A precisão da teleneurologia no diagnóstico do AVC por tomografia computadorizada

Por Dr. José Aldair Morsch, 23 de agosto de 2024
Teleneurologia avc

Soluções de teleneurologia para o diagnóstico do AVC aumentam a precisão médica, reduzindo o tempo de resposta nessas situações tão delicadas.

No cenário atual da medicina de emergência, onde cada minuto conta muito, o uso da tomografia computadorizada e sua interpretação via telemedicina se apresenta como uma estratégia fundamental.

Isso vale especialmente para condições críticas, como é o caso do AVC.

A capacidade de especialistas interpretarem exames remotamente, combinada com a utilização de plataformas de telemedicina, permite que pacientes em locais remotos recebam um atendimento de qualidade comparável ao de grandes centros urbanos. 

Este artigo aborda como tudo isso funciona e o que é preciso para que qualquer estabelecimento de saúde, seja uma clínica ou hospital, possa também contribuir com o diagnóstico do AVC e outras condições neurológicas.

O que é teleneurologia e sua aplicação no AVC

A teleneurologia envolve o uso de plataformas de comunicação remota para fornecer atendimento neurológico a pacientes que não têm acesso imediato a especialistas. 

Desde a sua introdução, ela tem sido utilizada no atendimento de emergências, especialmente em regiões rurais ou áreas com escassez de neurologistas, o que é uma realidade brasileira.

Segundo dados da pesquisa Demografia Médica, são 6.776 médicos especialistas em neurologia no Brasil.

Desses, há apenas 7 no Amapá, 8 em Roraima, 10 no Acre e 16 no Tocantins. Por outro lado, são 2.068 neurologistas em São Paulo, 707 em Minas Gerais e 636 no Rio de Janeiro.

Essa desigualdade no acesso à saúde é um desafio que tem na teleneurologia uma solução.

A evolução tecnológica, incluindo hardware avançado e plataformas de telemedicina robustas, possibilita que os médicos realizem diagnósticos e ofereçam tratamentos em tempo real, mesmo a distância.

No contexto do AVC, a teleneurologia permite que neurologistas avaliem pacientes rapidamente após o surgimento dos primeiros sintomas. 

Utilizando vídeos ao vivo e acesso remoto a imagens de exames, os especialistas podem diagnosticar com precisão o tipo de AVC e determinar o tratamento adequado, seja trombólise ou intervenção cirúrgica, por exemplo. 

Em uma situação crítica assim, cada minuto conta para minimizar os danos cerebrais permanentes, o que só reforça a importância da tecnologia.

Por que a TC é o padrão ouro no diagnóstico de AVC?

A tomografia computadorizada (TC) é considerada o padrão ouro no diagnóstico de AVC devido à sua capacidade de diferenciar rapidamente entre AVC isquêmico e hemorrágico

Essa distinção é fundamental, pois o tratamento para cada tipo de AVC é completamente diferente. 

A TC oferece imagens detalhadas do cérebro, permitindo que os médicos identifiquem rapidamente áreas de sangramento ou isquemia, essenciais para um diagnóstico preciso.

Assim, possibilita a visualização clara de hemorragias intracerebrais, que são indicativas de um AVC hemorrágico, e de áreas de hipodensidade que sugerem isquemia. 

Sem a diferenciação, por exemplo, a administração de anticoagulantes em um AVC hemorrágico pode ser catastrófica.

Estudos recentes têm destacado o impacto significativo da combinação de tomografia computadorizada com inteligência artificial (IA) no diagnóstico de AVC. 

Um exemplo é a pesquisa que avaliou o uso de softwares avançados de IA para a detecção precoce de alterações cerebrais em pacientes com AVC isquêmico. 

O estudo mostrou que a IA pode aumentar a precisão do diagnóstico ao identificar de forma automática áreas de isquemia ou hemorragia com uma acurácia muito maior do que a observada em métodos tradicionais.

Especificamente, demonstrou que a integração de IA com TC permitiu uma sensibilidade de 100% na detecção de sangramentos intracerebrais em pacientes com AVC. 

Isso é especialmente relevante para diferenciar rapidamente entre AVC isquêmico e hemorrágico. 

Além disso, a IA auxiliou na redução do tempo necessário para os especialistas analisarem as imagens, acelerando o processo de diagnóstico e permitindo que intervenções terapêuticas fossem iniciadas mais rapidamente.

Outro aspecto destacado é que a IA, ao ser utilizada em conjunto com a TC, melhora a capacidade dos sistemas de saúde de lidar com grandes volumes de pacientes, especialmente em situações de emergência. 

A automatização da interpretação de imagens garante que diagnósticos precisos possam ser realizados mesmo em locais com poucos especialistas disponíveis, ampliando o alcance e a eficácia do tratamento de AVCs em ambientes remotos.

Teleneurologia diagnóstico AVC

A tomografia computadorizada (TC) é considerada o padrão ouro no diagnóstico de AVC

Como a teleneurologia potencializa o uso da TC no diagnóstico de AVC

A teleneurologia permite que os exames de TC realizados em emergências sejam interpretados rapidamente por especialistas que podem estar a centenas de quilômetros de distância. 

Isso é feito através de plataformas seguras que transmitem as imagens em tempo real, permitindo uma análise imediata. 

Com o auxílio de softwares de inteligência artificial, a detecção de obstruções em grandes vasos cerebrais é acelerada, alertando neurologistas em minutos após a realização do exame.

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O fluxo de trabalho em teleneurologia começa com a realização do exame de TC em um hospital local. 

As imagens são então enviadas para uma plataforma de telemedicina, onde especialistas as analisam e emitem um laudo rapidamente. 

Esse processo ágil é fundamental para o tratamento eficaz do AVC, reduzindo o tempo entre o diagnóstico e a intervenção médica.

Estudos indicam que a teleneurologia pode reduzir o tempo para o início do tratamento em até 50%, em comparação com o atendimento tradicional. 

Isso se traduz em melhores taxas de sobrevivência e menores índices de complicações a longo prazo. 

O projeto TESS (Telemedicine in Stroke in Swabia), por exemplo, demonstrou melhorias significativas no atendimento a pacientes em áreas rurais na Alemanha.

O TESS é um dos exemplos de sucesso onde a teleneurologia foi utilizada para conectar hospitais menores e rurais a grandes centros neurológicos. 

Os estudos relacionados ao TESS mostram que a teleneurologia permite diagnósticos mais rápidos e precisos, o que resulta em uma redução significativa do tempo até o início do tratamento, em comparação com o atendimento tradicional.

No próximo tópico, trago a simulação de um caso que mostra as etapas de atendimento e o valor da teleneurologia em resposta ao AVC.

Atenção ao AVC na teleneurologia: caso simulado

Paciente de 62 anos, residente de uma pequena cidade no interior, começa a apresentar sintomas clássicos de AVC: perda de força no braço direito, dificuldade para falar e desorientação. 

Sua esposa, percebendo a gravidade da situação, aciona rapidamente o SAMU. 

Em poucos minutos, a ambulância chega e a equipe médica a bordo confirma a suspeita de AVC

Dada a localização remota da cidade, distante mais de 200 km do centro de referência mais próximo, a teleneurologia é fundamental para um atendimento eficaz.

Acompanhe a simulação.

1. Chegada e acolhimento

O paciente é transportado rapidamente ao hospital local, onde a equipe de enfermagem realiza os primeiros procedimentos de acolhimento. 

Sinais vitais são monitorados e uma breve história clínica é coletada. 

A equipe médica local, ciente de que se trata de um possível caso de AVC, aciona a plataforma de telemedicina que conecta o hospital a uma rede de neurologistas especializados.

2. Realização do exame de tomografia computadorizada

Dada a suspeita clínica, o próximo passo é confirmar o diagnóstico e determinar o tipo de AVC. 

O hospital local possui um tomógrafo, e o exame de tomografia computadorizada é realizado rapidamente. 

As imagens obtidas são imediatamente enviadas através da plataforma de telemedicina para um neurologista especializado.

3. Interpretação das imagens e diagnóstico via telemedicina

O neurologista acessa as imagens remotamente e as analisa com as ferramentas disponibilizadas pela plataforma. 

O software ajuda a identificar rapidamente áreas de isquemia ou hemorragia

Em tempo real, o especialista elabora e emite o laudo médico para o hospital, confirmando um AVC isquêmico. 

Ele recomenda a administração imediata de trombólise, uma intervenção que deve ser realizada dentro de uma janela de tempo muito curta para ser eficaz.

4. Intervenção e encaminhamento

Com o diagnóstico em mãos, a equipe médica local inicia a administração do trombolítico, seguindo as orientações do especialista. 

Em paralelo, é organizado o transporte aéreo do paciente para um centro de referência, onde ele pode receber tratamento mais avançado, caso necessário. 

Durante o transporte, a equipe local mantém contato constante com os especialistas via telemedicina, assegurando que qualquer complicação seja gerenciada imediatamente.

5. Impacto do atendimento via teleneurologia

Graças à teleneurologia, o paciente recebeu um diagnóstico rápido e um tratamento adequado, mesmo estando em uma localidade remota. 

O tempo de resposta foi minimizado, aumentando suas chances de recuperação total. 

Benefícios da teleneurologia na prática clínica

O caso simulado que apresentamos no tópico anterior destaca a importância da teleneurologia em fornecer cuidados de alta qualidade a pacientes que, de outra forma, teriam acesso limitado a especialistas.

Mas há outros benefícios, como os que cito abaixo.

Redução do tempo de resposta ao tratamento

O principal benefício da teleneurologia é a redução drástica no tempo de resposta ao tratamento de AVC. 

Com diagnósticos rápidos e precisos, é possível iniciar o tratamento adequado, como a trombólise, em uma janela de tempo que eleva as chances de recuperação do paciente. 

Isso é especialmente importante em áreas remotas, onde o acesso a especialistas pode ser limitado.

Impacto direto na mortalidade e recuperação dos pacientes

Pacientes que recebem tratamento rápido após um AVC têm maiores chances de recuperação completa. 

Estudos mostram que a teleneurologia tem um impacto positivo direto na redução da mortalidade e na melhoria dos resultados funcionais a longo prazo. 

A capacidade de oferecer cuidados especializados em qualquer lugar do mundo, em tempo real, é um divisor de águas na medicina de emergência.

Economia de recursos e otimização do atendimento em emergências

Além de melhorar os resultados clínicos, a teleneurologia também oferece benefícios econômicos significativos. 

Ao reduzir o número de transferências de pacientes e otimizar o uso de recursos, os sistemas de saúde podem economizar significativamente.

Ao mesmo tempo, oferecem cuidados de alta qualidade.

Teleneurologia aplicação no AVC

A teleneurologia permite que os exames de TC realizados sejam interpretados rapidamente por especialistas

Principais desafios enfrentados na adoção da teleneurologia

Apesar de seus muitos benefícios, a implementação da teleneurologia enfrenta desafios a superar.

A infraestrutura necessária para suportar a teleneurologia, como conexões de internet de alta velocidade e equipamentos médicos sofisticados, pode ser um obstáculo, especialmente em regiões subdesenvolvidas. 

No entanto, com o avanço da tecnologia e a redução dos custos dos equipamentos, essas barreiras estão se tornando cada vez menores.

Outro desafio é a necessidade de treinamento adequado para as equipes médicas, que precisam estar familiarizadas com as novas tecnologias e protocolos de teleneurologia. 

A educação contínua e os programas de treinamento são essenciais para garantir que todos os profissionais envolvidos estejam preparados para utilizar essas ferramentas de forma eficaz.

Para superar esses desafios, é fundamental investir em infraestrutura e capacitação

Parcerias público-privadas podem ser uma solução eficaz para financiar os equipamentos necessários e implementar programas de treinamento. 

Além disso, a padronização de protocolos pode ajudar a integrar a teleneurologia de forma mais fluida nos sistemas de saúde existentes.

Muito ajuda também se cercar de parceiros qualificados, acertando na escolha do provedor de telemedicina.

O futuro da teleneurologia e seu impacto na medicina de emergência

O futuro da teleneurologia está ligado ao avanço de tecnologias como inteligência artificial e machine learning. 

Essas ferramentas têm o potencial de automatizar partes do processo diagnóstico, aumentando ainda mais a velocidade e a precisão das avaliações. 

Softwares de IA, como o Brainomix 360, que foram recentemente aprovados pelo FDA nos Estados Unidos, já estão mostrando resultados promissores ao fornecer avaliações automatizadas que complementam o trabalho dos especialistas.

A integração de IA no diagnóstico de AVC através da teleneurologia permitirá que os sistemas detectem padrões complexos em imagens de TC. 

Assim, identificando sinais de AVC com uma precisão que ultrapassa a capacidade humana em muitos casos. 

Isso deve melhorar os diagnósticos, ajudando também a automatizar partes do processo e aumentando ainda mais a velocidade e a precisão das avaliações. 

O uso crescente da teleneurologia em emergências médicas sugere que, no futuro, essa prática se tornará cada vez mais comum, especialmente em áreas remotas ou em ambientes com falta de especialistas. 

Com o desenvolvimento contínuo de tecnologias avançadas e a integração de sistemas de IA, espera-se que o tempo de resposta seja ainda mais reduzido, melhorando significativamente os resultados para pacientes com AVC. 

As soluções de teleneurologia provavelmente irão se expandir para cobrir outras áreas da medicina de emergência, tornando-se uma parte essencial dos protocolos hospitalares em todo o mundo.

Conclusão

Como vimos neste texto, a implementação da teleneurologia oferece uma solução eficaz para melhorar o atendimento a pacientes com AVC, especialmente em áreas remotas. 

Integrar a tecnologia nos sistemas de saúde requer passos estratégicos que garantam sua eficácia e sustentabilidade. 

Veja quais são as principais etapas do processo, utilizando uma plataforma de telemedicina:

  • Avaliação de necessidades: identifique os hospitais e centros de saúde que se beneficiarão da teleneurologia, focando em áreas com falta de especialistas
  • Escolha da plataforma de telemedicina: contrate uma plataforma confiável que ofereça recursos robustos para videoconferência, transmissão segura de imagens de TC e integração com sistemas de IA para auxiliar no diagnóstico
  • Treinamento da equipe: capacite os profissionais de saúde locais para operar a plataforma e interagir com os especialistas remotos, garantindo fluidez no atendimento
  • Infraestrutura tecnológica: garanta que as unidades de saúde disponham de internet de alta velocidade e equipamentos adequados para realizar exames e consultas remotas
  • Parcerias com especialistas: estabeleça acordos com plataformas em nuvem que fornecerão suporte remoto e laudos em tempo real.

Baixe o guia de teleneurologia da Morsch e entenda mais sobre o processo, seu funcionamento e vantagens!

Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin