Posições cirúrgicas: o que são, quais são as principais e suas indicações

Por Dr. José Aldair Morsch, 1 de janeiro de 2024
Posições cirúrgicas

Você domina as posições cirúrgicas existentes?

Sua variedade permite que as equipes médicas tomem a decisão mais adequada em cada caso.

Essa escolha deve se basear em fatores como conforto e segurança do paciente, acesso ao sítio cirúrgico e tipo de cirurgia, a fim de evitar complicações durante e após o procedimento.

Neste texto, mostro quais são as principais posições cirúrgicas e explico seus objetivos e indicações, além dos cuidados de enfermagem que devem ser observados.

Ao final, apresento os benefícios da telemedicina para contatar especialistas em instantes, esclarecendo dúvidas sobre casos complexos.

O que são posições cirúrgicas?

Posições cirúrgicas são aquelas pensadas para facilitar a intervenção, preservando a integridade e conforto do paciente.

Geralmente, o posicionamento é realizado pelo enfermeiro perioperatório após a administração da anestesia, sob a indicação do médico cirurgião.

A escolha da posição mais alinhada aos objetivos cabe, então, às equipes anestésica e cirúrgica.

Para tanto, elas devem considerar aspectos como:

  • Identificação das alterações anatômicas e fisiológicas do paciente
  • Tipo de anestesia
  • Local e tipo de cirurgia
  • Duração do procedimento
  • Privacidade do paciente
  • Possíveis efeitos fisiológicos durante o procedimento, antes e após a anestesia.

Na sequência, esclareço sobre a importância dessa definição.

Qual o objetivo da posição cirúrgica?

Garantir o acesso adequado ao sítio cirúrgico de maneira segura e confortável para o paciente são os objetivos mais evidentes do posicionamento cirúrgico.

É natural que os profissionais de saúde deem maior atenção aos fatores referentes à realização do procedimento invasivo em si, o que pode deixar as preocupações com o cliente em segundo plano.

Contudo, independentemente da finalidade da intervenção, é fundamental dar prioridade ao bem-estar do paciente, que poderá sofrer com complicações decorrentes da permanência em posições desconfortáveis por horas.

Segundo descreve estudo sobre o tema:

“As complicações do posicionamento cirúrgico são descritas, principalmente, na forma de lesões por pressão (LP), mas também podem resultar em dor musculoesquelética, deslocamento de articulações, danos em nervos periféricos, comprometimento cardiovascular e pulmonar e até síndrome compartimental”.

Nesse cenário, o texto cita outros objetivos importantes da seleção da posição cirúrgica ideal:

  • Manter a dignidade do paciente durante a exposição corporal
  • Proporcionar ventilação e manutenção da via aérea pérvia
  • Prover acesso venoso
  • Monitorizar e controlar as eliminações fisiológicas, de acordo com o posicionamento e fácil acesso para avaliação e mensuração de débito
  • Observar e proteger dedos e genitais
  • Manter a circulação
  • Proteger músculos, nervos e proeminências ósseas.

Agora que entendemos a importância das posições cirúrgicas, vamos avançar quanto à variedade delas.

Quais as posições cirúrgicas e suas indicações?

Como adiantei na introdução do artigo, existem várias posições cirúrgicas.

Cada qual possui suas vantagens e desvantagens, sendo mais recomendadas para determinados procedimentos, como explicarei a seguir.

Acompanhe os detalhes sobre as sete posições cirúrgicas mais conhecidas e os riscos envolvidos:

Posição supina

Também chamada de decúbito dorsal, a posição supina corresponde à colocação do paciente deitado de costas na mesa cirúrgica, com pernas e braços ligeiramente afastados do corpo.

Os braços podem ser apoiados em braçadeiras, e as pernas não devem ser cruzadas ou flexionadas.

Essa posição é extremamente útil não apenas para procedimentos cirúrgicos, mas também para seu preparo.

Em especial durante a aplicação da anestesia, quando é necessário iniciar o monitoramento dos sinais vitais para prevenir efeitos adversos.

O que leva a equipe médica a iniciar o preparo com o preparo com o paciente em decúbito dorsal, ainda que outra posição cirúrgica esteja indicada.

Ele será movido com segurança após a administração da anestesia e confirmação de que os sinais vitais estão OK.

A posição supina é indicada em intervenções como:

  • Cesariana
  • Colecistectomia (remoção da vesícula biliar)
  • Craniotomias na porção anterior da cabeça
  • Tireoidectomia
  • Cirurgia de calvície.

Outras indicações dependem de análise da equipe médica.

Riscos da posição supina

Embora seja amplamente utilizada e confortável para a maioria das pessoas, essa posição é prejudicial em casos de hérnia de disco e outros problemas que afetam a coluna vertebral.

Queixas de lombalgia podem surgir no pós-operatório, mesmo entre indivíduos saudáveis, devido à perda da curvatura lombar durante a cirurgia, além de:

  • Lesão de nervo ulnar e radial
  • Lesão de plexo braquial
  • Lesão de plexo cervical ou lesão medular por hiperextensão da cabeça
  • Alopecia, por compressão dos folículos pilosos
  • Lesão isquêmica por pressão.

Agora, vamos entender melhor a posição prona.

Posição cirúrgica

O posicionamento é realizado pelo enfermeiro perioperatório após a administração da anestesia

Posição prona

Conhecida, ainda, por decúbito ventral, a posição prona sinaliza que o paciente está de bruços, deitado sobre o abdome.

Seus braços devem ser estendidos para frente e apoiados por talas, com as palmas das mãos viradas para baixo.

A porção central do corpo pode ser levantada com o suporte da mesa cirúrgica para manter a coluna reta e acessível durante a operação.

Os pés são colocados sobre um suporte para evitar a hiperflexão.

Também é importante usar um travesseiro ou outro suporte para apoiar e proteger o rosto, queixo e olhos.

A posição prona é indicada para cirurgias da coluna vertebral, a exemplo do tratamento da hérnia de disco através de microcirurgias ou de operação convencional.

Riscos da posição prona

É necessário ter atenção especial com o sistema respiratório, compressão das estruturas faciais e abdominais.

Também vale cuidar para prevenir:

  • Lesão cervical devido à rotação do pescoço
  • Edema ocular ou cegueira
  • Lesões isquêmicas das estruturas faciais
  • Lesão de plexo braquial
  • Lesão de nervo ulnar e nervo radial
  • Compressão de genitália em homens, causando edema, hematoma e isquemia
  • Compressão de mamas nas mulheres.

Passamos então à posição lateral.

Posição lateral

A posição ou decúbito lateral coloca o paciente deitado sobre o lado esquerdo ou direito do corpo.

Dependendo do tipo de cirurgia, como no uso de sonda retal, por exemplo, é adotada uma variação chamada posição de Sims, em que a perna que fica sobre a outra se apoia numa superfície, com leve flexão.

Em outros casos, é usado um travesseiro entre as pernas para diminuir o atrito e conferir estabilidade.

Deve-se garantir o alinhamento espinhal, colocar apoios sob a cabeça e o braço mais elevado.

A posição lateral é indicada para cirurgia dos pulmões, rins ou quadril.

Riscos da posição lateral

A extensão ou flexão intensa do pescoço podem causar lesão cervical.

Outras áreas da face, orelhas e membros superiores e inferiores também ficam sujeitas a afecções como:

  • Lesão de plexo braquial
  • Abrasões corneanas
  • Edema ocular
  • Perda visual parcial e total
  • Necrose isquêmica em orelha
  • Lesão do nervo fibular, por compressão pelo peso superior do joelho
  • Necrose de fêmur.

Vamos conhecer agora a posição de Trendelenburg.

Posição de Trendelenburg

Esse posicionamento começa em decúbito dorsal, porém, a parte superior do corpo deve ser abaixada com o auxílio da mesa cirúrgica, mantendo os pés elevados.

Nesse contexto, as alças intestinais permanecem na área superior do abdome.

Os braços devem ser colocados ao lado do corpo.

Trendelenburg é indicada para laparotomia abdominal inferior e outras cirurgias pélvicas.

Riscos da posição de Trendelenburg

Esse posicionamento deve ser evitado por pacientes obesos mórbidos.

Redobre os cuidados para prevenir agravos como:

  • Lesão de nervo ulnar
  • Lesão isquêmica por pressão
  • Aumento da pressão intracraniana
  • Alterações respiratórias, provocadas pela compressão das bases pulmonares.

Existe ainda uma versão dessa posição, chamada de Trendelenburg reverso.

Trendelenburg reverso

Como o nome sugere, essa posição é outra variação do decúbito dorsal, porém, com elevação da parte superior do corpo.

Os membros superiores são mantidos em repouso, ao lado do corpo.

Vale usar uma peseira para evitar que o paciente deslize, diminuindo ainda o potencial de lesão dos nervos e flexão do tornozelo.

Cirurgias de crânio e abdome superior são algumas indicações para Trendelenburg reverso, que colabora para reduzir a pressão craniana.

Riscos da posição Trendelenburg reverso

Apesar de sua relevância em certos contextos, essa posição oferece risco de eventos graves como a embolia venosa.

Lesão isquêmica por pressão, lesão de plexo braquial e do nervo ulnar também podem acometer o paciente.

Litotomia

Conhecida como posição ginecológica, a litotomia corresponde a uma versão do decúbito dorsal em que as pernas são elevadas, apoiadas e bem separadas.

Para manter a estabilidade, as pernas ficam apoiadas por perneiras acolchoadas.

A nádega do paciente deve ser colocada na parte final da mesa cirúrgica, mas cuidando para não haver rotação, abdução ou flexão excessiva do abdome.

Já os braços devem permanecer estendidos ao lado do corpo.

Histerectomia vaginal é um dos procedimentos realizados nessa posição.

Riscos da litotomia

Os aparelhos nervoso e circulatório são os mais suscetíveis a agravos decorrentes de longos períodos em litotomia, tais como:

  • Parestesia na distribuição nervosa afetada
  • Lesão do nervo obturador, nervo cutâneo femoral lateral, nervo ciático, nervo fibular e/ou nervo femoral
  • Trombose venosa profunda
  • Síndrome do compartimento das extremidades inferiores.

Para concluir nossa lista, temos a posição de Fowler.

Posição de Fowler

Nessa manobra, o paciente fica parcialmente sentado, por meio da elevação da cabeceira da maca a um ângulo entre 45° e 60°.

Os joelhos devem ser flexionados em 30º para o repouso dos pés de maneira confortável.

Assim como a posição supina, Fowler pode ser indicada para uma série de procedimentos cirúrgicos, com destaque para neurocirurgias para tratar traumatismo cranioencefálico (TCE), hidrocefalia e tumores cerebrais.

Nesses casos, a cabeça é posicionada para frente e apoiada por um suporte, a fim de permitir o acesso à região posterior.

Mamoplastias e abdominoplastias também se beneficiam desse posicionamento, seja com finalidade reparadora ou estética.

Outra aplicação de interesse é no repouso pós-cirúrgico, pois a manobra favorece o conforto respiratório.

Riscos da posição de Fowler

Pode ocorrer flexão cervical excessiva, desencadeando hipoperfusão cerebral ou congestão venosa do cérebro.

Embolia gasosa, cegueira, lesões de plexo braquial, nervo ulnar e ciático são outros riscos em potencial.

Posições de cirurgias

Os cuidados de enfermagem fazem a diferença no intraoperatório e pós-operatório, podendo evitar lesões

Cuidados de enfermagem nas posições cirúrgicas

Os cuidados de enfermagem fazem a diferença no intraoperatório e pós-operatório, podendo evitar lesões e outras complicações mencionadas acima.

Respeitar o alinhamento corporal, realizar movimentações com a quantidade adequada de profissionais e utilizar dispositivos conforme a necessidade do paciente são algumas dicas gerais.

Outras recomendações são citadas nesta apresentação de Rosemeire Sartori de Albuquerque:

  • Iniciar o procedimento antes da transferência do paciente da maca para a mesa cirúrgica
  • Manter a segurança, a limpeza, a organização da equipe durante o procedimento
  • Monitorar o paciente e manter a integridade dos tecidos
  • Não comprimir ou hiperestender terminações nervosas, a fim de evitar paralisias, que podem ser irreversíveis
  • Proteger proeminências ósseas, principalmente em pacientes obesos, idosos, desnutridos, para evitar úlcera por pressão (UPP), trombose venosa profunda (TVP) e compressão da circulação
  • Cuidar para braços e pernas nunca fiquem pendentes da mesa da operação, se possível colocar sobre o corpo, apoiá-los sobre talas
  • Evitar posições viciosas, procurando manter o posicionamento o mais funcional e seguro possível
  • Aplicar movimentos firmes, delicados, seguros nas partes necessárias para evitar distensões musculares
  • Evitar contato de partes do corpo com superfícies metálicas da mesa
  • Depois de posicionar o paciente, alinhar o corpo
  • Registrar as intercorrências, os procedimentos e as proteções utilizadas, com vistas a continuidade no pós-operatório.

Depois de conhecer as posições cirúrgicas, riscos e cuidados, vamos conferir na sequência o que considerar na escolha.

Como tomar a melhor decisão sobre a posição cirúrgica?

Mostrei ao longo deste artigo algumas indicações comuns para determinadas posições cirúrgicas.

No entanto, nem sempre essa é uma decisão simples, pois ela envolve particularidades da condição clínica do paciente, existência de fatores de risco e tipo de cirurgia.

Procedimentos que duram mais de duas horas já aumentam o risco de oxigenação dos tecidos comprimidos, favorecendo a formação de úlceras por pressão.

Quanto aos fatores de risco, devem ser apreciados durante a avaliação pré-operatória para prevenir complicações, segundo orienta o estudo “Posicionamento cirúrgico: evidências para o cuidado de enfermagem”.

O texto elenca como fatores de risco relevantes:

  • Anestesia geral
  • Idade
  • Peso
  • Imobilidade ou problemas de mobilização
  • Problemas no controle da temperatura corporal
  • Condições de saúde preexistentes – diabetes mellitus, câncer, insuficiência renal, níveis baixos de hematócrito e hemoglobina no pré-operatório, doenças vasculares, cardíacas, respiratórias e que afetam o sistema imunológico
  • Tempo cirúrgico prolongado.

Essa avaliação se torna mais simples contando com o aconselhamento especializado por meio da segunda opinião médica ou da teleconsultoria.

Basta usar um dispositivo com acesso à internet para conversar com profissionais experientes através da plataforma de Telemedicina Morsch.

No mesmo software em nuvem, você ainda encontra opções de treinamento para simplificar os cuidados de enfermagem dentro e fora do centro cirúrgico.

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Conclusão

Ao final deste artigo, espero ter tirado as dúvidas sobre as principais posições cirúrgicas e suas aplicações.

Conte sempre com a Morsch para aproveitar serviços de telemedicina na enfermagem, otimizando a rotina no hospital ou clínica.

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Leia mais conteúdos para equipes de saúde que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin