Classificação das cirurgias: finalidade, porte, urgência e potencial de contaminação

Por Dr. José Aldair Morsch, 7 de julho de 2021
Classificação das cirurgias

A classificação das cirurgias é uma ferramenta importante para melhorar a eficiência no centro cirúrgico.

Utilizando uma ou mais metodologias, é possível priorizar o atendimento aos pacientes em estado crítico, com impacto positivo na sobrevida e no prognóstico.

Essa dinâmica também beneficia os hospitais e clínicas, que conseguem direcionar seus recursos de forma assertiva.

Tanto que a estratégia pode servir para diminuir a superlotação nos hospitais, estabelecendo uma ordem única para a realização de operações.

Os efeitos serão percebidos num menor tempo de internação, o que ajuda a liberar leitos para receber novos pacientes.

Explico melhor os tipos de classificação das cirurgias e seus efeitos nas próximas linhas.

Leia o artigo até o final para conferir uma opção inovadora que auxilia na avaliação pré-cirúrgica: o auxílio de especialistas via telemedicina.  

O que é classificação das cirurgias?

Classificação das cirurgias é uma ferramenta que enquadra os candidatos a operações em diferentes níveis de uma escala.

Seu principal objetivo é definir quais devem receber o tratamento cirúrgico primeiro, considerando fatores como risco à vida e condições de saúde.

Dessa forma, fica mais simples determinar, por exemplo, quantas operações serão feitas num período, bem como reservar salas, equipes e insumos para que sejam conduzidas em tempo hábil.

Existem diversos tipos de classificação de cirurgias, sendo que cada uma delas parte de um fator central para estabelecer a ordem de prioridade para esse tratamento.

Neste texto, falo sobre as 4 modalidades mais conhecidas, recomendadas por entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM):

  • Classificação das cirurgias quanto à finalidade
  • Classificação das cirurgias quanto à urgência
  • Classificação das cirurgias por potencial de contaminação
  • Classificação das cirurgias por porte.

Por que classificar cirurgias no seu hospital

Fazer a classificação das cirurgias é importante porque as operações estão entre os tratamentos mais comuns em todo o planeta. 

Segundo estimativas, 234 milhões de cirurgias extensas são feitas todos os anos, o que corresponde a uma para cada 25 indivíduos vivos.

De acordo com este material do Ministério da Saúde:

“Cirurgias extensas incluem qualquer procedimento conduzido na sala de operações que envolva a incisão, excisão, manipulação ou suturas de tecidos e que geralmente requeira anestesia regional ou geral ou sedação profunda para controle da dor.”

Segundo o estudo, 63 milhões de pessoas são submetidas a esses tratamentos após sofrer trauma, 10 milhões para responder a complicações na gravidez e outros 31 milhões para combater outros males.

Portanto, se está à frente de um hospital, é provável que as operações respondam pelo uso de parte considerável dos recursos humanos, materiais e financeiros da instituição.

É preciso gerenciar esses recursos para ganhar eficiência no centro cirúrgico e conseguir fazer mais com menos, em tempo menor, sem perder a qualidade.

Quando não se adota uma ferramenta para classificar as cirurgias, algo que apenas parece ser urgente pode tomar o lugar de uma situação realmente mais importante.

Em outras palavras, pacientes em situação crítica podem deixar de receber atendimento prioritário, tendo seu lugar tomado por outros que poderiam esperar um pouco mais, sem prejuízo para a saúde.

É o que acontece, por exemplo, quando as operações são feitas sem qualquer triagem, por ordem de chegada e/ou preenchimento de documentos.

Essa desorganização pode atrapalhar o direcionamento para as salas mais adequadas, desconsiderando a gravidade do procedimento para reservar um local devidamente equipado.

Também tende a diminuir a produtividade das equipes de saúde, que podem ser mal aproveitadas e ter de ficar ociosas enquanto aguardam pelo término de uma operação.

Nesse contexto, a classificação das cirurgias se torna importante para o planejamento e a gestão do centro cirúrgico.

É relevante, ainda, para o cálculo do risco cirúrgico, que é um conjunto de procedimentos realizados para esclarecer se a operação tem maior efeito positivo ou negativo para o paciente.

Veja, a seguir, detalhes sobre as 4 principais classificações de cirurgias utilizadas atualmente.

Como classificar uma cirurgia

As classificações das cirurgias dependem de um fator central para estabelecer a ordem de prioridade

Classificação das cirurgias quanto à finalidade

Este primeiro tipo de classificação considera a finalidade como norteadora para categorizar o tratamento por cirurgia.

As operações são selecionadas conforme seu objetivo, resultando em 5 modalidades:

  • Curativa
  • Paliativa
  • Diagnóstica
  • Reparadora
  • Reconstrutora, cosmética ou plástica.

Falo mais sobre elas abaixo.

Cirurgia curativa

Tem como meta a cura, ou seja, acabar com a causa de uma doença, melhorando a condição de saúde do paciente.

Deve ser recomendada a partir de uma avaliação cuidadosa e com preparo, a fim de extirpar células, tecidos ou até órgãos afetados.

Dois exemplos populares de cirurgias curativas são a apendicectomia e a retirada de tumores.

Na apendicectomia, o apêndice é retirado após sofrer inflamação (apendicite).

Já a retirada de tumores pode ser indicada tanto para eliminar células cancerosas quanto para impedir que massas inicialmente benignas evoluam para câncer.

Cirurgia paliativa

É realizada quando não há possibilidade de cura através da operação, no entanto, ela vai ajudar o doente a ter melhor qualidade de vida ou aumentar a sobrevida.

A ideia é preservar o paciente nas melhores condições possíveis até que haja uma terapia mais adequada.

Um exemplo é a gastrostomia, procedimento em que uma sonda é inserida para viabilizar o acesso ao estômago e a digestão em pessoas incapacitadas.

Cirurgia diagnóstica

Como o nome sugere, envolve uma ou mais incisões para coletar imagens ou material biológico que apoiem o diagnóstico.

Um exemplo conhecido é a biópsia, na qual é extraída uma pequena parte de órgãos e tecidos para afastar ou confirmar uma suspeita clínica.

Outra operação com fins diagnósticos é a laparotomia exploratória, conduzida por meio de uma incisão abdominal para facilitar a visualização de órgãos dessa parte do corpo.

Cirurgia reparadora

O enxerto de pele em queimados ou após uma lesão está entre as principais cirurgias reparadoras, que têm como propósito a reconstituição artificial de um tecido.

Cirurgia reconstrutora, cosmética ou plástica

Sua finalidade é devolver ou modificar a aparência de uma parte do corpo.

Nas cirurgias reconstrutoras, o procedimento é recomendado após a perda de tecido, como o que ocorre após a retirada do tecido mamário (mastectomia) para curar o câncer de mama.

Nesses casos, o médico indica uma mamoplastia para que um ou ambos os seios voltem a ter um aspecto natural.

Já as operações cosméticas ou plásticas costumam ser buscadas por pessoas que querem mudar a aparência, alterando a forma do nariz com uma rinoplastia, por exemplo.

Classificação de cirurgia médica

Os candidatos que se enquadram nas cirurgias de emergência correm risco de vida

Classificação das cirurgias quanto à urgência

Essa é uma das classificações mais eficazes para estabelecer uma ordem de prioridade entre os atendimentos.

Ao utilizar a classificação por urgência cirúrgica, as equipes dividem os pacientes em três grupos, conforme a necessidade mais ou menos imediata de operação.

Dessa forma, os candidatos são enquadrados em procedimentos eletivos, de urgência ou emergência.

Cirurgia eletiva

É o tratamento cirúrgico que pode aguardar pelo melhor momento, conforme indicação e avaliação médica.

O adiamento dessas operações não oferece grandes riscos de vida ou agravo de patologias.

A mamoplastia reparadora é um exemplo, assim como o tratamento para hérnia abdominal – que se forma por causa de fraqueza ou orifícios na musculatura.

Cirurgia de urgência

A retirada cirúrgica de cálculos renais (pedras nos rins) e a apendicectomia são tipos de operações de urgência.

Elas até podem não ser feitas imediatamente, mas o adiamento não deve ultrapassar 24 ou 48 horas.

Dependendo do procedimento, o paciente pode precisar de internação enquanto aguarda pela cirurgia.

Cirurgia de emergência

Aqui são enquadradas as situações críticas, com grave risco à vida do paciente e que precisam de cirurgia imediata.

Ferimentos por arma de fogo, queimaduras de longa extensão e outras lesões que causem sangramento contínuo estão entre as principais emergências tratadas no centro cirúrgico.

Classificar operação médica

Cirurgias infectadas são as as operações com maiores riscos de contaminação

Classificação das cirurgias por potencial de contaminação

Empregada para diminuir infecções em sítio cirúrgico (ISC) – aquelas adquiridas no hospital –, a classificação por potencial de contaminação divide as operações em 4 grupos.

Localização, possibilidade de inflamações, presença de secreções e pus são fatores considerados para fazer a divisão de forma correta.

Seu objetivo é aumentar os cuidados para reduzir a exposição do doente a patógenos e agentes infecciosos.

Cirurgias limpas

Em geral, são procedimentos eletivos em locais que não sinalizam qualquer inflamação, além de estarem longe das estruturas dos aparelhos respiratório, digestivo, urinário e reprodutor.

Cirurgias plásticas e neurocirurgias se encaixam nesse grupo.

Cirurgias potencialmente contaminadas

Também são conduzidas em áreas livres de inflamação, porém, requerem incisões em estruturas dos aparelhos respiratório, digestivo, urinário ou reprodutor.

Gastrectomia e colangiografia (tipo de endoscopia que avalia o trajeto da bile) são exemplos.

Cirurgias contaminadas

Feridas traumáticas ou com secreção que não seja pus se enquadram nesse grupo, formado pelas operações feitas em tecidos abertos.

Devido à exposição ao ambiente, esses locais estão certamente contaminados por bactérias e/ou outros microrganismos que provocam inflamação.

A remoção de parte ou da totalidade do intestino grosso (colectomia) é mais um tipo de cirurgia contaminada.

Cirurgias infectadas

Grupo que reúne as operações com maiores riscos de contaminação, pois houve rompimento de tecidos ou fratura exposta sem tratamento por mais de 4 horas.

Perfuração intestinal e entrada de corpo estranho também fazem parte das cirurgias infectadas.

Classificação das cirurgias por porte

Nesta classificação, o ponto central é a probabilidade de perda de sangue e outros fluidos indispensáveis para o bom funcionamento do organismo.

Essa probabilidade é chamada de porte cirúrgico ou risco cardiológico, uma vez que sobrecarrega o coração e o sistema circulatório.

Existem três grupos que compõem essa ferramenta:

Cirurgias de grande porte

São complexas e costumam demorar horas, resultando em maiores chances de perda de sangue e outros fluidos.

Operações de emergência, como para tratar traumas, e aquelas realizadas em artérias oferecem esse risco cirúrgico alto.

Assim como alguns procedimentos de inserção de próteses, por exemplo, no quadril.

Cirurgias de médio porte

As operações de cabeça e pescoço estão entre as principais desse grupo, que reúne procedimentos com complexidade um pouco menor que as cirurgias de grande porte.

Neles, o risco cardiológico também diminui.

Cirurgias de pequeno porte

Com risco potencialmente menor, essas cirurgias costumam ser limpas e eletivas, como a endoscopia.

Cirurgia em hospitais

O auxilio da tecnologia vem aumentando a precisão das cirurgias e gerenciando melhor os riscos

Telemedicina e o cálculo de risco das cirurgias

Calcular o risco da cirurgia de forma ágil faz toda a diferença no pré-operatório, viabilizando medidas de segurança do paciente.

Esse procedimento exige que um ou mais especialistas façam uma avaliação prévia do doente, com entrevista (anamnese), exame físico e, por vezes, testes de diagnóstico como o eletrocardiograma (ECG).

Os resultados desses exames dão maior confiabilidade às ações do cirurgião, que já começa o procedimento sabendo dos riscos, comorbidades e deficiências.

Esses problemas impactam não apenas no perigo de sobrecarga do aparelho cardiovascular e outros sistemas, mas também no tempo de recuperação e no prognóstico.

Por isso, é inteligente calcular o risco cirúrgico.

Contudo, nem sempre os hospitais e clínicas possuem especialistas disponíveis para essa tarefa, que exige dedicação e pode ocupar horas na agenda desses profissionais.

Se esse é o seu caso, saiba que pode reforçar o time com especialistas qualificados a um preço que cabe no orçamento.

Basta contar com o suporte da telemedicina, que entrega laudos e avaliações de risco cirúrgico com rapidez.

Através da plataforma de telemedicina Morsch, sua equipe solicita o cálculo do risco de cirurgias de modo prático, anexando informações dadas pelo clínico ou cirurgião responsável pelo procedimento.

Esses dados do histórico do paciente são analisados, assim como recomendações médicas, terapias atuais e uso de medicamentos.

Após essa avaliação, o time Morsch envia, através do sistema, um documento informando o risco cirúrgico para apoiar a indicação, ou não, do procedimento.

Todo o processo é feito online e sem complicações.

Clique aqui para conferir detalhes sobre como funciona a entrega de cálculo de risco cirúrgico a distância.

Conclusão

Conhecer formas de classificação das cirurgias ajuda a organizar as rotinas no centro cirúrgico, contribuindo para uma gestão mais assertiva.

Promove, ainda, tratamentos mais bem-sucedidos, aumentando a sobrevida do paciente, reduzindo o tempo de internação e sequelas.

Se tiver dúvida na hora de classificar as operações ou precisar de reforço para o cálculo do risco cirúrgico, conta com a expertise do time de especialistas da Morsch.

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Dr. José Aldair Morsch
Dr. José Aldair Morsch
Cardiologista
Médico formado pela FAMED - FURG – Fundação Universidade do Rio Grande – RS em 1993 - CRM RS 20142. Medicina interna e Cardiologista pela PUCRS - RQE 11133. Pós-graduação em Ecocardiografia e Cardiologia Pediátrica pela PUCRS. Linkedin