicamentos aplicados para reverter quadros críticos e estabilizar o paciente durante o atendimento pré-hospitalar, ou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Uma vez que a droga provoque o resultado desejado, cabe à equipe médica decidir se o doente precisa de mais doses.
Dependendo do caso, há necessidade de infusão contínua para prolongar o efeito do fármaco.
Essa técnica requer a inserção de um cateter por acesso venoso periférico ou profundo.
Volto a falar desse assunto nas próximas linhas.
Qual a diferença entre via intravenosa e endovenosa?
Na verdade, os termos são sinônimos, pois ambos descrevem a aplicação de um composto diretamente na veia do paciente.
Ou seja, não há diferença real entre via intravenosa e endovenosa.
O que existe naturalmente é uma confusão devido à quantidade de palavras e expressões utilizadas no vocabulário da área da saúde.
E, claro, uma etimologia distinta para as palavras, proveniente de suas línguas de origem.
Nesse contexto, vale citar esta análise de expressões médicas, que afirma que o mais correto seria usar via intravenosa ou via endoflébica, esclarecendo o seguinte:
“Endovenoso é termo defeituoso por ser híbrido, isto é, formado de elementos de línguas diferentes: endo procede do grego (endon, dentro) e venoso do latim (venosus). O hibridismo é condição censurada por bons linguistas, sobretudo quando há formas substitutas adequadas e bem formadas. Em comparação, comumente dizemos intramuscular, intracavitário, intracelular, intraoperatório e similares”.
Então, sob o ponto de vista linguístico, o certo é usar o termo via intravenosa.
Porém, no dia a dia, é comum observar, também, o sinônimo via endovenosa.
Vantagens da via intravenosa na administração de medicamentos
Mencionei alguns benefícios da administração por via intravenosa na abertura do texto.
O mais evidente é a rapidez no efeito da medicação, que pode ser observado minutos após a aplicação.
Isso porque a injeção diretamente no vaso sanguíneo dispensa o período de absorção necessário para outras vias de administração de medicamentos.
Na via oral, por exemplo, os compostos precisam passar pelo trato digestivo, chegando até o intestino delgado e fígado antes de alcançar a corrente sanguínea.
É verdade que certas substâncias começam a ser absorvidas antes, em órgãos como o estômago, mas esses casos são exceção.
Mesmo entre as vias parenterais (grupo ao qual pertence a via intravenosa), a absorção de fármacos costuma levar algum tempo para ser finalizada e atingir a corrente sanguínea, causando efeito sistêmico.
O tempo necessário depende do tecido escolhido, técnica de aplicação, tipo de medicamento e condição geral do paciente.
Outras vantagens da via intravenosa são:
- Maior segurança na dosagem, evitando erros quanto à quantidade ou forma de administração de fármacos
- Controle rígido da liberação de drogas ao paciente, útil em especial quando o tratamento exige infusão contínua
- Permite a administração de medicamentos que irritam o trato digestivo e outras partes do corpo, como o tecido muscular
- Favorece o equilíbrio hidroeletrolítico do paciente
- Possibilita a injeção de grandes quantidades de medicamento
- Viabiliza a aplicação de substâncias quando o doente está inconsciente ou em estado crítico, pois dispensa a necessidade de colaboração dele
- Facilita a absorção de soluções hipertônicas, que são diluídas diretamente no sangue.
Obviamente, tais vantagens são percebidas se a administração do medicamento for corretamente realizada, o que explico a seguir como fazer.
Como aplicar medicamentos por via intravenosa?
Como citei antes, a aplicação de medicamentos por via intravenosa serve para dose única ou infusão contínua.
Ambos os cenários dependem do uso de seringa e agulha específicas, com o comprimento correto para alcançar a corrente sanguínea.
E a liberação contínua ou intermitente de substâncias pede a realização de punção venosa no paciente, via acesso venoso periférico ou profundo.
Normalmente, essa técnica é realizada por profissionais da equipe de enfermagem.
Requer destreza, treinamento e conhecimento aprofundado sobre as vias de administração.
Existem vários guias para a execução da punção com sucesso, a exemplo deste material da Ebserh (em PDF), que recomenda:
- Ler a prescrição
- Data, nome do paciente, medicação, dose, via de administração e o horário da medicação
- Levar a bandeja ou cuba rim para perto do paciente, colocando a bandeja sobre a mesinha de cabeceira
- Conferir a identificação do cliente através da pulseira de identificação e com o próprio
- Orientar o paciente e o acompanhante sobre o procedimento
- Calçar luvas de procedimentos
- Em seguida, checar a permeabilidade do acesso venoso, observando se o local apresenta sinais flogísticos (dor, calor e rubor)
- Fechar o clamp de controle de fluxo do acesso venoso, no caso de o paciente estar recebendo hidratação contínua
- Realizar a desinfecção das conexões e injetores (entrada das vias do extensor) do circuito, utilizando gaze estéril e álcool a 70%
- Abrir a via do extensor do equipo que será utilizado, com o auxílio da gaze
- Introduzir a seringa na via do extensor
- Proteger a tampa do extensor com gaze e deixá-la na bandeja
- Certificar-se de não haver bolhas de ar no interior da seringa ou circuito com medicação
- Injetar o medicamento de forma lenta
- Observar possíveis reações que o paciente possa apresentar durante a administração
- Retirar a seringa
- Introduzir a seringa preenchida com SF 0,9% a fim de salinizar a via utilizada
- Retirar a seringa
- Fechar a via do extensor com o conector próprio (tampa do extensor)
- Fechar o clamp de fluxo da via que não será mais utilizada.
É importante também entender que tipo de medicamento usa a via intravenosa na administração, como comento na sequência.
Quais medicamentos são administrados por via intravenosa?
Embora os fármacos correspondam à maioria dos líquidos injetados por via endovenosa, ela também permite a hidratação contínua e até complementos à nutrição do paciente.
Essa opção auxilia na recuperação e desospitalização do doente, fortalecendo o organismo com maior agilidade.
Além de permitir o restabelecimento de indivíduos com dificuldades para engolir, em coma, sob sedação ou sofrendo incômodos como vômito e náuseas.
O que contribui com o conforto e segurança do paciente, evitando o agravo desses sintomas.
Entretanto, a principal função da via intravenosa está na aplicação de medicamentos.
Mais acima, falei sobre a administração da adrenalina por essa via, que ainda serve para aplicar outras aminas vasoativas.
Antibióticos, soluções hipertônicas, isotônicas, hipotônicas, sais orgânicos e eletrólitos são outros exemplos de substâncias liberadas diretamente na corrente sanguínea do paciente.
Cuidados na administração de medicamentos por via intravenosa
Neste ponto, já ficou claro que a administração por via intravenosa requer uma série de cuidados, pois se trata de um procedimento invasivo e sujeito a complicações.
Veja detalhes sobre elas no tópico abaixo.
Por enquanto, vale ressaltar a importância de cuidados gerais e específicos ao realizar a punção venosa e dispensar a medicação.
Começando pelos cuidados gerais, a equipe de enfermagem precisa estar atenta a estes cinco pontos:
- Medicamento certo: sempre que estiver responsável pela administração de um fármaco, deve-se conferir três vezes o rótulo: ao pegar o produto no carrinho ou armário, antes de preparar o medicamento e antes de descartar a embalagem
- Dose certa: faça a conferência junto ao nome do fármaco, antes que seja aplicado. Compare as orientações da prescrição médica ao rótulo e à bula
- Hora certa: sempre verifique o prontuário do paciente para confirmar o horário da última medicação e calcule o intervalo correto
- Paciente certo: essa informação também é checada por meio do prontuário. Pode parecer detalhe, mas é fácil se confundir quando há muitas pessoas atendidas no mesmo plantão. Portanto, leia o nome e compare-o à prescrição
- Via certa: por fim, garanta que o medicamento deve ser administrado por via intravenosa.
Uma vez que os cinco certos estejam OK, podemos seguir para os cuidados específicos, relativos à aplicação endovenosa.
Cuidados específicos
O primeiro ponto a se observar é a higienização das mãos e instrumentos utilizados.
Em seguida, cabe avaliar a condição clínica do paciente, a fim de identificar possíveis alterações durante e após a injeção do medicamento.
Assim como a área a ser puncionada, que não pode estar sensibilizada por nódulos, inflamações, paresias e outras situações que possam ser complicadas pela punção.
Ao realizar esse procedimento, prefira um atendimento humanizado, conscientizando e tranquilizando o doente.
Muitas vezes, orientações sobre a melhor posição, por exemplo, ajudam a diminuir a dor decorrente da punção.
Não desconecte a agulha da seringa e esteja atento para evitar infiltrações onde o cateter foi colocado.
Observe ainda se há reações ao medicamento, que se manifestam através de febre, calafrios, cianose, sudorese, hipotensão, entre outros sintomas.
Esses sinais devem ser interrompidos assim que cessar a aplicação do fármaco. Caso contrário, será preciso interromper o tratamento para investigar sua causa.
Complicações da via intravenosa
As complicações da via intravenosa se relacionam principalmente com a necessidade de punção para acessar os vasos sanguíneos.
Junto à manutenção do cateter, que pode se manter fixo por dias até que a terapia seja concluída.
Conheça a seguir as principais complicações às quais o paciente fica exposto, tomando como referência esta apresentação sobre o tema:
- Infiltração: visível devido ao edema tecidual doloroso, indica que a agulha se moveu, atingindo o tecido subcutâneo. Será necessário fazer uma nova punção venosa
- Hematoma: as manchas arroxeadas sinalizam vazamento do sangue para o tecido subcutâneo, que deve ser tratado com curativos compressivos. Elevar o membro afetado também ajuda na recuperação
- Flebite: febre e dor no trajeto da veia são sintomas de inflamações no vaso sanguíneo. Irritações por produtos químicos e ação bacteriana são causas prováveis, que devem motivar a interrupção da punção. Repouso, compressas de água morna e, por vezes, anticoagulantes são indicados
- Lesão do nervo: compressões intensas de itens como curativos podem ferir nervos em redor, desencadeando formigamento ou dormência na área afetada
- Infecção local ou generalizada: surge em resposta à assepsia insatisfatória, provocando incômodos como dor, febre, inflamação, calafrios e pus. Exigem avaliação médica para a determinação do tratamento adequado, incluindo o uso de antibióticos tópicos e sistêmicos
- Embolia: coágulos, ar e até partes do cateter podem obstruir o fluxo sanguíneo e a liberação do medicamento
- Choque pirogênico: surge em decorrência de corpo estranho ou aplicação de solução que teve preparo inadequado. Requer socorro imediato para estabilização dos sinais vitais, revertendo o quadro de febre, hipotensão, dispneia, tremores e dessaturação de oxigênio.
A seguir, explico como a telemedicina ajuda as equipes médicas a evitar complicações e qualificar a assistência em saúde.
Telemedicina ajuda na escolha da via de administração
A escolha da via de administração cabe ao enfermeiro, que se baseia na prescrição médica, condição do paciente e características do fármaco para tomar a decisão correta.
E zelar pelo benefício ao doente, evitando erros como a superdosagem.
Com o avanço da tecnologia na saúde, essa tarefa pode ser feita tanto presencialmente quanto online, por meio da teleconsultoria.
Ferramentas como a plataforma de Telemedicina Morsch possibilitam a comunicação entre profissionais de saúde em diferentes localidades, qualificando o atendimento.
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Conclusão
Ao final deste artigo, espero ter contribuído para ampliar seus saberes sobre a via intravenosa.
É algo indispensável para o socorro e tratamento do paciente de forma ágil, apesar dos riscos relacionados à punção venosa.
Se ficou alguma dúvida ou comentário, escreva a seguir.
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