Cirurgia a distância: como funciona, histórico, benefícios e perspectivas

Por Dr. José Aldair Morsch, 16 de agosto de 2024
Cirurgia a distância

Uma das especialidades da telemedicina é a telecirurgia, também conhecida como cirurgia a distância.

Há alguns anos, essa prática não passava de uma possibilidade da medicina do futuro, mas atualmente ela já vem ganhando força entre instituições que priorizam ferramentas inovadoras.

Afinal, estamos caminhando para um mundo tecnológico sem precedentes, o que pede atualização constante para aproveitar os benefícios da transformação digital na saúde.

Nas próximas linhas, vou abordar o tema cirurgia a distância, com ênfase na conceituação, um panorama de onde estamos hoje com essa tecnologia e o que veremos em breve.

Para os apaixonados por novidades da tecnologia na saúde, creio que será um tema fascinante, então fique comigo até o final do texto.

O que é cirurgia a distância?

Cirurgia a distância é uma operação feita com o auxílio de braço robótico controlado remotamente pelo cirurgião.

Ou seja, cirurgião e paciente se encontram geograficamente distantes, sendo conectados por meio de uma plataforma que permite o controle do robô virtualmente.

Essa modalidade de cirurgia robótica remota é chamada telecirurgia, e faz parte dos 7 serviços de telemedicina – junto a teleconsulta, teleinterconsulta, telediagnóstico, telemonitoramento ou televigilância, teletriagem e teleconsultoria.

Regulamentadas pela Resolução CFM 2.314/2022, essas soluções nasceram para democratizar o acesso à medicina de qualidade.

No caso da telecirurgia, ela viabiliza operações realizadas por especialistas representados pela robótica em locais distantes dos centros urbanos, onde rotineiramente apenas clínicos gerais estão disponíveis.

Como funciona uma cirurgia a distância?

A equipe médica responsável pela cirurgia a distância é composta por pelo menos os seguintes profissionais:

  • Cirurgião remoto para operar o equipamento, que deve ter CRM e RQE ativos, referentes à área da medicina em que a operação se enquadra. Por exemplo, a remoção de um tumor deverá ser feita por um especialista em oncologia
  • Cirurgião presencial, que prestará assistência direta ao paciente. Ele deve ser capacitado para assumir o procedimento em caso de falha na conexão ou qualquer outro imprevisto
  • Cirurgião auxiliar
  • Anestesiologista
  • Instrumentador
  • Enfermeiro de sala  (responsável pela movimentação externa do robô)
  • Técnico de enfermagem circulante de sala.

Após assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o paciente é preparado pelos profissionais de enfermagem e encaminhado à sala de cirurgia.

Nesse ambiente, estará um carro equipado com um ou mais braços robóticos e uma câmera que fará a transmissão das imagens em tempo real ao cirurgião remoto.

É a partir dessas imagens que o especialista avalia quais os movimentos necessários para o procedimento, utilizando um controle remoto ou joystick para realizar incisões e demais técnicas.

A câmera oferece visão 3D dos órgãos e tecidos, enquanto o braço robótico é capaz de executar movimentos em 360º para alcançar qualquer pequena região.

Finalizada a telecirurgia, o paciente é encaminhado aos cuidados pós-cirúrgicos.

Cirurgia a distância robo

A telecirurgia viabiliza operações realizadas por especialistas representados pela robótica

Histórico da cirurgia a distância na medicina

Podemos afirmar que, de forma rudimentar, a primeira cirurgia robótica data de 1985, quando o robô PUMA 560 foi utilizado durante a realização de uma biópsia no cérebro para guiar a agulha.

Mas o grande avanço na área veio na década de 1990, quando as Forças Armadas norte-americanas necessitavam de cirurgias a distância nas frentes de batalha.

Nesse cenário, as pesquisas foram aceleradas e a internet teve papel decisivo para que, em 2001, a primeira operação transatlântica fosse conduzida por cirurgiões de um hospital em Nova Iorque em um paciente na França.

Desde então, o desenvolvimento de plataformas robóticas ganhou impulso, culminando na realização de 1 milhão de cirurgias robóticas por ano no mundo, segundo reportagem.

Elas são viabilizadas pela internet 5G, que fornece uma conexão de alta qualidade para evitar qualquer delay na transmissão das imagens e envio de comandos ao braço robótico.

Quais os benefícios da cirurgia a distância?

No cenário atual, podemos listar as 5 vantagens oferecidas pela telecirurgia.

1. Técnica minimamente invasiva

Como são utilizados braços robóticos, sem a necessidade de introduzir as mãos do cirurgião dentro do paciente, a redução no campo cirúrgico é surpreendente.

2. Cirurgia de alta precisão

Os comandos são exatos, matemáticos, sem chance de erro no resultado final da ação realizada pelo braço mecânico a partir do comando do cirurgião a distância.

Afinal, o braço robótico não apresenta risco de tremores ou movimentos involuntários.

3. Redução no sangramento e complicações

Como estamos falando de diminuição da incisão e manipulação interna do paciente, obviamente teremos menos trauma e menos sangramentos.

Com menos sangramentos, diminuem as transfusões de sangue, bem como o risco de contrair doenças por transfusões repetidas.

4. Melhor ergonomia

Os movimentos se tornam mais ergonômicos, pois ocorrem tridimensionalmente dentro do campo operatório, reduzindo o estresse cirúrgico.

O resultado é a diminuição da dor e menor necessidade de uso de analgésicos.

5. Recuperação e cicatrização mais rápidos

Com menor trauma, menos tecidos são lesados e o resultado é redução significativa do tempo de recuperação.

Ou seja, por se tratar de tecidos menos afetados, a cicatrização será muito mais rápida.

Desvantagens da cirurgia a distância

Embora ofereça uma série de benefícios, a cirurgia a distância também tem suas desvantagens, que você vai conhecer abaixo:

1. Tecnologia cara

O custo de um robô alcança a casa dos milhões de dólares, o que representa uma barreira para a maioria dos pequenos hospitais.

2. Alto custo dos suprimentos

Além do braço robótico, é necessário adquirir equipamentos de suporte que também têm valores altos.

3. Treinamento de equipe

Como toda tecnologia na medicina, a manipulação do carro com o robô e câmera requer treinamento especializado.

Portanto, não é só o cirurgião remoto que deve ter sido aprovado em residência médica ou capacitação específica para realizar a telecirurgia robótica.

A equipe de apoio presencial também precisa ter conhecimentos aprofundados sobre o tema.

4. Necessidade de ter um cirurgião presencial

Caso ocorra algum contratempo em relação ao uso do robô ou o quadro clínico do paciente se torne instável, é de suma importância a presença de um cirurgião para assumir o ato cirúrgico.

O que diz a lei sobre cirurgia a distância no Brasil?

A principal legislação é a Resolução CFM 2.311/2022, que dispõe sobre a cirurgia robótica, tanto presencial quanto a distância.

Em seu Art.6º, o texto define a telecirurgia robótica como a realização de procedimento cirúrgico a distância com utilização de equipamento robótico, mediada por tecnologias interativas seguras, e estabelece que ela:

“Somente poderá ser realizada com infraestrutura adequada e segura de funcionamento de equipamento, banda de comunicação eficiente e redundante, estabilidade no fornecimento de energia elétrica e segurança eficiente contra vírus de computador ou invasão de hackers”.

A resolução também estabelece a equipe mínima para a realização da telecirurgia, que citei nos tópicos anteriores, e especifica tópicos indispensáveis para o treinamento do cirurgião remoto.

As plataformas de cirurgia robótica devem ser utilizadas por hospitais de alta complexidade, aprovados pela ANVISA, e fornecer manual específico de funcionamento que permita ao cirurgião conhecer e se tornar proficiente no manejo do robô.

Qual o futuro da cirurgia a distância?

A expectativa é que a cirurgia a distância siga se popularizando a partir de diferentes fornecedores de plataformas robóticas, o que tende a diminuir seus custos.

Outra possibilidade está na combinação entre telecirurgia e inovações já presentes em outras práticas de saúde, com destaque para a inteligência artificial.

Utilizando recursos como o aprendizado de máquina, os consoles usados para as operações poderão calcular e sugerir movimentos automaticamente ao cirurgião, colaborando com planos cirúrgicos mais eficientes.

Dessa forma, deverão ser produzidos controles remotos ampliados com IA, aumentando também a segurança do paciente.

Entenda outras possibilidades da telemedicina

Apesar de a cirurgia a distância ainda ter de derrubar algumas barreiras para alcançar mais estabelecimentos de saúde e pacientes, existem outros serviços de telemedicina com alta disponibilidade.

São soluções inovadoras que otimizam o diagnóstico, assistência e tratamento médico.

Contando com uma plataforma de telemedicina completa, como a Morsch, seu time poderá utilizar, em poucos cliques:

Conheça todas as possibilidades e peça um orçamento sem compromisso.

Conclusão

Espero que tenha gostado de ampliar os saberes sobre a cirurgia a distância, que já foi regulamentada no Brasil e deverá se popularizar nos próximos anos.

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Aproveite para acompanhar mais novidades sobre telemedicina que publico aqui no blog.

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin