Repolarização precoce: o que é, como diagnosticar, sintomas e tratamento

Por Dr. José Aldair Morsch, 27 de setembro de 2023
Repolarização precoce

A repolarização precoce é um tema que ainda desperta dúvidas quanto à abordagem pela equipe médica.

Quando isolada, em pacientes jovens e saudáveis, a condição não é preocupante.

Tanto que esse padrão é comumente encontrado no resultado do eletrocardiograma (ECG) de atletas.

Por outro lado, a história de morte súbita, fibrilação ventricular e outras arritmias deve alertar o cardiologista para o risco de eventos cardiovasculares.

O mesmo acontece diante da presença de sintomas e fatores de risco associados.

Siga com a leitura para ver mais detalhes sobre a repolarização precoce, como detectar no ECG e quais as possíveis causas.

Lendo até o final, veja ainda dicas para acelerar o diagnóstico de patologias com a telemedicina.

O que é repolarização precoce?

Repolarização precoce (RP) é um achado eletrocardiográfico caracterizado pela elevação do trecho que une o complexo QRS ao segmento ST.

Nesse cenário, é possível identificar a chamada onda J – positiva, pequena e arredondada – nesse trecho.

Como adiantei na introdução do texto, essa alteração costuma ser benigna entre pessoas saudáveis e sem histórico de cardiopatias.

Ela reflete apenas uma mudança pontual no padrão de repolarização ventricular, mas preservando as características do ritmo sinusal, ou seja:

  • Cada batimento possui uma onda P, um complexo QRS e, ainda, uma onda T
  • O impulso nasce no nó sinusal, localizado acima da câmara superior direita – o átrio direito
  • Segue, então, para o átrio direito, átrio esquerdo, nó atrioventricular e ventrículos (câmaras cardíacas inferiores)
  • A passagem da corrente elétrica faz com que íons de cálcio sejam atraídos para dentro das células do coração, resultando em contração. Esse processo se chama despolarização elétrica
  • A onda P mostra a contração dos átrios, enquanto o complexo QRS registra a contração dos ventrículos
  • Ao fim do batimento, a repolarização culmina em um instante de repouso antes da próxima batida.

Mesmo quando benigna, a condição deve ser identificada – podendo se valer do eletrocardiograma para isso.

Como identificar a repolarização precoce no ECG?

Para identificar a RP no ECG, é preciso observar elevação do ponto J > 1 mm em duas derivações eletrocardiográficas contíguas.

Cabe esclarecer, aqui, que o ponto que une o complexo QRS ao segmento ST é denominado ponto J.

Outras alterações relevantes são a presença da onda J em derivações precordiais esquerdas ou inferiores ou de atraso da condução no final do complexo QRS.

Ecg de repolarização precoce ventricular

Traçado mostra repolarização precoce em parede anterior de ventrículo esquerdo

Vale lembrar que, num traçado de ECG normal, nota-se:

  • Ondas P normais, arredondadas e suaves, durando menos de 0,10 segundo (2,5 mm) e com voltagem máxima de 0,25 mV
  • Intervalo PR com duração entre 0,12 e 0,20 segundo
  • Complexo QRS durando de 0,06 a 0,10 segundo, sendo formado por uma positiva (R) e duas negativas (Q e S)
  • Onda Q com menos de 0,04 segundo de duração e 2 mm de profundidade, já que é sempre negativa
  • Onda T assimétrica, com amplitude máxima inferior a 15 mm nas derivações precordiais, e menor que 5 mm nas derivações periféricas.

Continue aprendendo sobre o tema neste artigo sobre a interpretação do ECG.

Sintomas da repolarização ventricular precoce

Não faz sentido relacionar sintomas a essa condição, uma vez que a repolarização precoce não é doença.

Muitas vezes, ela só é detectada na interpretação do ECG de rotina, incluído em um check up cardiológico anual, por exemplo.

Porém, quando associada à síncope, a RP pode ser preditora de eventos cardiovasculares críticos, a exemplo da morte súbita.

A presença de outras manifestações clínicas, como palpitação e dispneia, também indica que há uma patologia de fundo.

Quais as causas da repolarização precoce?

O aumento do tônus vagal pode levar ao padrão de repolarização precoce em atletas, que não tem qualquer significado clínico.

Já em alguns casos, a RP sinaliza arritmias ventriculares, lesões cerebrais ou medulares, hipotermia e hipercalcemia.

Repolarização precoce é grave?

Depende. Quando esse padrão aparece em pacientes jovens e saudáveis que nunca tiveram doenças cardiovasculares, costuma ser um achado benigno.

Mas o contexto muda quando o paciente já sofreu arritmias ventriculares, ou possui alguma doença cardiovascular adjacente.

Como alerta o estudo “Há associação entre repolarização precoce e síncope? Resultados do teste da mesa inclinada em pacientes com elevação do ponto J”, a repolarização precoce:

“Tem relação com arritmias complexas, como a fibrilação ventricular idiopática, além de ser marcador de risco maior para morte súbita em cardiopatias elétricas primárias. É um achado que, por estar relacionado com a hiperatividade vagal, pode também ter alguma influência em quadros sincopais secundários à reflexos neuromediados”.

Quem já teve uma parada cardíaca revertida ou possui história de morte súbita na família, associada à RP, se enquadra numa condição potencialmente fatal: a síndrome da repolarização precoce.

Repolarização ventricular precoce

Essa alteração costuma ser benigna entre pessoas saudáveis e sem histórico de cardiopatias

Como tratar a repolarização precoce?

Caso o paciente seja assintomático e sem história familiar de morte súbita, não é prescrito tratamento.

Afinal, o risco de complicações é baixo, sendo feito apenas o monitoramento pelo cardiologista para prevenir agravos.

Já aqueles que possuem histórico de parada cardíaca, fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular polimórfica são candidatos ao implante de cardioversor desfibrilador implantável (CDI).

Telemedicina acelera o diagnóstico da repolarização precoce

Por avaliar o padrão de batimentos cardíacos, o ECG é indispensável na identificação da repolarização precoce.

No entanto, nem sempre os serviços de saúde possuem cardiologistas suficientes para interpretar e emitir os resultados desse exame com rapidez.

A boa notícia é que dá para diminuir a carga de trabalho da equipe médica local com o suporte de uma empresa de telemedicina.

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Conclusão

Finalizando este artigo, espero ter contribuído para aprofundar seus conhecimentos sobre a repolarização precoce, permitindo a identificação dos casos de maior risco.

Se o texto foi interessante para você, compartilhe com seus contatos.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin