Aprenda como interpretar Espirometria usando os valores de referência

Por Dr. José Aldair Morsch, 3 de setembro de 2018
Espirômetro portátil

Aprender como interpretar espirometria pode parecer algo simples. Afinal, o resultado fornecido pelo software do aparelho utilizado no exame é bastante claro, não é mesmo?

Na prática, porém, não é exatamente assim que funciona.

É por isso que vou, neste artigo, apresentar informações completas sobre a realização da prova de função pulmonar.

A proposta é que, ao final da leitura, você entenda detalhes sobre o exame de espirometria, valores de referência, volumes e capacidades pulmonares descritas nos resultados.

Para começar, entenda que, ao realizar um exame de pulmão, perseguir a precisão diagnóstica é indispensável.

E, como você vai ver a partir de agora, a tecnologia contribui decisivamente para esse objetivo, e não apenas na realização do teste.

O que é exame de espirometria?

Sala de prova de função pulmonar

Paciente realizando exame de espirometria num espirômetro de mesa.

O exame de espirometria é um teste que avalia a capacidade pulmonar do paciente.

Ele quantifica o volume de ar que a pessoa é capaz de inspirar e expirar durante a respiração.

Em outras palavras, mede a quantidade de ar que entra e sai dos pulmões, além da velocidade com que isso ocorre, o que se chama de análise dos fluxos.

É também conhecido por outros nomes, como prova de função pulmonar, prova ventilatória ou teste do sopro.

Este último faz referência ao modo como é realizado – paciente sopra em um tubo conectado ao espirômetro, aparelho que recebe e analisa as informações.

O exame é rápido (dura menos de 30 minutos), não invasivo, é indolor. Isso significa que não causa desconforto algum para o paciente.

Tanto é assim que é utilizado de forma bastante rotineira na pneumologia, como veremos a seguir.

Para que serve a espirometria?

A espirometria serve para avaliar a ventilação pulmonar, verificando possíveis anormalidades durante os movimentos de respiração do paciente.

Como já dito, o exame checa a quantidade de ar e também a velocidade com que é inspirado e expirado. Dessa forma, é usado para identificar possíveis doenças pulmonares restritivas ou obstrutivas.

No próximo tópico, irei falar com mais detalhes sobre essas doenças. Antes, porém, é importante entender por que a espirometria atua na detecção delas.

O que acontece é que a quantidade de ar, movimentada durante um ciclo respiratório, é um elemento decisivo para atestar a saúde pulmonar.

Na espirometria, ela é medida durante um determinado período de tempo, permitindo verificar se o órgão cumpre ou não as funções de ventilação que se esperam dele.

O sinal de alerta é ligado quando há alteração entre os valores medidos e aqueles considerados como referência para um determinado grupo de indivíduos, que variam em idade, altura, peso e até etnia.

Quando isso ocorre, é necessário realizar uma investigação mais aprofundada sobre a possibilidade de existência de alguma doença.

Quais doenças precisam do exame de espirometria para tratamento ou monitoramento?

Alterações na função pulmonar podem ser originadas por doenças diferentes.

A que mais afeta os resultados em um exame de espirometria é a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), uma condição perigosa que pode evoluir de uma bronquite ou enfisema pulmonar.

Depois dela, vale citar a asma brônquica, uma doença inflamatória brônquica, que pode ter origem em diferentes tipos de alergia (envolvendo pelos, poeira, fumaça, medicamentos, etc.).

A fibrose pulmonar, por sua vez, resulta no endurecimento, estreitamento ou mesmo na redução progressiva no tamanho do pulmão, o que costuma ser resultado de uma cicatriz, que pode ter diversas causas. Alguns exemplos são a fibrose pulmonar idiopática e a pneumonite por hipersensibilidade.

Mas a espirometria não tem apenas função diagnóstica, como também é bastante eficaz no monitoramento e prevenção de doenças.

Basta lembrar do seu apoio na saúde ocupacional, sendo um instrumento obrigatório para avaliar trabalhadores expostos a poluentes e partículas potencialmente nocivas.

O mesmo vale para atletas e outros grupos que desejam ou necessitam medir a função pulmonar com certa frequência.

Também fumantes e ex-fumantes, em consultas com um pneumologista, têm na espirometria um exame de rotina.

Como fazer o exame de espirometria

Como Interpretar Espirometria infantil

Criança realizando espirometria portátil

Durante o exame, o paciente permanece sentado, em posição confortável, sem que se sujeite a qualquer tipo de esforço.

Um clipe nasal é posicionado sobre o nariz, de modo a impedir a passagem do ar por suas narinas.

Há um tubo com bocal descartável, conectado ao espirômetro (aparelho que recebe e analisa os resultados). Esse tubo é posicionado junto à boca do paciente e é por ali que ele sopra.

De início, ele deve respirar normalmente.

Depois, deve encher o pulmão e soprar com força e rapidez – tão rápido e forte quanto for possível para ele.

Esse movimento deve ser realizado por pelo menos seis segundos, até que esvazie por completo os pulmões. São obtidos pelo menos 3 gráficos aceitáveis e reprodutíveis.

O exame pode ser repetido na sequência, desta vez com a aplicação de uma medicação broncodilatadora, normalmente por spray.

O que ela faz, como o nome indica, é dilatar os brônquios, qualificando o fluxo de ar em uma ação rápida.

Essa versão do teste é chamada de espirometria com broncodilatador.

Como você deve imaginar, seu uso se destina a aprofundar a investigação sobre possíveis doenças pulmonares.

Para tanto, é imprescindível saber como interpretar espirometria.

Espirômetro indica como interpretar espiromtria

Resultados da prova de função pulmonar

O espirômetro transmite as informações para o computador

Conforme o exame é realizado, o espirômetro já apresenta informações sobre a capacidade pulmonar do paciente.

Veja agora detalhes sobre algumas elas no momento de saber como interpretar espirometria.

Capacidade vital (CV) também indica como interpretar espiromtria

A CV se refere ao maior volume de ar mobilizado na expiração.

Capacidade vital forçada expiratória (CVF)

A CVF representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, o que se dá a partir do ponto de máxima inspiração.

Volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1)

A VEF1 indica o volume de ar que é exalado no primeiro segundo durante a manobra de CVF.

Relação VEF1 / CVF

O diagnóstico de distúrbio obstrutivo é obtido a partir da razão entre as duas medidas. O resultado depende de equação que é determinada conforme o paciente.

Fluxos expiratórios

Envolve diferentes parâmetros, como o fluxo expiratório forçado máximo ou pico de fluxo expiratório, que representa o fluxo máximo de ar durante a manobra de CVF.

Também o fluxo expiratório forçado médio (FEF 25-75%), indicando um parâmetro obtido durante a manobra de CVF.

Como interpretar espirometria

Como Interpretar Espirometria impressa em papel

Médicos interpretando espirometria registrada em papel

Antes de explicar como interpretar espirometria, é importante registrar os resultados possíveis no exame.

São cinco possibilidades ao ver como interpretar espirometria:

  1. Exame normal
  2. Distúrbio ventilatório obstrutivo (leve, moderado ou grave)
  3. Distúrbio ventilatório restritivo (leve, moderado ou grave)
  4. Distúrbio ventilatório misto (com detecção de anormalidade obstrutiva e restritiva)
  5. Exame inespecífico (há presença de anormalidade ventilatória, porém sem elementos para identificar obstrução ou restrição de forma clara).

Tais conclusões são obtidas inicialmente com um relatório gerado pelo espirômetro.

Além dos valores numéricos, o documento apresenta o desempenho do paciente no exame na forma de gráficos de volume-tempo e de fluxo-volume.

Você verá nele a morfologia de curvas expiratórias e inspiratórias, que é o que qualifica a interpretação dos resultados.

A partir delas, é elaborado um laudo que verifica a presença e o tipo de distúrbio ventilatório, detalhes sobre os fluxos expiratório e inspiratório, além da possível resposta ao broncodilatador.

Esse laudo leva em conta valores de referência, sobre os quais vou discorrer agora.

Valores de Referência: como interpretar espirometria

Como já comentando, os valores de referência na espirometria variam conforme a idade do paciente, seu peso, altura e etnia.

Não há como interpretar espirometria corretamente sem levar todos esses fatores em conta.

Vamos ver, então, quais são os valores normais e também aqueles que identificam anormalidade no exame.

Padrão Normal

O nome já é autoexplicativo. A espirometria normal indica que os resultados apurados estão dentro dos valores de referência para um paciente sem doença respiratória.

Ou seja, ele é definido como normal na comparação com as equações válidas para o mesmo perfil que o seu, considerando todos os fatores que mencionei antes.

Padrão Obstrutivo

  • VEF1/CVF < Limite Inferior (LI)
  • VEF1 e fluxos geralmente reduzidos

Se há um distúrbio ventilatório obstrutivo, liga-se o sinal de alerta.

Isso acontece quando os valores obtidos de VEF1/CVF e VEF1 aparecem reduzidos.

Também há obstrução quando existe redução da razão VEF1/CVF% em sintomáticos respiratórios, ainda que haja VEF1 normal.

Em caso de razão VEF1/CVF% limítrofe, uma redução de Fluxo Expiratório Forçado (FEF) 25-75% ou outros fluxos terminais são indicativos de obstrução em sintomáticos respiratórios.

Padrão Restritivo

  • VEF1/CVF > Limite Inferior (LI)
  • CVF < LI
  • FEF 25-75%/CVF > 1,5 – com fluxos supranormais, considerando paciente com diagnóstico esperado de restrição.

Quando um padrão restritivo é identificado, temos aí sinais de que há redução da capacidade vital (forçada ou não), redução da VEF1 e do Índice de Tiffeneau normal, o qual resulta da relação VEF1/CVF.

Padrão Misto

  • VEF1/CVF < Limite Inferior (LI)
  • CVF < LI.

Além disso, há três situações possíveis com base na diferença entre os percentuais previstos de CVF menos VEF1:

  • geralmente a diferença em percentual entre o VEF1 e a CVF é <12%

Como o nome indica, esse resultado aponta para a presença de processo obstrutivo associado à restrição.

Frequentemente, é um resultado que requer a medição da CPT, a capacidade pulmonar total.

Classificação dos distúrbios

Veja na tabela abaixo como os distúrbios obstrutivos e restritivos são classificados em leve, moderado ou grave.

Distúrbio Obstrutivo Restritivo
GRAU VEF1 (% do previsto) VEF1/CVF (%) CVF (% do previsto)
Leve 60-LI 60-LI
Moderado 41-59 51-59
Grave < 40 < 50

Exame de espirometria na Telemedicina

Um exame de espirometria pode ser realizado por um técnico em Enfermagem ou também um médico do Trabalho, considerando o seu uso ocupacional.

Ambos profissionais se tornam habilitados no atendimento ao paciente, desde que devidamente treinados para isso.

No entanto, não há como interpretar espirometria apenas com base no que o espirômetro informa. O problema está na falta de precisão do software, somado ao caráter altamente técnico do exame.

Neste outro artigo de espirometria, já falei sobre os riscos de um diagnóstico precipitado e incorreto, especialmente na contratação ou monitoramento de trabalhadores, por vezes gerando danos irreparáveis às empresas.

O ideal, portanto, é que os resultados sejam analisados por um pneumologista, que é o médico a quem compete a apresentação de um laudo.

Por outro lado, o custo de contratação desse profissional, ainda que para demandas específicas, costuma ser impeditivo, concorda?

A solução está na Telemedicina, ou seja, no acompanhamento à distância por um pneumologista registrado junto ao Conselho Federal de Medicina, sendo ele o responsável pela análise dos resultados.

Graças ao avanço da tecnologia, é possível recorrer a uma plataforma online, segura e 100% confiável para isso.

Como interpretar espirometria usando a Telemedicina?

A Telemedicina Morsch disponibiliza aos seus clientes um ambiente virtual para a transferência de arquivos, com as informações coletadas durante a espirometria.

Tais arquivos são armazenados em nuvem, ou seja, não ficam guardados fisicamente em um computador, o que amplia o acesso a pessoas autorizadas ao mesmo tempo em que garante a segurança dos dados.

De posse de login e senha, o pneumologista recebe essas informações, interpreta os resultados da espirometria e devolve os laudos médicos em cerca de 30 minutos.

Completando o processo para a oferta de uma solução integral, a Telemedicina Morsch oferece ainda treinamento para os funcionários que irão realizar os exames e fornece o espirômetro em regime de comodato (equipamento é cedido sem custos no período de contratação do serviço).

Conclusão

Como Interpretar Espirometria

Paciente soprando no bocal de um aparelho de espirometria

Conversamos neste artigo sobre como interpretar espirometria, um exame fundamental para avaliar a saúde pulmonar.

Apesar de simples, é um teste que pode facilmente induzir ao erro se não passar pela análise de um profissional habilitado, que no caso é o médico pneumologista.

A minha experiência tem mostrado que não vale a pena arriscar, dispensando a interpretação pelo especialista em nome de uma alegada economia.

Por outro lado, também não é necessário investir pesado em equipamentos, cursos e mesmo na contratação de um médico responsável pelos laudos.

Tudo pode ser resolvido à distância, com segurança e praticidade, por um custo que cabe no seu orçamento.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin